Sirius - Capítulo 6
Capítulo 6: O Outro Lado
Em um café no centro da cidade, um jovem loiro estava sentado a uma mesa, bebericando de uma xícara. Sua aparência chamava a atenção de todos que passavam perto dele. Ao ver outro homem entrar pela porta do estabelecimento, levantou-se e acenou para que ele o visse.
— Senhor Li, é uma honra te ver novamente. — O loiro o cumprimentou.
— Michael, não é mesmo? — Jihan sentou-se à mesa. — Chá-verde? — Perguntou, olhando a xícara de Michael.
— Sim! Fico feliz que tenha reconhecido. — O homem sorriu.
— O cheiro é inconfundível, embora eu goste mais de café. — Li chamou um garçom próximo e pediu uma xícara do líquido amargo.
— Você sabia que chá é o melhor acompanhamento para lanches rápidos?
— Rápidos… vamos direto ao ponto então. — Li tomou um gole de seu copo e continuou — O que você quer de mim?
— Direto como sempre! — O homem abriu uma maleta e colocou sobre a mesa uma folha A4.
— Você fala como se me conhecesse. — Jihan estendeu a mão e pegou a folha de papel “Um contrato?”
Michael deu risada.
— E eu conheço, até mais do que você imagina! — Michael sorriu. — Estávamos te observando, Jihan. Originalmente, esse contrato era uma transferência de crédito. Pretendíamos te “comprar” de Tai Lung, por assim diz-
— Eu não estou à venda. — Li o cortou. — E não quero estar algemado a outro lugar. Se é só isso que procura, acho que finalizamos aqui.
— O senhor me entendeu errado! Não queremos nada de você, pelo contrário, queremos oferecê-lo uma oportunidade.
— Hm… Que tipo de oportunidade?
— Senhor Li…, e se eu te dissesse que poderia te dar um novo começo? Uma vida em outro lugar, onde ninguém te conhece. Além disso, você só dependeria de si mesmo e disso para sobreviver. — Michael apontou para a mão de Jihan. — Você, genuinamente, não se interessaria?
— Se estou interessado? Muito! — Li sorriu e logo depois fechou a cara, demostrando desconfiança no sujeito. — Mas o que não estou entendendo, Michael, é o que você ganha com isso. Quero dizer, você até agora só disse coisas boas para mim. Posso não ser o mais esperto do mundo, mas eu não sou nenhum estúpido. O que vocês recebem em troca me dando tudo isso?
— Bem, minha comissão! Não afeta em nada o senhor, mas se fizer coisas ruins, sou afetado negativamente, da mesma forma que se fizer coisas boas, sou afetado positivamente.
— Hahaha, me parece ótimo… quase imaginário. Me diz uma coisa, o que tenho que fazer então? Surrar alguns vagabundos? — Li debochou. Sinceramente, ele não estava acreditando muito no homem em sua frente. O único motivo dele ainda estar sentado é pelo que aconteceu no escritório de Tai Lung. Ele queria entender mais sobre quem era Michael.
— Sim e não. — Michael, pela primeira vez na conversa, fechou a cara. — O que quero… é que você mate alguns demônios para mim.
Li gargalhou. Quando viu que o loiro não estava rindo, fechou a cara e encarou o jovem.
— Agora você está soando como um lunático para mim. Me dê um motivo para não levantar e ir embora agora mesmo.
— Posso te dar dez! — Michael pegou a maleta ao lado dele, colocou-a em cima da mesa e a abriu. Revelando 10 blocos de notas de 100, encaixados perfeitamente na mala. — O que me diz?
— Você não pode me comprar com dinheiro. Não sou mais essa pessoa! — Li se zangou, o homem parecia tratá-lo mais como um bem luxuoso do que como uma pessoa.
— De fato, não compra. — Fechando a maleta, ele continuou. — Mas você ainda tem dívidas a pagar, não é, Jihan? — O sorriso novamente voltou à face do homem. — Mesmo que tenha pago suas dívidas de dinheiro na teoria, você sabe que não pagou nem um quinto do que realmente tem de “dívidas”. — Sinalizando aspas com os dedos, Michael o provocou.
“Esse desgraçado!” Li estava mais calmo do que o normal, mas não significa que ele tinha se tornado Buda. “Ele sabe bem do que está falando”.
— Você não está errado. — Jihan respirou fundo. — Mas eu consigo me virar sozinho. Não preciso do seu dinheiro, logo, acho que terminamos por aqui. — E se levantou, pretendendo ir em direção à saída.
Michael, tranquilo e com o mesmo sorriso, não foi afetado em nada pela recusa.
— E seu pai, então?
Li parou.
— O que disse? — Se virando, uma veia saltou em seu pescoço.
— Você me ouviu… e sobre seu pai ent-
BANG*
Li socou a mesa.
— Ele está MORTO! Me ouviu? MORTO! — Li deixou a calma se esvair e continuou. — Esse desgraçado inútil morreu há mais de uma década!
Michael gargalhou.
— Isso é o que VOCÊ sabe! Mas o que você sabe, Jihan? Nada! Apenas um sapo no fundo, de um poço. — Cerrando os olhos, como se odiasse o assunto, ele o provocou. — O desgraçado está vivo e muito bem!
— Você está mentindo!
— Então veja por si mesmo! — Michael colocou um pequeno vidro circular sobre a mesa.
