Um Alquimista Preguiçoso - Capítulo 91
A batalha seguinte seria disputada entre Ma Yao Yan e Yu Teegan, duas garotas pertencentes a Fundação Quatro Pilares, escolhidas dentre as demais para representar a instituição, fazendo frente às Famílias. Pouco se esperava delas, mas ao subirem no palco, foram aplaudidas com entusiasmo pela população que se sentia representada.
As duas nunca foram grandes amigas. De fato, jamais tinham trocado mais do que um par de palavras até o dia de hoje. Na Fundação, pertenciam a classes diferentes e andavam ao lado de pessoas diferentes.
Entretanto, por estarem sozinhas no meio de tantas figuras importantes, acabaram se juntando numa tentativa falha de aliviar a pressão que sentiam e diminuir o nervosismo. Dessa forma, quando foram chamadas, desceram juntas em direção ao palco e no caminho, a despeito de seus verdadeiros sentimentos, desejaram sorte uma à outra. Ambas levavam consigo o desejo absoluto de conquistar a vitória, cada uma por suas próprias razões e não iriam abrir mão da glória por uma amizade precoce.
Uma vez no palco, seguiram rumos diferentes, posicionando-se em lados opostos, assumindo distâncias consideráveis uma da outra. A expressão amigável em seus rostos mudaram, dando lugar a semblantes determinados, focados no mesmo objetivo.
A juíza responsável por monitorar a partida, uma senhora de idade da Família Xu, adiantou-se e anunciou o começo da batalha:
― Ma Yao Yan, 6ª Camada do Reino Mundano, contra Yu Teegan, 5ª Camada do Reino Mundano!
Quando o início da partida foi autorizado, o pessoal da cidade aplaudiu, parabenizando-as pelo feito antes mesmo da disputa ter se encerrado, alcançando uma decisão clara. Para eles, estarem ali era motivo o bastante para se orgulhar e comemorar.
Antes de tomar qualquer atitude, as garotas trocaram alguns olhares, nada parecido com amizade. Queriam saber qual movimento escolher, decidir o ataque que usariam, a melhor estratégia, o caminho absoluto para a vitória. Uma pena não conseguirem ler a mente da outra parte, do contrário, teriam uma vantagem esmagadora.
Agora que estavam uma de frente para a outra, a um passo de se enfrentarem, perceberam que foi estupidez de suas partes não ter planejado o que fariam com antecedência. Se tivessem sido mais cautelosas e até mesmo mais espertas, depois de descobrirem o nome da pessoa que seria a inimiga, por meio da tabela exposta mais cedo, deveriam ter tentado bolar uma estratégia, ou por terem ficado juntas durante todo o tempo de espera, descobrir um segredo ou fraqueza da oponente.
Elas tiveram a chance de explorar os pontos fracos uma da outra antes mesmo da partida começar, mas não tiraram proveito dessa oportunidade. O nervosismo possuía sua parcela de culpa nesse desleixo, afinal, para elas, gente comum da cidade, os Anciões, Patriarcas e Matriarca de cada Família, eram como entidades superiores, criaturas a serem temidas e veneradas.
Entretanto, o maior culpado de todos, no final, era a inexperiência. Para ambas, essa seria a primeira batalha séria de suas vidas, em que a única opção aceitável é a vitória e a derrota representa vergonha e humilhação. Obviamente, já haviam lutado outras vezes, mas apenas durante treinos leves na Fundação Quatro Pilares.
Percebendo que nada aconteceria se continuasse encarando uma a outra, Ma Yao Yan decidiu tomar uma atitude. Numa espécie de preparação, começou a saltitar no palco, ainda no mesmo lugar, mas trocando os pés a cada pulo. Os braços se moviam junto, seguindo o ritmo dos saltos, e sempre ao cair, pousava nas pontas dos pés, flexionando os joelhos para se lançar mais uma vez para o alto.
E então, quando saltou pela décima vez, ainda no ar, sua postura mudou sutilmente. O tronco se inclinou mais para frente e o lado esquerdo do quadril seguiu o exemplo, adiantando-se alguns centímetros. O olhar focou-se na adversária e os cotovelos dobraram num ângulo aproximado de noventa graus.
