The Paradise Tower - Capítulo 3
— Nina, você tá bem?
— Ah, sim, tudo bem. Desculpa, acabei me distraindo por um momento.
A dúvida e a confusão eram grandes. Afinal, quem era aquele?
— O que a gente faz com esses dois?
— Deixe-os, peguem os equipamentos restantes e vamos nos preparar para a comida vindo.
— Certo — confirma a voz feminina.
Dois dias atrás.
As cabines se abrem, pessoas gritando e morrendo, essa é a realidade à sua frente. Alguns indo para o centro, outros para a floresta sem nenhum equipamento.
Nina decide recuar. A melhor opção em sua cabeça era fugir, não podia lutar, não ia conseguir.
Yuri, aonde você tá, pra onde você foi ? Espero que esteja bem. Vamos, vamos, não posso ficar pensando nisso agora, preciso cuidar de mim mesma.
Ela sai disparada para a floresta, se distanciando dos gritos. Um longo tempo de corrida se passa e sua energia se esgota.
Nina não tem experiência em combates, ela é uma ladra, não uma lutadora. Viveu uma vida tranquila no mesmo vilarejo que Yuri, eram amigos desde pequenos. Conhecendo Yuri acabou vivenciando um mundo completamente diferente, o mundo dos furtos.
Seus pais nunca descobriram que ela roubava, capaz de ser expulsa de casa se fosse descoberta, por isso sempre hesitava quando a hora chegava.
— Ei, Yuri. Melhor a gente não fazer isso. Nossos pais podem descobrir.
— Eu te falei Nina, não precisa se preocupar. É só você correr bem rápido que ninguém vai te pegar.
— Correr rápido…?
Nina com o tempo descobriu uma paixão que preencheu seu mundo com cores, correr.
Ela corria todos os dias, nos roubos com Yuri e Crown, ou até mesmo no pequeno parque que tinha perto de sua casa, corria até ficar sem energia. Chegava em casa sempre com fome, comia, dormia e por fim, acordava para correr novamente.
Nos roubos sempre foi a mais rápida, nunca foi pega. O problema em si era o Yuri.
— Vamos Yuri, vamos! Você é muito lerdo — dizia com um sorriso radiante em seu rosto.
Nina tinha pena de Yuri por sempre ser pego e acabar apanhando, mas no final era ele quem mais sorria.
Foi por volta destes tempos que Nina começou a gostar de Yuri. Para ela, ele que era radiante, um herói, alguém que estava sempre a sua frente, não na corrida, mas sim no resto.
Nunca se confessou, mesmo até o chegado dia de recrutamento dos jogos. Ela manteve segredo, queria que fosse especial. Decidiu contar para ele quando os dois saíssem vivos daquele lugar, mas a esse ponto, ela não sabia se isso seria possível.
Sua respiração falhava e sua boca tremia.
— O que eu deveria fazer? Não peguei nenhuma arma — a voz de Nina estava assustada e seus olhos atentos ao local.
Passos ouvidos de todas as direções. De repente, um vulto correndo em sua frente, em meio às árvores, parecia cansado.
Nina tinha um bom coração, por isso não iria matar alguém. Em sua cabeça, deveria ajudá-la.
Ela sussurra para a pessoa, fazendo barulhos não muito chamativos mas de fácil entendimento.
— Ei, você. Vem pra cá, rápido! — Nina a chama acenando com a mão.
É outra menina, ela parece assustada, desorientada e tremendo.
— Pode vir! Vamos, vamos nos juntar.
A menina para. Vira em direção a Nina e implora pela vida.
— POR FAVOR!! NÃO ME MATEEE! — grita quase estourando suas cordas vocais.
Sua voz está rouca, seus olhos chorando mais do aguentam. Ela se ajoelha no chão e continua implorando pela vida.
— Ei, calma. Eu não vou te machucar — explica Nina aproximando sua mão da cabeça da menina em uma tentativa de acalmá-la.
Os choros começam a diminuir, seu rosto está vermelho, joelhos arranhados e pele suja.
