The Paradise Tower - Capítulo 8
— O que você faz aqui? Está nos seguindo desde quando? — pergunta Junk se aproximando do velho.
O homem anda em passos curtos e lentos em direção às crianças, seu estilo de andar lembra o de um palhaço com sapatos gigantes, todo desengonçado.
— Ei, responda! Desde quando está nos seguindo?
Erguendo suas mãos em desistência, ele completa com um sorriso sem graça — Só queria confirmar uma coisa, fiquem tranquilos, não irei fazer nada à vocês.
O homem direciona seus olhos para a figura nos braços de Yuri, Yui. O menino a protege como que puxando-a para perto de si.
— Quem seria esta menina? — questiona, levantando o dedo até a boca.
— Que diferença faz você saber? — Yuri se afasta, cuspindo palavras afiadas como lâminas.
— Bem, vejo que seja de importância sua, não irem incomodar. Mas antes de tudo, preciso que a leve para um local seguro e me sigam, preciso-lhes mostrar algo importante.
Os três se olham e mudam o foco para o homem. Os seus longos cabelos cinzas balançam com o vento entre o jaleco branco amarelado, suas costas saem novamente em direção ao beco totalmente desprovido de luz.
— Sigam-me — gesticula.
O clima se alastrava e o frio congelava suas mãos. Yuri deixou sua irmã na cama com ajuda de Junks, que a cobriu e fechou todas as entradas de ar na casa de madeira. Se aproximando da figura sonolenta, ele a beija na testa.
— Durma bem Yui, eu já volto para ficar com você.
Ela estava realmente cansada, seus olhos estavam pesados e seu corpo mole sem energia. Mesmo dormindo, ela responde ao beijo em sua testa. Grunhindo, ela puxa a gola de Yuri.
— Tá tudo bem, daqui a pouco eu volto.
Os três agora seguiam em direção ao homem de costas finas e corpo magro. Sua aparência, devido a idade, não o ajudava muito. Possuía olheiras que cobria com maquiagem roxa e pele seca e quebradiça, também coberta com maquiagem.
— Ei, aonde está nos levando? O que você quer? — Yuri quebra o silêncio que se alastrava.
— Daqui a pouco chegaremos, tenham calma — terminou, saltitando enquanto seguia pelo caminho.
Mais alguns minutos de caminhada em meio ao vento cortante se passam até chegarem em uma casa velha, com as paredes verdes desbotadas, telhados caindo e janelas quebradas.
— É aqui que você mora? — perguntam, espantados com a visão.
— Podem entrar.
Os três ao entrarem na casa percebem o local todo bagunçado, os dias de chuva, sol e vento haviam destruído por completo todo o seu interior. Seus móveis estavam bagunçados, roupas por todo o chão e o piso de madeira manchado por infiltração devido às goteiras no telhado. O homem passa diante dos três e entra em uma sala. O local era incrivelmente grande se comparado com os outros cômodos. Um tapete redondo vermelho está centralizado por cima dos pisos podres de madeira. Os cabelos cinzas se mexem mais uma vez, ele pega o tapete e o ergue bruscamente, fazendo poeira cobrir por completo o quarto e o cheiro de mofo se espalhar.
— Chegamos.
Um enorme buraco é visto por baixo do tapete, grudado em suas paredes estão escadas de ferro muito bem reforçadas. O homem começa a descer.
— Vamos… para baixo.
— Ei, espera. Como vamos descer o Yuri? Ele está de cadeira de rodas — ecoa Junks, olhando a imensa escuridão das escadas.
— Aguarde um momento, irei descer e em seguida os ajudarei.
O som dos sapatos batendo nas escadas de metal de repente se calam. Outro barulho começa a ecoar sobre os ouvidos dos três, a sala estava… se expandindo? As paredes parecem ter ficado mais largas e o formato do chão está diluindo. Cobrindo os olhos dos flocos de poeira, Nina e Junks seguram a cadeira de Yuri que começa a se mover com a agitação do quarto. Uma rampa é vista subindo e substituindo a escada.
— Venham, agora conseguem descer ele — grita o homem em uma distância que sua voz quase não pode ser ouvida.
Os três se entreolham novamente. Eles não sabem onde isso tudo vai os levar, o local que encontraram é seguro? Yuri assente para os dois e responde ao homem.
