Sirius - Capítulo 63
A matéria é mutável.
Do homem surge tanto o material quanto o imaterial. O Homem é mutável tanto no plano material quanto no imaterial. Sendo assim, não é totalmente plausível que aquilo que vem do homem é também totalmente mutável?
Se conseguimos fazer com que os homens se dobrem a nossa vontade, não seria totalmente plausível que possamos fazer com que aquilo que nasce do homem dobre-se também a nossa vontade? Isso seria considerado escravidão? Eu espero que não… se o mundo é vivo e nós os escravizamos… um dia ele terá sua liberdade.
O que será de nós agora? ~Brigida
— HUF COF COF
Em um quarto escuro, iluminado por apenas um raio de luz que penetrava a cortina semiaberta, um homem acordava engasgando-se com sua própria respiração.
— Pesadelos novamente?
Seu companheiro de quarto estava sentado na cama ao lado observando-o.
— Eu te acordei… me desculpe… — disse o homem.
— Você está dizendo isso bastante recentemente, além disso, já é de manhã
— Sei…
— Então, sobre o que foi dessa vez?
— O mesmo de sempre — respondeu. — O céu queimando, o horizonte escurecendo e um meteoro desce em direção ao chão, purgando tudo que sua luz toca… incluindo a mim.
— Parece doloroso…
— Não… não é doloroso… é libertador.
— Agora sim você está falando coisas estranhas — diz o companheiro, os dois riem do comentário.
— Se pedir desculpas está ficando repetitivo, talvez eu deva te agradecer novamente, afinal, é graças a você que estamos vivos.
— Não precisa agradecer, somos uma equipe, Matheus — respondeu. — Aliás, escutei que vamos ter um novo integrante hoje.
— Sim, não me contaram seu nome, mas me disseram que ele é da mesma leva que você.
— Então levante-se logo, você tem que recebê-lo como fez comigo.
— Sinceramente, Li, estou um pouco acabado, não quer fazer introduzi-lo só dessa vez?
— De maneira alguma! — disse o homem, se levantando e espreguiçando. — Você é bem melhor nisso, eu não saberia o que dizer.
— Certo… certo, vou lavar o rosto e te encontro mais tarde, tivemos uma pausa devido a tudo que aconteceu, mas você ainda nem conheceu o Instrutor e faltam poucas semanas para o torneio.
— Hum… espero que eu consiga aprender alguma coisa nova…
— Hahaha, vai se surpreender, Dédalos é um dos nomes mais famosos desse reino, talvez você não tenha a chance de treinar diretamente com ele, já que ele é o instrutor principal e raramente está presente — explicou Matheus. — Mas os sub instrutores são mais do que capacitados para isso.
TOC TOC TOC
— Líder — a voz de Glória veio por trás da porta. — A nova integrante chegou.
— Argh, ela está aqui? — reclamou o homem, levantando-se da cama e indo em direção ao banheiro. — Li, ganhe um tempo para mim, não quero parecer um vagabundo.
Jihan riu levemente de seu amigo, mas saiu do quarto. Após a conversa que tiveram com Ya Shen, um dos lordes de Arcádia, o grupo voltou para Anpýrgio. O homem ainda não havia decidido quais seriam as consequências da displicência da equipe. De uma forma ou de outra, alguma coisa já estava diferente dentro dos integrantes da equipe, especialmente entre os mais afetados.
Apesar de ter conseguido salvar seus companheiros e moradores da cidade, Li não estava satisfeito, um gosto amargo de uma quase derrota tomava conta de seu paladar. Era compreensível, sua mente estava perturbada por algum motivo, nem mesmo seu espaço mental ele conseguia acessar.
“Isso nunca aconteceu antes… talvez uma face nova volte a elevar a nossa moral.” Pensou enquanto ia desatento em direção à sala.
— Li? — uma voz familiar o chamou, alguém que ele não via há algum tempo.
— Selene?
A conjuradora de cabelos ruivos vibrantes e olhos azuis-marinhos sentava-se no sofá, próximo à entrada. Ela estava um pouco diferente do que Jihan se lembrava, suas pálpebras estavam um pouco inchadas, talvez por falta de sono. Seu jeito até meio extravagante já não existia, pelo contrário, seus ombros estavam baixos assim como sua voz. A menina extrovertida havia desaparecido, junto a sua fiel escudeira que já não estava mais ao seu lado. Apesar disso, e da surpresa de vê-lo ali; Selene ajeitou-se, ver alguém conhecido pareceu reanimá-la.
— O que você está fazendo aqui? — perguntou a menina.
— O que você está fazendo aqui? — respondeu.
— Já se conhecem? — Gloria, que estava ao lado de Selene, perguntou. — Que bom, assim fica tudo mais fácil.
— Sim, fomos da mesma equipe na fase final dos testes… na verdade, a no… minha aprovação foi muito graças ao Jihan.
