Uma Nova Lenda Surge - Capítulo 12
Junto com piar dos primeiros pássaros da manhã, eu sinto algo cutucando o meu rosto, provavelmente tentando me acordar. Eu vou abrindo aos poucos os meus olhos, sentindo pelo meu corpo a macies dos lenções sobre o meu corpo.
Os meus olhos demoram um pouco para se acostumar com a luz vinda de uma das janelas, mas… Não tem janelas nas cabines de repouso da nave, me sento na cama, e começo a olhar os arredores, era um quarto elegante, o dono deveria ter um alto grau de nobreza, nas paredes tapeçarias belíssimas com desenhos que pareciam contar uma história.
Mas em um único ponto do quarto o culpado por eu ter acordado, tremia, enquanto escondia o seu rosto atrás de uma bandeja de aço. Um jovem mulher vestindo um longo vestido preto com um avental branco.
— Quem é você? — Falo encarando a jovem.
— Ela não é ninguém! — Um homem, usando um terno branco e um fedora de mesma cor, em suas mãos uma bengala com fortes detalhes em prata formando a lamina de uma foice, no pegador, fala após abrir a porta do quarto de forma brusca. — Sou Dead, é bom ver que você enfim acordou de sua fantasia infantil, Kardurins. — As palavras dele saiam como pequenas navalhas que se direcionavam para o seu alvo.
— O que você deseja de mim?
— Eu não quero nada, mas você quer, não é mesmo?
— Então a história da Scramblery dizia a verdade…
— Exato! E o livro que você procura está conosco, no entanto, não lhe daremos de mão beijada. — Ele fala com um longo sorriso sarcástico.
— O que você deseja, e onde as outras estão?
— Não se preocupe o assunto é entre nós dois. Irei resumir a situação, mas antes disso se vista e me siga. Ajude-o com as roupas.
— S-sim senhor!
Dead, como se intitula, logo sai do quarto, deixando apenas eu e uma das empregadas que logo foi pegar as minhas roupas, ainda tremula foi me auxiliar.
— Não precisa me ajudar com isso, eu o faço sozinho. — Falo sem tempo.
Me visto novamente, algo estranho, sabendo que quando fui dormir estava com as minhas roupas já. Após por o sobretudo por cima de meu corpo sigo na direção da porta onde me encontro com o ele novamente.
— Como sempre, não permite que outros toquem o seu corpo, as cicatrizes permanecem intactas?
O ignoro, esperando o inicio de seus passos. Ele me conhecia, isso era algo certo. O meu passado esconde muitos segredos que eu temo descobrir, mas sem escolha devo seguir observando o mundo aos redores.
— Siga-me Kardurins, te levarei até o que desejo.
Andamos um longo caminho, atravessando os grandiosos corredores enfeitados por tapeçarias que se aparentavam com as que eu tinha visto no quarto, mas diferente daquela hora, comecei a reparar mais nas imagens nelas. Parecia ser a historia de um guerreiro trajado de branco e de um cavaleiro coberto de preto, que permaneciam em uma constante guerra, uma guerra tola que envolvia todos os povos do mundo…
Apesar de toda a arte que tinha nelas, a história não ficava clara para um leigo como eu, mas para estar no lar desse homem ela deve ter um grande significado, talvez essa seja a sua história.
— É aqui. — Ele para diante uma grande porta dourada e fala. — Atrás dessa porta está o meu pedido.
Ele abre a porta que da diante a um quarto branco, sem nada, tendo apenas a porta como um ponto dentro dele. Antes de eu entrar, Dead me entrega um maço de folhas.
— Nessas folhas estarão às explicações de meu pedido, tente não falhar dessa vez.
“Dessa vez”? Por quê? Eu já tinha feito esse pedido no passado? Será que isso é apenas um teste para ver se eu sou “verdadeiro”, eu não posso acreditar muito nele, pois é por sua causa que estou aqui.
Pego as folhas e entro na sala, pensando o que poderia ser, e com o que aquilo se ligava a mim. Após chegar ao que parecia ser o centro da sala, a porta atrás de mim se fecha com um baque, eu estava sozinho naquele lugar.
Sem perder mais tempo, sento onde estava e vejo o maço de papeis, que ele havia me dado. As folhas eram um relatório detalhado sobre uma terra esquecida no tempo. Onde a vida e a morte não existem, onde a própria existência é um fardo.
Uma parte acabou por se destacar das demais, esse era o relatório mais recente, falando sobre o ninho de um ser misterioso que se alimenta do “tempo” que existe nas coisas, essa criatura era citada como “shirglitsu”, e assim como nos demais documentos parecia ser o principal problema de Kazi Cadere.
