Sirius - Capítulo 41:
Capítulo 41: Um velho conhecido
— In… incrível! — Disse Matheus. — onde você conseguiu isso?
Li apertou a metade do chifre em sua mão. Apesar de Michael ter selado o poder do objeto para não causar comoção, ele ainda exalava uma energia ‘cortante’.
— Foi… um presente.
— ‘Um presente’ você diz… — Certamente não era um presente que fosse tão fácil de conseguir, mas, pela resposta de Jihan, Matheus preferiu não o questionar mais sobre. — Bem, se está tão certo, vamos logo, não fica muito longe daqui.
O homem começou a caminhar em direção à saída do coliseu. Guardando o item de volta na mochila, Li o seguiu.
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O sol de fim de tarde já descia no horizonte, iluminando a cidade num tom alaranjado.
O lugar de fato não era muito longe, após alguns minutos andando eles chegaram a um aparentemente humilde estabelecimento. A forja era tão simples que poderia ser facilmente confundida com uma casa por qualquer espectador aleatório que passasse a frente.
A única diferença aparente era a placa que balançava, pendurada acima da porta.
“An tEalaíontóir Amháin” Li concentrou-se e as palavras começaram a se embaralhar até formar outra frase.
— ‘O Único Artista’
— Sim — Matheus confirmou — um pouco desumilde se quer saber, mas ele tem esse direito.
— Ele é tão bom assim?
— Melhor. — Uma voz gasta e ranzinza soou por trás dos dois.
Ambos viraram para trás ao mesmo tempo, um homem velho estava parado atrás deles. A sua barba branca e grisalha estava amarrada com cordas de couro. Apesar de ser um anão, ele é um pouco mais alto do que a média. Sua camisa regata suja, deixa exposto os seus músculos bem definidos, provavelmente fruto de um trabalho braçal árduo diário.
Matheus imediatamente o reconheceu, abaixando a cabeça e o cumprimentando.
— Boa tarde, Sr.
Li seguiu o exemplo, fazendo exatamente a mesma coisa.
— Então, o que você quer, garoto? — perguntou a Matheus.
Por ser um líder de equipe, Matheus já era familiar com o homem, tanto pelo seu pedido, quanto pelo pedido dos outros membros da equipe.
— Sr. Valhir, este novato já quer fazer a ordem de seu artefato.
— Hm… você explicou as condições para ele?
— Sim…
Valhir deu uma rápida olhada em Jihan, analisando-o de cima a baixo.
— Bem, vamos entrando, quero ver o motivo da sua vinda.
Passando por ambos, o homem abriu a porta. Quando Li passou pela por ela, foi rapidamente surpreendido. A estrutura do lado de fora não fazia jus algum ao lado de dentro.
Dezenas de símbolos pintavam as paredes, emitindo uma barreira de mana que parecia proteger a estrutura. Diversos equipamentos, entre armaduras completas, espadas e lanças, que emitiam uma energia poderosa, estavam expostos, pendurados e espalhados pelas mesmas paredes.
O lugar também era maior do que parecia. No fundo do cômodo, uma forja queimava ardentemente.
Valhir pegou um bloco que ferro que estava em cima da mesa e se aproximou da forja. Colocando o item em cima da bancada de pedra, ele segurou o martelo que estava ao lado….
BAM
Golpeando fortemente o bloco de ferro, que se partiu em dois. De dentro do objeto, uma lâmina de metal saiu, Valhir a pegou e a posicionou próximo ao fogo.
Li olhou para Matheus, esperando que ele falasse alguma coisa, mas o homem apenas sinalizou para que fosse paciente.
Após alguns minutos do metal esquentando, Valhir o pegou com cuidado e colocou sobre um bloco ainda mais denso. Puxou seu martelo e começou a moldar a lâmina.
Clang Clang
O som do metal colidindo ecoou pelo lugar.
— Então, o que você tem para me mostrar? — perguntou, enquanto trabalhava.
— Primeiro, eu gostaria de saber em quanto tempo o senhor conseguiria fazer a produção do artefato — respondeu Li.
— Alguns meses… provavelmente.
“É tempo demais…”
Clang Clang
— Não existe a possibilidade de ser antes do torneio anual…
— HAHAHA, você deve estar brincando, garoto! Armas demoram tempo para serem feitas, eu tenho uma agenda bem lotada!
— Eu não preciso de uma arma… é possível que o senhor possa produzir algum outro equipamento — concluiu, olhando as armaduras expostas.
— Sinceramente! — resmungou — Os jovens de hoje em dia são muito apressados! É bom que o tempo de espera seja longo, você tem tempo para mudar de ideia sobre a material, é o que acontece com a maioria dos pedidos feitos por novatos!
Clang Clang
— De qualquer forma… o tipo de produto depende da matéria-prima que você tem…
— Isso funcionaria? — Li pegou novamente o chifre de sua mochila.
