The Paradise Tower - Capítulo 6
— Aahh?!
Ele se levanta assustado. Olha para a direita, para a esquerda e por fim para o lustre simples mas bonito em cima de sua cabeça.
— Onde eu estou? — diz com seus olhos serrilhados para o teto.
— Yuri! Finalmente acordou. Você está se sentindo bem? — A voz se aproxima em sua direção.
— Hein? Nina? O que aconteceu? Onde eu estou?
— Você está na enfermaria, você não morreu por muito pouco. Fico feliz que esteja bem — contextualizando a situação ela sorri com a mão sobre o peito.
— Eu não morri? Aí, minha cabeça.
Sua visão girava e seus olhos doíam, tendo dificuldade para mantê-los abertos. Não sentia, nem via suas pernas, estavam embaixo de um cobertor branco.
Nina estava sentada em uma cadeira próxima a sua cama. Yuri não entendia o que estava acontecendo, mas ele sabia que ela não havia saído de lá nem por um momento.
De repente a porta em frente a cama aos poucos se abre, uma sombra cruza sobre ela.
— Ah, Yuri! Você acordou cara, como vai? Está melhor?
Era Junks. Tinha um tom de voz cansado e ao mesmo tempo feliz. Seus braços estavam enfaixados e possuía ataduras pelo corpo todo. Com os olhos inchados e rosto pálido, ele se aproxima.
— Junks, o que aconteceu com você? — questiona Yuri preocupado.
— Não se preocupe comigo, afinal, foi você quem quase morreu.
Ele estava confuso, suas memórias ainda não haviam retornado completamente, somente vagas lembranças do ocorrido, então decide perguntar.
— Esse lugar é fora da torre?! Então quer dizer que a gente…
Nina e Junks se entreolham.
— É… nós conseguimos — concluem os dois.
O tempo lá fora não podia ser visto devido as janelas fechadas, mas ao receber a notícia, o lugar sombrio e asqueroso se iluminou.
Nina se aproxima e segura a mão de Yuri.
— Conseguimos graças a você, Yuri — diz ela com uma lágrimas escorrendo pela lisa pele.
— Nós conseguimos, conseguimos irmão. Nós saímos de lá! — dizia Junks, com um sorriso.
Ainda confuso com a situação, suas emoções não percorriam por seu corpo. Os olhos ainda cansados abaixaram-se para suas mãos, essas que repetiam movimentos de abre e fecha sem força nem vontade nenhuma. Notando a expressão neutra, Nina se aproximou e colocou a mão sobre seu ombro.
— Então você realmente não lembra...
— Me lembrar? Me lembrar do que? — Revezando os olhos entre os dois, ele questionou sedento por uma resposta.
— Qual sua última memória? — A mão sobre seu ombro se apertou.
— Bom… entramos nos jogos, eu conheci Junks, Richard e Leon… Por falar nisso, cadê eles? — Os olhos de Yuri reviraram a sala de enfermagem em busca dos amigos.
Olhando para a figura de Junks, ele se espanta. Os olhos abertos, imóveis, com grande dor, transbordavam uma sensação de culpa e medo. Virando-se pro lado, os macios cabelos vermelhos se envolvem pelo seu corpo em um caloroso abraço.
— Yuri… Richard e Leon foram assassinados no meio da prova, você mesmo me disse, não se lembra?
Por baixo do curativo na cabeça, uma forte pontada vem de repente.
— Você lutou e apanhou muito, faltavam poucos metros para nós três chegarmos à cápsula, mas aí a Cristhine…
Sendo interrompida por um grito, Nina move os olhos em direção ao tal.
— Ei!? Tudo bem?
— Estou bem, não se preocupem. Acho que me lembrei. — Com os dedos tremendo enquanto segurava a cabeça, sua respiração ofegava.
Se sentindo desconfortável, ele apoia seus braços para se levantar. Mas dessa vez quem interrompe é Nina, segurando suas mãos, gotículas de água pingam e molham a manta branca.
— Yuri, você levou uma pancada muito forte na cabeça e desmaiou a poucos metros de conseguirmos sair. Junks quebrou a porta da cabine à força, por isso está todo machucado. Ele correu em sua direção e o carregou com os braços quebrados.
