Um Alquimista Preguiçoso - Capítulo 90
Ao ouvir seu nome sendo chamado, Xiao Guo quase deu um salto do lugar em que estava. A ansiedade era tanta que mal conseguia se segurar, podia sentir o coração pulsar e a respiração se alterar. Apesar de ser, na maioria das vezes, uma pessoa calma e centrada, andando com as mãos nas costas e marcado por um sorriso confiante, nessa ocasião especial, seus nervos pareciam terem sido derretidos, permitindo aos sentimentos correrem soltos.
A origem de sua inquietação nada tinha a ver com a necessidade de se apresentar na frente de milhares de pessoas ou o medo de cometer erros tolos e virar motivo de piadas caluniosas. Na verdade, pode-se dizer que é um jovem de fácil acesso, sabe entrosar no meio de desconhecidos e não tem o menor medo de cometer erros públicos.
Porém, algo empolgante havia acontecido há pouco, uma coisa que aguardou e ansiou por muito tempo; se treinava com tanto zelo todos os dias, era antecipando quando a “evolução” aconteceria. E por causa disso, seu autocontrole enfraqueceu, rendendo-o a vontades banais.
No dia que avançou para o Reino do Despertar, Xiao Guo ficou tão animado que saiu de sua reclusão ― imposta por seu mestre para aumentar o cultivo até o dia do festival ― e contou para todos os amigos e familiares mais próximos sobre a realização alcançada (os pais foram os primeiros a ficarem sabendo). E esse foi um dos motivos pelo qual todos descobriram a respeito do ocorrido.
Seu mestre também compartilhou da alegria, já que, sendo um Líder Setorial, não perdeu tempo em informar aos Anciões aliados e ao Patriarca. Afinal, um novo talento de nível Despertado tinha nascido.
Depois disso, os dois focaram ainda mais no treinamento, isolando-se de todo o resto até a chegada do dia aguardado, pois daquele momento em diante, as chances de Xiao Guo vencer o Festival da Geração do Caos se tornaram realidades. Ele seria um dos jovens disputando o topo.
Entretanto, toda a reclusão levou Xiao Guo, alguém que gostava de colocar suas habilidades à prova, à frustração. Havia acabado de passar por um avanço memorável e mesmo assim não teve a oportunidade de testar seus poderes melhorados.
Sua Técnica de Combate já era de nível Despertado e poderia vir a se tornar ainda mais forte e, portanto, seu mestre o obrigou a ― antes de entrar numa luta ― aprimorar as habilidades que careciam de poder bruto e, ao mesmo tempo, delicadeza. Como consequência, passou os últimos dias focado em aperfeiçoamento e lutas ensaiadas.
E era por causa dessa e outras coisas que estava ansioso. De certa forma, essa seria sua primeira batalha real desde a evolução.
Vestindo sua tradicional túnica preta, com as mãos nas costas, tentando parecer calmo, embora os dedos se enroscando uns nos outros denunciasse o contrário, Xiao Guo não perdeu nem um único minuto e se preparou para subir ao palco. O coração pulsando forte e um sorriso estampado no rosto, iniciou sua marcha, ávido pelo primeiro confronto.
No entanto, quando começou a se afastar, foi parado ao ter seu nome chamado por alguns dos outros membros presentes no palanque.
― Boa sorte, júnior Guo! ― desejou o Patriarca, saudando-o da mesma forma que fazia sempre que alguém da Família Xiao era convocado. ― Seja cuidadoso.
― Deixe seu mestre orgulhoso! ― pressionou o 8° Ancião Wing, querendo ver outra boa partida.
Outros membros também deixaram seus desejos de boa sorte, incluindo Ning, os quais foram recebidos de bom grado pelo jovem. No final, ainda gostava de receber atenção e saber que pessoas igual ao Patriarca estariam assistindo, apenas aumentava suas expectativas.