Clang
No momento em que Valhir olhou o que Jihan segurava, o barulho do martelo cessou. Porém, a expressão em seu rosto era diferente da que Matheus havia demonstrado.
— Garoto… onde você conseguiu isso…? — Um tom de voz frio habitava as suas palavras.
Li e Matheus sentiram a atmosfera lentamente ficando mais densa.
— O outro disse que você acabou de ser selecionado na fase introdutória… é obvio onde você conseguiu…
Valhir começou a balbuciar algumas palavras, Jihan mal conseguia se mover sob tamanha pressão. O velho segurou a cabeça do martelo com a outra mão, o metal fervendo que encostou em sua pele não mudou a sua expressão em nenhum milímetro.
— Eu… ARGH! — Quando tentou falar, Li sentiu que sua garganta estava sendo apertada, mesmo que não houvesse nada a encostando.
— Sr. Valhir! Por favor, se contenha! — gritou Matheus — Esse jovem já é um membro da Arcad…
— Você acha que seus superiores trocariam a parceria comigo pela vida de um novato? — respondeu friamente.
— It…zal! — Com todas as forças, Li gritou um nome.
— Eu sabia! — A mana ao redor do ferreiro gritou sua intenção de matar.
GASP
A garganta de Jihan apertou ainda mais.
— Valhir! Deixe-o dar uma explicação, por favor! Se não for satisfatória, eu prometo que não prestarei queixa!
Li lentamente estava sufocando.
— VALHIR!
TSC
A força que prendia a garganta de Jihan, subitamente cessou.
— Você tem 30 segundos.
COF COF
— 25.
— Me desculpe!
— 20.
Jihan ajoelhou-se no chão, abaixando a cabeça.
— Eu não o matei, mas tenho parte da culpa em sua morte…
— Parte…?
— Eu… não consegui ser de nenhuma ajuda…
— Como… como ele morreu?
— O Troll…
— BESTEIRA! Eu conheço Itzal, um troll qualquer NUNCA conseguiria acertá-lo, quanto menos o mat…
— Mesmo se custasse a vida da filha dele? — interrompeu-o.
Valhir ficou em silêncio por um minuto.
— Me conte exatamente o que aconteceu…
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Os dois se sentaram de frente para o outro e Li explicou detalhe por detalhe. Como ele conheceu Itzal e Akemi.
Como ele se juntou aos dois durante o teste, das conversas que teve com o elfo, do plano que foi traçado e do acidente que aconteceu durante.
Como o pai teve que tomar a pior decisão num momento de perigo extremo e como ele o ordenou que corresse e levasse sua filha.
Mesmo que não gostasse, sua mente lembrava de cada segundo daquele momento.
— E a menina?
— Ela… está bem… — Omitindo o estado em que ela ficou após a última fase, respondeu. — Tenho certeza de que já está em alguma facção, ela é forte…
— Entendo…
Valhir se levantou e lentamente andou para perto da forja.
— Você acredita em mim…?
— Eu tenho motivos…
— O senhor… o conhecia muito?
— O suficiente para saber que ele morreria pela filha…
Li ficou em silêncio por um momento.
— Sim… — sussurrou — ele era um bom pai…
— Enfim… obrigado por me contar, garoto. É melhor do que nunca ter descoberto.
— Não precisa agradecer…
Matheus, que estava escutando no canto, esperou eles terminarem de conversar para perguntar.
— Eu não reportarei nada para meus superiores, mas e sobre o artefato?
— Está tudo bem, só deixe o chifre aí — respondeu, e, virando-se para Li, continuou — Você quer um equipamento, certo? Não se preocupe, vai estar pronto até o torneio.
— Obrigado, senhor.
— É o mínimo que posso fazer… — Suspirando profundamente, Valhir virou-se na direção oposta. — Vocês podem ir agora.
Jihan encarou as costas do anão por mais alguns segundos antes de, junto de Matheus, sair pela porta. Pouco antes de sair ouviu-o sussurrar algumas palavras.
— Eu sempre soube que você ia morrer antes de mim… só não achei que seria tão cedo…
BAM
Alguns passos mais afora, era possível ouvir, vindo de dentro da forja, o barulho de metais batendo ao chão e coisas se quebrando. Eles não precisavam perguntar o motivo e muito menos ver a cena para entender o que estava acontecendo.
Vendo que Li estava cabisbaixo, Matheus colocou a mão em seu ombro.
— Está tudo bem, você fez o possível.
Li não o respondeu.
— Vamos, vou te mostrar onde você vai ficar. Levanta a cabeça, não quer que seus companheiros de time tenham a impressão errada sobre você, não é?
Vendo o esforço do líder para alegrá-lo, deu um longo suspiro e bateu com as mãos no rosto, ajeitando-se.
— Certo, vambora!