Esse deve ser o pedido dele, investigar esse mundo onde essas criaturas se encontram, mas como chegar lá? De acordo com o Dead, estaria atrás daquela porta…
Eu tinha estudado sobre isso, a lógica é parecida com a travessia de planos, mas ao contrario dela, necessitaria de uma ruptura maior na realidade, que liga dois pontos distantes no mesmo lugar, esse efeito é mais conhecido como fenda, no mundo moderno.
Sem perder mais tempo, dobro os papeis de forma que pudesse coloca-los em um bolço interno do sobretudo, sem que pesasse no meu movimento. Chegando próximo da maçaneta que separava esse espaço em branco do corredor anterior, giro ela devagar, quando ela está aberta por completo me deparo com vários arranha-céus destroçados e corroídos pelo tempo.
Ao atravessar a porta, fecho-a em sequencia, e começo a caminhar pelas ruas desertas, o céu permanecia em um tom avermelhado eterno, o tempo aqui realmente havia sido parado, mas será que essa é a melhor forma de deter aquelas criaturas?
— Que vista incomum por essas terras. — Uma voz irônica fala acima de mim.
Me viro rapidamente já puxando uma pequena adaga que permanecia escondida em meu sobretudo, acima de um pote de luz, que a tempos não funciona, se encontrava um jovem de cabelo espetado e um largo sorriso que me encarava como sua presa.
— Quem é você?!
— Sou o líder do batalhão de reconhecimento da zona parada, Stregshi, você tinha pedido para eu lhe entregar isso. — Ele joga algo que permanecia enrolado em um pano na minha direção que cai a poucos metros dos meus pés. — Bom, agora que já fiz o meu papel de carteiro, tenho que seguir viagem, meu esquadrão me aguarda.
Com um salto ele sai do poste e sobe em um dos prédios próximos. “Batalhão de reconhecimento da zona parada”, esse era um dos nomes repetia com frequência nos documentos, sedo tratado como equipe de caça, ou equipe de limpa, são pessoas que foram designados por poderes maiores a eliminar as criaturas que foram aprisionadas nessa zona sem tempo.
Me aproximo do objeto deixado pelo Stregshi, analiso antes de toca-lo levemente com a ponta da adaga, ele não havia se movido e nem aparentava ser uma ameaça, e o seu formato… Talvez fosse uma espada que havia sido embrulhada…
— Mas o remetente desse item…
Ele havia informado que eu tinha me enviado isso, mas ninguém havia falado sobre esse item até o momento.
Começo a desembrulhar cortando alguns fios, que a prendiam, com a adaga, e por fim consigo ver o brilho do fio de uma lamina que escurecia até os céus avermelhados.
— Do que você é feita? Talvez seja amaldiçoada, ainda mais com isso em você…
Havia algo incomum, perto do cabo, na lamina dela, um volume que permanecia apenas no lado direito que lembrava a um olho.
— Maldição é… — Rio da afirmação que eu havia feito há pouco tempo. — Foi pura burrice eu dizer de algo tão belo, afinal maldições não podem ser transmitidas dessa forma. Então, por qual razão você tem isso?
Independente do que eu disse eu sabia que não obteria alguma resposta, até por que eu falava com um objeto inanimado.
Guardo a adaga no seu respectivo bolço e me levanto segurando a arma que eu havia me dado… Se é que isso é verdade.
Sigo o meu caminho pelo cemitério de carros, agora carregando uma espécie de katana negra, com apenas um objetivo em mente, eliminar o máximo de criaturas de tempo que encontrasse.
Caminhei pelo que pareciam ser horas, mas o mundo ao meu redor não havia sofrido alterações, esse mundo teve o seu tempo contido, mas por quanto tempo?
Mas e a vida dessa terra? Nem os seres de tempo, nem os habitantes dessa terra deram sinal até o momento, será que os documentos estavam errados? Ou até atrasados?
Paro alguns segundos, pegando os documentos para revisa-los, em meio a minha leitura escuto um berro estridente vindo de um beco próximo, eu havia deixado alguém passar? Não! É um povo dessa terra!
Corro na direção de onde veio o grito, após guardar os documentos, no entanto já era tarde, estirado no chão um corpo que havia sido atacado por algum animal, parte de sua barriga estava aberta, com o seu estomago estirado para fora. Nas partes em que as roupas rasgadas, não cobriam, eu podia ver uma mancha preta, nos locais que foram rasgados pela fera.
O sangue fresco formando uma grande poça que ia até os meus pés, manchando as botas de couro em carmesim, poderia me dar uma pista para onde o ser foi. Haviam manchas espalhadas pelas paredes do beco, e uma trilha de pegadas, do que aparentava ser um lobo.
