Uma Nova Lenda Surge - Capítulo 11
Enfim o dia havia chegado, eu não estaria mais preso às regras impostas pelos outros seis, agora que eu havia terminado o meu treinamento, enfim eu poderia abrir as minhas asas e partir em busca de respostas.
Indo para o hangar, após a refeição do meio dia, me despeço de todos que se uniram a mim, durante os últimos dias que passei nesse mundo novo, e parti, levando comigo as esperanças de descobrir quem fui.
Viajei em meio ao espaço vazio, com os pequenos pingos prateados iluminando o caminho, mas ao fim de minha jornada vejo que o destino não estava do meu lado, o palácio no qual eu havia acordado a menos de um mês, já não existia lá, sobrando apenas as ruinas dele.
— O que aconteceu aqui? — Mesmo sabendo sobre a guerra, eu não conseguia crer que a Morte estaria envolvida nesse caos completo…
Após pousar a nave, afastado do palácio, me movo cuidadosamente em meio ao terreno árido das redondezas, evitando chamar mais atenção. Caminho entre as ruinas que ficaram pelo local, até me aproximar dos pés do monte onde o palácio em outrora ficava.
Subindo o que sobrou da escadaria de pedra talhada, até enfim me encontrar com a entrada da grandiosa construção que se erguera diante de mim, uma força magnética fazia com que parte da estrutura ficasse flutuando em meio ao espaço. Ao empurrar uma das portas, que permaneciam intactas, ela se desconecta do espaço em que se encontrava e parte para se unir com os demais pedaços de concretos que flutuavam pelo espaço.
Caminhando entre o que antes eram os grandiosos corredores do lugar, começo a ouvir ruídos e vozes baixas, vindos de um dos cômodos próximos a mim, sem perder tempo, começo a orar em tom baixo.
— O mundo de um infiel permanece sobre a terra, ignorante perante os céus, ignorante perante a terra, apenas rogando pelo perdão aos berros. Sumerican Lacivan!
— Ele é um deles, devemos derruba-lo antes que nos encontre.
— Quieta, ele pode estar nos ouvindo.
As vozes se sessam, o que elas queriam dizer com “um deles”? Tem algo que ainda estão a esconder de mim, e essa verdade deve ser revelada.
— Saiam de onde se escondem! — Grito, não esperando por respostas de quem estivesse lá.
E como já era imaginado, apenas o silencio toma o ambiente. Independente de quem fosse, eu sabia, elas não me queriam aqui, mas eu não queria ser desejado, eu tinha vindo apenas para pegar o meu livro.
— Eu sei que, por mais que eu diga, vocês não irão acreditar em mim, mas podem ter certeza de uma coisa, eu vim atrás de ajuda… — Faço uma pequena pausa. — Então, por favor! Ajudem-me com o que eu vim atrás!
Estava certo, elas não iriam aparecer, o que me restou apenas uma opção, caça-las, como eu já possuía uma pré-noção da onde estavam, eu poderia atacar sem muitas dificuldades, mas não podia ser visto como um problema, tinha que ter alguma forma de chegar a elas sem demonstrar agressividade, porem mostrando poder de ataque.
— Me perdoem…
Eu toco na parede que se encontrava entre nós, e utilizando da energia “KASK”, eu criei finas linhas metálicas, quase invisíveis, que se espalharam rapidamente ao longo da estrutura de concreto decrépita, assim podendo quebrar o local, formando uma nova porta, enquanto os destroços permaneciam estagnados no ar.
— Surpresa! — Falo ao ver as duas jovens, uma de cabelo curto loiro, e a outra com o avermelhado cabelo preso, que seguia até sua cintura.
— Maldito! — Fala a de cabelo vermelho, se colocando na frente da outra enquanto serra os dentes. — O que mais vocês querem tirar de nós?!
— Eu não vim até aqui para “retirar” algo de vocês, só vim por que a Morte é a única pessoa que pode saber onde está um livro que me pertence. — Falo com as mãos erguidas, querendo simbolizar paz.
— E você acha que iremos acreditar nisso?! — Ela ri em um tom sarcástico. — Fala sério! Você só pode estar brincando com a nossa cara!
