Sirius - Capítulo 2
Capítulo 2: Angústia
Despedindo-se de Tai Lung, Li imediatamente partiu em direção a saída, ele queria recuperar o dinheiro perdido o mais rápido possível.
— Onde você está indo?
Jihan virou-se para o lado, um homem velho estava escorado em uma coluna de sustentação, próxima ao escritório.
— Jhin? Estou ocupado agora, preciso sair… — respondeu.
— Sair uma ova, você está atrasado! Realmente acha que vai fugir do treino de novo?
TSC
— Sem resmungar, garoto, nós já deveríamos ter começado há mais de uma hora!
— Sim, sim… — respondeu Li, colocando o pacote com o dinheiro na barra da calça e indo em direção ao velho. — Então, o que temos para hoje?
— Atraso! Isso é o que temos para hoje!
— Qual é, eu realmente preci…
— Disso aqui. — Jhin jogou um par de luvas para Li. — Você precisa de treino!
“Mas você só me faz treinar os básicos todos os dias…” Li pensou consigo mesmo.
— Não faça essa cara de novo — reclamou o velho.
— Que cara?
— A que diz ‘você só me faz treinar os básicos todos os dias’!
“Esse velho lê mentes?” pensou, assustado com a intuição do professor.
— Mas… não é verdade? Digo, quantas vezes eu já repeti esses movimentos?
— Você os repete porque não os aprende! — retrucou — se tivesse aprendido alguma coisa nos últimos 10 anos, eu já teria te ensinado mais!
— Você está brincando? Eu consigo replicar perfeitamente nossa sessão de treino semanal!
— Esse é o seu problema! — Jhin se aproximou para ajudá-lo a amarrar as luvas. — Escuta, garoto, o que te falta é visão, você sabe o que fazer, mas não consegue absorver o treino. Repetir uma ação não é a mesma coisa que aprendê-la.
— Velho, você faz cada vez menos sentido…
— Coloque dessa forma, quando você lê alguma coisa num idioma que você não domina, você passa por um processo de traduzir aquilo para um sentido que conhece. — Apontando para a própria cabeça, continuou — O que quero que você faça, é que salte a parte da tradução. Entenda o significado somente com um olhar.
— Hm…
— Você tem talento, Li, isso ninguém consegue tirar. — Jhin colocou as mãos nos ombros do jovem. — Mas você tem alguns problemas que não te permitem ter uma visão ampla das coisas… precisa se livrar do que está te prendendo…
“Eu não consigo entender seus enigmas, velhote…” Li pensou em falar isso, mas o que saiu por sua boca diferiu.
— Entendi, eu vou tentar, prometo!
O professor, percebendo que seu conselho não havia entrado na cabeça do menino, não insistiu “Se não for por vontade própria, você nunca vai conseguir entender…”
O treino seguiu como normalmente, com Jhin o parando ocasionalmente para reclamar de sua postura e de seus movimentos, praticamente o mesmo de sempre, exceto pela inquietação que o velho percebia no garoto.
Li conhecia seu professor há mais de uma década, eles treinavam todos os dias, cinco horas por dia, sete dias por semana, trinta dias por mês, todos os dias.
— O que tem de errado com você hoje? — Indagou-o. Seus movimentos estavam mais desfocados do que normalmente.
— Como assim, velho? — Ele de fato não estava conseguindo focar direito. A discussão e a decisão de mais cedo o deixou um pouco incomodado. — Estou bem, vamos continuar, está quase acabando.
— Moleque, te conheço há uns 10 anos, realmente acha que não perceberia se tivesse alguma coisa de errado com você?
Li não sabia se deveria ou não dizer a verdade, mas duvidava muito que seu professor concordaria com sua decisão de entregar uma luta. Nenhum mestre treina um aluno para fazer algo vergonhoso como forjar resultados.
— Escuta, garoto, sente-se aqui.
Jhin apontou para o banco perto da parede. Li terminou o exercício que estava fazendo e se sentou.
— Você já tem quase vinte e eu tenho que fazer o que ninguém mais vai, colocar algum senso nessa sua cabeça — continuou — existem momentos na vida nos quais você vai precisar tomar decisões difíceis, mas necessárias.
