Uma Nova Lenda Surge - Capítulo 10
Alguns dizem que o tempo é uma incógnita no mundo, até tenho como entender o porquê desse pensamento, pois pude sentir ele na pele. O tempo parecia estar correndo, era como se eu com apenas um passo tivesse vivido anos, as minhas feridas já haviam se fechado e os conhecimentos sobre as energias e a magia, pareciam fluir por minha mente como se fosse parte de mim, era algo tão simples como respirar.
E assim eu sabia agora falta apenas voar rumo aos céus, e terminar de subir aquele que me matou uma vez. Assim que as ataduras são enfim retiradas de meu corpo, e os livros, de meu quarto, renovados, eu parto em direção a uma de minhas companhias, onde me encontro com a Cassandra junta de suas tropas.
— Cassandra. — Falo ao me aproximar por suas costas.
— Companhia, descansar! — Ela se vira. — Sim, Kardurins! Precisa de alguma coisa?
— Eu… — Deixo todo o orgulho e o respeito que eles tinham por aquele que eu fui de lado, e logo prossigo. — Preciso de um treinamento de combate real, preciso que me treine junto da companhia para a guerra.
— Infelizmente não poderei fazer isso, mas posso auxiliar com seu treinamento no período da manhã, se o senhor quiser, e se dermos sorte alguns de meus homens aceitam participar desses exercícios.
— Aceito a oferta, e se possível, me chama pelo meu nome. — Após um leve suspiro, me despeço e retorno ao meu caminho até onde me encontraria com o Shinzao.
O tempo a cada passo que dou é mais curto, mas ao mesmo tempo é eterno, parece até engraçado falar isso, porem essa é uma perspectiva que eu tive que desenvolver para viver nesse mundo estranho que existimos.
Cravando espadas de madeira sobre pedras e outras espadas, foi se passando o meu tempo, mas em minha mente cada segundo passou como um ano, não sei explicar o que os meus olhos podiam ver e o que a minha mente processava, mas o meu corpo não reagia.
Até que por fim a manhã do ultimo dia havia chegado. Estávamos em meio as arvores, da floresta que cercava a nossa morada, em meio a um exercício de guerra, eram duas tropas que se encontravam em meio do campo, uma era controlada por mim e a outra pela Cassandra.
Estávamos com armas leves, utilizando projeteis de borracha para o exercício, o objetivo era imobilizar o líder da companhia adversaria, seguiríamos até o meio dia, onde eu deveria me despedir de todos.
Cada tropa possuía oito integrantes normalmente, mas nesse exercício no qual uma tropa se equivaleria como uma companhia. Dividi o meu grupo em duplas que deveriam se movimentar pelo pé da montanha e pelo lago, assim tendo uma área de ataque maior.
— Repassarei as instruções para invadirmos a base do inimigo. Scoot, Alam, Ernets e Sakuram seguem pelo pé da montanha em duplas, uma cuidando da outra a dez metros de distancia, enquanto os demais deverão seguir comigo pelo rio. Se camuflem nas arvores e moitas quando chegarem próximos dos inimigos, e aguardem a ordem!
— Sim, Senhor! — Todos gritão.
Após repassar o plano, vestimos os mantos verde musgo, que permaneciam cobertos pela vegetação local, e por fim verificamos se as armas estavam carregadas e engatilhas, além dos dois cartuchos reservas.
Ando em pequenos trotes, para não se desgastar antes do embate, nesse meio tempo estaríamos sem poder contatar os aliados via radio, pois poderia haver um intruso na linha, não deixando escolha senão usar algum tipo de sinalizador para avisar sobre a próxima ação, ou o que ocorreu com a tropa.
— Capitão. — Legonia me passa o binóculo me indicando à direção.
E a oeste eu posso ver uma fumaça vermelha subindo aos céus, eles haviam falhado… Mas ainda não era hora de desistir.
— Vamos mudar o plano, eles provavelmente decidiram nos emboscar próximos a entrada do acampamento, iremos atacar a distancia, mesmo não sendo armas de precisão o alcance delas é alto.
Seria uma jogada arriscada, vendo que a partir do momento em que atirássemos a nossa posição seria revelada para o inimigo, mas… Eu podia crer em meus olhos.
Afastamo-nos da região e da área de ataque, chegando próximo dos montes que dividem o continente, a caminhada durou cerca de duas horas, mesmo que o inimigo nos localizasse ele teria que arriscar o mesmo ataque, vendo que faltavam duas horas para o fim do exercício, e viajem do acampamento deles até a nossa posição atual levaria três horas.
— Capitão, eu não tenho visão do inimigo.
— Apenas siga as minhas orientações.
Durante os exercícios de guerra, o uso da energia de forma ofensiva é estritamente proibido, mas não é proibido usar qualquer que seja a energia desde que não quebre a regra.
— Senhor dos céus, aquele que vê o mundo pela luz, dei-me seus olhos, Karkam Lambark!
O mundo começa a se ampliar diante dos meus olhos me permitindo enxerga o caminho no qual a bala poderia seguir até o acampamento inimigo, dois de meus soldados estavam sendo usados como reféns, enquanto outros dois permaneciam escondidos em uma arvore próxima, eu tinha duas opções, instruir para tentar cortar a corda que prendia meus guerreiros, ou tentar atacar o capitão inimigo.
— Oficial Legonia, acredito que possamos arriscar um tiro duplo, mas gostaria de sua opinião antes de prosseguirmos.