— Estamos indo!
Junks desce lentamente pela rampa pouco inclinada em formato de espiral. Um pilar de concreto pode ser visto no meio. Após alguns metros, luzes são acesas de pequenos lampiões pendurados no pilar. O fogo é diferente do que eles estão acostumados a ver, não parece real, é como se estivesse com uma produção de oxigênio que o faz funcionar eternamente sozinho.
Mais alguns metros abaixo, quadros podem ser vistos. Eles andam em silêncio, somente observando a imensa escuridão abaixo de seus pés. O fogo ilumina o local por onde passam e eles conseguem enxergar, de forma sutil, pessoas pintadas nos quadros, todas machucadas e com uniformes.
— O que é tudo isso? De onde vem tanta gente? — pergunta Nina, com os olhos deslumbrados pela parede.
— Essas são pessoas que participaram dos jogos? Estão todas machucadas — afirma Junks.
— Correto!
O homem está ao lado deles novamente, seu rosto pálido e sempre com um sorriso chega a ser assustador.
Passo por passo, com as mãos sobre as costas, ele anda e se encanta com os quadros. — Essas são pinturas de grandes guerreiros que participaram dos jogos, mais precisamente, de todos os grandes reis.
— Todas essas pessoas sobreviveram aos jogos?
— Exato! — Com os olhos arregalados para os três, ele responde imensamente feliz e de forma rápida.
A parede agora parecia ainda maior, quadros com molduras todas iguais e todos dos mesmos formatos. A paisagem de todas as fotos são na floresta, fazendo parecer que são somente um mural.
— Quem é esse que está em todas as fotos com eles? — pergunta Yuri.
— Sou eu. — Sem virar para trás, ele respondeu de forma seca. As pernas do homem seguiam na mesma velocidade em frente ao escuro sem fim adiante.
— Você já presenciou todos esses ganhadores? — pergunta Junks em seguida.
— Vamos, precisamos chegar na central — desviando-se bruscamente da pergunta, sua velocidade aumenta.
Outra caminhada em círculos se inicia até o final da rampa em espiral. Suas tiras metálicas rangem com os passos pesados e principalmente devido a cadeira de Yuri. O local agora estava mais iluminado e podiam ser ouvidos barulhos ecoando por seus tímpanos, algo como teclas de aço se chocando.
— Por aqui, estamos perto da central.
Conforme andavam pelo local, mais quadros podiam ser vistos. O cheiro de mofo e poeira era extremamente alto, chegando a quase se igualar com as madeiras podres na casa em que estavam.
Eles andam mais um pouco e finalmente chegam próximo a um paredão enorme repleto de quadros e teias de aranha. Este sem dúvida era o local mais iluminado e longe de poeira até o momento. Os três levantam suas cabeças na tentativa de enxergar o topo do mural. O homem suspira, estufa seu peito e por fim fala.
— Viram? Muitos já foram vitoriosos.
Esse painel era incrivelmente três ou quatro vezes maior que o anterior, chegando a quase encostar no alto teto do salão.
— E o que queria fazer mostrando isso para a gente? — questiona Junks.
— Ah, não se enganem, eu não os trouxe aqui para olharem o paredão. Por favor, fiquem em cima desta plataforma. — Estendendo suas mãos para o chão, ele anda até uma alavanca próxima ao objeto.
Um barulho ressoa pelo local, causando um grande eco. Uma tira metálica (também empoeirada) é vista subindo em direção a eles.
— Espera… essa é a cabine central? — Nina e Junks se espantam e dizem quase ao mesmo tempo.
Yuri os encara confuso, ele não se lembra perfeitamente dos ocorridos. Mas somente pelos rostos de espanto e angústia de seus amigos ele poderia imaginar que aquilo não trazia boas lembranças.
— Então essa é a cabine central…? — sussurra Yuri.
O que é essa sensação que eu sinto quando olho pra essa coisa? Porque minha cabeça dói tanto?
Inseguros e sem entender o que acontecia, os quatro entram na cabine, o homem aciona a alavanca enferrujada e uma forte luz é emitida em seu painel. As portas se fecham e eles começam a descer.