— Que droga é essa? — Li perguntou confuso.
— Olhe, Jihan. — Disse o homem, convidando-o a se aproximar.
Chegando perto do vidro, Li viu uma cena que não conseguia explicar. Um homem, seguido de uma onda sombria, adentrava um exército. Suas mãos estavam mais para garras do que dedos. Olhando mais de perto, todas as sombras pareciam copiar os movimentos do monstro, dilacerando qualquer um que chegasse perto. A imagem, então, congelou no rosto da besta. Um rosto que Li conhecia muito bem.
— Que porcaria é isso…? — Ele podia nunca ter visto o sujeito, mas após a morte de sua mãe, fez questão de procurá-lo com o pouco que sabia.
— Acredita agora?
— O que aconteceu com ele?
— Bem, essa coisa que você viu não é mais um “ele”, de onde venho, nós o chamamos de Zilá, O Mestre das sombras. — A imagem no vidro finalmente apagou e o objeto se partiu no meio. Michael sentiu o trincar do vidro, como uma agulhada em seu coração. “Tão caro!”
— Eu… não sei o que dizer, preciso processar isso…
— Não temos muito tempo… não é fácil levar alguém para o outro lado… Você tem até amanhã para decidir! — Michael puxou a maleta com o dinheiro, colocou o contrato dentro e a entregou para Li. — Fique com isso.
— Vai confiar isso a mim? — Jihan o questionou e Michael riu.
— Sr. Li, se você recusar, posso só te achar e pegar a maleta de volta. — A confiança em sua voz fez Jihan ter certeza, que caso o jovem quisesse, ele não alcançaria a fronteira da cidade.
— Se eu aceitar… como entro em contato com você?
— Ah, não se preocupe com isso, caso deseje aceitar, é só assinar os papéis e aguardar até a manhã seguinte.
— Só isso? — Perguntou incrédulo.
— Sim… só isso. Entretanto, se prepare previamente, para quando acordar já estar pronto.
Li não entendeu direito, mas acenou com a cabeça. Michael se virou e foi embora.
— Até mais, senhor Li. — Deixando-o sozinho.
Jihan olhou mais uma vez para maleta.
“Mestre das sombras é…? Um título grande demais para um homem tão pequeno.”
Já do lado de fora, Michael chamou um táxi. Um carro parou à sua frente, e ao entrar, uma mulher estava sentada no banco de passageiro.
— Acha que ele vai aceitar? — A voz feminina indagou.
— Não acho, tenho certeza. — Michael respondeu.
— Por que tanta certeza? O que você e aquele velhote enxergam nesse garoto? Para mim, ele não é nada demais! — A voz se irritou. — Eu poderia acabar com ele com uma mão atrás das costas.
Michael deu risada.
— Mesmo que fossem as duas, eu ainda apostaria em você… entretanto… se o velho vê alguma coisa nesse garoto, só podemos confiar nele.
— Bem, você tem um ponto… ainda assim… um contrato tão caro…
E o táxi partiu, indo para quem sabe lá onde.
Logo após o táxi partir, Li saiu do café.
“Caminhar com uma maleta lotada de dinheiro é esquisito, mas não quero abrir isso na frente de outras pessoas…”
Jihan continuou seguindo a rua.
“Pera, aquela é…” Numa reação involuntária, Li escondeu o rosto com o capuz de sua jaqueta. “Yun…” Seu instinto de não querer ser visto por ela surpreendeu até o próprio garoto. “Desde quando tenho vergonha de que ela me veja…?”. Porém, por curiosidade ou para sentir pena de si mesmo, Jihan se virou e começou a segui-la disfarçadamente. “Para onde será que ela está indo…?”.
Em dado momento, Seo parou e entrou em um restaurante. “Um encontro? Ela está namorando?”
Li sentiu um aperto no peito. Pouco depois, duas outras mulheres chegaram e se sentaram à mesa de Seo Yun. “Eu estou… aliviado?”. E o aperto no peito virou dor. “Que direito tenho de estar aliviado? DROGA JIHU”. Ela era muito mais forte que ele. Muito mais. Mesmo depois de tudo que Li a fez passar, ela ainda se esforçava diariamente, ainda sorria com as amigas e ainda estava vivendo. Jihan apenas foi embora. No restaurante, Seo olhou para rua.
— Seo, está tudo bem?
— Ah, claro, só me distraí um pouco, pensei ter visto alguém que eu conhecia, o que estava falando?
E continuaram a conversar. Vários minutos depois, um garçom chegou até a mesa e entregou um pacote para Seo Yun.
— Desculpa, eu não pedi isso, o que é?
— Me perdoe, senhorita. Eu também não sei. Um homem deixou aqui, e pediu para entregar diretamente à senhora.
No pacote, em caneta preta, uma simples mensagem: “Sei que não é dinheiro que você queria, mas um dia vou merecer seu perdão.”. Seo imediatamente levantou-se da mesa e saiu pela porta do restaurante, olhando de um lado para o outro. Quando não viu ninguém, voltou para dentro.
— Yun, o que aconteceu? — As amigas perguntaram preocupadas.
— Nada… nada! Eu só… é só um presente de um conhecido meu. Queria ver se conseguia falar com ele a tempo, mas acho que ele já foi embora.
Em um pequeno apartamento mobiliado alugado, Li estava deitado na cama. Em suas mãos, um contrato preenchido com seu nome.