Seu pé esquerdo foi o primeiro a tocar o piso e nesse momento, entoou baixo:
― Pegadas Leves!
Ma Yao Yan de repente disparou pela arena numa corrida que mais parecia pequenos saltos, impulsionados pelas pontas dos pés, os quais recebiam força das panturrilhas, que por sua vez se contraiam a cada passada. Seus movimentos sutis a permitiram cobrir uma distância considerável em poucos instantes, correndo em linha reta.
Vendo Yao Yan disparando em sua direção, apesar da velocidade de sua adversária não ser algo que seus olhos fossem incapazes de acompanhar, de modo que conseguia distinguir sem muito problema o movimento dos pés e o flexionar dos joelhos, Yu Teegan sentiu o coração acelerar e seus pensamentos se tornaram um branco absoluto. O nervosismo por estar na frente de tantas pessoas, incluindo alguns de seus entes mais queridos, e o medo da derrota e a inexperiência, fizeram-na se sentir encurralada.
O pavor experimentado naquele instante, reforçado pela insegurança, foi tamanho que, quando a outra parte se aproximou, ficando a um passo de distância, e apertou o punho, preparando-se para desferir um soco, Yu Teegan cruzou os braços na frente do corpo e involuntariamente fechou os olhos enquanto rugia, sem ao menos pensar nas ações tomadas:
― Escudo Forte!
Uma barreira translúcida, reluzindo uma luz amarela-pálida, materializou-se na frente de Teegan, protegendo-a da investida frontal. O escudo parecia uma proteção frágil, tremeluzindo feito uma vela sendo soprada, mas, ainda assim, manteve-se firme, pronto para receber o golpe.
Quando a barreira se ergueu, Ma Yao Yan já havia desferido um soco seco mirando o rosto da oponente e não conseguiu frear o ataque a tempo de evitar a colisão. Seu punho, desprotegido de qualquer artimanha, chocou-se direto contra o Escudo Forte, que nem sequer vibrou. A dor do impacto atravessou os ossos do metacarpo e logo se espalhou pelo pulso, subindo pelo antebraço. Bateu usando toda a força, sem pensar na possibilidade de encontrar algo duro pelo caminho e o resultado foi um dano maior para ela.
Sabia mover os pés, mas não era boa em lutar com os punhos ― desajeitada, construía uma definição perfeita para seu estilo de luta. Era o tipo de garota cujo tapa vinha primeiro à mente. Contudo, numa exibição de habilidades, precisava demonstrar que sabia chutar e socar ― ao menos, esse foi seu pensamento de início e, talvez, tenha sido seu erro.
Ao tornar a abrir os olhos, depois do primeiro susto, Yu Teegan se deparou com Yao Yan segurando o braço direito junto ao corpo, curvando-se sobre o membro ferido. A expressão em seu rosto era de profunda dor conforme apertava os dentes tentando não gritar.
Percebendo que essa seria sua chance, Teegan rapidamente se recuperou do susto e reagiu lançando um contra-ataque. Mudando de postura, ela dobrou os cotovelos, mantendo as mãos esticadas na altura do peito, com as palmas voltadas uma para a outra, evitando que os dedos da mão esquerda e direita se tocassem.
Uma luz vermelha-clara, dotada de tons alaranjados, surgiu do nada, formando uma pequena bola no espaço deixado entre os membros. A esfera girava em alta velocidade, repercutindo um zumbido estridente, semelhante a um silvo sendo acelerado, transformando-se aos poucos num assobio cada vez mais agudo. E quando a bola alcançou o tamanho de uma maçã, ela balançou os dois braços ao mesmo tempo, jogando o condensado de Energia.
― Falsa Rotação!
A bola brilhante girava em alta velocidade conforme rumava de encontro ao alvo, emitindo um assobio fino. Quanto mais rodava, mais rápida parecia ficar, cobrindo a curta distância entre as duas numa fração de segundos.
