The Paradise Tower - Capítulo 9
9 meses depois.
Sobre o canto dos pássaros, o dia amanhece. O céu está limpo e lindas nuvens estão espalhadas pelo imenso azul. A casa, agora completamente diferente, brilhava sobre seus pisos e janelas ilustrados. Em um quarto, sobre a grande cama, está Yuri. Ele se remexe de um lado para o outro grunhindo com a dor nas costas. O pequeno facho de luz passando pela janela faz com que sua mão seja posicionada sobre seus olhos, tampando o radiante sol. A primeira coisa que avista é um grande lustre rangendo em cima de sua cabeça. Ele estala a língua. Mas felizmente esse não era igual ao do hospital.
— Essas coisas me perseguem — diz com uma voz sonolenta quase inaudível.
Ele se levanta arrastando os pés. O leve pedaço de seda que cobria seu corpo cai sobre o chão. Ele anda descalço até o banheiro, ainda com os olhos fechados e sem enxergar quase nada. Os corredores estão maiores, o cheiro é mais agradável e a sensação das costas é um pouco amenizada logo após um simples alongamento. Ao entrar no banheiro, pega sua escova de dentes no segundo armário um pouco abaixo de sua cintura. Seu kimono está desamarrado, deixando seus músculos do peito e abdômen expostos juntamente com as leves cicatrizes. Ele começa a escovar os dentes. Seus olhos parecem finalmente abrir. A figura em frente ao espelho é Yuri, com os cabelos um pouco mais compridos e uma barba rala. Seus dedos se movem em direção ao que lhe chama mais atenção, a tatuagem de tigre em seu pescoço.
— Aí! Ainda dói. Não sabia que ia demorar tanto pra cicatrizar.
Seus olhos lacrimejam e ele volta a escovar os dentes. Após isso, desce sobre as grandes escadas de madeira no formato espiral. Pegando sua pantufa no último degrau, ele anda em direção a geladeira na cozinha, passando reto sobre a sala. O local é pequeno, mas confortável. As luzes batem sobre as janelas de vidro e iluminam totalmente o lugar. Ele abre a geladeira e enfia sua cabeça lá dentro.
— Veremos, veremos… cadê você, cadê você?! Ué, onde você foi?
Seus olhos vasculham por todas as prateleiras, como que em desespero. Suas mãos tremem e o local de repente é tomado por uma aura sombria, angustiante e medonha. Sua respiração falha e o suor escorre por todo seu corpo. Ele está confuso, com tontura, sua visão vai embaçando e tudo fica preto. Esfregando os olhos, ele se lembra.
— Ah! A sala, verdade, a sala de estar.
Seus pés deslizam rapidamente sobre o piso amadeirado. Sua velocidade aumenta e o suor escorre sobre sua têmpora. Andando com dificuldades ele cambaleia entre as paredes de sua casa. Tudo o que enxergava eram borrões por todos os lados. Aproximando-se do que parecia ser a porta, ele avista duas figuras sentadas em meio às sombras. Escorregando e batendo o dedo de seu pé ele grita em dor.
— Yuri? — diz uma delas com uma voz calma.
— Aconteceu alguma coisa? — completa a outra.
Sua respiração ainda oscilava e sua mente não processava todos os acontecimentos a sua volta. Grunhindo em dor ela berra.
— QUEM COMEU O MEU PUDIM???
— Ahn? — exclamam em simultaneidade.
— Yuri, deixe de ser idiota. Abra os olhos para falar com nós.
Yuri após limpar os olhos permaneceu estático. Ele não estava louco, não havia indícios disso, e muito menos estava alucinando, aquilo sobre o sofá… com certeza era o que procurava.
— Junks, o que você está fazendo aqui? E por que está no meu sofá? Espera… não é possível. Essa coisa na sua mão… o que é isso?
— Seu pudim — responde Junks, calmamente.
A pressão de Yuri começa a cair em câmera lenta, assim como ele, após ouvir a resposta inesperada.
— Yuri! Está tudo bem? Ei, me responda.
Yuri ainda de cabeça baixa responde em um tom fraco.
— Nina… porque o Junks está aqui? O que ele está fazendo no MEU sofá com o MEU pudim? Por favor, me diga!
Juntando os finos dedos, que possuíam esmaltes rosas, com os também rosados lábios, ela soltou uma pequena risada.