Nina não havia percebido, mas o rosto da menina era muito bonito. Tinha cabelos curtos e pretos e lindos olhos azuis.
— Me chamo Nina ! Prazer, qual seu nome?
A voz parece insegura, mas no final ela vem.
— Rebeca…— é dito como um sopro.
— Rebeca, fica calma, eu não vou machucar você. Pode ficar tranquila.
Estavam em uma situação um pouco complicada para essas palavras, mas foi-lhe o que veio a mente no momento.
— A gente pode se juntar. Com certeza tem outras pessoas que não querem matar por aqui. Tudo bem pra você?
Nina percebe de imediato que o comportamento da menina não é nada hostil, ela não seria um problema.
— Tá, pode ser — palavras ditas como um vento.
— Certo, levante-se, deixe eu ver esses machucados. Você caiu?
— Fui atacada.
— Atacada? Por quem?
— Não sei, estava vindo daquela direção.
O dedo é apontado para o meio da floresta de onde ela tinha saído, um silêncio é posto sobre as duas com os olhos grudados na direção mencionada. Passos se aproximam.
De repente, três pessoas saem do meio de árvores e arbustos. Nina e Rebeca dão as mãos, com medo.
Os três observam as duas garotas de mãos dadas e por fim falam :
— Não precisam ter medo, nós não vamos machucar vocês. Pretendemos sair daqui com as mãos limpas.
Um menino levanta as mãos para mostrar que está desarmado e se aproxima aos poucos. Rebeca treme, Nina finge não perceber.
— Aí, viu? Não queremos machucar ninguém. Vocês estão bem? Estão machucadas?
O menino parece simpático, suas mãos não tremem e seu sorriso é tranquilizador.
— Vocês estão sozinhas?
— A-hh, sim, estamos — responde Nina com insegurança.
— Querem se juntar a nós? Temos um acampamento aqui perto. Unindo forças vamos ser mais fortes, podemos nos proteger.
Rebeca está assustada, talvez por ter sido perseguida há pouco, pensa Nina.
O convite é aceito com certo receio, mas os cinco se dirigem pela floresta com passos curtos para não chamarem a atenção. Os outros dois membros não disseram nada até o momento. Estavam com roupas cobrindo seus rostos, impossibilitando Nina os reconhecer.
Chegando no local, eles pareciam ter alguns equipamentos, pegos no centro, provavelmente.
O grupo dos três é formado por dois homens e uma menina, essa por fim, inicia a conversa :
— Certo, deixem eu me apresentar. Sou Cristhine, esses são Justin e Dank.
— Prazer — exclamam os dois meninos em sincronia.
A menina parece calma, algo nela parece estranho, os olhares de Rebeca não saem de suas mãos. Ela continua :
— Formamos esse grupo para proteger e ajudar os mais fracos. Claro, somente três vão passar pela porta final, mas isso não quer dizer que todos tenham que morrer, não é mesmo? Podemos ajudar até você ir embora, no final, quem chegar no centro ganhará. Sem ressentimentos.
A menina tinha uma aura boa demais para o mundo em que viviam. Estava fazendo tudo que podia para ajudar os outros. A menos era o que parecia.
— E vocês são? — perguntou Dank.
— Sou Nina, essa é a Rebeca, prazer
— Prazer.
A situação parecia surreal, um grupo de pessoas se ajudando em meio a essa matança? Só pode ser mentira.
Nina passou um tempo conversando com os três, formando laços para sua própria segurança. Dank foi quem mais falou dentre os cinco, possuía uma aparência de um menino bonito, fazendo piadas e tentando aliviar o clima de tensão entre todos. Justin não disse nada de importante, só repetia palavras que achava engraçadas e concordava com o que Dank dizia, pareciam grandes amigos.
Não havia passado tanto tempo desde o início dos jogos, cerca de 40 minutos para ser exato. De repente um alarme é soado aos ouvidos de todos.