Espantado com as palavras, sua cabeça vira lentamente até a pessoa mencionada. Ele está parado e sorrindo. Era como se os olhos fechados e os dentes à mostra dissessem “Não se preocupe, deu tudo certo”.
— Não… por que fez isso? Por que foi tão longe por mim? Olha o estado que você ficou, você podia ter me deixado! — perplexo, batia as mãos contra as imóveis pernas por baixo do cobertor.
Com os braços enfaixados e diversos cortes e machucados pelo corpo todo, ele sorriu mais uma vez.
— Pois é, eu tive a chance, mas não deixei. Como já havia falado… eu não poderia perder outro irmão.
Apoiando suas mãos sobre as pernas de Yuri, a voz de Nina continuava.
— Devido a pancada que você levou, você vai ter que ficar em repouso por uns meses em uma cadeira de rodas. Seus movimentos não funcionam completamente no momento.
Sem entender, suas mãos puxam, de forma suave, o lençol que cobria suas pernas. Elas estavam normais.
— Como assim? Eu estou bem, não sinto nada…. — justifica.
— Exato, você não sente nada. Seus movimentos foram…
— Seus movimentos foram temporariamente paralisados, meu jovem — Uma voz estranha, mas familiar, completa.
O rangido da porta se abrindo é engolido pela grande figura do comentarista com maquiagem no rosto. Sua expressão é a mesma de sempre, olhos verdes com olheiras pintadas de forma colorida. Aproximando-se em passos lentos, o homem batia palmas enquanto falava suavemente com o menino na cama.
— Meu jovem, você venceu, meus parabéns. Creio que esteja ciente disso — Agora parado ao lado da cama, ele estende suas mãos para Yuri, que o encara com raiva. — Veja, não faça essa cara. Como o povo diz, “o resultado é o que importa”, não é?
— Ora seu…!
— Não se mova. Seus movimentos estão limitados, é melhor não se esforçar. — A mão estendida recua e é colocada entre os bolsos da calça violeta.
Arrumando sua gravata borboleta, o homem tosse, para por fim continuar.
— Arranjarei uma cadeira de rodas para você, fique tranquilo. Vejo que tem bons amigos, não será difícil de se locomover.
Este de repente começa a se ajoelhar em frente a Yuri. Abaixando sua cabeça, ele fala firmemente.
— Meus sinceros parabéns, Grandes Reis. Vocês venceram o pecado mais temido diante das pessoas… a gula! Permitam-me guiá-los para a cerimônia de encerramento.
Limpando as partes empoeiradas do paletó, o homem se abaixou novamente em agradecimento e caminhou em direção a saída.
Após a porta se fechar, um silêncio toma conta do local. Eles não perceberam, mas por trás das finas costas um sorriso malicioso se estendia pelo seu rosto.
— Os Grandes Reis, não é? Somos nós… Até que é um título bacana — rindo, os sorrisos dos outros podiam ser vistos refletindo sobre seus olhos.
O clima de até então corrompido com mágoas e tristeza, agora se animava aos poucos com o retornar da realidade não tão obscura em que viviam. Contaminados pelo sorriso inocente, os dois riram junto com Yuri.
Alguns minutos depois.
Yuri no momento está sentado em uma cadeira de rodas sendo empurrado por Nina. Eles estão seguindo o apresentador, no qual voltou a sala de enfermagem para comunicar o que aconteceria em seguida. O grande momento estava a poucos minutos de acontecer.
— Por aqui, podem entrar — conduz o velho.
Eles estão em algo como um palco, um lugar alto, feito de madeira e com uma grande cortina do outro lado, similar a um teatro antigo. Vozes podem ser ouvidas através desta. O apresentador ultrapassa a cortina, pega um microfone e começa a falar. O público barulhento de repente se cala.
— Senhoras e senhores, hoje é um dia especial, muito especial! Anos passam e todos esperam esse exato momento. A vontade dos deuses foi superada, sua fome insaciável foi superada por três grandes guerreiros…
Yuri sente sua primeira agitação desde que acordou, é uma sensação eufórica, mas que lhe agrada de certo modo. Nervosos do outro lado, os três olhavam para a cortina escura enquanto escutavam os auto-falantes.
— O território de nossos deuses foi vencido! O trono desde ano foi tomado! Sua coroa está dividida entre três divindades que estão aqui presentes hoje! Por favor… entrem!