— Bem, pelo menos eu não fui a primeira! — Notando certa estranheza nas palavras da garota, Glória tentou quebrar o gelo. — Me parece que você gosta de salvar a pele dos outros, Li.
— Hahaha — riu despretensiosamente — É uma mania que eu tenho. Bem, se você está aqui e não tem mais ninguém, suponho que você vá ser a nova integrante do grupo… fico feliz, precisávamos mesmo de uma conjuradora.
Jihan propositalmente evitou comentar sobre Irmin, afinal, ela mesma não falou nada sobre, e vendo seu estado, era melhor ficar calado e esperar que ela mesma tomasse a iniciativa do assunto. No entanto, quando terminou de falar, uma leve luz se acendeu no olho da menina.
— Sim! E não teria ninguém melhor do que eu! — disse Selene, apontando para si e forçando um sorriso. Apesar disso foi o suficiente para Li também esboçar um pequeno sorriso.
“Me parece que ela não está derrotada ainda…”
— Esse é o pensamento! — disse um homem, vindo logo atrás de Jihan sua postura estava impecável, diferente de quando havia acordado. — Muito prazer, meu nome é Matheus, sou o líder da nossa equipe!
— Líder, por que você está sem calças? — comentou Li, sussurrando em seu ouvido.
— Eh!? — exclamou, perdendo quase toda sua postura.
— To brincando — debochou.
Percebendo a mentira, Matheus se virou novamente para Selene, que o encarava com um certo sorriso brincalhão que o deixou desconcertado. O Líder deu um leve cascudo na cabeça de Jihan, que riu.
— Na próxima fique calado!
— Pfffft — A conjuradora no sofá também deu uma leve risada com a interação dos dois. Vendo que isso havia deixado-a mais confortável, Matheus suspirou.
— Vejo que já se conhecem, isso é bom, o Li é um idiota, mas eu confio nele, e se ele confia em você então estamos no mesmo barco.
RENNNK
— Que barulheira é essa? — De um corredor lateral, um homem de cabelo loiro curtíssimo saiu.
— Hans! Como está se sentindo? — Perguntou Li.
— Hm… bem, eu acho… Apesar de que queria ter dormido mais um pouco — respondeu. Percebendo a nova pessoa na sala, ele acenou. — Bom dia, meu nome é Hans.
— Muito prazer, Selene…
Se virando para Glória, Hans a perguntou:
— Ei, o Fynn já voltou? Ele saiu de madrugada de novo.
A mulher negou balançando a cabeça. Desde que acordou, Fynn havia mudado um pouco suas maneiras, apesar de continuar fazendo piadinhas sem graça e rindo à toa, estava mais responsável e focado, todas as manhãs, antes do sol nascer e do treino físico começar, ele realizava exercícios aeróbicos para aquecer.
— Não precisa se preocupar, Fynn sabe se cuidar muito bem — respondeu a mulher.
— É mais um integrante do grupo? Então somos seis? — perguntou Selene.
A pergunta não teve resposta por alguns segundos.
— Sim, contando com você somos seis…
Quem respondeu foi Glória. Seis. Desde que voltaram para a cidade, Lisa foi chamada para voltar ao templo, Li havia dito a ela para manter contato, mas nenhuma mensagem chegou a eles.
“Ela vai aparecer uma hora ou outra” Pensou Jihan, confortando-se.
CLAP
— De qualquer forma… — disse Matheus, batendo uma palma para quebrar a tensão. — O que acham de prosseguirmos, você tem muito a conhecer e esse outro aqui ainda nem chegou a completar o nosso tour de apresentação — continuou, colocando a mão sobre o ombro de Li. — Glória, o que acha de apresentar nossas instalações para ela enquanto eu o levo para os instrutores?
— Claro, por mim tudo bem.
— Preciso levar algo comigo? — perguntou Jihan.
— O centro de treinamento já é equipado com tudo que vai precisar. Vamos logo — disse Matheus, já indo em direção à porta.
— Eh? Não vamos nem tomar café? — reclamou, seguindo-o.
— Tome isso como uma punição pela sua brincadeirinha de agora a pouco.
Cabisbaixo e fingindo drama, Li se despediu momentaneamente de Selene e dos outros, seguindo o líder da equipe. A conjuradora encarava suas costas enquanto ele saia.
— Ele é bem confiável, não é mesmo? — perguntou Glória, percebendo o olhar da menina.
— Ele é… eu realmente me pergunto, quantas vezes ele deve ter gritado para ter uma voz tão grave.
Selene subitamente deixou escapar uma frase que travou a mente da mulher por um momento, ela havia deixado isso de lado, mas era verdade.
— Sim… é esquisito, às vezes me esqueço de que ele é não tem nem vinte anos…
Já do lado de fora da casa, Li e Matheus conversavam enquanto andavam.
— De qualquer maneira, o que faz esse instrutor ser tão incrível?
— Incrível? Ele é muito mais do que isso…