— Um ótimo jogo a todos senhores, esperam que estejam se divertindo. Um aviso importante! Prestem atenção. Todos os dias serão distribuídas caixas com comidas e novos utensílios para se alimentarem e ficarem “suculentos”. Antes do despejo dos alimentos será tocada uma buzina com um aviso rápido. Estejam preparados! Um bom primeiro dia a todos!
Segundos após o anúncio, uma buzina é soada. Mais alguns segundos, gritos são ouvidos vindo do centro. A hora da refeição havia chegado.
Os membros ali presentes se olham e decidem avançar até um local mais próximo. Era perigoso, mas eles precisavam comer.
Dank carregava uma bolsa que conseguiu logo após ir ao centro, estava vazia, mas era de grande ajuda.
— Certo, vamos lá — move-se Cristhine.
Todos já tinham repassado um pequeno plano : Correriam até perto do local e ficariam escondidos na espera de alguém carregando os alimentos, iriam roubar e fugir o mais rápido possível.A especialidade de Nina, uma missão fácil para ela.
Algum tempo de caminhada se passou. Ao chegarem próximos ao centro, cada um se posicionou em árvores separadas.
Nina ficou um bom tempo esperando e sempre atenta.
Após uns bons minutos passos são ouvidos, à direita!
— Ei Nina, sou eu Cristhine.
— Não me assuste desse jeito.
— Perdão, perdão.
— Vamos voltar, conseguimos comida.
Ao se aproximarem no local de encontro, o antigo acampamento, Dank despeja de sua bolsa diversas latas de comida, muitas!
— Nossa! — exclama Nina.
— Consegui pegar várias, passou muita gente perto de mim.
Isso soa nos ouvidos de Nina um tanto quanto desconfortável. Rebeca parece tensa.
“Muita gente”? Estranho, estávamos a poucos metros de distância e ninguém passou por mim, dentre 15 minutos os únicos passos que ouvi foram de Cristhine.
Ela ignora esse pensamento. Poderia ter sido sorte.
Seus olhos são direcionados para o corpo todo de Dank, gotas de sangue então na parte inferior da sua camisa branca e bermuda cor areia, ele parece não ter percebido. Nina deixa para lá.
A noite foi se aproximando. Montaram uma fogueira e abriram os enlatados, conversaram um pouco e decidiram dormir.
Nina não dormiu a noite toda, ficou em cima de uma árvore olhando bem para Dank e ao redor. Uma pequena cochilada e poderia ser o fim.
“Grupo de ajuda”, me poupe.
A noite passou e nenhum movimento foi feito. Seus olhos estavam pesados.
A manhã do segundo dia.
Rebeca foi a primeira a acordar e a ir falar com Nina.
— Venha aqui, Nina!
— Ei, espera, não me puxa. O que foi? Aconteceu alguma coisa?
— É ele! Esses dois meninos que me atacaram! — sussurra ela perto do ouvido de Nina.
— Como assim? Isso é impossível.
— Nina, eu sei o que eu vi. Ele deve estar disfarçando para não levantar suspeita. Ele sabe que eu vi seu rosto. Você não dormiu de noite, não é?
— Não…
— Então, ele não deve ter feito nada porque viu você acordada. Você percebeu a mancha de sangue na roupa dele não é?!
— Fala baixo, eles podem acordar.
Nina entendeu o motivo de Rebeca parecer tão agitada desde o começo. Se lamentou por não ter percebido.
Nina puxa Rebeca para seus braços em um movimento sutil.
— Ni-Nina?
— Me desculpe…— Um abraço é firmado entre as duas.
— Pelo o que?
— Desculpa, eu não percebi. Me desculpe, de verdade.
— Esquece isso, vamos sair daqui antes que eles…
— Bom dia meninas! Dormiram bem?
Justin foi o segundo a “levantar”, poderia nem ter dormido também.
— B-bom dia Justin. Ah, sim, muito. E você?
— Que bom. Então, vamos sair do acampamento em pouco tempo. Peguem suas coisas e fiquem prontas.
Onde eles iriam? Nina se sentiu com medo de perguntar. Quando percebeu sua situação, começou a tremer, suas mãos suavam mais que o normal.
