Sirius - Capítulo 11
Capítulo 11: A Segunda Fase
Em uma sala de hospital, um jovem descansava em uma das macas. Depois de muito esforço, ele finalmente conseguiu abrir os olhos.
— Senhor Li, já está acordado, tão rápido assim? — A voz que o acordou, diferentemente do que ele esperava, foi de um homem mais ou menos de sua idade, loiro e com olhos claros.
— Se eu soubesse que o primeiro rosto que teria que olhar quando acordasse fosse o seu, eu teria dormido mais. — Jihan, com dificuldade, respondeu.
— Ora, já está de bom humor. Que resiliência incrível!
— Quanto tempo fiquei apagado? Onde estou?
— Você realmente sempre vai direto ao ponto, não é mesmo? — Michael sorriu. — Você está na segunda fase. E sobre quanto tempo… somente uma semana.
— UMA SEMANA? — Li colocou as mãos no rosto. — Eu nunca vou conseguir recuperar esse tempo tão rápido.
— Pare logo de drama. Nem sabe de quanto tempo consiste essa fase. — O homem estendeu a sua mão, levantando três dedos. — Você tem três meses. Acha que não é o suficiente?
— Onde está Akemi?
— Quem? Ah! Aquela Meio-Elfa? Ela passou várias vezes aqui nós últimos dias, mas também está na competição, não tem o luxo de perder tempo aqui, como você.
— Eu tenho?
— Cale-se logo, garoto. Não quero perder meu tempo aqui com você. Vou te explicar como funcionará esses próximos meses.
Li se calou e o aguardou começar.
— Muito bem. Para começar tenho que te parabenizar, eu falei para pensar positivo, mas nunca esperei que fosse tão longe, conseguindo tantos pontos na primeira fase!
— Pontos?
— Sim! Veja bem, garoto. O verdadeiro objetivo por trás desse início é separar quem está ali para passar de quem está ali para chegar no topo.
Jihan lembrou-se da fala do velho Itzal e sentiu uma pontada no estômago. Michael, ignorando o garoto, continuou.
— Honestamente, você deveria estar morto agora! Foi só pagando a devida quantidade da sua pontuação que conseguiu o tratamento urgente! — O loiro então apontou para o braço dele.
Olhando para seu pulso, ele notou uma estranha pulseira digital, com o número “10.528” escrito.
— Isso é o que eu ainda tenho? Quanto usei para me curar?
— Cerca de cinco mil pontos! — Sorrindo, ele anunciou.
— Tudo isso?
O rosto brincalhão de repente ficou sério.
— Garoto, acho que não está entendendo. Nem mesmo eu sei como você está vivo. Cinco mil pontos pode ser uma quantia alta, mas tenho certeza que pagaria os quinze se isso significasse não morrer.
— Estava tão ruim assim?
— Muito pior do que você imagina…, mas não é de todo mal. Você conseguiu um feito que eu pessoalmente nunca ouvi falar. Forçar a mana para fora sem ter seus canais abertos. — Michael franziu a testa. — Colocando de uma maneira mais clara. É como se você tivesse furado um túnel por uma montanha sem colocar nenhum suporte para segurar o teto. Eventualmente tudo desabou, mas você ainda conseguiu sair vivo!
— Então deu tudo certo no final! — Jihan comemorou.
— Leve a sério o que estou dizendo, Li! — Pela primeira vez, o homem demonstrou raiva. — Não jogue sua vida fora tão facilmente… haah — Suspirando, ele continuou. — Enfim, você pode usar seus pontos para adquirir algumas coisas, não sei bem qual seu estilo de luta, mas com certeza vai achar alguma coisa que te sirva.
Michael pegou um dispositivo que parecia ser uma câmera e clicou. Na frente da cama de Jihan, uma projeção foi ligada.
— Está usando PowerPoint? — Li brincou.
— Cale a boca e escute! Vou te explicar como as coisas funcionarão daqui para frente. — Michael mostrou passo a passo no projetor. — Primeiramente, teremos 2 meses de treinamento. Academias especializadas e uma arena de batalha estão disponíveis gratuitamente para todos. Além disso, você pode conseguir instrutores e suplementos alimentares, pagando ou, caso tenha sorte, chamando a atenção de um deles.