Os dedos de Junks deslizam suavemente sobre o vidro da parte frontal. Em sua cabeça, aquele era o vidro que decidiu o final da vida para Yuri. A grande barreira que teve de ser quebrada ainda lhe causava pesadelos.
O homem fica em silêncio e seus olhos param de encarar a figura preocupada de Junks. O elevador aos poucos perde a velocidade e com um pequeno tranco as portas se abrem, todos saem. A sala agora é iluminada por lâmpadas e grandes lustres pendurados fortemente por vigas de metal.
Saindo do elevador, os longos cabelos cinzas balançam com o girar do corpo do homem. Esticando seus braços em alegria, ele sorri enquanto fala. — Bem vindos à central dos jogos, onde tudo é devidamente monitorado com segurança.
Os três se olham surpresos com a confissão e o homem continua.
— Nessa central tudo é monitorado e controlado de acordo com nossos gostos. A comida e armas que comeram e usaram vieram daqui, tudo que acontece na arena é registrado aqui. Permitam-me mostrar o local.
Eles andam em direção às costas finas. No caminho, diversos computadores podem ser vistos, em cada tela está sentada uma pessoa, todas vestidas de maneira igual, jalecos brancos e óculos escuros.
— Nossa! Quanta gente — diz Nina varrendo o local com os olhos arregalados.
— Todos são responsáveis por uma função dentro dos jogos. Temos um organizador que seleciona quais comidas e em quais quantidades serão levadas. Temos uma que regula a temperatura que todos vocês irão sentir dentro da torre, o frio das noites é determinado por esses pequenos consoles. Dentre outras tão importantes quanto as anteriores.
Eles observam o “pequeno” console que é de um tamanho de caixa de sapato, com diversos botões que devem representar funções diferentes e em determinadas ocasiões. Tudo naquele local parece extremamente caro e de difícil acesso e uso, além de perigoso.
— Por que nos trouxe aqui afinal de contas? — pergunta Junks.
— Gostaria que olhassem para o telão.— O homem aponta o dedo em direção a uma grande tela fixa em frente aos computadores.
Os três olham em direção a grande tela exposta na maior parede do local. Uma forte luz é acesa e transmitida pela tela, os três fecham repentinamente seus olhos. Após se acostumarem com a luz, uma imagem pode ser vista sendo transmitida.
— Esse lugar… é a torre? — grita Yuri, fazendo o local ficar em silêncio e olhares serem direcionados a eles.
— Sim, estas são imagens em tempo real de o que está acontecendo na torre.
— Está falando da torre que saímos há mais de semanas?
— Exato! Como todos sabem, quando os três finalizantes conseguem sair, a distribuição de alimentos e armas é removida daquele local, ou seja…
— Eles estão até agora lutando porque não querem morrer… — Yuri move seus lábios, mas o som não chega a de fato sair. Incapaz de se levantar, ele apoia seus braços sobre os apoios da cadeira e permanece com os olhos assustados.
A visão diante deles era algo aterrorizante. O homem sem se importar, continua.
— Todos esses são aqueles que sobraram depois da saída de vocês. Ainda estão vivos, alguns malucos, outros morrendo de fome, outros morrendo por infecções, mas permanecem vivos lutando para sobreviver.
Eles ouvem uma pequena risada vinda do homem.
— É hilário, não é? Todos sabem que não tem chances de retornarem vivos e que sua única opção é morrer, mas ainda assim não desistem.
Yuri tenta levantar, mas esquece que suas pernas estão paralisadas. Seus punhos serram e seus olhos são atraídos repentinamente para a direção da garganta do homem. Sua raiva é interrompida por uma leve mão acolhedora que é posta sobre seu ombro, olhando para Nina, seus ombros tensos relaxam um pouco.
— Vejam, vejam.
Os olhos retornam para a tela. Quatro pessoas estão brigando, três em um grupo contra uma sozinha. Ela parece aterrorizada, suas pernas estão tremendo e ela está somente com uma faca tão desgastada que não cortaria nem legumes. As outras avançam para cima dela e a matam em instantes, o gramado é coberto por sangue. Elas estão… elas estão… arrancando seus os membros? O sangue se alastra em poucos segundos. Nina tampa rapidamente os olhos e quase vomita. As crianças não param, estão comendo seus membros e se banhando em seu sangue. A transmissão é interrompida e movida para o que se parece com outra arena.