— Espere irmã, ele pode estar falando a verdade.
— Fique fora disso, você sabe que só podemos confiar uma na outra! Eu não… — Ela faz uma pequena pausa, mas logo volta a me encarar.
— Eu não preciso que vocês acreditem em mim, só quero o livro de volta!
— Nós não sabemos de que livro você está falando!
— Espera! — A irmã que se escondia atrás da outra se levanta com os olhos brilhando. — Isso seria possível? Ou seria apenas um sonho?
— Djinskrel não! — A outra fala, tentando impedir que a irmã venha na minha direção, mas falhando.
— É verdade então… Você é o cavaleiro negro, que a nossa mãe citava em suas histórias…
— Eu não sei do que você está falando.
— A Morte, é a mãe da Scramblery e de mim, e ela sempre nos contou as histórias de um guerreiro que viveu através das eras, trazendo a justiça para todos, seja deus ou humano, um dos sete supremos, “O Justo”.
— Isso é impossível! Ele não tinha essa aparência de acordo com a Morte!
— Não, isso é possível sim, pois ela nunca disse como ele se parecia, só falava de seus feitos e de suas vestes negras.
— Me desculpe, mas talvez eu realmente não seja quem você está falando… Apesar de ser um dos sete…
— Eu sabia! — Ela pula em alegria.
— Não se anime tanto, talvez a história tenha sido contada de forma erronia, pois não existe o titulo de “Justo” entre os sete.
— Cansei! — A Scramblery fala saltando para a minha frente e me encarando fixamente. — Me mostre o seu poder, em um desafio de combate real! Se você realmente for quem diz ser, não deve ser muito difícil me derrotar, caso você ganhe iremos lhe contar tudo o que sabemos, mas se perder a nave que você usou para chegar aqui será nossa! Temos um acordo?
— É tudo o que tenho mesmo, acho que posso aceitar, qual é o desafio?
— Está vendo aquela rocha com o quadro da Morte?
Sim, eu estava, por mais que fosse difícil, por causa do mar de rochas que flutuavam sobre a nossa cabeça, ela se encontrava acima de todas as outras e para chegar nela não seria fácil.
— Você terá que chegar até aquela rocha antes do pôr do sol, enquanto eu farei de tudo para lhe impedir, contando a partir de agora você deve ter cerca de uma hora ainda. Não irei lhe desejar sorte, pois se você for “ele”, não irá precisar dela.
Eu tinha uma hora para escalar um monte de rochas flutuantes, mas não teria muito tempo, era um jogo arriscado, mas existia uma solução, os restos da construção ainda poderiam estar ligados uns aos outros, o que houve foi uma provável distorção no espaço ao meu redor, e existem formas de se mover junto dele, utilizando os espaços inexistentes para atravessar para outro plano. Mas… Eu teria que ter uma noção de onde o quadro poderia estar para então utilizar essa técnica, além de me conectar com o espaço conhecido ao meu redor…
Realmente não seria uma tarefa fácil, o que me faz restar uma única opção arriscar a sorte de chegar o mais próximo possível através desse plano, e então me desvincular dele assim retornando para o real, e podendo saltar para uma plataforma próxima…
— Tic Tac, o seu tempo está correndo o você nem se moveu.
— Será mesmo? — Falou correndo na direção de um plano que permanecia “quebrado”.
Ao atravessar para o outro plano pude ver a locomoção de minha sombra de acordo com o novo plano, isto poderia vir a ser divertido.
— Não virá me caçar?
— Maldito atravessador de planos! — Ela pega uma pequena distancia entre as paredes e logo corre na direção da contraria, onde pega um grande machado das mãos de uma estátua, por fim pulando e vindo na minha direção se arremessando de rocha em rocha.
— Você sabe que não poderá me pegar jogando dessa forma!
Me volto a correr pelos grandes corredores que agora se construíam novamente diante de mim, o plano não era mais algo instável diante de meus olhos, mas apenas eu tinha atravessado para aquele plano, o que queria dizer que para mim ela estava basicamente se teleportando, entre os espaços ao meu redor.
— Aquele quadro se eu não estiver enganado, ele se encontrava no corredor em que eu acordei pela primeira vez, mas onde ele se escondia? — Falo enquanto corro, tentando lembrar o caminho dentro daquele lugar.
