Sirius - Capítulo 49
Capítulo 49: Desenvolvimento
Depois de se separarem, Li e Lisa voltaram para estalagem. Carregando o garoto em seus braços, mesmo tendo o apagado em meio a um bar, o homem tentou ser o mais discreto possível, cobrindo-o com seu manto.
— Queria que houvesse uma magia para me deixar invisível… — sussurrou Li.
“Er… será que não existem mesmo? Talvez eu possa usar algo do tipo futuramente?” pensou.
Entrando no alojamento e chegando em um dos quartos de número que Jihan havia visto na chave que entregou para Glória, bateu três vezes na porta. Como não houve resposta, ele a chamou.
— Glória, sou eu! — anunciou.
Após alguns segundos, a mulher abriu a porta, uma toalha cobria seu corpo e outra seu cabelo.
— Devia ter falado logo — disse ela.
— Estava no banho?
— Tenho que aproveitar as chances quando posso — respondeu. — Hm? Está mesmo tudo bem carregar um corpo por aí?
— É tão obvio assim? — perguntou enquanto retirava o seu manto de cima do menino e o deitava em uma das camas.
Era um quarto simples com três camas, um banheiro e uma mesinha. Não à toa Fynn havia conseguido um preço tão bom nele.
— Um garoto?
— Sim, surgiu um novo problema, temos muito o que conversar.
Glória rapidamente concordou.
— Certo, chame o Hans no quarto ao lado, vou colocar uma roupa.
— Parece que o problema é um pouco mais profundo do que achávamos… — disse Glória. — É melhor prosseguirmos com a magia para deixá-lo desacordado
Após Hans chegar e Glória se vestir, Li explicou com detalhes o que havia acontecido para os dois. Sobre como haviam encontrado o menino e sobre mais pessoas terem desaparecido tanto fisicamente quanto na memória dos habitantes da vila.
— Não é como se pudéssemos mudar a forma como a sociedade funciona — observou Hans. — Então o nosso objetivo principal continua o mesmo.
— Você não está errado… — concordou a latina. — De qualquer forma, o que o Matheus achou de tudo isso? Ele disse alguma coisa?
— Se ele disse alguma coisa? — estranhou Li. — Bem, ele concorda sobre sermos cautelosos e tanto ele quanto Fynn acreditaram em mim… ele também disse para cuidarmos bem do moleque…
— Entendi… bem, é sua teoria, o que você acha que está causando tudo isso?
— O que eu acho… pelo pouco que sei de maldições, talvez ela esteja ficando mais forte?
Lisa levantou subitamente a mão, os três olharam para ela.
— Você quer dizer alguma coisa? — perguntou Li.
Enchendo seu peito de ar como se estivesse esperando por esse momento, a menina começou seu ‘discurso’.
— Capítulo 23 do livro de ameaças contra o divino e o bom: Maldições podem se fortalecer tanto quando sua fonte fica mais forte quanto quando seu hospedeiro prove mais da força que a alimenta! — declamou. — Não apenas isso, a distância entre a fonte da maldição e o afligido por ela também influenciam na velocidade de seu ‘contágio’.
— Ei… é incrível que você saiba disso tudo… — elogiou Glória, levando uma de suas mãos ao rosto. — Mas por que não disse antes?
— Er… — ouvindo a pergunta, Lisa fica um pouco cabisbaixa. — Eu não queria parecer uma sabe tudo, nem falar fora de hora… não queria irritar vocês…
Vendo a reação da garota, Li coloca a mão na cabeça dela, afagando seu cabelo.
— Não precisa se segurar, fique à vontade para falar sempre que quiser — disse o homem. — Somos um time, ninguém vai achar ruim se você tentar nos ajudar…
Se virando para ele, a menina sorriu.
— Certo! Obrigado, Sr. Li, vou me esforçar mais daqui para frente!
Vendo os dois, Glória não pode deixar de também esboçar um sorriso. Hans, ao contrário, ainda manteve a mesma expressão estoica de sempre.
— Okay, vocês dois — interrompeu Glória. — Lisa, você pode proceder com a magia agora?
— Sim, não deve demorar muito, só preciso me concentrar.
— Então pode começar.
KNOCK KNOCK
No momento em que Lisa iniciava a magia, uma batida na porta silenciou os quatro dentro do quarto.
Do outro lado da vila, Matheus e Fynn decidiram sair pelo portão contrário ao que eles entraram, afinal, não queriam esbarrar com o mesmo alferes de mais cedo, muito menos chamar atenção. Por esse mesmo motivo, apesar da pressa pelo tempo curto, optaram por deixar os cavalos no estábulo.