A cena continua passando pela cabeça de Yuri, ele olha atentamente em direção ao velho.
— …Que merda foi essa? Como vocês têm acesso a tudo isso? — Elevando o tom de voz, as perguntas atingiam diretamente o homem.
Com um leve sorriso no rosto, este ajusta o jaleco e tosse, para por fim responder..
— Aqui na central nós temos acesso para todos os jogos que estão acontecendo simultaneamente no mundo.
Yuri arregala seus olhos, sua respiração diminui vagarosamente até seus pulmões doerem, a dor o incomoda fazendo seu diafragma voltar a funcionar. O mundo de Yuri para. Ninguém se mexe, nem mesmo ele. Naquele espaço cada vez mais quente e apertado, somente sua mente funciona.
O que é isso tudo? Onde de fato nós estamos, o que é essa maluquice? Como ele pode rir das pessoas sendo mortas por uma coisa que eles estão controlando?! Nada disso está certo, os jogos manipulados, o tanto de pessoas morrendo, o paredão com quadros de sobreviventes. Os jogos acontecem uma vez por ano em cada cidade, não ocorrem no mesmo horário, já que estamos presenciando algo totalmente fora do que nos foi apresentado. Porque essas pessoas têm acesso a tudo isso? Quem são esses nos quadros? Onde está a luta por nossos antepassados!?
A linha temporal no qual somente a mente de Yuri funcionava retorna ao normal levando todos a se moverem novamente. O barulho das teclas, ventiladores, conversas… tudo parece alto demais. Ele enche seus pulmões de ar e se acalma. Por fim decide perguntar.
— Afinal, por que queria nos mostrar isso e quem é você?
Um curto silêncio é recaído sobre o local, as conversas no enorme salão cessão por alguns instantes, o homem abaixa sua cabeça e abre sua boa.
— Certo, tem razão, eu ainda não me apresentei. Me chamo Dyson Braun, prazer em conhecê-los. Sou conselheiro e avaliador dos jogos. — Com uma pose esquisita, o homem se inclina para trás com os braços abertos.
— Conselheiro?
— Exato, eu organizo, sou o que vocês chamam de “apresentador”. Tudo nesta sala controla o que acontece lá dentro, até mesmo a entrada de pessoas de fora, ou a saída de pessoas de dentro.
Junks desvia seus olhos do homem e os move em direção aos de Yuri, ele está quase sem cor. Seu semblante está pálido e sua testa vermelha, provavelmente de raiva. Ele decide questionar.
— Então está dizendo que controlam quem vai vencer ou perder?
— Não exatamente. Olhe, como foi mostrado nos painéis, nós representantes dos jogos podemos controlar e auxiliar da maneira que queremos, afinal, sem nossa ajuda vocês todos morreriam.
O fato de estarem escondendo algo para os participantes era errado, mas não podiam negar o fato de que a ajuda era realmente bem vinda, até porque a distribuição de água e comida partia deles.
Nina parece assustada, seus ombros estão tensos e seus olhos não piscam, ainda estão focados no tela gigante. Junks continua o debate perguntando novamente.
— E o que o fez querer mostrar tudo isso para nós?
— Veja bem, como foi dito anteriormente, nós, representantes, controlamos a entrada e saída de pessoas. Não te lembra um certo alguém?
Yuri muda repentinamente sua aura. Pode-se ver suor escorrendo pela maior parte de seu rosto. Sem poder se levantar, suas mãos sobem até sua cabeça e ele diz.
— Caralho…
— Yuri? O que foi?
Ele permanece em silêncio.
— Fala logo Yuri, o que foi cara?
— Junks, Nina… ele está falando de alguém que conhecemos, alguém que nos causou problemas. O campo, as comidas, a batida…
Junks percebe de imediato.
— Cristhine? O que ela tem a ver com tudo isso? — Se exaltando com a voz, ele olhava sem entender para Braun.
Braun lança uma pequena risada irônica e conclui para a pergunta de Junks com um sorriso malicioso.
— Então, meu rapaz, Cristhine era um de nossos membros da organização, era uma representante do Governo.