O caminho para o reencontro estava próximo.
Mais tarde do mesmo dia.
— Acho que fica por aqui — explica Justin limpando o local.
— Certeza? Eu não lembro de estar tão perto — Cristhine está se movendo em direções aleatórias.
— Deve ser por aqui, vamos armar alguma coisa e esperar pelo alarme, assim a gente pode fazer um estoque maior, já que estamos agora em cinco pessoas. — Conclui Cristhine sentando sobre as folhas.
— Certo, vou deixar os equipamentos aqui.
A conversa entre Dank e Justin parecia séria, Nina não ia e nem queria interferir.
Eles estavam se preparando para o próximo alarme de mantimentos, devido a um número maior agora no grupo. Estavam preparando uma fogueira e arrumando algo como se fosse uma barraca de flores para o vento gelado das noites.
— Vamos nos separar, precisamos dividir as tarefas — sugere Dank, olhando para as coisas desorganizadas.
— Pois é, as folhas acabaram.
— Será assim, eu e Justin vamos procurar coisas para a fogueira. Vocês meninas podem pegar folhas e coisas que pensarem serem úteis no caminho.
Assim, o grupo se dividiu entre meninos e meninas, era a primeira vez de Nina e Rebeca a sós com Cristhine.
Rebeca não mencionou Cristhine quando estava sendo atacada, poderia ser outra vítima da situação também? Ninguém sabia, mas decidem manter um pouco de distância e se prevenir.
— Aonde será que eles acharam aquelas folhas grandes? Eles disseram que tinha que ser aquelas, mas não onde elas ficavam.
Cristhine parecia amigável, como uma boneca, seu jeito de andar, maneira de falar, seu sorriso largo e seus longos cabelos enrrolados passam uma sensação de paz. Poderia alguém assim manter uma calma incrível enquanto pensava em como matar as pessoas que estão logo atrás de você?
Eu não posso deixar ela falando sozinha, vai achar que eu estou ignorando.
— Bem, e você, Cristhine? Como acabou com aqueles dois? — O silêncio é quebrado.
— Ah!? Foi igual a vocês. Eu estava perdida na floresta, tremendo logo após o início da prova, não sabia o que fazer, ainda não sei. Não me vem à mente tudo de ruim que pode acontecer, nem que somente três pessoas vão sair com vida. Isso tudo é muito assustador pra mim, por isso eu queria ajudar as outras pessoas.
Ahhh, pura demais, meus olhos ardem com tanta bondade.
A descrição de seus sentimentos não batia com a pessoa que estavam vendo, porque sorria tanto? Bom, ela realmente era estranha.
— E o que pretende fazer se sair daqui com vida, Nina?
— A-ah,bem… tem um menino que eu gosto. Quero me confessar pra ele. Nos conhecemos desde crianças, eu sempre gostei dele, mas nunca tive coragem para falar. Decidi fazer isso quando tudo acabasse. Ele também acabou vindo pra cá.
— E você tem esperanças que se você sair viva ele vai estar com você?
— Claro que eu tenho!
— hahahah.
Cristhine está rindo, não casualmente, está dando gargalhadas que poderiam ser ouvidas de muito longe.
— hnm… Algum problema, Cristhine?
— Ah, não, nenhum. É só muito engraçado para mim. Todos pensamos desse jeito. “ Vamos sair daqui juntos e felizes” é o que dizem, mas esquecem onde estamos.
Diversos corpos foram encontrados jogados por todos os locais onde passavam, alguns mutilados, outros mortos por facadas pelo corpo inteiro, alguns com os olhos arrancados e pendurados no pescoço como se fossem colares. O local em que estavam era um aquário com diversos peixes famintos comendo uns aos outros com alguns tubarões.
— Mas a melhor maneira de pensar é ser otimista, não acha? — Nina fala com um sorriso torto.
— É mais complicado do que parece pensar dessa forma… Ah, achei as folhas, finalmente.