Quando estava para descer as escadas, ele reparou em algo próximo da área na qual a Família Xu se reunia. Uma garota de expressões nada ambiciosas, cuja estatura não passava de um metro e meio, estava saudando cada um dos Xus presentes, com um respeito admirável, abaixando a cabeça e se despedindo até dos mais jovens, que dividiam uma posição social semelhante. Seu tratamento era igual tanto para os Anciões e Patriarca, quanto para os demais integrantes.
Presa em uma mecha de cabelo marrom, posicionado atrás da orelha e fixado por uma presilha floral, uma graciosa flor chamava atenção, ostentando belas cores, de um violeta brilhante, cujas pétalas se completavam, sobrepondo-se e vedando as brechas entre uma e outra, formando, assim, uma magnífica coroa marcada por um perfume natural.
Além da flor que se destacava, a garota usava uma peça única muito simples de roupa; um tecido branco puro, largo, que se estendia ao longo de todo o seu corpo, indo até os tornozelos. Apesar de ela usá-la no lugar de um vestido, não seria errado confundi-la com uma roupa de dormir, afinal, não possuía qualquer estampa ou outro enfeite decorativo denunciando se tratar de um traje adequado para usar em público. E, todavia, nem por isso era uma vestimenta obscena, cobrindo todas as partes cabíveis. No mais, calçava um chinelo constituído a partir de fibra de bambu.
A garota dedicou algum tempo se despedindo do grupo e aceitando de bom grado as fortunas ― sinceras e insinceras ― vindas de seus colegas, retribuindo todos no mesmo tom, e nesse ponto, Xiao Guo entendeu que aquela, muito provável, seria sua oponente, Xu Hangying. Poderia esperá-la, para, dessa forma, os dois descerem juntos; uma demonstração ímpar de espírito esportivo, de fato. Porém, o desejo insaciável de testar a força recém-renovada não o permitia ficar parado, aguardando uma desconhecida resolver seus assuntos. E assim, ele desceu para o palco.
Ao subir na arena, Xiao Guo causou uma pequena comoção, originada, principalmente, por gritos de garotas que chamavam seu nome, soltando elogios e bajulações. Uma reação modesta se comparado à popular Xu Meifen, mas que, apesar disso, bastava para mostrar o quão reconhecido era perante a Cidade da Fronteira do Caos.
Devido ao seu talento e charme natural, sempre foi uma pessoa em evidência, mesmo além das fronteiras do território dos Xiaos. Entretanto, sua fama apenas ampliou-se após evoluir para o Reino do Despertar. E recebendo tamanho carinho, muito embora seu foco estivesse todo na luta, retribuiu o gesto acenando para o público e dando seu típico sorriso confiante, acompanhado pelo nariz um tanto empinado.
Não demorou muito e Xu Hangying enfim fez sua entrada, escalando a pequena escada lateral com seu chinelo de bambu, o qual reproduzia um som peculiar, que ficava entre madeira se chocando e um estalo abafado. O traje branco, composto por tecido leve, drapejava sem muito vigor, mas com bastante liberdade, sendo instigado a bailar pela brisa suave da noite, que de tempos em tempos ameaçava ficar mais forte.
Depois de subir na arena improvisada, antes de mais nada, ela deu a volta na estrutura de formato redondo, passando por cada um dos juízes e cumprimentando-os da melhor maneira possível, esboçando um semblante esclarecido e proferindo algumas palavras de agradecimento pelo trabalho feito por eles. Em seguida, terminando as saudações, ficou de frente para Xiao Guo e se apresentou:
― É um grande prazer conhecê-lo. ― falou, abaixando a cabeça numa atitude respeitosa. ― Meu nome é Xu Hangying e sou integrante da Família Xu. Posso não ter um grande talento, mas me esforçarei para entregar uma performance digna do gênio Guo.
Olhando-a mais de perto, tornava-se evidente que o maior destaque em sua aparência ficava toda para a flor presa numa mecha de cabelo, a qual, até certo ponto, lembrava uma Flor de Lótus, com suas pétalas pontudas e a cor marcante. Contudo, o que a diferenciava de tal espécie era um conjunto de espinhos, localizados na parte central, região na qual deveria ser encontrado o androceu (órgão reprodutor responsável por produzir o pólen).