A cortina se levanta sem avisos. Levando um pequeno susto com a luz repentina jogada sobre os olhos, Nina empurra a cadeira de Yuri. Recebidos por diversas palmas, nada mais pode ser ouvido. As conversas de fundo, as carruagens de escolta, nem mesmo os vagões com suas grossas rodas de aço, tudo se ensurdeceu perante a euforia.
Notando as mãos suadas que o empurravam, Yuri colocou sua mão sobre a dela e disse gentilmente com um sorriso. — Fica calma, nós já passamos da pior parte.
Parados ao lado do homem de cinza, os olhos de Yuri brilhavam quando seus ouvidos ouviam seu nome. Todo o desespero, o medo e o anseio que sentiram na última semana simplesmente foi esquecido. Naquele momento, depois de tantas dificuldades, eles finalmente puderam sorrir com sinceridade.
Também aplaudindo, o apresentador logo retorna a falar.
— Amigos, estas são as lendas dos grandes jogos, aqueles que foram escolhidos e demonstraram coragem. Estes são os nossos Grandes Reis!!! Vocês têm algo a dizer? — Aproximando o microfone próximo a boca de Yuri, todos ficaram em silêncio na espera de algumas palavras.
Ele agarra o aparelho e olha para seus amigos ao seu lado. Notando os olhos brilhando e a empolgação contida na expressão, eles respondem com a cabeça, “vai fundo.” A tensão domina totalmente as pessoas que assistiam. Respirando profundamente, sua boca emite as palavras que todos aguardavam ansiosamente.
— QUE OS JOGOS TERMINEM!!!
E com essas palavras, a agitação da multidão se alastra em meio a cidade. Até os últimos minutos finais, tudo estava constantemente animado. Com o passar do tempo a multidão presente no local se despediam e voltavam para suas casas, o mesmo com o trio. Andando pelos caminhos com leves depressões por onde passavam, um grupo de pessoas se aproximava em silêncio. Barrando a passagem dos três, Nina os encara e desvia, mas em alguns segundos é interrompida novamente.
Abrindo espaço entre o grupo, um menino de aparência mais velha se aproxima com o rosto vermelho. Os cabelos quase raspados e a pele lisa o deixavam mais novo do que ele realmente era. Os largos passos andavam ferozmente em direção a Yuri, que o observava com olhos unânimes. Agarrando seu colarinho, ele puxa com força, quase o derrubando da cadeira. Seu rostos se aproximam a ponto de se tocarem. Empurrando-o com a testa, o menino disse em seu ouvido.
— Seu miserável, espero que morra da pior forma possível. Meu primo estava lá dentro, foi você quem matou ele?!
Sem capacidade de dar uma resposta, Yuri apenas permaneceu calado enquanto olhava sem maldade alguma para o menino. Esses tipos de comentários passariam a ser normais vindo das pessoas, afinal, o que eles viveram nunca será esquecido e entendido pelos de fora.
— Desgraçado, me responda! — insiste o menino balançando Yuri.
Seus rostos estavam próximos e mesmo sem perceber, o menino suava e tremia. Olhando para suas mãos, Yuri o acolheu com um meigo sorriso. Compartilhando sua dor, Yuri respirou devagar enquanto colocava sua mão sobre a do garoto.
— Me desculpa. Eu realmente não sei… Se eu pudesse eu juro que guardaria o nome de todas as vidas que foram tiradas dentro daquele local, mas é impossível.
Afrouxando as mãos que seguravam sua camisa, ele se afastou lentamente enquanto seguia olhando para o rosto de Yuri, para por fim cair de joelhos em frente a cadeira de rodas. Atento às mãos suadas, ele secou-as em sua perna.
— Ei, eu disse algo de errado? Você está bem?
Sem entender o ocorrido, Yuri perguntou preocupado.
— Ahn? Como… ahn? O que é isso, porque eu estou chorando?
Com as gotas que pingavam sobre o chão, o rosto do menino se cobriu por lágrimas. Olhando para as mãos trêmulas sujas por grãos de areia, o desespero ultrapassou quaisquer outros sentimentos do momento. Ele gritava, apertava seu peito e se contorcia, uma visão de fato angustiante.
