Sirius - Capítulo 38
Capítulo 38: Guilda
— Vamos, é um processo simples e rápido, mas eu ainda tenho que te guiar para um lugar antes de te levar ao dormitório.
Ambos seguiram pelo portão em formato de arco que adentrava a estrutura. O construto similar a um Parthenon era mais incrível ainda visto de dentro. O mármore preto tornava o ambiente tão magnifico quanto palácios lendários somente descritos em histórias.
“É incrivelmente bonito, parece até que eu estou pisando em um céu estrelado…” pensou Jihan.
Chegando ao balcão, Matheus começou a conversar com um jovem que parecia ter pouco mais de quinze anos. O menino, de cabelo preto curto, estava vestido com um colete escuro que cobria uma gravata vermelha e uma camisa social branca.
Enquanto esperava, Li analisou as pessoas que lotavam o salão. Algumas encapuzadas, outras não, mas a maioria emanava uma energia consideravelmente ameaçadora para ele.
“Eu achei que eu já não estava tão longe da média de poder desse mundo… talvez eu tenha subestimado demais o nível desse lugar” pensou. “Mesmo assim… ninguém aqui exala a mesma energia ou influência a mana da mesma forma que aqueles dois faziam”
Após trocar algumas palavras, ele olhou na direção de Li e pediu para que se aproximasse.
— Me desculpe, senhor. — Apesar da idade, sua voz era mais grave e ele falava formalmente. — Infelizmente, devido à falta de pessoal, estamos com um problema na questão de avaliações. O teste acabou recentemente, os funcionários ainda não voltaram aos seus postos… hm?
O garoto desviou o olhar para baixo do balcão, um pequeno sorriso surgiu em seu rosto.
— Ora… vocês estão com sorte, alguém já voltou ao serviço! Permita-me acompanhá-lo até o centro.
— Sério!? — Matheus, que havia ficado um pouco cabisbaixo por achar que teria que voltar outro dia, imediatamente animou-se. — Agradeço muitíssimo!
— Ah, não se preocupe, estou apenas fazendo meu trabalho — virando-se para Li novamente, ele continuou — Então, vamos?
Dando a volta pelo balcão, o menino o guiou por alguns corredores durante poucos minutos. Matheus resolveu esperar na entrada.
— É aqui — disse o garoto, estendendo uma folha para Jihan. — Não se preocupe, a avaliadora te explicara tudo que precisa saber para prosseguir. Tudo que você precisa fazer é entregar esse papel para ela.
— Obrigado.
— Não precisa agradecer — respondeu, se curvando levemente antes de sair. — Que a sorte esteja com você.
“Hm… é a mesma frase que ela disse…” um pensamento rápido, passou ligeiramente pela cabeça de Jihan, mas, ignorando-o, ele seguiu pela porta.
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CRACK
Ao entrar, passando pela porta, a primeira coisa que escutou foi o som de vidro estourando. A sala escura possuía somente como iluminação o brilho de algumas telas. Uma esfera brilhava em azul no centro.
“Incrível, esse mundo parece ser até mais avançado tecnologicamente que a Terra”
— Quem… é você?
— AH!
Saltando para frente pelo susto, Li imediatamente virou para trás. Uma mulher pálida estava de pé entre ele e a porta.
“Quando foi que ela chegou ali?”
— Não ouviu? Te fiz uma pergunta.
Apesar das palavras, a voz feminina não carregava emoção alguma.
— Estou aqui para a avaliação…
— Avaliação…? — A mulher tirou os óculos e com o jaleco branco que estava usando, limpou suas lentes — Ah… entendi o que aconteceu. Aquele garoto deve ter visto ter uma pessoa na sala e achou que era um avaliador…
— Foi um engano? Eu não me importo de voltar mais tarde se for o ca…
— Não — interrompeu — já que está aqui, eu não me importo de realizar o procedimento, não é nada muito complicado.
Passando por Li, ela tomou o papel de sua mão e começou a ler. A sua aparência lembrava-o ligeiramente de uma mulher que ele conheceu enquanto estava nos testes.
— Desculpe te incomodar, mas por acaso você conhece uma menina chamada Liming?
Parando com a leitura por um instante, ela virou-se na direção dele.
— Você é um amigo dela? — perguntou, com a mesma voz robótica de antes.
— Eu não sei se ela concordaria, mas eu diria que sim…
— Hm… isso é bom, ela não tem amigos, você pode dizer que ela não é muito sociável.
“Eu não acho que você está numa posição para falar isso…” pensou.
— De qualquer forma… vamos começar. Tudo que você precisa fazer é colocar sua mão nessa esfera e circular sua mana pelo seu corpo.
— Assim? — perguntou, seguindo as instruções.
— Sim… isso mesmo…
— Como funciona essa coisa?
— Você faz muitas perguntas…
Uááááá
Li observou o bocejo da mulher, seus olhos estavam inchados e com olheiras.