Cristhine se afasta e começa a mexer em alguns arbustos.
— Eu não confio nela — fala Rebeca.
— Ela não parece ser perigosa, é uma avoada. Está pensando da pior maneira que se possa, mas não é uma pessoa ruim.
Cristhine volta com um punhado de folhas, o máximo que conseguiu apanhar.
— Pronto, acho que isso deve dar. Vamos voltar.
— Certo.
Todas voltaram para o local onde foram deixadas as coisas em silêncio. A primeira que falasse iria quebrar o tabu do momento.
Quando se aproximam veem dois corpos jogados no chão e barulhos vindo da direção da floresta. Ao se aproximarem, Rebeca pisa em algo grudento, ao levantar seu sapato vê que está coberto de vermelho. Dank e Justin estavam mortos, esfaqueados nas gargantas. O cheiro de seus pescoços abertos lembra algo como peixe e ovos podres. Mosquitos já estavam voando por perto de seus corpos. Rebeca gorfa o jantar da noite passada.
— Ahhh merda — retruca Cristhine, assustada.
— Eles pegaram alguma coisa?
— Sim, toda a comida que estava com eles.
— Nãooo! Essa era nossa última reserva — grita Rebeca pálida e sentada no chão.
Nina observa os vultos correrem na floresta. Um deles… se parece muito com Yuri. Sua respiração para e suas noções de movimento somem.
Ele está vivo?!! Esse tempo todo, ele ficou bem ! Yuri…
— Ei Nina, tudo bem?
— Ahh, desculpa. Acabei me distraindo.
Rebeca não tira os olhos dos dois corpos no chão. Seus sentimentos devem estar confusos. Ela nunca ficaria aliviada com a morte de alguém, mesmo sendo perseguida por esse.
— Vamos, peguem o que der e vamos nos mudar pra mais próximo do centro. Outros já devem ter achado nossa localização. Rápido! — comanda Nina.
Elas se ajustam perto de um riacho com colinas e árvores bloqueando a visão, um bom local para aguardar.
— Precisamos pensar em alguma forma de pegar as comidas.
— Podemos roubar como da outra vez — sugere Nina. Rebeca concorda.
— Muitos devem estar em grupos, podemos nos dar mal, afinal, só sobramos nós, garotas, ninguém sabe lutar, não é?
O local fica com um clima pesado.
— Eu tenho essas coisas na bolsa.
Cristhine abre sua bolsa e despeja diversas ferramentas que não mencionou que tinha. Uma corda, fita adesiva e uma faca de caça.
— Alguma coisa pode funcionar? — fala Cristhine.
Corda, fita, faca. O que podemos fazer com isso? Talvez algum tipo de armadilha, não vai funcionar.
— Deixem comigo! — diz Rebeca.
— O que você vai fazer? — Nina segura a faca com insegurança.
— Me deem a faca.
Olhares são postos sobre o equipamento.
— Todos sabemos que só tem uma coisa que pode ser feita. Se não matarmos, não vamos sobreviver nem ter comida — confirma Rebeca.
— Você tem certeza?
— Nina, você sabe que sim. O que eu disse está errado?
— … certeza?
— Confiem em mim, quando o alarme tocar, vamos juntas em direção ao centro e pegar o máximo de latas que conseguirmos.
Elas pareciam determinadas, prontas para seguirem com sua sobrevivência independente de o que acontecer.
Usaram a corda para prenderem uma pedra que afiaram, e a fita para uma lança feita com um pedaço de madeira quebrada.
Pouco tempo depois o alarme soou. Uma buzina extremamente alta, capaz de ser ouvida de qualquer lugar da arena. As três saíram correndo em direção ao centro. Muitos corpos estavam empilhados em cima dos outros, sangue podia ser visto por todos os locais em volta do grande mármore onde os alimentos eram depositados.
Ninguém até o momento. Fomos as primeiras a chegar?
Uma cápsula é erguida do centro do gramado não mais verde agora. Caixas abertas foram jogadas junto com maletas destrancadas, local onde ficavam as armas brancas.