— A-ahn, nos perdoem… Podem passar!
As pessoas do grupo abaixaram suas cabeças em perdão. Voltando a caminhar, Nina empurrou Yuri sobre a abertura. Passando ao lado do garoto no chão, seus olhos não se distanciaram nem por um momento, eles não podiam. Finalmente de costas para as pessoas, eles seguiram em frente…
— Ei!! Espere aí! Qual é o seu nome?
De repente ele se levantou do chão, esticando seus braços e com o rosto ainda vermelho e molhado ele tentava caminhar, mas suas pernas por algum motivo estavam exaustas. Sem uma resposta, ele revoga novamente.
— Ei!!
A cadeira para e diante do vento Yuri se vira.
— Yuri, meu nome é Yuri.
Parado de pé, as mãos se moveram até seu peito. As lágrimas caíram novamente, mas não transmitiam o mesmo significado.
— Obrigado, Yuri! Eu sou Kaido, nós nos reencontraremos!!
Seus olhos estavam emergidos pelas lágrimas, mas em seu rosto o sorriso prevalecia.
— Ei, vamos indo? — sussurrou Nina.
— Ahn… verdade, por que vocês não falaram nada?
— Não me pareceu que você precisaria de ajuda, não é Junks?
— Pois é.
— Certo, mas enfim, vamos indo, tem alguém que eu ainda quero encontrar. — Movendo os olhos para o horizonte azulado do final de tarde, seu coração estremeceu com saudade.
— Pois é, eu também quero vê-lá. Se segure, Yuri, vou acelerar!
E no fim eles seguem o caminho programado. O clima de fora, mesmo depois de pouco tempo, parecia diferente. Sua atmosfera era leve e sua paisagem bonita, nada de vermelho, corpos e armas, apenas a natureza. O sol se pondo ao longo das montanhas faz os três ficarem em silêncio por grande parte do caminho, somente admirando o que seus olhos enxergavam. A coloração azulada com o alaranjado do sol trazia uma sensação de paz dentre seus corpos. Yuri quase pega no sono.
Ao chegarem próximos às ruas centrais, Junks segue por outro caminho. Nina e Yuri observam suas largas costas irem desaparecendo em meio ao tumulto de pessoas. Ele cruza a próxima rua e deixa apenas uma mão erguida como despedida, que segundos depois é perdida de vista, Yuri suspira cansado.
— Chegou a hora, está preparado? — pergunta Nina apoiando seu queixo sobre seu ombro.
— Eu já nasci preparado, você sabe disso — respondeu rindo.
— Que grande mentira…
Apoiando sua nuca no encosto da cadeira, Yuri vira os olhos para observar Nina, que lhe dá um peteleco na testa.
Sorrindo, os dois seguem em direção à casa. Nina está cantarolando e saltitando. Yuri aproveitando a bela melodia, mantém os olhos fechados com a leve claridade batendo sobre sua pálpebra superior. Chegam finalmente ao grande barranco que leva à rua da velha moradia. Nina monta sobre a cadeira e vai fazendo longas remadas, como em um skate. Abrindo seus olhos devido a velocidade do vento, ele percebe que estão descendo… descendo muito rápido.
— Nina, Nina, Nina, nãoooo. Eu acabei de quase morrer, não me mate por favor!! — gritava, segurando-se em quaisquer coisas que suas mãos encontraram.
Ela gargalhava e continuava a cantarolar. Abrindo os olhos, o enorme pôr-do-sol ao longo das montanhas pôde ser visto. Era alaranjado e radiante, fazendo seu rosto brilhar.
— Sabe Yuri… eu nunca imaginei que chegaria aqui com você agora, todos os momentos que passamos, por mais difíceis que tenham sido, valeram a pena. Todos eles me levaram a estar aqui hoje. — Ignorando a situação, seus pensamentos e boca começaram a funcionar sozinhos.
Em desespero, Yuri se apoiava sobre os encostos dos braços, quase caindo.
— Nina, meu Deus. Para a cadeira, eu vou infartar, eu nunca te pedi nada! — Os cabelos balançavam tão violentamente que pareciam descolar de sua cabeça.
Olhando para os ombros de Yuri, seu rosto corou e sua mente hesitou, mas, inconscientemente, sua boca se mexeu.