Todos se olham assustados, inclusive Nina que retorna sua atenção para a conversa. Os pelos dos braços e pernas de Yuri se arrepiam, sua nuca tem uma sensação estranha de dor, ele relembra dos movimentos das pernas e tenta se levantar de maneira automática. Suas pernas tremem, mais força é aplicada sobre seus braços. Junks se aproxima e o impede de ficar em pé.
— Não se esforce, você ainda não está completamente curado.
— Junks, esse cara… ele mandou a Cristhine para aquele lugar? Foi isso que eu entendi?! — Com os braços tremendo com a força aplicada, sua testa se explodia com veias..
Uma gota de suor é escorrida pelo rosto de Junks. A cabeça de Yuri deveria estar confusa. Suas mãos seguravam o vazio, como se estivesse com uma faca apontada para Braun. Este percebe o comportamento de Yuri e se aproxima.
— Meu jovem, não fique com pensamentos errados.
Mais um passo.
— Todos aqui fazemos coisas com uma propost…
Um som ecoa pelo local, todos se alertam e permanecem em silêncio e parados. Com o passar dos segundos, o som de gotas ressalta pelo chão e o sangue salta entre o ar. Os punhos de Yuri estão cobertos por um vermelho que pinga constantemente. O jaleco branco recebe um leve tingimento.
— Yuri! — Gritam Nina e Junks, abaixando suas mãos.
— Não se aproxima de mais seu “Doutor Braun”, minhas pernas podem não estar boas, mas meus braços funcionam perfeitamente.
Os que estavam sentados em seus computadores agora estão de pé olhando em direção a Yuri, que não retira seu olhar do velho de cabelos cinzas. Todos estão com as mãos nas cinturas, como se estivessem segurando uma arma. Braun se levanta e retira um lenço do bolso para estancar o sangramento nasal, após isso ele levanta uma das mãos.
Junks e Nina estão em alerta e assustados, se fossem realmente armas, o que poderiam fazer? Aceitar a morte seria a única escolha. Com o levantar da mão, todos que estavam de pé retornaram suas atenções para os computadores.
Yuri não tira seus olhos de Braun, sua expressão está séria, não se importando com as possíveis consequências, naquele momento, seu único querer era tirar a vida do homem que tratava os mortos como insetos.
— Certo jovem, respeitarei suas delimitações — exclama Braun. — Irei explicar o porquê de ter trazido vocês para esse local. Como eu disse, aqui nós controlamos principalmente a entrada e saída de pessoas. Cristhine e seus companheiros, Justin e Dank eram infiltrados nos jogos. Eles foram colocados em um local de fácil acesso e não conhecido por ninguém lá dentro, claro, poderiam ser descobertos, assim como foi duvidado por vocês, mas as chances de isso acontecer são extremamente baixas.
Yuri estava certo, Cristhine e os outros não poderiam ter chegado no local ao mesmo tempo ou com uma diferença tão pequena, já que foi dito que saíram correndo no momento que as cápsulas foram abertas, se é que foram deixados por cápsulas. Braun continua.
— Todos os nossos infiltrados entram com um objetivo, resgatar alguém de confiança, ou salvar aqueles que são pagos para não morrer. A morte durante o caminho é apenas uma consequência. Existem outros motivos, mas vamos direto ao ponto. Nós temos acesso às redes de dados de todas as pessoas da cidade.
Braun se vira e anda em direção a um computador livre, seus passos sobre os pisos de metal ecoam altamente sobre o local. O computador que veem à sua frente é muito velho, mas ainda de uso da época.
Após uma combinação de códigos na tela do computador, uma ficha pessoal é aberta. — Vejam.
O velho ajusta a tela para que todos possam enxergar normalmente. Lá está Junks, com uma foto qualquer que deve ter sido tirada na rua por um satélite controlado pela organização. Após alguns segundos, uma pasta é aberta com informações confidenciais sobre ele. Todo o tipo de conteúdo podia ser lido.
— Espera… esse sou eu?! Como vocês têm acesso a tantas informações somente pelo meu rosto? — Observando todas as menções, ele continuava a ler sem entender.
— Não fazemos isso somente pelo seu rosto, sabemos literalmente tudo de você. Sua altura, quantos centímetros cresceu em determinado tempo, sua massa, a quantia exata de percentual de gordura que perdeu ou ganhou. Tudo isso fica armazenado em nossos sistemas, mas fique tranquilo, isso nunca vai ser exposto.