Sigo-a até o outro lado do beco, me espreito próximo a parede, mas não avisto o ser que poderia ter causado os ferimentos na pessoa que permanecia caída.
Após muito esperar volto até o local onde deixei o corpo, para encontrar mais pistas sobre o que estava enfrentando, no entanto não encontro o corpo que deveria ter permanecido parado ali.
— Ele deve ter voltado para pegar o resto da carne que deixou para trás.
Com esse pensamento em mente, me agacho para analisar as marcas deixadas graças ao seu retorno, mas havia algo errado, a possa de sangue permanecia praticamente intacta.
— Entendi o que queriam dizer com “não mortos” agora.
Havia uma parte dos documentos que citava sobre as vitimas dos shirglitsus, que era citados como “vagantes do fim”, seres que tiveram o seu “tempo” devorado, assim se tornando apenas cascas vazias que seguem caçando seres que ainda o possuem, no entanto… Não existe um retorno para eles além da morte.
— Diferente daquelas bestas, vocês não são muito espertos, em pensar que estou fazendo isso tudo por um livro.
As vezes eu me pergunto, qual é o preço da verdade? Mas temos que pagar o preço por tudo o que fazemos…
— Seja qual desafio que esteja me esperando depois daquela esquina, eu estarei preparado.
Me preparo para atacar a criatura puxando a espada negra que me foi dada, e caminho lentamente até a zona onde os rastros de sangue levavam.
“Em pensar que estive aqui há pouco tempo”, era uma frase que se repercutia quando eu cruzei o corredor, em meio de uma cidade eternizada no entardecer, me deparo com criaturas que antes se denominavam como humanos. Nenhuma civilização está verdadeiramente salva de uma pandemia como essa.
Um exercito de seres, que esqueceram de permanecerem caídos, se levantaram diante de mim e vindo em minha direção com as suas carnes já apodrecendo, por mais que tenha treinado nos últimos dias eu não me sentia tão preparado, quanto eu me sentia durante as guerras de conquista.
Mas hoje eu não era mais “eu”, sou um ser que sequer conhece a própria existência e poder, sou um “am”, e farei jus ao meu titulo e a honra deixado pelo “eu”.
— Podem vir! Mas saibam que dessa tarde eterna, vocês não passam!
Junto com um urro dado por um dos cadáveres vivos, eles avançam em minha direção o mais rápido quanto eles poderiam, talvez por seus nervos não estarem mais vivos, eles corriam de forma inumana, ignorando os ao redores, passando por cima daqueles que tinham perdido as pernas, e permaneciam a se rastejar.
Junto com uma gota de meu suor caindo sobre o solo seco, brando a lamina, correndo na direção deles, alguns centímetros antes de nosso impacto, salto me impulsionando no peito de uma das criaturas, que tomba facilmente para trás.
Ainda no ar, puxo cinco pequenas adagas de dentro do meu sobretudo e as arremesso na direção deles, acertando ambos os olhos de uma delas, perto da “pista de pouso”, preparo a katana para cortar o máximo de corpos que permaneciam abaixo de mim.
Cerca de cinco sentem o gosto do aço de minha lamina, esparramando assim o pouco de sangue que ainda sobrava deles. Apesar de terem “morrido”, eles ainda poderiam ser assassinados, bastava retirar a cabeça do resto do corpo. Sem sequer perceber a perda que tiveram em seu exercito, os demais avançam em minha direção sem temer a morte.
— Isso nunca acaba!
Um a um, eu fui derrubando, cortando suas pernas e braços, além de decapita-los, sangue já escorrendo junto de meu suor, ao longo da lamina que ceifava o ultimo pingo de vida que eles possuíam. O numero foi sendo reduzido até sobrar três de pé, e uma pilha de cadáveres ao longo da estrada.
— Vamos terminar logo com isso…
Corro na direção do primeiro, que vinha para cima como um animal selvagem, berrando e mostrando suas garras, alguns metros antes de nos encontrarmos me abaixo e chuto a canela da criatura, a fazendo perder o equilíbrio e cair.
— Quais são as suas ultimas palavras? — Eu falo enquanto desfiro o golpe final na criatura.
Nesse meio tempo as outras duas se aproximaram de nós, mas com um giro rápido corto os seus pescoços, e dou um passo para trás permitindo que os corpos caíssem no chão, assim tendo o seu descanso final.
— Queria poder dizer missão cumprida, mas vocês são apenas a causa do problema que vim resolver… — Falo, limpando um pouco do sangue que espirrou, em meu rosto, com a manga.