E embora ainda estivesse curvada sobre o próprio braço, Ma Yao Yan, agarrando-se à vontade de vencer, ativou sua técnica: Pegadas Leves; e se esquivou, correndo para o lado, fugindo da trajetória escolhida por sua adversária. Quando a esfera alcançou o lugar que ocupava um instante atrás, sua velocidade sofreu uma brusca redução, chegando a um ponto de parada total e foi nessa hora que a mudança mais severa aconteceu.
Seu tamanho aumentou e o brilho ficou mais forte. O zumbido, que deveria ter parado junto da rotação, intensificou-se, emitindo um timbre perfurante e então…
“Boom!”
Uma explosão sucedeu, liberando linhas de energia avermelhadas para todos os lados, feito chicotes sendo agitados.
Ma Yao Yan ficou impressionada com o estampido. Não tinha tanta potência quanto outras habilidades Mundanas, mas em seu estado atual, seria mais um ferimento para se preocupar. E, portanto, deu graças por ter conseguido escapar a tempo.
No geral, era ágil com os pés e não tinha problemas em corridas ou saltos laterais, mas, naquele momento de dor, mesmo sua fuga foi desajeitada, tropeçando no meio do caminho e quase caindo.
Não estava acostumada a sentir este tipo de agonia. À medida que o tempo passava, apesar da duração de poucos segundos desde a colisão, a contusão parecia irradiar ao longo de seu braço, indo até o ombro de maneira que não conseguia mais mexer a mão direita como desejava. E para piorar, o dedo indicador e o médio pareciam um tanto dormentes e inchados.
Talvez estivesse sendo um pouco dramática, mas por nunca ter sentido nada parecido, pensou ter quebrado a mão.
Notando que uma das participantes parecia estar sofrendo, a juíza lançou um olhar mais atento na situação e se adiantou um passo, dando a impressão de que poderia intervir. Porém, mais uma vez relaxou a postura e decidiu continuar observando. Contusões e fraturas eram comuns em batalhas competitivas e por ter sido um acontecimento ao acaso, sem intenções maliciosas, não existia motivos para ser rígida. Além do mais, precisava levar em consideração a vontade de prosseguir das competidoras.
Buscando a vantagem, Yu Teegan não parou seu ataque e continuou usando sua Técnica de Combate: Falsa Rotação. Bolas de Energia Espiritual foram lançadas em sequência, sempre atiradas contra o alvo, sem nenhuma margem de distanciamento.
Ignorando a dor, Ma Yao Yan ativou sua habilidade e começou a circular a arena, focada apenas em fugir. Em outra situação, teria sido fácil se esquivar e, quem sabe, buscar uma aproximação e tentar um novo ataque, contudo, de novo, não estava acostumada a sentir tamanha dor enquanto persistia numa atividade exaustiva. Em outro cenário, provavelmente já estaria agachada no chão e começando a chorar. Se não fazia isso, era apenas por causa da vergonha de se entregar aos prantos diante de tantas pessoas desconhecidas e conhecidas.
Assim como Yu Teegan, ela não era igual aos outros representantes da Fundação Quatro Pilares. Seu estilo de vida e bens não estavam ameaçados por um eventual fracasso e na mesma proporção, não era alguém dedicada a uma vida de glória e, muito menos, falhar aqui, não a lançaria na miséria ou a impediria de ter um futuro decente.
Seu pai era o gerente da principal importadora de alimentos da Cidade da Fronteira do Caos, responsável por gerir, fiscalizar e administrar quase todo o processo de importação que, devido às dificuldades óbvias, exigia grande dedicação e esforço de sua parte. Por causa disso, recebia um salário acima da média, bastante expressivo para um Mundano. Pensando apenas no dinheiro, ela poderia passar o resto da vida livre de preocupações mais urgentes.
Além do mais, estava prometida ao filho de um importante administrador, responsável pela tesouraria do Armazém do Caos, o qual, um dia, assumiria os negócios do pai. Entre os Mundanos, seu status e fortuna já estavam garantidos. O problema é que, no final, quando comparado aos cultivadores e as quatro Famílias, isso tudo não era grande coisa.
Até mesmo os praticantes sem origem, pertencentes a Fundação Quatro Pilares que alcançaram o Reino do Despertar e foram designados ao mais baixo posto, responsáveis por monitorar o dia a dia dos cidadãos, garantindo a segurança interna, possuíam salários próximos ao de seu pai. E aqueles incumbidos de vigiar a muralha e eliminar qualquer ameaça, em certos casos, ganhavam igual ou mais.