— O garoto disse que a casa deles fica entre o portão e o posto avançado próximo à floresta — apontou Matheus. — Então, seguindo por essa estrada, devemos chegar lá em algum momento.
Os guardas no portão não os incomodaram, pois se eles estão vindo de dentro da vila, devem ter entrado pelo outro lugar, onde, alguém com maior patente que eles, estava posicionado.
Após terem passado pela guarda e permanecido algumas dúzias de minutos em silêncio, Matheus finalmente quebrou o gelo.
— O que exatamente você viu?
— Como assim, líder?
— Fynn, Li pode não te conhecer muito, por isso ele não deve ter entendido exatamente o porquê você ter concordado com ele, mas eu te conheço a mais que um tempo, logo, o que você viu?
— De certo, as coisas realmente não fogem aos seus olhos, não é mesmo líder…?
— Desembuche logo!
Fynn continuou mantendo o mesmo sorriso incógnito de sempre.
— Isso é uma ordem, líder?
— É um pedido — respondeu, aumentando gradualmente o tom de voz.
— Você por acaso está preocupado com o garoto?
— Eu estou preocupado com a missão!
— Eh… toquei em um ponto delicado?
— Não ultrapasse os limites da minha paciência, Fynn Aster!
— Hahaha, okay, okay, me desculpe…
TSK
Matheus estalou os lábios e acelerou o passo.
— É logico que eu acataria um pedido do meu capitão… eu vi a mana se comportar de forma cada vez mais esquisita ao redor do garoto — explicou Fynn, acompanhando-o. — Mas estava sendo gradual, talvez o Jihan deva ter percebido a gravidade da situação antes de mim…
— Ele percebeu antes de você? Como isso é possível?
— Hahaha, o mundo está cheio de pessoas diversas, o que tem de tão errado em encontrar alguém que consiga sentir a mana tão bem ou até melhor do que eu?
HUMPF
— ‘O Demônio da Tempestade’ ou ‘A Frenesi Encarnada’ não são títulos que qualquer pessoa recebe.
Fynn riu novamente.
— Assim você vai me deixar envergonhado, líder! — brincou. — Bem… teve uma coisa que realmente achei esquisita…
— Você dizer que algo é esquisito? Tem uma primeira vez para tudo…
— Primeiro você me adula e depois me bate? Não sabia que você era esse tipo de pessoa…
— Calado.
— Hehehe, enfim… quando Jihan encostou no garoto, alguma coisa me estranhou… parecia que a mana sombria que assolava o garoto… de certa forma estava ressoando com o Li… sendo absorvida por ele, não sei explicar direito.
— Ele absorveu mana sombria? — questionou, Matheus. — Já ouvi falar de absorção de mana, mas fazer isso com algo de caráter tão… agressivo, não danificaria os canais dele?
— Isso é o que mais me intriga nisso… não parecia que era ele que estava absorvendo… só estava fluindo para dentro dele… eu acho? — ressalvou. — Ele também não pareceu perceber o que estava acontecendo.
Colocando a mão no queixo, Matheus começou a sussurrar para si mesmo, repetindo as falas de Fynn, como se tentasse descobrir alguma conexão entre o que ele sabia de Li e o que seu companheiro havia acabado de lhe falar.
— Não se prenda muito a isso, líder. Todos temos nossas circunstâncias, eu pessoalmente acho que as coisas vão se esclarecer com o tempo.
Olhando para Fynn, o homem concordou com a cabeça.
— Estou só um pouco preocupado com ele, nada mais.
— Preocupado né… deixemos de lado isso por enquanto, temos que focar na missão — apontou. — Parece que chegamos.
Apesar de estarem perto da floresta, um campo aberto estendia-se à esquerda de ambos. Uma pequena trilha levava a uma casa de médio porte, feita de madeira, no meio da pradaria.
Suas janelas e porta estavam fechadas, não havia barulho algum vindo da direção. Simplesmente não parecia ter sinal de vida.
— Vamos, quanto mais rápido terminarmos com isso, mais rápido voltaremos para a vila.
Logo atrás da casa, um milharal se estendia por algumas dezenas de metros. Assim que se aproximaram, uma dúzia de aves levantaram voo gralhando enquanto sobrevoavam a plantação.
— Hm?
— O que foi? — perguntou Matheus.
— Nada, só achei ter sentido alguma coisa nós observando, mas acho que eram só os corvos.
— Ei, não diga esse tipo de coisa, não sabe que dá azar?
— Você é uma pessoa supersticiosa, não é mesmo?
— Diga o que quiser…
Ambos se aproximaram da porta. Os corvos logo pousaram em um fantoche no meio do plantio, bicando a palha que compunha o boneco. O espantalho de olhos ocos estava virado na direção da casa.