Enquanto falava, Li o encarava, não sabendo se ele já sabia ou não da discussão. “Esse velho é um feiticeiro, não tenho dúvida.”
— Nesses momentos, sua cabeça e essa sua memória não vão te dar a sua resposta. — O professor se aproximou do menino e apontou o dedo em seu peito. — E nesses momentos, nesses duros momentos, é daí que virá a sua saída.
Li o encarou por alguns momentos, esperando que o velho dissesse mais alguma coisa, mas ao perceber o silêncio, ele se levantou.
— Não se preocupe, Jhin. Não faria nada que fosse te decepcionar. — Assegurou o garoto enquanto caminhava em direção à porta.
— Então você deveria começar dando um jeito nesse seu vício. — O velho repreendeu.
— O quê? Não deu para ouvir direito. — Fingindo não ter escutado, fechou a porta, deixando Jhin sozinho no salão.
— Por que você faz isso consigo mesmo, garoto…
Saindo do estabelecimento, Li se dirigiu ao cassino mais próximo, cumprimentando os seguranças que estavam na porta como se já fossem conhecidos e sentando-se à primeira mesa de pôquer que conseguiu encontrar. A noite começou.
“Estou me sentindo com sorte hoje!” Numa maré de vitórias, puxou mais uma bolada do centro da mesa para perto de si, ele estava com tudo.
— É como dizem, ‘Azar no amor, sorte no jogo’. — Um jovem sentado ao lado de Jihan puxou assunto. — E eu tenho certeza de que você não tem uma namorada! — gargalhou. — Mas sério, garoto, se eu não fosse tão ruim, eu até desconfiaria que você está roubando.
— Não sou tão inteligente a esse ponto… sinceramente eu geralmente não tenho tanta sorte, quase sempre saio de mãos abanando — respondeu. — Hoje os deuses estão sorrindo para mim! Talvez seja o meu momento. — Li parou por um segundo. “Talvez esse também seja o meu momento de sair… eu deveria enquanto estou ganhando” e começou a se levantar.
— Ei, garoto, não vá embora agora! Vai vazar logo quando começou a ficar interessante? Fica mais um pouco, qual é! — O mesmo jovem insistiu.
Li olhou para a mesa. “Talvez não seja uma má idei…”
ARGH
Levando as mãos a cabeça, uma dor aguda atingiu seu cérebro, uma dor que nunca sentiu antes. Suas pernas subitamente falharam, levando-o ao chão.
— Senhor, você está bem? — O dealer perguntou, estranhando a situação do homem.
— Eu to be…AAAH! Que merda é essa! — Li gritou novamente, a dor perfurava seus tímpanos e fazia sua cabeça rodar.
— Ei, moleque, se recomponha, droga! — O jovem colocou a mão sobre o ombro dele, tentando acalmá-lo.
— Alguém faz isso parar!
Uma onda de emoções acertou a mente de Jihan. Enquanto ele se debatia no chão, num espasmo de reação, bateu no braço do jovem que tentava ajudá-lo.
— Ele deve estar sob o efeito de alguma droga. — Assistindo-o se debater no chão, os outros participantes da mesa começaram a conversar entre si, acusando-o.
— Chega, vou chamar a segurança. — O Dealer fez um sinal e, vendo o tumulto da situação, dois homens chegaram para lidar com o problema.
— Espera! Eu não fiz na… ARGH QUE MERDA. — A cabeça de Li parecia que iria explodir de dor. Ele tentou soltar-se das mãos dos homens, mas mal conseguia abrir os olhos. Enquanto era carregado, subitamente apagou.
— Bom dia, senhor, está acordado?
Uma mulher vestida como enfermeira entrou pela porta, encontrando Li com o olho entreaberto, como se estivesse despertando.
— Onde eu estou? — perguntou, confuso.
— Onde mais estaria? Em um Hospital — respondeu. — A ambulância te encontrou apagado em frente a um cassino, alguém deve ter ligado e avisado.