Outra coisa que se deve levar em conta, quando se fala em poder financeiro e status, é que os membros Despertados das Famílias eram vistos e tratados com grande respeito, incluindo os descendentes da decadente Família Xu. O povo comum não via problema nas coisas serem assim, afinal, eles não apenas representavam a principal linha de defesa da cidade, como também eram sucessores dos fundadores da maioria dos comércios existentes e, da mesma maneira, tornavam possível a importação e exportação a outras regiões.
E era por causa disto e de outras coisas que ela desejava se destacar de alguma forma nessa disputa. Cultivadores são respeitados em todo o Império Dourado, indo mais além, pode-se dizer que são cultuados em todo o Continente Dourado. Se desejava construir um futuro brilhante e, quem sabe, independente, precisava galgar os degraus desse mundo perigoso e alcançar uma posição de destaque.
Não tinha certeza quanto aos próprios talentos, mas ao menos aqui, agora, depois de ter conquistado a chance de participar do festival, sendo escolhida pelos instrutores no meio de muitos outros, precisava demonstrar estar disposta a superar as adversidades e continuar batalhando, ainda que em condições desfavoráveis.
Para sua sorte, Yu Teegan não tinha a melhor das miras, sempre atrasada no lançamento de sua técnica.
A dor continuava forte, mas conforme o sangue esquentava e a circulação aumentava, o latejar diminuiu e, apesar do inchaço visível nos dedos, mão e pulso, começou a se acostumar e a limitação de movimento foi subjugada pelo frenesi da disputa.
Por ironia, quanto mais encurralada ficava, mais disposta Ma Yao Yan se sentia. Seu corpo ficou mais leve e por consequência sua movimentação se tornou mais sútil. Assim como nunca tinha sentido tanta dor, jamais vivenciara tal estado. Parecia estar mais concentrada e os pensamentos haviam se tornado claros.
Num momento de ousadia, parou de fugir e se esquivar e correu direto na direção de sua adversária.
Percebendo a mudança no trajeto, Yu Teegan atirou duas Falsas Rotações em sucessão, mas a outra parte era ágil com os pés e desviou facilmente, sendo afetada apenas pelas explosões que vieram em seguida.
Contudo, já estava preparada para isso e se aproveitou do impacto para adiantar alguns passos. Quando alcançou o alvo, Yao Yan fechou o punho esquerdo e se preparou para desferir o golpe, muito embora, não tivesse esperança nesse ataque, pois se era desajeita usando o braço direito, o esquerdo resultava em algo ainda pior ― sequer conseguia jogar uma pedra em linha reta, menos ainda dar um soco decente.
No entanto, assim que balançou o braço, dando um golpe desajeitado, o Escudo Forte foi erguido, bloqueando seu caminho. Mas, desta vez, estava preparada para isso e antes de se automutilar de novo, interrompeu o ataque e saltou para trás. Apesar de ter falhado na investida, conseguiu enfim interromper a continuidade de bolas explosivas sendo jogadas contra ela.
Yu Teegan não era uma das melhores pessoas quando se tratava de utilizar Energia Espiritual. A despeito de usar uma Técnica de Combate fraca, seus ataques consumiam muita Energia, levando-a em pouco tempo à exaustão. O desperdício era considerável, possuindo pouco autocontrole.
Tudo isso se fazia visível no suor começando a ganhar forma em sua testa e a respiração pesada, mesmo não tendo se movido muito desde o início da luta.
Mas se quisesse vencer, precisava continuar atacando. No final, essa era sua única estratégia, pois ― diferente dos integrantes das quatro Famílias ― não tinha técnicas poderosas, muito menos um estudo avançado sobre manipulação da Energia Espiritual. E sendo sincera consigo mesma, também não era uma gênia em armar estratégias.