Após cerca de dez minutos correndo, parecia que enfim eu havia despistado ela, bom não é por menos, já que os planos que nos encontramos são completamente diferentes.
— Se eu estiver certo, foi por aqui que passamos quando eu acordei.
Ao abrir a porta que eu acreditava ser a certa, um forte cheiro de podre invade as minhas narinas, mas só ao entrar no cômodo eu pude ver o que emitia tal cheiro. Tinha quatro corpos estirados pela sala, já em estado de decomposição, todos vestindo um colete preto, tendo partes de seus corpos faltando, tendo seu sangue esparramado por todas as paredes, menos a que o quadro da Morte de encontrava.
— Pelo que parece a história será longa.
Eu salto na direção do quadro rompendo a barreira entre os planos, voltando para o original.
— Parece que eu venci! — Falo ao ficar de pé ao lado do quadro sobre o chão.
— Certo, acho que terei que acreditar em você por agora! — Ela grita de uma das rochas mais a baixo. — Nos vemos lá embaixo!
E com um gracioso salto ela despenca rumo ao seu destino, eu por outro lado dou apenas dois passos para frente, me lançando rumo a morte que se encontraria do outro lado, mas a poucos centímetros do chão, eu me apoio com meus braços e pernas, os fortificando com energia.
A poeira se ergue de imediato quando toco o solo, se eu fosse humano provavelmente estaria morto, mas não é o caso. Após nos encontrarmos em solo partimos para a minha nave que se encontrava nas proximidades da mansão, seria perigoso de mais se manter lá.
— Querem um pouco de água? — Falo antes de começarem a falar sobre a mesa.
— Por favor.
— Sim claro!
Após pegar e levar os cantis que permaneciam cheios de água para elas, me sento entre as duas na mesa redonda, e as encaro com firmeza.
— Acho que antes de vocês me contarem o que ocorreu seria interessante nos apresentarmos novamente. Prazer em conhecê-las, sou Kardurins, no exato momento estou em uma viagem buscando por respostas de quem sou.
— Prazer, me chamo Djinskrel. — A jovem de cabelos loiros toma a frente.
— Sou Scramblery! — A outra fala em seguida.
— Djinskrel, certo? Mais cedo você havia falado sobre a história de um cavaleiro que traja preto e é chamado de “O Justo”, o que você quis dizer com isso?
— No inicio dos tempos, sete poderosos guerreiros nasceram, com um único propósito, trazer a paz e mantê-la sobre todos os demais seres, cada um recebendo um nome, “O Justo”, “A Pacifica”, “O Sábio”, “A Guia”, “O Iluminado”, “A Ternura” e “O Bondoso”.
— Mas todos eles se corromperam com o pecado original. — A Scramblery fala.
— Exato… — Então a irmã logo prossegue. — O que acabou por trazer uma era de guerras, caos e destruição. O único até então que não havia sido corrompido era “O Justo”, que permanecia lutando sem fim, buscando a paz novamente, mas chegou um dia em que ele se cansou de lutar vendo que não tinha como fugir da guerra, por isso ele então ficou conhecido como “A Preguiça”, um dos mais fortes pecados.
— Se o que você está dizendo é verdade, então existe algo que me derrotou no passado, e não foi um ser vivo…
— Você então confirma ser “A Preguiça”?!
— Sim… Eu não sei de muito sobre o que ocorreu comigo, apenas sei que estamos em meio a uma guerra.
— Bom, em resumo essa é a história do “Justo”.
— Agradeço, mas agora o que mais me chamou atenção desde que pisei aqui, o que houve com esse lugar?
— Djinskrel, deixa que eu conto.
“Nós duas estávamos retornando de uma expedição, que havia durado mais de sete meses, tendo os planos de tomar um banho quente e descansar em uma cama macia, após entregarmos o relatório, mas algo estava acontecendo na mansão.
Entramos sem chamar atenção dos homens que se encontravam ao seu redor, eles estavam fortemente armado, com C30-20, essas armas poderiam nos deixar apagadas por dias caso atingisse uma área vital de nosso corpo.