— Eu… — sua voz falha.
— Nina? Para com isso, por favor, não dá pra ouvir o que você fala — continuava gritando
— Eu te.. — novamente.
— Nina a gente vai bater!!!
Uma sombra podia ser vista no final do barranco.
— Eu te a…
— Nina!!
O coração de Nina parecia mais acelerado do que nunca, a sensação de adrenalina percorrendo por suas veias e subindo ao seu cérebro por um momento é confortante para ela.
— EU TE AMO!!!
— NINAAA, A GENTE VAI BATER!!!
— AHHHHHHH
pow…
— Ai, ai, ai — gemia, com as mãos sobre as pernas
Jogado sobre o chão, ele sentia dor, muita dor. Procurando a causa de tudo, ele a avista levantando sobre as latas de lixo.
— Ninaaaa! Eu avisei, ai meu deus que dor, meu deus, meu deus, que dor — grunia, se debatendo contra o chão de pedra.
— Yuri, desculpa, desculpa, você tá bem? Bateu a cabeça? Sua perna tá doendo? — Andando em zigue zague, ela se aproxima com a mão sobre a testa.
— Mas é claro! Eu servi de para-choque, devo ter morrido e só não percebi ainda — disse, irritado.
— E cadê a pessoa que você atropelou? — Procurando pela figura, ela esquece de Yuri.
— Ai, ai, ai, minha cabeça — a voz diz.
Estava sol, a silhueta jogada no chão era pequena e estava se levantando sem grandes riscos (um bom sinal). Nina e Yuri permanecem em silêncio. A sombra não era alta, parecia uma criança. O sol foi se abaixando e seu rosto aos poucos sendo revelado.
— Idiota… — fala por vez.
— Oi? Ah, desculpe, você está bem? Essa maluca não me ouviu.
Yuri olha feio para Nina e ela lhe mostra a língua.
A figura continua.
— Idiota, idiota, idiota…
— Ei, você tá bem? Não se machucou? — questiona Yuri preocupado.
A silhueta, agora totalmente de pé, anda em direção a Yuri. De repente ela pula e cai em cima dos braços e pernas, o fazendo chorar de dor. A voz repete com um tom de choro.
— Idiota!!!
O sol havia abaixado e a figura podia ser vista claramente. Encostando sua cabeça sobre o acolchoado agasalho hospitalar, ela manteve-se em silêncio.
— Ei, ei, ei. Minhas pernas estão doendo. — Empurrando a criatura para cima, ele fez toda força que pôde, mas ela não soltava. E nas tentativas de levantar a menina, o sol refletiu sobre uma parte de seu rosto…
— … Yui? É você, é você mesmo?
— Yuri! Seu idiota! — disse, agora chorando de vez.
Depois de tanto tempo, depois de tantas preocupações… lá estava sua pequena irmã, agarrada à seus braços. O reencontro da maneira mais estúpida possível aconteceu, mas não importava, afinal, ela estava bem ali.
— Yui! Hahahaha! É você mesmo! Você está bem na minha frente! Que felicidade. — Seu peito foi abraçado internamente pela sensação de felicidade.
Nina observava os dois com um sorriso no rosto. As emoções que sentia até o momento foram deixadas para depois, esquecidas em um buraco no seu coração.
— Yuri, eu sabia que você ia voltar, eu rezei todas as noites para que você voltasse. Eu sabia, sabia que você voltaria, eu acreditei muito em você! — As palavras eram soltas em meio aos choros, mas puderam ser ouvidas normalmente.
Abraçando os longos cabelos e o magro corpo entre os braços, Yuri emitia uma voz de felicidade imensurável. — Foi você que me salvou, foi tudo graças a você! Não precisa chorar, eu estou de volta, eu prometo não te deixar mais sozinha…
Yui continuava chorando e abraçando o corpo de Yuri. Encarados pelos cabelos vermelhos, os olhos violetas brilham com o reflexo do céu. Sendo tomada pela sensação de exclusão, o sorriso sem graça se desfez para dizer tais palavras. — Bom, acho que vou indo. — Mordendo os lábios rosados, envergonhada, começou a caminhar.