À medida que a dor diminuiu e os seus pensamentos se tornaram centralizados, Ma Yao Yan começou a raciocinar com mais clareza. Quando mais uma vez foi atacada pela técnica da adversária, não retornou a fuga desesperada, temendo ser atingida; desviou e analisou, buscando por uma solução. Tendo a atenção redobrada, pela primeira vez reparou que as esferas não eram disparadas em rajadas, uma atrás da outra, existia um intervalo em cada execução, igual a recuperar o fôlego após mergulhar.
Percebendo tal abertura, decidiu tentar uma nova investida, mas, diferente das outras vezes, não correu direto para o alvo, encurtou a distância entre as duas aos poucos, agindo discreta em sua abordagem. Esquivou-se de uma esfera dando um passo para frente e se atentou no intervalo, ativando sua habilidade apenas quando necessário; focou-se em usar a força física enquanto aguardava pelo momento certo, reduzindo assim, consideravelmente a velocidade.
E então, no instante em que Yu Teegan lançou uma nova esfera, a qual parecia menor e mais instável se comparado às anteriores, ela ativou a Pegadas Leves e disparou com tudo. Primeiro se esquivou, deixando uma margem segura para a explosão, em seguida correu. Em poucos passos, alcançou a rival e preparou o punho, mas ao balançar o corpo, notou uma redução do impulso e antes de atingir o objetivo, o Escudo Forte foi erguido, bloqueando seu caminho.
O sangue borbulhando e os pensamentos limpos, Ma Yao Yan não recuou como nas tentativas anteriores. Ao invés de se afastar e começar tudo de novo, abaixou o punho e saltou para o lado, saindo do campo de cobertura da habilidade, a qual cobria somente a vanguarda da usuária.
Foi uma ação tomada pelo puro instinto, sem qualquer raciocínio lógico pesando a favor. Na hora, apenas pareceu a coisa correta a se fazer. E essa foi a primeira vez que teve uma visão clara daquilo conhecido por: Vantagem.
O flanco esquerdo de Yu Teegan estava desprotegido e a julgar pelo semblante surpreso em seu rosto, ela não possuía qualquer meio para se defender. Apostou tudo na eficiência de sua técnica; o único abrigo que conhecia.
Naquele momento, alcançando pela primeira vez algum avanço, Ma Yao Yan não parou para pensar, não quis saber de estratégias ou encontrar a maneira mais eficiente de realizar o ataque ou desferir um soco poderoso. Apenas deixou seu corpo tomar a decisão, livre de empecilhos psicológicos. E, antes de perceber, seu pé estocou para frente, avançando com a sola, feito uma prancha esmagando o ar.
O golpe atingiu em cheio o flanco esquerdo de Yu Teegan que não teve tempo de sair do caminho.
Yao Yan pôde sentir seu pé empurrando as costelas da oponente para dentro, a qual dobrou de lado num movimento involuntário. E sem demonstrar piedade, exerceu toda a força que conseguiu reunir, impulsionando a perna num ímpeto imparável.
Incapaz de esboçar a mais singela das reações, Yu Teegan foi arremessada pelo palco, rolando sobre o piso. O susto de ser atingida foi tão grande que sequer teve tempo de sentir dor, mas a sensação de ser atirada de repente foi uma experiência estranha, a qual não se esqueceria tão cedo ― foi como se sua cabeça tivesse ficado para trás, enquanto seu corpo continuou indo.
Talvez fosse por causa disso, mas ao parar de rolar, teve a impressão de estar deslocada, como se estivesse no lugar errado. Até a noite pareceu ser um engano e a brisa deveria estar mais quente, semelhante a um fim de tarde.
Enleada, Yu Teegan se sentou com as pernas estiradas e os olhos desnorteados, balançou a cabeça e colocou a mão no flanco esquerdo, esfregando o lugar atingido. A expressão confusa no rosto dava a impressão de não saber se estava sentindo dor ou não, mas, apenas acreditava ser o certo a fazer.
Seu desarranjo durou somente por alguns instantes, pois logo seu rosto demonstrou estar recobrando a razão, voltando às suas cores. E foi nesse ponto, ainda em recuperação, que viu Yao Yan, impiedosa, indo para cima dela sem o menor sinal de contenção. Sobressaltada, tentou rolar de lado e sair do rumo da sola, contudo, sua reação foi lenta e pela segunda vez recebeu um golpe direto.