Volto a caminhar, agora sobre as pilhas de cadáveres que se amontoavam a minha frente, quando eu retornasse teria que ficar dois dias esfregando para limpar as minhas roupas, de todo o sangue, poeira e suor que a manchavam.
— Há quanto tempo eu já estou por aqui? — Me pergunto olhando para o céu que permanecia imutável, desde a minha chegada.
— Cuidado! — Uma voz grita, e ao que eu vejo uma criatura estranha salta em minha direção.
Sem tempo para pensar no dono daquela voz, analiso o meu novo adversário, a criatura possuía um longo focinho com dentes afiadas que chegavam a saltar para fora, onde ficaria a cavidade ocular, uma extensão de sua pele, parecida com pálpebras a fechava, no lugar onde deveria ter os ouvidos, dois buracos ligeiramente grandes ficavam. No tudo mais ele era uma criatura quadrupede que não possuía um pelo sequer sobre o seu corpo, tirando na parte dos ouvidos que saltavam pequenas pelagens acinzentadas.
— Isso é um shirglitsu, então…
A criatura que era tanto descrita nos documentos agora permanecia diante de mim, “um ser sem tempo”, que se alimenta do tempo dos seres vivos e dos abjetos ao seu redor, possuindo varias formas em sua espécie, com a mais comum sendo um grande lobo sem pelos ou olhos.
A criatura me encarava enquanto permanecia babando, parecia que ela estava me estudando antes de atacar, mas não demora muito para ela voltar a avançar.
Eu salto rapidamente pousando ao lado da criatura e a chutando em sequencia, assim a empurrando a alguns metros, eu seria o jantar essa tarde, se eu não o matar, no entanto, para matar um bicho desses não seria tão fácil, aço comum não consegue atravessa o seu couro, e ele consegue permanecer vivo mesmo no vácuo…
A forma mais fácil de matar esses bichos é de dentro para fora, mas mesmo assim não seria uma tarefa fácil, fazer a criatura comer uma bomba, parece o mais simples, ou até atirar dentro de sua boca, mas isso não é uma opção…
A criatura se ergue novamente e vem em minha direção, no entanto agora eu pulo para as suas costas, assim se agarrando a ela, ele se mexia tentando me atacar, mas impossibilitado pelos seus próprios movimentos.
Segurando-o pela garganta, sentindo o fedor da carne podre em suas presas, a criatura se debate tentando me derrubar dela, me seguro com força em seu pescoço com uma mãe, enquanto com a outra começo a socar com força a sua cabeça, essa seria uma luta de resistência…
— Maldição! — Grito.
Depois de muito se debater, ela enfim consegue me jogar para fora, ainda meio aturdida, ela grunhi, e avança em minha direção, sem muito tempo para pensar, saco a espada, que permanecia presa em meu cinto por uma bainha improvisada, e avanço tentando enfiar a lamina dentro da boca da criatura.
O impacto foi um sucesso, a criatura morde a isca, ou sendo mais exato, o meu braço, e a lamina corta os órgãos internos da criatura, seu sangue começa a escorrer aos poucos ao longo do meu braço, chegando até o meu cotovelo, onde ele pingava para o chão.
Com o meu pé esquerdo eu empurro o cadáver, assim retirando tanto a espada quanto o meu braço para fora dele, e com um único movimento horizontal, retiro o excedente de sangue que permanecia na lamina.
— Bravo… — Uma voz sínica familiar, batendo palmas levemente, vem de minhas costas, onde um mar de sangue se formara.
— Ainda não cumpri o que você deseja Dead, então não tem por que estar aqui.
— Na verdade você fez um bom trabalho, ali atrás.
Eu me viro para ver a cara do demônio que me perturbava, suas roupas permaneciam impecavelmente brancas, apesar de ter acabado de passar por um vale de cadáveres humanos.
— Eles eram apenas numerosos, posso falar que enfrentar um ou dois daqueles não seria um problema, já isso… — Olho para o shirglitsu estirado no chão.
— Mas não foi um ou dois, tinha no mínimo trinta corpos ali. De qualquer maneira, eu só vim aqui por que ELA pediu, caso contrario, não me importaria de te deixar aqui apodrecendo junto com esses seres sem tempo.
— “ELA”? Quem seria ELA?
— Você saberá em breve, venha.
Ele volta a caminhar na direção dos corpos, mas algo estava fora do normal à frente, uma espécie de “buraco” que se ligava com os corredores da mansão, onde acordei essa manhã. Ele o atravessa, e eu vou logo em sequencia, após ir para o outro lado, me viro e noto que ele não estava mais onde deveria estar.