Demos sorte de ter conseguido entrar sem sermos vistas. Já lá dentro partimos em busca da Morte que permanecia em uma das salas de reunião, cercada de soldados, tivemos que ficar no cômodo ao lado para tentar ouvir um pouco da conversa.
— Se você nos der o que desejamos, iremos embora sem fazer mal algum contra você. — Um homem dizia em tom sarcástico, quase assassino.
— Me desculpe, mas eu não sei do que está falando.
— É claro que sabe! Ele deixou um dos sete grimórios com você! Merda! — Ele grita. — É o seguinte, já vão fazer dois dias que você permanece ai muda, como se não soubesse de nada, mas eu sei que ele havia deixado um livro com a senhora, antes de partir. Se você me disser onde ele está iremos embora, sem fazer nada, basta entrega-lo!
— Você fala desse livro! — A Morte responde, com a sua doce voz em tom zombeteiro. — Ele não está comigo.
— Que?! Porra! — Um barulho de louça se quebrando ressoa pelos corredores. — Tirem essa puta da minha frente! Levem-na para a nossa base para retirarmos as informações que queremos dela.
— Sim, Senhor! — Dois outros homens respondem.
— Eles irão levar a nossa mãe. — A Djinskrel fala me encarando.
— Não podemos permitir isso, mas o que podemos fazer?! Eles são um exercito! E nós somos só duas!
— Podemos usar aquilo.
— Você não está querendo dizer… — Junto do balançar da cabeça dela em concordância os meus medos vem à tona. — Certo… Só tome cuidado.
Esperamos mais alguns minutos, enquanto escutamos os berros de desprezo daquele que parecia ser o líder do grupo, e então partimos para o salão principal, onde se encontravam “o resto de nós”. Armas que nasceram junto de nossos corpos imortais, “armas da morte”.
Atrás do quadro de nossa mãe, lá estavam as duas armas, uma esfera azulada com detalhes azulados e um grande machado de guerra negro com detalhes em vermelho.
Nós lutamos bravamente contra os invasores, matando todos que víamos pelo caminho, mas quando nos vimos de frente com o líder deles, uma grande e massiva energia impactou o ambiente ao nosso redor, destruindo tudo que havia, deixando a mansão no estado em que se encontra, um grande espaço distorcido.”
— Realmente, vocês passaram pelo inferno e voltaram vivas. Mas uma coisa não ficou clara nessa sua história, como vocês saíram vivas do combate contra o líder?
— Eu não sei… Depois que o espaço foi “destruído”, eu fui consumida pela minha arma.
— E você Djinskrel? — Ela acena com a cabeça negando. — Talvez ele tenha apenas fugido, vendo que não aguentaria lutar ali. Certo, essa será a minha ultima pergunta por agora, para que serviam os relatórios que vocês faziam?
— Eles eram para o nosso pai, apesar de nunca termos o visto pessoalmente nem termos a mínima noção de quem ele seja, realizávamos expedições em planetas que poderiam conter recursos necessários para o projeto dele.
— Acreditávamos que caso ele terminasse esse projeto, enfim conheceríamos ele, mas agora… Ele deve estar morto em algum pedaço de rocha…
— Não posso dizer que sei o que vocês estão passando, mas acreditem em mim, eu sei como é perder alguém querido, mas talvez tenhamos alguma chance de recuperar a Morte da mão deles, então não percamos as esperanças! Irei ajudar no que for preciso, até porque eu preciso dela também.
— Contamos com o seu auxilio. — Djinskrel fala.
— Bom, vamos comer algo por hoje e dormir um pouco, eu podem ficar a vontade e se acomodar em uma das cabines.
— Obrigada.
— Estou cansada de dormir sobre pedras mesmo.
— Agora sobre a comida… Eu não tenho muito a oferecer, tenho apenas algumas provisões enlatadas, não será um banquete, mas irá encher as nossas barrigas por hoje.
— Está tudo bem, já estamos acostumadas com esse tipo de comida, não é mesmo Dji!
Então nós comemos e partimos cada um para a sua cabine, para ter enfim um descanso, talvez essa história esteja verdadeiramente longe de ter o seu final feliz, se é que esse sonho infantil realmente existe…