— Senhor, creio que seja difícil realizar esse ataque, mas se tiver uma forma de fazer as balas ganharem mais velocidade no percurso, talvez.
Uma forma para que ganhe mais velocidade, acredito ter visto isso em um livro antes, a cabeça da bala é lisa por uma questão de aero dinâmica, e quanto mais longo e fino mais rápido o disparo seguiria, mas… Esse é um valor impossível de mover na situação atual…
— E se o vento estiver ao nosso favor?
— Pode ser que funcione, Senhor!
— Perderíamos cerca de meia hora subindo até um ponto que o ar fique em uma posição ao nosso favor, talvez seja arriscado de mais… Teremos que arriscar daqui mesmo, oficial Legonia, vire sessenta graus a norte.
— Sim, Senhor!
Caso ela atirasse naquela direção o tiro viajaria a dez metros do acampamento acertando uma arvore cerca de cinco segundos depois, mas eu poderia aproveitar da situação metros antes, com um segundo disparo que caso tivéssemos sorte iria mudar a rota do disparo principal.
— Fogo!
O barulho da pressão, empurrando a bala, junto da explosão da pólvora, ecoarão pela cordilheira, deixando apenas o cheiro para trás.
Os tiros perseguirão assim como planejado e na metade do percurso se encontrarão, mudando assim a direção dos quais seguiam, o ângulo do meu disparo pode ser ajustado, mas eu sabia que eu não atingiria a líder deles, mas o disparo anunciaria o ataque e libertaria nossos aliados.
— Oficial, mire noventa e oito graus a oeste e então dispare.
O ataque havia iniciado, os nossos aliados foram libertos e começaram um contra-ataque de dentro, enquanto os que permaneciam escondidos emboscarão dois soldados que ficaram confusos por causa do primeiro disparo.
Apesar do ataque furtivo de inicio ter aparentado um sucesso logo se demonstrou desesperador, os meus homens caiam um a um, no final sobrou três soldados da vanguarda adversaria, e entre eles a Cassandra, teríamos tempo para apenas mais um disparo, antes que pudessem nos localizar ou fugir do acampamento.
— Essa será a nossa ultima chance, realize o disparo nessa exata posição.
— Sim, Senhor!
O tempo apesar de estar se movendo como deveria, parecia estar parado. Essa seria a minha chance para obter sucesso nesse avanço.
Levanto-me e estendo o meu braço direito, onde eu permanecia com o dedo no gatilho, eu planejava utilizar o coice da arma para desviar desde o inicio o disparo, mas havia uma grande porcentagem para que esse desvio fosse para o lado errado.
— Que a sorte sorria para nós! – E junto de um berro os disparos.
Os dois projéteis se locomovem como esperado, o angulo havia sido certeiro, apesar do meu disparo se locomover aos poucos para baixo, ele logo voltaria para cima.
O tempo parecia que sequer existia naquele momento, a adrenalina já havia chegado ao seu máximo, seria hoje o dia em que teríamos sucesso em um exercício de guerra, ou perderíamos por falha minha?
O disparo enfim chega no desvio, ao ver que a líder seria atingida um dos soldados entra na frente, e é abatido no lugar dela. Esse seria um empate…
Após nos organizarmos e voltarmos para a fortaleza, a Cassandra me chama para conversar a sós.
— Kardurins, lhe chamei aqui para elogiar a sua estratégia na hora do ataque, apesar de pouco efetiva gerou certa desvantagem para o meu grupo, mas seguindo as regras do exercício, sua guarnição perdeu o combate. Além de ter deixado o seu alvo escapar, você perdeu três quartos de suas tropas, mesmo sendo perdas iguais, em ambas as equipes.
— Agradeço, pelos avisos, os levarei para a vida.
— Além disso, eu queria saber, você tem mesmo que partir? Faz nem um mês que você ficou conosco…
— Eu não tenho escolha, é o meu destino.
— Nesse caso… Leve isso com você. — A Cassandra me entrega um comunicador usado normalmente para ligações normais. — Não retire ele, e caso ocorra qualquer coisa entre em contato conosco, que arranjaremos uma forma de enviar uma equipe de resgate.
— Agradeço a preocupação, mas não irei precisar de tanto, porem lhe manterei informada sobre o que ocorrer lá fora.
Ela bate continência, e parte para os vestiários femininos, eu sigo o meu caminho para o masculino, onde me encontro com outros soldados tomando uma ducha antes da refeição do meio dia.
— General Kardurins, peço permissão para falar! – Um dos homens chega até mim, enquanto retirava as botinas e calça sujas de lama.
— Permissão concedida!
— Dois anos antes de você sumir, o Senhor me falou uma coisa que eu carrego comigo desde então, e por causa do infeliz incidente que houve, eu gostaria de repassar para o Senhor ela novamente. “As preces que fazemos para os céus é apenas uma forma de alimentarmos um ser invisível, deveríamos enfrenta-lo ao invés disso.”
— Agradeço pelas palavras, te dou permissão para se retirar.
Os deuses, ainda são seres louvados até por internos, por isso eu devo ter trazido essa frase à tona, mas o significado dela é outro na verdade. “Enfrente os seus medos, invés de apenas fugir deles.”
Logo essa guerra terá de ter um fim também, mas para isso eu deveria descobrir mais sobre mim, e apenas as minhas anotações poderiam me salvar agora…