— Não seja besta Yuri, Junks veio levar sua irmã ao parque.
Junto com a explicação um barulho de passos é ouvido. Caindo sobre os braços de Nina, Yuri se espanta e grita se afastando perante a figura de longos cabelos no canto da sala.
— N-Nina… o que é isso? Desde quando deixamos os mendigos dormirem em casa? Não que eu tenha algo contra mendigos, mas me diga! Desde quando?
Analisando a figura de Yuri, os longos cabelos molhados se aproximavam com sons de passos em poças de água. Seu rosto não podia ser visto devido ao escuro do canto, mas conforme chegava mais perto, o sol refletia sobre sua pele, fazendo seu rosto se revelar aos poucos.
— Yui?! Era você? Por que está vestida desse jeit…
Na intenção de matar, o fino punho estrangulava a garganta de Yuri.
— Seu idiota! Quem foi que você chamou de mendigo? Eu só fui tomar banho e esqueci minhas roupas!
As mãos se afrouxaram, dando a liberdade para uma pequena corrente de ar circular pelo cérebro de Yuri. Não podendo perder a chance de irritar a irmã, ele diz, em sofrimento.
— Por que não leva elas pro banheiro antes de entr…
A passagem é cortada e as veias de seu pescoço são pressionadas com larga intensidade.
— Cala a boca! Morra, morra, morra! — Chacoalhando os cabelos, ela gritava em plena raiva.
— Ei Yui! Seu irmão está ficando roxo! — dizia Nina, enquanto agarrava os braços da figura grudada na cabeça do irmão.
Quase que se transformando em uma berinjela, Yuri cai se apoiando nos joelhos. Nina ainda segurava a figura, quase pelada, que continuava tentando ir pra cima de seu namorado. Observando tudo de camarote, estava Junks, com seu pote de pudim, agora vazio.
— Ei Junks — murmurou a berinjela sem ar.
— Diga.
— Pra onde você foi levar a minha irmã?
— Nina falou que pro parque, lembra? — dizia enquanto lambia os dedos.
— Se você encostar um dedo nela eu te mato, ta me escutando, desgraçado?
— O que? Já se passaram mais de nove meses e você ainda tem essa visão de mim? Não seja estúpido! Morra, criatura repugnante, berinjela de merda.
Yuri deixa um leve sorriso no ar, perdendo completamente suas forças e cair com o rosto no chão.
— Não brinca… — sussurrou Junks, se levantando do sofá.
A velha casa no bairro pobre de Wishton agora não existia mais. Yuri, Nina e Junks receberam uma grande quantia em dinheiro após o largo reconhecimento que tiveram, claro, não estavam ricos, mas não passavam mais fome e puderam viver seus dias no luxo. Durante nove meses o namoro de Yuri e Nina se fortaleceu dentro da casa. Vivendo juntamente com Yui, o clima nunca ficava para baixo. Os longos cabelos correndo pelos corredores de manhã, de tarde e de noite, animavam completamente os dias dos dois. As brigas diárias de irmãos, os jantares, agora como uma família, e os quartos em que dormiam tinham um significado mais que especial. Esses dias lentos e maravilhosos prosperaram por um longo tempo, mas estavam próximos de acabar.
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Dois meses atrás.
— Ficou muito bom em você, Yuri!
— Tem certeza? Ainda não consigo ver muito bem.
Levantando de uma maca, Yuri abria os olhos depois de longas três horas. Com os olhos voltados ao espelho, ele observava de maneira complexa o desenho gravado em sua pele.
— É, ficou muito bom.
A tatuagem cobria totalmente o lado esquerdo de seu pescoço. O tigre, no estilo tribal, tinha os olhos frios e orelhas pontudas e atentas. Ele foi desenhado com fortes e curvados traços, formando a face inteira do animal. Ela descia até mais ou menos o seu peito, se estendendo por linhas que faziam ligação com a cabeça. Era simples, mas possuía um significado de imenso peso. Logo após agradecer e presenciar a luz do dia depois de tanto tempo, ele olha para o braço de Junks e diz com um pequeno sorriso.
— Agora sou igual a você! Que bacana, valeu a pena sentir a dor.