— Esses pontos… vou poder usá-los fora daqui?
— De forma alguma! Assim que você for aprovado, eles sumirão. — Rejeitando a pergunta, ele continuou. — Para acumular pontos, existem duas formas. A primeira são as missões, as quais estão disponíveis na tabela localizada na praça de alimentações. A segunda é por meio de apostas. Você pode desafiar outro oponente na arena valendo determinada quantidade de pontos.
— Parece justo para mim!
— De certa forma, sim, mas existe uma regra nesse tipo de lugar. Quem tem vantagem no início mantêm vantagem para sempre. É muito difícil, para alguém que tem a oportunidade de conseguir tantos benefícios pagos, perder para outro que não tem nenhum.
Desligando o projetor, ele prosseguiu falando.
— Infelizmente é só até aqui que posso revelar no momento. Em dois meses, voltarei para acertarmos as pontas soltas e te alertar do último teste dessa fase. Até lá, fique mais forte. Você será um peso morto da maneira em que está agora.
Vendo o homem sair do quarto, Li olhou para o próprio corpo. Aparentemente ele havia perdido bastante peso com o tempo desacordado. Se sentindo um pouco melhor, ele decidiu sair do quarto para explorar a instalação.
O lugar era dotado de uma mistura de tecnologia com magia. Tudo era iluminado artificialmente e as paredes pareciam ser feitas de mármore azul. Era deslumbrante. Andando pelos corredores, Li finalmente chegou a um grande espaço aberto. Conseguindo se localizar, ele estava no terceiro andar. Aparentemente, a praça de alimentação que Michael havia falado a ele era logo abaixo. Quando se inclinou para ver o lugar, começou a ouvir uma discussão.
— Escuta aqui, garota! Ou você me paga, ou cai fora, caso contrário, não podemos garantir sua segurança.
— Eu não pedi ajuda, vocês porcos que vieram atrás de mim.
“Essa voz?”
Olhando para baixo, ele enxergou uma pequena “elfa” discutindo com dois brutamontes e uma mulher.
— Amor, você deveria ensiná-la uma lição, ou os outros também não te respeitarão. — A mulher disse ao maior dos homens.
— Anjinho, deixe essa sangue ruim viver mais um pouco. — O grande respondeu.
— Do que você me chamou?! — A Meio-Elfa andou a passos rápidos em direção ao brutamonte.
Sem encostar nela, ele a provocou novamente.
— Que foi mestiça? Vai fazer o quê? Me desafiar? HAHAHA. Quero ver você tentar.
— Pode apostar que eu vo-
— Akemi! — Uma voz vinda do terceiro andar gritou o nome dela, interrompendo-a.
— TSK* Parece que a vagabunda tem ajuda, vamos dar o fora daqui. — O terceiro homem clamou, tomando as rédeas e saindo.
Descendo os andares, Li finalmente conseguiu ver o rosto dela. Estava um pouco machucado, e sua aparência um pouco deteriorada. Mesmo sem saber o motivo, ele poderia adivinhar o porquê.
— Está tudo bem?
— Estou ótima! — Passando por ele, o ignorou.
— Ei, o que tem de errado com você?
— Estou bem! E atrasada para o treino.
— Não pode me apresentar o lugar antes? Acordei agora, sabe…
— Não sou sua guia, se vire! — Anunciou Akemi, saindo da praça.
“O que acabou de acontecer?” Li estava confuso, não entendia o tratamento que ela havia o dado. Distraído, não percebeu o par de olhos que o observava do último andar.
— De qualquer forma, acho que estou sozinho nessa. — Olhando ao redor, Li percebeu a falta de pessoas na praça. O único lugar que parecia ter um amontoado de gente era um grande mural de pedra no centro. “Deve ter algo ali.” Aproximando-se, notou que a parede possuía uma série de bolas de cristal encaixadas.