Bonita, mas, perigosa. Era a impressão que se tinha ao ser observada sob um olhar mais atento.
― Não é para tanto, não sou nenhum gênio. ― disse o recém Despertado, exibindo um sorriso gentil, satisfeito pelos elogios recebidos.
― O Sr. Xiao Guo é uma pessoa humilde. Admiro isso. ― declarou Xu Hangying, sempre respeitosa ao se referir a outra parte. ― Mesmo sendo um dos jovens a evoluir para o Reino do Despertar antes de entrar na fase adulta, ainda mantém uma postura singela. Não me espanta que tenha tantos admiradores e pretendentes. ― concluiu, exprimindo um leve tom brincalhão e provocador.
― Não precisa ser tão formal, pode me chamar apenas de Xiao Guo. ― disse ele, parecendo cada vez mais receptível a sua adversária. Estava transbordando confiança, inflando o peito, como se para mostrar toda sua força, e as palavras de Hangying, juntas aos gritos vindos da plateia, tinha um papel considerável nisso. ― Eu evolui há pouco tempo ― continuou ele ―, ainda não posso me comparar aos outros gênios, tipo Xu Jong, da sua Família. Mas agradeço por suas palavras.
Mais uma vez, Xu Hangying abaixou a cabeça em um gesto de respeito pelas considerações do rival.
Parados de frente um para o outro, os dois pareciam estar prontos para a batalha e os juízes perceberam isso, pois não tardaram em assumir seus postos e, aquele faria valer as regras nessa partida, anunciou:
― A batalha entre Xiao Guo, 1ª Camada do Reino do Despertar, e Xu Hangying, 6ª Camada do Reino Mundano, começa agora.
Assim que a autorização foi dada, Xiao Guo abaixou a cintura e levou a perna esquerda para trás, usando-a de base, enquanto mantinha o joelho direito flexionado, assumindo sua característica, porém, diversificada, postura de batalha, com o braço esquerdo colado no corpo e a palma direita voltada para frente.
Não apenas empolgado, a julgar pela expressão resoluta que se formou num instante em seu rosto, estava pronto para a batalha. Mesmo assim, não fez o primeiro movimento. Tinha consideração. Sabia o quão grande era o abismo de força entre os dois, e, depois de ser tratado com tamanha educação, não queria ser injusto e maltratar sua oponente.
― Se Xiao Guo não se importa, irei tomar a vantagem e lançarei o primeiro ataque. ― proferiu Xu Hangying, anunciando suas intenções. Em seguida, balançando as mãos graciosamente, como se estivesse tirando algo do chão usando algum tipo de poder mental, comandou. ― Viveiro Floral!
De repente, de todos os lados, flores começaram a brotar, crescendo a um ritmo espantoso. O pedúnculo, sustentando o ainda jovem botão em desenvolvimento, alongou-se por cerca de quarenta centímetros da superfície, flexível feito um galho verde e fino, balançando pra lá e pra cá, sem a necessidade da interferência de uma força externa, apenas o peso que precisava sustentar bastava para fazê-lo vergar.
Quando alcançou a altura máxima de cinquenta centímetros, os botões começaram a desabrochar, abrindo-se em lindas flores, formada por conjuntos de pétalas violetas, marcantes em sua exibição, que se completavam, sobrepondo-se uma sobre a outra, formando uma coroa. E no centro, lugar em que deveria ficar o androceu, notava-se a presença de um aglomerado de espinhos.
Aquelas eram, sem qualquer traço de dúvida, flores idênticas às que Xu Hangying carrega consigo, presa no cabelo, e havia dezenas delas espalhadas por toda a arena.
No palanque, Xiao Ning começou a pular feito uma criança, batendo palmas e gritando, sem dar importância se suas ações estavam chamando atenção. Alegre, cutucou Xiao Shui usando o cotovelo enquanto apontava um dedo.