Junks retribuiu o sorriso de forma animada, parecia até estar mais feliz que Yuri. Saindo pela porta do salão escuro e apertado, os dois caminhavam em meio a calçada de pedestres. Logo a seus lados, podiam ser avistadas montanhas grandes e verdes com picos triangulares. O clima naquele dia estava refrescante e não fazia muito sol. A ideia da tatuagem tinha sido citada por Junks a um bom tempo, fazendo Yuri ceder. Caminhando com a brisa batendo sobre seu rosto, Yuri apoiou-se sobre a cerca que separava a calçada de mar a baixo, suspirando, ele disse.
— Parece que foram longos tempos até chegarmos aqui. Porém, a sensação que sinto é estranha, não sei dizer ao certo. Os dias em que ficamos nos jogos duraram somente uma semana… nada mais que uma simples semana.
— Pois é, pode até ser. Mas pelo menos para mim, aqueles foram os sete dias mais longos que eu já vivi.
Com os olhos voltados para Yuri, Junks respirava profundamente e se aproximava da cerca. Apoiando seus braços sobre a viga de madeira pintada de branco, ele disse.
— A gente pode ter conseguido sair, mas não temos nada em especial, não passamos de humanos que continuam correndo com os rabos entre as pernas — proclamou em resposta.
— Tem razão, somos todos iguais. Não acho que estamos em posição de receber todos esses comentários e olhares que recebemos. Veja, até parece que somos criminosos.
Virando em direção às pessoas que passavam atrás dos dois, Yuri apontou com o dedo. Diversos fotógrafos os filmavam escondidos em postes, bancos, casas e até mesmo em latas de lixo. Os cochichos ouvidos pelas pessoas ao seus redores também eram ensurdecedores. “Veja, são eles; Nossa, são mais novos do que eu pensava; Crianças malditas; Eles mataram o meu filho”
— Todos pensam que somos pessoas do mal — rindo de forma suave, Yuri concluiu.
— Bom, que seja. Não podemos fazer nada a respeito do que pensam, se estivessem lá dentro, com certeza não fariam tantos comentários.
Yuri permaneceu em silêncio por alguns segundos.
— Junks?
— Sim?!
— Eu realmente quero agradecer por tudo o que tem acontecido com nós…
Olhando sobre os olhos baixos em direção ao chão, sobre o cabelo balançando contra o vento e sobre as roupas grudando em seus músculos, Junks fazia silêncio enquanto sentia fluidos lacrimais preencherem seus olhos. Ainda com a cabeça voltada para o chão, Yuri continuava.
— Eu sempre fui um patético em tudo o que eu fazia. Depois que meus pais morreram eu me senti sozinho, isolado e com medo. Eu não tinha mais uma família para quem voltar, foi aí que percebi a importância da Yui na minha vida. Eu passei a roubar só para dar a ela o que comer. Mesmo voltando machucado todos os dias e tendo que ouvir coisas como “Eu não quero que você se machuque! Eu não estou com fome, pode comer!” eu nunca parei. Quando olhava para seus olhos eu via nosso pai. Ele era refletido sobre suas pequenas pálpebras que brilhavam em sigilo quando eu trazia comida. Então parar de roubar era como se eu estivesse cometendo um crime. No dia que fui chamado para os jogos eu esqueci de tudo isso, esqueci de toda a angústia que preenchia meu peito e esqueci de todas as preocupações, por que no fim… eu pensava que ia morrer.
Ainda apoiado sobre a cerca, Yuri dizia sem qualquer hesitação em sua voz. Os cabelos compridos balançavam e cobriam seus olhos, impossibilitando Junks de observar o que eles transmitiam.
— Mas antes dos jogos eu passei a pensar na Nina, a menina que sempre esteve comigo e nunca era observada por mim. A mesma Nina que hoje é madura e séria, era uma criança que clamava por minha atenção. Claro, não se passou nem mesmo um ano, mas acredito que os jogos mudaram todos nós.
Com receio, apertando as mãos, quase às fazendo sangrar, Junks concordou.
— S-sim.
— Eu sabia que não tinha dado valor à minha vida desde que eu era criança. Nunca fui de agradecer meus pais pelas coisas que eles faziam e me davam, mas hoje vejo o peso que isso causa dentro de mim. Então quando entrei nos jogos eu pensei “Tudo está acabado” e aceitei essas palavras que se repetiam constantemente dentro da minha cabeça. Mas pouco antes dos jogos começarem… eu vi meu pai.