A definição do que Nina sentia no momento não podia ser explicada por outras palavras a não ser um lixo, mas não por seus sentimentos, mas sim por deixar que escapassem em uma hora como essa. Com os punhos fechados, ela andou poucos passos antes de ser segurada pela blusa. Ao se virar, uma pequena mão interrompia sua saída.
— O-obrigada… — disse a garota, insegura olhando para o chão.
A pequena mão que segura o tecido de sua roupa se firmou ainda mais, espantando Nina. Erguendo os olhos, a menina repetiu, mas dessa vez firmemente.
— Obrigada por ter salvado o Yuri!
Sem reação, ela permaneceu parada, tendo sua perna abraçada pela pequena figura de longos cabelos. Olhando para Yuri, ela recebe um sorriso, para por fim, retribuir o abraço com felicidade.
— Nina, você ainda não pode ir embora — Yuri proclamou com uma voz suave e firme.
O coração de Nina acelera novamente, esquecendo completamente de soltar a menina que já quase morria sufocada com o abraço.
Será que ele me ouviu naquela hora? Não, não tem como, estava muito barulho, não tem como. Só pode ser outra coisa! Não é o momento para isso.
— Nina…
Seu coração batia mais forte e seus pulsos tremiam, seria agora a resposta de sua declaração?
— ME LEVANTA DAQUI! Você quase me mata, quase mata minha irmã e vai embora assim do nada?!
Lá se foram suas últimas expectativas.
— Ai, ai, ai, para de gritar, você é muito barulhento. Levanta, vem — bufando Nina estende as mãos para Yuri (Finalmente soltando a menina.)
— Obrigado. Ah, e… me desculpe Yui, eu não consegui desviar a tempo.
Ela assoa o nariz e balança a cabeça. Yuri entendeu como um “tudo bem”..
— Ah, Nina, tem mais uma coisa…— ele continua, agora limpando suas roupas.
“Seria agora a cena de declaração que acontece em mangás shoujo depois de uma menina ser rejeitada? Ele vai se arrepender do que disse e vamos começar a namorar?” Foram as palavras pensadas ao ouvir o seu nome.
— O que foi? — sua voz hesita.
— Você queria vir junto, lembra? Eu prometi.
— Ir junto para onde? — inclinando a cabeça, ela pergunta.
Yuri empurra sua cadeira de rodas em direção a Yui, ele a pega no colo e a abraça novamente. Nina, confusa, observa os dois, que cochicham e dão pequenos sorrisos.
— Yui, o que você acha de a gente ir em um parque de diversões? Você tinha me dito que se eu voltasse a gente ia passar um tempão juntos não é? — sugeriu com um belo sorriso no rosto.
Mesmo em silêncio, seu rosto abre um lindo sorriso, seus dentes brilham tanto, mesmo com a quantia de doces que deve ter comido ao longo da semana, eles continuam brancos e impecáveis.
— Vamos! Vamos! Vamos! — exclama pulando de um lado para o outro.
— Tá, tá, tá, já entendi. Vamos para o parque de diversões. Você vem Nina?
Yuri estendeu sua mão em direção aos sedosos cabelos vermelhos que balançavam com a leve brisa da tarde. Aos olhos de Yuri estavam mais vermelhos do que nunca. Nina abre um lindo sorriso que o faz perder sua respiração por alguns segundos. Ela se aproxima, segura sua mão e responde com um sorriso animado.
— Claro, eu adoraria!
Sua boca sorria, mas sua mente pensava: “Meu Deus, ele lembrou de mim, mas não da maneira que eu queria. Será que o que aconteceu é bom ou ruim? Não sei, mas calma, é bom, né?! Sim! É muito bom, né, Nina? Sim, isso mesmo, é muito bom, aos poucos a gente vai desenvolvendo. É até melhor que seja assim, eu quase matei a irmã dele e ele, ai meu deus que vergonha. Vai dar tudo certo… assim eu espero.”
Parados segurando a mão um do outro, os dois permaneceram perdidos em pensamentos simultâneos. E sem perceber, ficaram sorrindo um para o outro por longos minutos. O final de tarde do reencontro termina com a rua infestada de sorrisos.
Calma, foi isso mesmo que eu escutei? Não pode ser, devo ter escutado errado. Eu estava preocupado demais em morrer. Mas será que era verdade? Meus ouvidos não estão mentindo? A Nina… gosta de mim?