― Veja, veja, pequena Shui, mais uma Técnica que usa o Elemento da Planta. Será que ela está tentando se especializar nesse Elemento. ― Pendurando-se no peitoral do palanque, ele não se conteve e começou a se esgoelar, torcendo com todas as emoções. ― Vai lá, garota, acaba com esse pirralho fedorento. Dá uma surra nele. AHAHAHA! ― E terminava gargalhando alto.
Xiao Shui foi obrigada a dar um passo para o lado, fugindo das cotoveladas. Sempre muito atenta com o que acontecia ao redor, ela notou que muitos olhares estavam voltados para Ning, estranhando sua reação. Pela expressão de alguns, era visível que desaprovavam seu comportamento excessivo. E percebendo isso, decidiu avisar.
― Eu entendi, você gosta de plantas. Agora, precisa se acalmar. Você está chamando muita atenção. ― Depois de tudo o que tinha ocorrido ainda naquele dia, ela queria evitar a todo custo atrair mais olhares para a sua direção. ― Além do mais, Xiao Guo é da nossa Família. Não deveria estar torcendo para a inimiga.
― Pequenos detalhes, pequenos detalhes. ― disse Xiao Ning, sem levar em consideração o aviso.
― Você gosta mesmo de plantas, não é? ― comentou Xiao Chan do outro lado. ― Nesse caso… ― agarrando-se no parapeito, como se estivesse se preparando para fazer algo, encheu o pulmão de ar e, permitindo sua voz sair tão alto quanto era possível, gritou a plenos pulmões. ― Vai lá, Hangying, acaba com ele. ― juntou-se à torcida.
― Até você, Gege! ― queixou-se Xiao Shui, desapontada e surpresa com o irmão. Não pensou que ele teria uma atitude tão infantil.
― Ahahah! Pequena Shui, só se vive uma vez. Você precisa aproveitar o momento.
Por mais que tentasse, Xiao Shui não conseguiu impedir os dois de torcer e gritar pelo lado inimigo. No fim, não teve escolha a não ser deixá-los fazer o que queriam, pois quando tentou buscar o auxílio do pai, esse também a disse para não se preocupar tanto.
No palco, não muito depois de terem desabrochado, as pétalas das flores começaram a cair, deixando apenas o conjunto de espinhos sendo sustentado pela haste. Toda a transformação levou alguns segundos, tempo o suficiente para Xiao Guo reagir e lançar seu próprio movimento. Porém, não se moveu. Queria ver o que iria acontecer e mais importante, testar o próprio poder ao ser confrontado por outra habilidade.
Percebendo sua hesitação em se deslocar, Xu Hangying tirou proveito da situação e tomou seu tempo, finalizando a execução de sua Técnica de Combate sem se apressar. Normalmente, este golpe precisaria ser executado por etapas, fazendo uso de outras habilidades para se defender e manter o inimigo afastado. E então, quando enfim a última pétala caiu, não querendo testar os limites da paciência do inimigo, rugiu, lançando seu ataque:
― Flor de Peçonha: Ganchos Ferrenhos!
Como se tivessem sido assolados por uma ventania rasteira, os pedúnculos dobraram, cada agrupamento em uma direção distinta, contraria a posição de Xiao Guo, dando a impressão de que a rajada houvesse se originado a partir dele, de modo que a extremidade superior tocasse o chão no lado oposto.
E, feito o braço de uma catapulta sendo libertada dos grilhões impostos pelo sarilho, quando a “ventania” cessou, alforriando os pedúnculos da prostração, as hastes voltaram para a posição inicial, lançando os espinhos para o alto no processo.
Xiao Guo assistiu os ferrões levantarem voo, todos sendo atirados sobre sua cabeça, com bastante atenção. E no instante em que alcançaram seu apogeu, após desenhar a trajetória esperada de um projétil, as fartas que detinham por volta dos três centímetros de comprimento, perderam velocidade e começaram a cair logo em seguida, tornando a acelerar de encontro ao inimigo, feito flechas sendo atiradas do alto de um baluarte.