— Seu pai!? — exclamou Junks, surpreso.
— É, eu vi meu pai. Ele estava em meio às chamas, com as costelas quebradas, pele carbonizada e cabelos virando cinzas. Mesmo sofrendo com tudo isso ele sorria. Ele sorria e seus olhos brilhavam quando eram direcionados para mim. A partir daquele momento eu percebi que as palavras que se repetiam na minha cabeça não eram palavras para minha aceitação, mas sim para o meu medo. Poucos segundos antes de eu ser atingido no final, eu pensei novamente, “Tudo está acabado”, mas você estava lá! Quando eu pensei que tudo de fato havia acabado, você me mostrou outro caminho! Eu fui salvo por você.
Os olhos atentos de Junks não perdiam uma palavra que Yuri dizia, ele apenas ouvia em silêncio.
— E quando eu me senti sozinho, você estava lá. Quando pensei que morreria, adivinha?! Você estava lá! — Mesmo rindo com as frases, sua voz transmitiu tristeza e solidão. — E quando eu pensei que não teria outra família… você também estava lá!
Levantando o rosto vermelho e um pouco inchado de segurar as lágrimas, ele apontou para sua tatuagem com uma mão e para a de Junks com a outra.
— Agora eu sou da família, não é!?
Seus dentes brancos sorriam em junção com a cabeça virada. Suas bochechas rosadas e os olhos vermelhos pareciam o de um cachorro pedindo por amor. E era para isso que Junks estava lá, para ser a raiz desse amor. Enxugando os olhos com as mãos, ele se aproximou, segurou as lágrimas e por fim disse.
— É! Pode apostar que sim!
Apertando firmemente as mãos, os dois sorriam com os mais puros sentimentos.
— Vamos voltar pra casa, você não pode ficar no sol, se não ela desbota.
Com o dedo apontado para o pescoço de Yuri, ele explicou.
— Ah! É mesmo, vamos indo. — Se escondendo dos raios ultravioletas do sol, ele correu para as sombras.
— Vamos passar nas barracas de comida antes, quer alguma coisa? — Abrindo a carteira em seu bolso, ele verificava o dinheiro restante. — Nina disse pra gente comprar algumas coisas quando voltássemos, onde foi que eu coloquei a lista?!
— Hum, pode ser. Que tal a gente comer algodão doce?
Erguendo a sobrancelha para o comentário, Junks o encarava com olhos mortos. — Não é cedo demais pra comer açúcar puro?
Perdendo o brilho e a animação, ele concordou com um rosto de decepção.
Andando com passos silenciosos que vinham da direção do centro, os dois caminhavam pelas folhas secas do outono. A atmosfera mais fria, porém ensolarada nas manhãs, trazia a coloração acinzentada no final de tarde. Em frente sua casa, nas escadas da entrada, as duas mulheres mais importantes na vida de Yuri acenavam alegremente com as mãos.
— Olááá, YURI! — gritava Yui, com o sorriso de sempre no rosto.
Acenando de volta com uma das mãos livres, Yuri respondeu.
— YUI! VOLTEI, TENHO ALGODÃO DOCE, QUER UM POUCO?
— Ei, fala baixo. São 11 da manhã.
Gargalhando com os olhos fechados, Yuri sorria e corria em direção a sua irmã.
— Não tem horário para a felicidade, Junks! — respondeu de forma inesperada.
Agora com as bochechas cobertas de açúcar, Yuri e Yui adentravam a casa. Observando os dois e ajudando Junks com as sacolas, Nina perguntou rindo suavemente.
— Achei que não podia algodão doce de manhã…
— Não enche! Ele parece criança.
Rindo, os dois também entraram. A manhã daquela quarta feira deixou uma marca mais que especial, não somente na pele de Yuri, mas também dentro dos corações de todos.
2 meses depois.
Junks já havia retornado com Yui, que estava agora em seu quarto, e sentava-se ao redor das almofadas no chão. Nina estava na cozinha, o aroma de sua comida chegava até a sala, fazendo Yuri e Junks salivarem, “isso deveria ser considerado tortura”, remungavam os dois. Ela havia saído para comprar alguns legumes, mas acabou voltando com um enorme pedaço de carne, que agora era cozida junto com os legumes, causando um rastro invisível até onde os dois estavam sentados. A frente de Junks estava Yuri, olhando fixamente para seu ombro.