Por sorte, a outra parte não tinha um corpo pesado e sua força era muito próxima à de uma pessoa comum, sem habilidades físicas consideráveis. Quando foi atingida, ouviu um baque surdo ecoar de dentro de seu tórax, feito um tambor roufenho sendo espancado, e deu uma cambalhota para trás, caindo de cara no chão e de braços abertos.
Não tão deslocada quanto antes, rapidamente levantou a cabeça, temendo ser atacada de novo. E estava certa, pois Ma Yao Yan já havia armado o próximo chute e se preparava para erguer a perna.
Percebendo isso, ainda estatelada no piso da arena, levantou os braços de qualquer maneira, posicionando os cotovelos e as mãos e vociferou com todo o ímpeto que conseguia expressar naquele segundo.
― Falsa Rotação!
Uma bola vermelha-pálida, duas vezes menor do que qualquer outra disparada antes, voou soltando feixes de Energia, dando a impressão de que poderia se romper a qualquer instante.
Desta vez, Ma Yao Yan foi atingida sem qualquer chance de escapar. Porém, a explosão subsequente não passou de um susto, lançando fagulhas inofensivas no ar, seguido de um impacto irrisório, o suficiente apenas para balançar seu cabelo.
Entretanto, foi o bastante para Yu Teegan conseguir se erguer e se afastar alguns passos. E, por um instante, pensou que o susto tinha passado. Contudo, sem ter recebido um dano significativo, Yao Yan retomou sua perseguição, usando sua técnica para encurtar o espaço entre as duas.
Num movimento de puro reflexo, Teegan cruzou os braços na frente do corpo em uma posição defensiva, e invocou seu Escudo Forte.
A barreira que se ergueu era tão fraca que se assemelhava a uma nesga perdida em um mundo de luminosidade, pouco visível até mesmo para os olhares mais atentos. Não cobria sequer metade de seu corpo, apresentando falhas estruturais em todos os lados.
Ma Yao Yan não pensou duas vezes quando ergueu a perna e afundou a sola do pé contra a barreira esquálida, que se fragmentou em um turbilhão de Energia Espiritual, feito uma casca de cristal se quebrando. Seu ataque foi certeiro, acertando no abdômen da rival com toda a força.
Teegan não teve a menor chance ao se curvar e cair de joelhos no chão. Caso tivesse estômago para comer durante o festival, provavelmente teria colocado cada pedaço de refeição para fora. Por alguns instantes, ficou parada, tossindo descontrolada, tentando recuperar o ar. Seu rosto foi de vermelho para branco e vermelho mais uma vez.
Reparando isso, Ma Yao Yan enfim interrompeu sua investida e esperou para ver o que aconteceria.
A juíza responsável pela partida subiu no palco e se aproximou da garota ajoelhada. Com uma voz seca, questionou:
― Deseja prosseguir.
Yu Teegan parecia não ter forças para responder e balançou a cabeça, em um gesto afirmativo, conforme tentava articular:
― Eu… desisto!
Recebendo a aprovação para anunciar o veredito final, a juíza proferiu:
― Ma Yao Yan, 6ª Camada do Reino Mundano, vencedora!
Aplausos e congratulações se ergueram do povo. Todos demonstraram estar satisfeitos com a exibição; não esperavam nada mais de jovens talentosas da Fundação Quatro Pilares.
No palco, os outros membros da Fundação também pareciam bastante empolgados, em particular os garotos, que gritavam os nomes das duas e aplaudiam sem reservas. Até mesmo a garotinha, agora sentada no parapeito enquanto era mantida segura pelos braços dos pais, estava animada, rindo e balbuciando algumas palavras emboladas, imitando o gesto dos jovens, batendo palmas desengonçadas.
Outra pessoa satisfeita com a apresentação era o 8° Ancião da Família Xiao, que em um último resumo, concluiu:
― É uma pena as duas não terem recebido um treinamento mais apropriado. Ambas apresentaram garra!
Niveis do Cultivo: Mundano; Despertar; Virtuoso; Espirituoso; Soberano do Despertar; Monarca Místico; Santo Místico; Sábio Místico; Erudito Místico.
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