A velocidade dos ferrões não era grande coisa, oferecendo um risco mínimo para qualquer cultivador que os notasse chegando. Ao menos, essa foi a impressão a princípio. No entanto, parecia existir algo a mais, impulsionando-os para baixo e os mantendo na trajetória certa.
Xiao Guo viu tudo isso acontecer em instantes, desde a ascensão até a queda. A ação em si, não levou mais do que alguns segundos para acontecer. Entretanto, talvez fosse por causa do recente avanço, ou, de fato, os espinhos não eram tão velozes assim, mas conseguiu ver a coisa toda, cada detalhe. E sem precisar se esforçar muito, sabia qual caminho escolher para conseguir escapar dos ferrões.
Mesmo assim, ele não fugiu e resolveu encarar o desafio de frente. Apenas os espinhos não pareciam oferecer qualquer tipo de perigo, mesmo se deixasse ser atingido. Mas, ainda assim, tinha esperança de existir algo mais por trás da técnica e se fosse esse o caso, seria uma boa oportunidade de testar seus novos poderes.
Mudando a postura do corpo, inclinando o tronco para trás enquanto erguia o braço direito, bradou, usando sua melhor defesa:
― Barreira Estrondosa!
Diferente de quando enfrentou Xiao Ning, desta vez, Xiao Guo se limitou a lançar um único tapa contra o alto, criando um estrondo ao deslocar o braço, que liberou uma onda de choque, provocando deslocamento no ar circundante. O estampido causou tamanho impacto que Xu Hangying foi obrigada a tapar os ouvidos, conforme seu traje drapejou forte, agitando-se de um lado para o outro.
Confrontados pela Barreira Estrondosa, os espinhos não tiveram a menor chance e foram jogados de volta para o alto, deixados para, mais uma vez, serem puxados de volta para o palco, mas, agora, por influência da gravidade e nada mais.
E naquele momento, vendo os ferrões inutilizados, Xiao Guo sentiu frustração. Esperava mais, desejava mais. Talvez, pensou ele, se forçasse sua adversária a atingir limites mais elevados, poderia vir a ser confrontado por técnicas poderosas.
Com esse raciocínio em mente, chutou o chão e se deslocou sobre a arena, deslizando com a graça e leveza de um artista marcial, cobrindo a distância entre eles num instante.
A aceleração explosiva de Xiao Guo foi tamanha que Xu Hangying, a qual não estava habituada a demonstrações repentinas de velocidade, foi pega desprevenida pela ação e ficou bastante surpresa ao se deparar com Guo surgindo em sua frente, como se ele tivesse se materializado de repente. No entanto, seu maior choque surgiu em seguida…
Deixando-se ser influenciado pela empolgação do momento, Xiao Guo, controlando a força, mas não a vontade de usar uma Técnica de Combate, a um passo de tocar sua adversário, desferiu um golpe, espalmando com a mão esquerda.
― Palma Sonora: Canto Silencioso!
Por um ínfimo instante, Xu Hangying conseguiu ver o ar logo a sua frente se distorcer e, logo após, algo se chocar contra o seu corpo. Não houve qualquer ruído ou espetáculo visual denunciando a execução de uma técnica, porém, quando foi atingida, sentiu uma dor lancinante atravessar o corpo, afetando todos os órgãos, que balançaram, como se tivessem sido colocados dentro de um balde para serem chacoalhados.
Depois de ser golpeada, Xu Hangying ficou petrificada no mesmo lugar, o rosto tão vermelho que aparentava ter ficado de cabeça para baixo durante horas, e os olhos, sem qualquer expressão, mantiveram-se paralisados, focados num único ponto.
Quando a atingiu, Xiao Guo pôde ouvir o ar escapando de seus pulmões, sendo expelidos à força. E foi ao vê-la paralisada, com um semblante esmaecido, que pensou ter se empolgado demais e exagerado na força.