Junks está desacreditado. Sua feição demonstra a quantia de pensamentos que se passam por sua cabeça. Braun fecha o computador e continua sua explicação.
— Cristhine foi levada para capturar pessoas que poderiam nos ajudar de alguma forma, mas infelizmente o ocorrido saiu um pouco dos planos originais.
— Como podem fazer isso com essas pessoas? — suspira Yuri.
— Perdão? Não fazemos nada de errado, todas são levadas e mantidas em segurança por nós, mas não conseguimos impedir que todas morram, afinal a torre foi feita para isso. Não me questione os ensinamentos sobre tal ato meu jovem, nossos Deuses que escolheram essa vida para nós. Aqui somente executamos a função que nos foi dado.
— “Nada de errado”, “Deuses”? Como pode dizer isso quando fica assistindo as pessoas se matarem e comerem umas às outras para sobreviver? — questiona Yuri. — Você por acaso sente prazer em fazer algo do tipo?
— Todos atos são necessários, não conseguiríamos grande realização sem tal esforço — suplicou o homem levantando seu queixo.
— E o que exatamente foi realizado? Você só nos mostrou coisas que fomos obrigados a ver pessoalmente por sete longos dias. Não enxergo nada além disso. Onde estão essas grandes mudanças que você diz?
— Essas coisas não podem simplesmente serem observadas a olho nú. Foram anos e anos de estudos e eventos para chegarmos ao nível em que estamos hoje. — Alongando os braços e estralando os dedos da mão, Braun sentava-se na cadeira, cruzando suas pernas, ele observava fixamente o olhar de dúvida no rosto de Yuri.
— E que tipo de coisas seriam essas?
— Creio que a cota de informações está ultrapassando um pouco os limites, desculpem, mas são coisas que não posso dizer no acaso. Todo o necessário já foi informado. O motivo principal lhes foi fornecido, cabe a vocês decidirem o que fazer com a informação.
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O tempo passou e os três acabaram indo embora do local, já era tarde, faltavam poucas horas para o amanhecer, ninguém havia dormido e estavam sobrecarregados de informações sobre os acontecimentos, o que os deixou sem energias. Junks foi o primeiro a ir para casa. Eles se despedem e Nina empurra Yuri pela trilha. O caminho adiante é quieto, silencioso, somente o vento soprando contra as árvores pode ser ouvido. O nascer do sol alaranjado diante das ruas mal estruturadas faz Yuri fechar os olhos levemente, deixando o cabelo balançar contra o vento.
Nina o empurra enquanto observa pela maior parte do tempo seu rosto quieto e inocente.
— Nina? Você está bem com tudo o que aconteceu? — diz Yuri em um tom extremamente leve.
— …Me sinto um pouco chocada, não sei o que teria acontecido comigo se eles me levassem.
— Você ia dar uma baita secretária — zomba Yuri.
Ela ri, mas no fundo se sente preocupada e com uma angústia em seu peito. Porém, olhando para os brancos dentes que sorriem em sua direção, tudo fica mais calmo e acolhedor.
Eles chegam em frente a casa de Yuri, o velho barraco de madeira ainda era o mesmo; às portas remendadas, janelas tampadas com lençóis e paredes mofadas e sujas, mas que dentro ainda era um local aconchegante e confortável de se viver. Posicionando a cadeira de Yuri de frente para o horizonte, o ar de um novo começo de manhã pairava sobre seus rostos.
Nina se aproxima gentilmente fazendo uma sombra no rosto de Yuri. Ele a encara por alguns segundos até finalmente abrir seus braços. Ela se senta em colo, apoia sua cabeça em seu ombro e o abraça. Por fim suspira.
— Obrigado por estar comigo Yuri, fico feliz por ter você por perto. Eu realmente te amo…
Yuri está sério, todos esses acontecimentos o deixaram confuso. Quem de fato é Dyson Braun e o que ele quer?
Ele levanta suas mãos e as enrola na cintura de Nina. O sol já estava quase inteiramente visível. Em meio a aquele clima agradável e aconchegante, os dois dormem em frente a casa de Yuri, um abraçado no outro.