— Se você conhece um pouco de medicina, você sabe que uma análise sanguínea de uma pessoa pode nós dizer bastante sobre ela… — explicou — a mana funciona da mesma forma, talvez até mais eficaz, visto que ela não é somente física como espiritual.
— Aí!
— Você vai sentir uma pontada de leve, o que mais vai doer é no final. Apenas não tire a sua mão do lugar e tudo deve correr bem.
“Parece que eu estou sendo picado por centenas de formigas”
— Eu li em sua ficha que você possui dupla habilidade… digo não é extremamente raro isso acontecer, mas essa combinação é realmente intrigante, não me recordo de ninguém a ter antes de você.
Li, concentrado na esfera, não percebeu o rosto da mulher se aproximar a centímetros do seu.
— Afinidade com Luz e Álmos… eu gostaria de ter um tempo para te estudar…
Seus olhos eram pretos e opacos, como se engolissem tudo que ela enxergasse. Sua voz, porém, continuava sem emoção, inalterada, robótica. Em seu rosto, um sorriso aparentemente vazio apareceu.
“Eu imagino como ela reagiria se soubesse que existe uma terceira… eu provavelmente não conseguiria deixar esse lugar…”
ARGH
O braço de Jihan começou a latejar, uma tatuagem surgiu em seu antebraço, a mesma que os Arcadianos carregam.
Os olhos da mulher se voltaram ao desenho.
— Kali, no entanto, ficaria bem irritada comigo… você pode ir agora, acabamos por aqui.
Assim que o teste foi concluído, ela se virou, acenando a mão para ele ir embora. Li, sem querer perder tempo, imediatamente deixou a sala, indo de volta para onde Matheus o aguardava.
“Ela era… estranhamente… atraente?”
— Foi rápido… deu tudo certo? — Assim que avistou Li, o homem o questionou.
— Acho que sim… digo, tenho uma tatuagem agora, mas não sei se fui avaliado.
— Ah, claro, eu não te expliquei isso ainda. Erro meu — Matheus se desculpou. — Tudo que você precisa fazer agora é concentrar a mana em seus olhos e focar no desenho.
“Concentrar nos olhos e… focar no desenho…”. Assim que tentou, uma imagem piscou na frente da visão de Jihan.
— Concentra, se você perder o foco por um segundo ela vai desaparecer — explicou.
Voltando a tentar, uma imagem voltou a ser projetada no campo de visão de Li.
— Isso é realmente impressionante… como funciona? — perguntou Jihan.
— Bem… — sem graça, Matheus respondeu — eu não consigo explicar exatamente como é feito, mas pelo que sei é uma assinatura de mana, só você consegue ver a sua e ela tem que ser atualizada de tempos em tempos. É mais um feito da deusa do conhecimento, Brigida.
— Eu já ouvi falar dela algumas vezes, como ela conseguiu realizar tanta coisa?
— De novo, eu não sei muito, alguns boatos contam que ela é um gênio que veio de um mundo extremamente tecnológico — explicou. — Apesar de não saber por que ela escolheu vir, após aprender sobre a mana ela assimilou isso ao próprio conhecimento e desenvolveu milhares de projetos. Hoje em dia ela é publicamente reverenciada como a Deusa do conhecimento e engenharia.
— Ela deve ser uma pessoa incrível…
— Com toda certeza, mas pouquíssima gente a conhece pessoalmente, dizem que ela prefere a companhia das máquinas a de pessoas…
Li ficou pensativo por alguns segundos.
— Eu não sei muito sobre os deuses, mas eu sempre tenho uma sensação estranha quando estou próximo a um.
— Como assim?
— Eu não sei muito bem explicar… é como se eles fossem uma força natural do mundo, ao mesmo tempo, em que a mana se comporta de uma maneira agressiva ao redor deles.
— Acho que sei mais ou menos do que você está falando… O primeiro motivo é a Autoridade, o segundo é o controle de mana.
— Controle de mana? Isto está na minha avaliação… apesar de que acho que está ranqueado bem baixo…
— Não é incomum, o controle de mana é o quesito mais difícil de se elevar, e com um bom motivo.
— É tão importante assim?
— Hm… colocando em palavras… imagine lutar com alguém que tem a seu dispor toda a mana que circula o seu ambiente? É como se a outra pessoa controlasse o seu oxigênio, a não ser que seu controle esteja no mesmo nível que o dele, você se torna no máximo um pequeno incomodo.
— Então a mana se comportar de uma maneira agressiva…
— Sim, dizem que o controle de mana de um Deus é tão poderoso que até o ambiente ao redor deles se moldam a sua vontade.
Matheus subitamente virou-se em direção à saída.
— E sobre a autoridade?
— Outro dia eu te explico, vamos logo, tenho que te mostrar a Arena.
Logo depois, Li o seguiu.