— Que o almoço… comece!!!
O homem grita pelo microfone.
As três saem em direção a comida o mais rápido que podem.
Cristhine com uma lança, Rebeca com a faca e Nina com a pedra presa na corda, como um mangual.
Ao se aproximarem um pouco percebem que não estão sozinhas. Diversos grupos com mais de cinco, seis, sete pessoas estão correndo em direção ao centro. Todos muito bem armados, muito sangue deve ter sido escorrido por eles.
Agora não era hora de desistir, suas únicas opções eram viver!
Um grupo menor acaba vindo em direção a Rebeca, ela não parece nada assustada. Sua empunhadura com a faca é impressionante. As pessoas estão desarmadas facilitando para Rebeca, chutes e socos são desferidos sobre ela no rosto e estômago, ela se mantém de pé. Nina e Cristhine continuam correndo para o centro.
Rebeca bloqueia os ataques no rosto cortando as mãos e dedos daqueles que vêm em uma velocidade menor e com uma grande abertura. Sangue é derramado e espirra em seu rosto, manchando sua visão.
Nina e Cristhine finalmente chegam no centro, não sozinhas, mas os outros parecem não se importar de empilharem mais corpos no monte ao lado. Eles simplesmente ignoram e pegam toda a comida que conseguem. Um jovem sem armamento algum pega quatro latas de ensopado e volta em direção a floresta, ele parece feliz, estava magro e machucado, não devia comer desde o início. Pouco antes de entrar na floresta é pego por um grupo que aparentemente teve a mesma estratégia que tiveram anteriormente. Mas esses não hesitam nem por um segundo em matar o menino a socos e chutes, mesmo já morto, sem pele e pelado, continuam a desferir golpes com objetos pontudos. Seu corpo é pendurado por uma lança de madeira e fica no início da floresta. Isso era literalmente o inferno.
Cristhine consegue encher a bolsa com o máximo de comida que havia sobrado no local, Nina estava dando cobertura para não ser apunhalada pelas costas.
As duas voltam em direção ao caminho livre em que vieram. Quando olham para trás, lá está Rebeca. Machucados e inchaços pelo corpo inteiro, principalmente no rosto. Seu olho já não podia ser enxergado, sangue por todo o seu corpo e pelo o que parece, vômito no chão. Ao lado disso, os quatro corpos do grupo que haviam vindo para ela. Ela matou todos, com diversos furos na cabeça, corpo, pescoço, estavam mais do que mortos.
— Rebeca… — sussurra Nina ao ver a situação de sua amiga. — Rápido Cristhine, precisamos ajud-…
Outro grupo de pessoas está vindo por trás de Rebeca, ela está machucada demais para ter percebido.
Cristhine puxa a mão de Nina para o outro lado e começa a correr.
— Eiii!! O que você está fazendo? Ela ainda está lá, viva!
— Não por muito tempo, vamos. Olhe para o grupo atrás dela, estão vestindo os dentes daqueles que provavelmente mataram. Não temos como ajudar!
— Volta! Volta! Ela ainda tá ali, bem na nossa frente. Somente a alguns metros.
— Me desculpa Nina…
Lágrimas começam a escorrer por seus olhos e sua visão começa a ficar embaçada. Suas pernas não querem mais andar, não podem andar para frente com uma companheira sendo morta atrás. Se recusam.
O grupo já cercou Rebeca, ela está de joelhos, ao que parece olhando nos olhos de Nina. Pequenas palavras são lidas de seus lábios :
— Viva, Nina! Encontre ele…
O grupo retira as machadinhas de seus bolsos e começam a mutilar Rebeca, em poucos segundos alguns de seus membros já não estão mais em seu corpo.
Nesse dia a descarga de comida foi o verdadeiro inferno. A quantia de pilha de corpos dobrou em uma velocidade extremamente rápida.
Uma estaca foi posta em cima do local onde Rebeca estava, na ponta, sua cabeça, com o último sorriso oferecido a Nina…
— REBECAAAAAAA!!!