— Desculpe o incômodo, você é novo aqui? — Uma jovem de óculos se aproximou do garoto.
Apenas acenando com a cabeça ele confirmou que sim.
— Muito prazer, sou Liming. — Se curvando levemente, ela se apresentou. — O senhor deve estar confuso. Sou uma das aplicadoras esse ano. Posso te explicar algumas coisas para você… er… o seu nome? — Um pouco tímida, a pequena mulher o perguntou.
— Ah, perdão. Meu nome é Li Jihan, mas pode me chamar de Li.
— Certo, Senhor Li. Precisa que eu te explique como funciona?
— Pareço tão perdido assim? — Jihan riu da situação. — Mas não está errada, eu agradeceria se pudesse.
— Vou dar prosseguimento então. — Ajeitando seus óculos, ela começou. — O que você está vendo a sua frente é o mural de missões. De grau mais baixo até o grau mais alto. As missões mais abaixo são básicas, como treinamento, instruções básicas de combate e estudo.
— Estudo…?
— Sim! Os novatos podem não achar importante, mas meu lema é “Conheça o seu inimigo melhor do que a si mesmo”. O objetivo é bem simples, basicamente é ler um livro durante uma hora.
— E eu ganho alguma coisa com isso?
— Você diz, além de conhecimento? — Passando o dedo por seus longos cabelos, ela perguntou. Visivelmente insatisfeita com as prioridades do menino, ela logo estendeu a mão, levantando cinco dedos.
— 500 pontos? — Sem reação, Li fez outro chute. — 50?
— 5! O senhor ganha cinco pontos.
Os olhos de Jihan caíram e, como um senhor de idade desprezando um assunto, ele simplesmente desistiu de olhar as missões. Desviando o olhar, ele viu Akemi indo em direção a uma plataforma, desaparecendo dentro dela.
— O senhor conhece aquela mulher? — Percebendo a direção onde ele estava olhando, Liming perguntou.
— Sim, ela estava junto comigo no teste.
— A Meio-Elfa treina todos os dias, o máximo que consegue. Seja em combate, estudo ou treinamento físico. Você deveria aprender mais com ela. Bem… não que ela tenha muita opção, de qualquer forma.
— O que quer dizer?
— A maioria dessas missões requer um grupo para finalizá-las. E outra, elas custam um certo depósito de pontos para serem aceitas. Logicamente que elas recompensam muito mais do que a taxa. Entretanto… — Se virando na direção das plataformas, ela continuou. — Aquela mulher não tem nenhum dos dois. Nem pontos, nem pessoas para ajudá-la.
— Isso é impossível, ela estava comigo. Se tenho tanto, não tem como ela não ter nada!
— Eu também não entendo. Ela foi uma das mais bem colocadas na primeira fase. Entretanto, tudo que ela tinha apenas… sumiu. De qualquer forma, recomendo que o senhor experimente os bonecos de treino. Eles são feitos para melhorar suas habilidades de luta. Para aceitar, tudo que tem que fazer é pegar uma das bolas de cristal, seguir até a plataforma e estourá-las. Isso é tudo por hoje, até mais tarde, Li.
Jihan apenas acenou e continuou pensando. Algo não estava certo. Infelizmente ele não tinha como descobrir isso no momento, a atendente disse que ela treina o dia inteiro. Perto do mural, Li notou uma placa de direções.
— Acho que vou procurar aquelas lojas que Michael citou, talvez tenha algo lá que possa me ajudar a melhorar. Ele não estava errado, não posso simplesmente ser um canhão de vidro. — Terminando de falar consigo mesmo, seguiu na direção das lojas que o sinal indicava.
Várias consciências observavam tudo que acontecia no centro.
— E então? O que achou dele? — A primeira voz perguntou.
— Nada demais…, entretanto, não podemos descartá-lo. Ajudei aquele velho, pois devia a ele um favor. Ele nunca vai tão longe assim por uma pessoa, ainda mais alguém que nunca pisou em Erebus. — A segunda voz respondeu. — Deve ter algo a mais. Continue observando-o.
— Entendido!
“Muhali, o que você está tramando…”