— Perdão, mas eu não sei se tenho como pagar… — Lembrou-se, num tom de voz baixo.
— Você não precisa se preocupar com isso. Além disso, a mulher do seu contato de emergência acabou de chegar e já está resolvendo tudo. — A enfermeira o assegurou, tentando manter o paciente o mais calmo possível.
— Uma… mulher?
— Sim! Uma jovem, ela tem uma energia madura, mas não parece ser mais velha do que você… ela é bem linda. Quem é? Sua namorada? — A moça esbouçou um sorriso de canto e olhou para Li com certa curiosidade.
Porém, foi surpreendida com ele se levantando, arrancando o fio do soro, que estava conectado em seu braço e correndo em direção à porta.
— Ei, você não pode sair ainda!
Mas Jihan não se importou, nem mesmo ouviu a voz da enfermeira. Tudo que passava na sua cabeça é que ele precisava encontrá-la rápido.
Correndo até a portaria, viu uma mulher jovem prestes a ir embora. Seu cabelo, curto e preto, junto a sua roupa formal, dava-lhe um tom responsável. Sua pele, branca como a neve, sem nenhum defeito aparente, e seu corpo delicado, contrastavam com seus olhos afiados. Ela parecia exatamente uma dama de ferro.
— Seo-Yun, espera! — Li a chamou desesperadamente.
— O que você quer!?
A raiva na voz da mulher o parou imediatamente.
— Por qu…
— Meu número estava nos seus contatos de emergência. Eu já tinha dito que não queria mais contato com você!
Yun olhou Li de cima a baixo, ela estava com olhos inchados. Seu tom agressivo contrastava fielmente com sua expressão.
— Olhe só para você… já se olhou no espelho, Jihan?
Ele não respondeu.
— Te acharam desmaiado na frente de um cassino dessa vez? Qual o seu problema? Por que continua fazendo isso?
— Eu… me desculp…
— Não quero suas desculpas, Jihan! Quantas vezes eu já te disse isso! Não quero nada de você, só quero que me deixe em paz de uma vez
— Yun… eu…
Um nó se formou em sua garganta. As palavras lutavam para saírem, mesmo que rasgadas. Ele já tinha imaginado essa situação e repassado ela dezenas, senão centenas de vezes em sua mente. Só nunca pensou que ela aconteceria dessa forma, nessa situação.
— Você o quê? — Perdendo cada vez mais a paciência, seu tom de voz gradualmente subia. — Você quer se desculpar? Sobre o que exatamente?
As memórias de Jihan se entrelaçavam umas nas outras e falhavam em focar em uma coisa específica.
— Sobre como você invadiu meu apartamento? Ou como usava meu dinheiro para sustentar seus vícios? Até mesmo nosso fundo! O dinheiro que iriamos usar para comprar uma casa!
Ele não conseguia falar. Queria se mover, gritar para o mundo todo o quão arrependido estava, se curvar na frente dela e pedir perdão.
— Talvez seja como você agia toda vez que eu te questionava sobre essas coisas? Sobre como você fazia todos ao nosso redor pensar que EU estava LOUCA!?
Mas seus pés não se mexiam. Os olhos da mulher, marejavam e pareciam derreter em angústia. Não era uma conversa, era um desabafo.
— O que mais você poderia querer de mim, Jihan? Destruir as últimas boas memórias que tenho de você? — Seo se segurou por um segundo, encarando-o de frente, esperando por qualquer resposta. — Por deus! Diz alguma coisa!
— Eu… — Li se engasgou, as palavras cortavam sua garganta, lutando para sair, apertando seu peito.
Sem conseguir raciocinar, algo em sua mente instintivamente clicou. Seu torço curvou-se em 60 graus.
— O melhor que posso fazer agora é pedir desculpas. Seo Yun, eu sinto muito.
Ele não sabia de onde tinha tirado vontade ou por que havia falado aquilo, apenas pareceu natural. A mulher, no entanto, não disse nada por alguns segundos, apenas o observou.
— Eu já ouvi algo parecido antes. — Yun se virou em direção à porta. — Eu não acredito mais. — E foi embora, deixando-o sozinho em silêncio.