Parecendo preocupado, pensou em interromper a investida e questionar se ela estava bem, mas ao abrir a boca, pronto para articular uma ou duas palavras, Xu Hangying se moveu; deu um passo para frente e balançou os braços ― pelo menos, foi isso que pareceu no começo.
Pois Xiao Guo não tardou a perceber que ela não estava se mexendo e sim caindo.
O corpo de Xu Hangying inclinou-se e começou a desabar aos poucos, feito um tronco colocado de pé, sem ter raízes para se firmar, sendo vencido pela gravidade e a falta de equilíbrio. Conforme desabava, já inconsciente, a despeito dos olhos que se mantinham abertos, mas sem expressão, a mecha de cabelo se desenrolou e a flor se desprendeu e plainou de encontro ao chão.
Vendo isso, Xiao Guo, pensando tardiamente na preservação de sua adversária, cujo cultivo se fazia mais baixo numa escala evidente de poder, adiantou-se e a apoiou usando o braço esquerdo, evitando sua queda, e, com a mão direita, agarrou a flor ainda no ar, tornando a prendê-la no cabelo de Hangying.
No mesmo instante, o juiz responsável pela partida ordenou aos médicos de prontidão a subirem no palco e foram logo começando os exames, ali mesmo. Queriam saber, antes de movê-la ou tomar qualquer decisão, se ela estava bem. E após uma apurada análise, o veredito foi de que Hangying apenas perdeu a consciência por causa do choque interno, mas logo voltaria a si. Não havia motivos para se preocupar, sua vida nem integridade corriam risco.
Sabendo dessas informações, o árbitro pareceu enfim se sentir seguro para dar sua confirmação e assim, declarou Xiao Guo o vencedor.
Ele, por outro lado, estava feliz por saber que Hangying ficaria bem; temeu por um momento ter se excedido e causado um mal maior. Da mesma forma, ficou contente por conquistar a vitória. Entretanto, a sensação final era de frustração. Ficou tão ansioso pela disputa, em testar a nova força, que vencer com um único golpe fazia tudo não passar de uma grande decepção.
Enquanto ia deixando o palco, soltando longos suspiros de insatisfação, de repente, Xiao Guo sentiu uma leve picada na perna. Abaixando a cabeça para verificar a causa, notou que na altura da coxa direita, encontrava-se um espinho preso no tecido da roupa, de cerca de três centímetros de comprimento. O objeto não chegou a penetrar sua carne, apenas arranhou de leve a pele quando se moveu. E não precisou de muito esforço para perceber que o ferrão era um daqueles atirados pela Técnica de Combate de Hangying.
Dando pouca importância para isso, ele tirou o espinho, jogou-o no chão e continuou seu caminho.
Sobre o palanque, Xiao Ning parecia inconformado com a derrota da praticante do Elemento Planta. Ao lado de seu mais recente amigo, criou um pequeno tumulto, gritando injúrias, sem medir as palavras.
― Como ousa fazer isso, seu pirralho arrogante. Venha até aqui, eu vou chutar seu traseiro fedido! ― dizia ele, mostrando o punho fechado.
Xiao Chan também participou da algazarra, pedindo ao juiz para cancelar a decisão, alegando ter ocorrido trapaças. Xiao Shui tentou parar os dois, mas foi inútil, pois um parecia animar o outro e assim eles prosseguiram.
Xiao Guo estava descendo a escada do palco, quando, de repente, sentiu um impacto afetar sua mente, como se estivesse sofrendo de vertigem ou pressão baixa. As pernas bambearam e o rosto ganhou um tom esquálido à medida que gotas de suor frio começaram a escorrer por sua testa e costas, causando arrepios em todo o corpo. E, além de tudo isso, as vozes das milhares de pessoas presentes ficaram abafadas, dando a impressão de existir algo bloqueando seus ouvidos.
Acometido por um mal súbito, ele não aguentou manter o corpo firme e desabou, rolando pelos degraus que faltava descer, estatelando-se de cara no chão e perdendo a consciência.
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