— Algum problema, Yuri? — pergunta Junks, abaixando sua cabeça para se encontrar com seus olhos.
— Ah? Ah, não, não é nada — responde chacoalhando a cabeça.
— Hum, não me parece ser nada. Está se sentindo mal ou algo do tipo?
— Não, está tudo bem.
Diante da visão de Yuri, nada à sua volta era real. O cheiro de instantes passados havia sumido e sua cabeça não funcionava direito. A figura de Junks a sua frente sumia conforme os segundos passavam. Olhando ao redor, as paredes começaram a se manchar, os móveis a esfarelar e o chão desaparecer. Mesmo esfregando os olhos sua visão não voltava. Enchendo seus pulmões de ar, ele abre os olhos.
O-onde eu estou?
Virando de um lado para o outro sua cabeça, a única coisa que conseguia ser vista era o vazio, assim como o espaço. Novamente a sensação de estar sendo observado era sentida de todas as direções, fazendo seus pelos arrepiarem. Sem poder mexer seu corpo, sua única alternativa era esperar em desespero. O vazio em meio ao silêncio torturava sua mente e corroía todos seus pensamentos. Após algum tempo, a mente de Yuri não pensava mais, seu corpo só flutuava no espaço. Ele sentia frio. Uma voz de repente soou por todo o local.
— Ora, se não é o Yuri. Como tem passado meu jovem?
Com os olhos arregalados, sua mente voltava pouco a pouco a pensar nas palavras. Com uma certa demora para responder, suas primeiras palavras conseguiram ser ditas.
— Ahn? Quem é você!? De onde vem esse som?
A inquietação e desespero faziam seu corpo suar.
— Não se afobe Yuri — sugere a rouca e lenta voz. — Aqui é sua mente… assim como já deve ter percebido.
— Minha mente? O que isso quer dizer?
— O local em que estamos são suas memórias, mas veja, tudo está branco. Você precisa lembrar Yuri, relembre das coisas que esqueceu. Não deixe que suas memórias sejam poluídas, vamos…lembre-se!
— Lembrar? Lembrar do que? Do que eu preciso me lembr…
Os pensamentos de Yuri se difundiram com a dor. Ele queria gritar, queria grunhir, mas não conseguia. A voz misteriosa se foi. No mundo do vazio, no qual somente a mente de Yuri funcionava, nada parecia real. Seus olhos cobertos por branco, seu cansaço desnecessário e sua angústia imensurável… tudo era grande demais. Em pouco tempo suas pálpebras ficaram pesadas, a sensação dos pensamentos não flui mais por seu cérebro. Sua visão aos poucos ficava embaçada e o branco ao seu redor de repente se tornou uma escuridão devastadora.
Com os dedos suados e se levantando assustado, Yuri gritou mais do que sua garganta aguentava.
— Ei, Yuri?! O que foi? Você tá bem?
Se levantando, Junks segura o corpo suado e congelado de Yuri. Sua respiração era pesada e seu corpo se comprimia. Olhando ao redor, ele se dá conta de onde está.
— Junks? O que aconteceu?
— Ué, você ficou duro por uns 15 segundos e levantou gritando.
— 15 segundos? Eu só fiquei assim por 15 segundos?
Mas… me pareceu muito tempo.
Distanciando os olhos de um Junks assustado, ele olha para a cozinha. Lá os cabelos carmins balançavam enquanto traziam uma bandeja com sopas.
— Yuri? Você está bem? — Abaixando-se e gentilmente colocando a mão sobre sua testa, ela pergunta — Meu Deus! Você está fervendo. Vamos, coma logo e descanse depois.
Deixando as sopas sobre a mesa e se sentando junto com os dois, ela olhava preocupada para Yuri. Sua feição havia melhorado, mas seu pescoço ainda soava frio e suas mãos tremiam um pouco.
— Está tudo bem, Yuri?
— Sim! Fique tranquila.
Levando uma colher de sopa até a boca, de uma maneira extremamente sexy, fazendo Yuri ficar com os olhos vidrados, ela por fim disse.
— Vamos discutir sobre a carta.