Uma Nova Lenda Surge - Capítulo 14
Junto com o despertador ao meu lado, inicio os motores de partida, para retornar a fortaleza, onde os outros seis estavam reunidos, eles eram os únicos com as respostas para o próximo passo de minha jornada.
A viagem não seria longa e por sorte não tivemos nenhuma interversão, durante a mesma. Ao descer no hangar vários homens vestindo trajes brancos que cobriam o corpo por completo permaneciam com armas apontadas na minha direção.
— Não se mova! Estamos ordenados a atirar para matar, caso mostre resistência! — O mais a frente anuncia.
Sem falar nada obedeço, sinalizando para as duas não saírem da nave e nem serem vistas. Os homens me levam até uma das celas do nível inferior. Após acorrentarem meu pescoço, pernas e braços, encaro um deles e começo a falar:
— Por que toda essa comoção?
— Existem provas de uma possível traição vinda de você e alguns de seus soldados, todos estão sobre observação.
— Por ordem de quem?
— Isso foi uma decisão do conselho dos sete.
— Agradeço, estarei em aguardo para o fim desse juízo.
— Não faça nada que possa piorar a sua situação.
Eles saem do local, trancando a cela onde eu ficaria até o fim das investigações, sendo rodeado por dejetos humanos e ratos leprosos. No momento eu tinha que pensar em como ajudar as duas, no entanto eu sequer poderia-me por em uma pose confortável.
— Vejo que não demorou muito até prenderem o demônio. — Passos junto de uma voz sarcástica segue até a porta da cela que eu permanecia aprisionado.
— O que você quer de mim?
— Já faz quanto tempo desde que te prenderam aqui? — Os passos param em frente à cela, no entanto eu não tinha visão de quem poderia ser por causa da penumbra que permanecia no local.
Realmente, eu já havia perdido a noção de quanto tempo já havia passado desde que eu tinha sido aprisionado nesse calabouço, já que eu sequer era alimentado e a única iluminação que eu tinha vinha de velas espalhadas pela cela, que de tempo em tempo eram trocadas.
— Você já deve estar faminto, não é mesmo Kardurins? Que tal uma maçã? — Como dito uma maçã veio rolando em minha direção.
— Você sabe que eu não consigo pegar ela.
— Sem graça como sempre, Kardurins, eu sei que você perdeu as suas memórias novamente, mas tem coisas que eu preciso que você saiba.
— Diga…
— Primeiro irei te tirar daqui e te levarei até as suas amigas lá te passarei as informações.
Ele não era qualquer pessoa e eu não podia confiar nele e em ninguém, no entanto, eu não tinha opção ali. O homem misterioso entra na cela, com um manto escondendo o seu corpo, e ao se aproximar o suficiente começa a abrir todas as algemas que me prendiam.
— Me siga e tente não chamar muita atenção.
Ao me soltar vou até onde a maçã estava, a pegando e esfrego-a em minha roupa, em seguida começo a me saborear de seu doce suco, a cada mordida que dava. Após poucas mordidas sou apressado pela figura misteriosa.
— Tente não ficar muito atrás, caso contrario iremos falhar em nossa fuga, pois o tempo é curto.
Saímos apressados pelo corredor pouco iluminado, até chegarmos as escadarias que levavam para o andar superior, após subir as escadas em espiral estávamos de frente para a porta que separava esse local pútrido dos demais.
— Parece que está tudo limpo, vamos! — A figura fala, após uma breve olhada pela fresta da porta.
Ele abre a porta e seguimos pelo corredor à direita, correndo sem olhar para trás, por sorte não passamos por nenhuma pessoa, até chegarmos à saída da fortaleza. Do lado de fora convenientemente um cavalo estava pronto para a nossa partida, subimos nele e adentramos na mata.
— Agora que já nos afastamos o suficiente, poderia me dizer quem é você? — Falo me segurando nele pela cintura.
— Me chame de Rodzerm, ou se preferir Ira.
Ira, então no fim ele veio até mim, isso explica a facilidade que tivemos para sair da fortaleza sem que ninguém nos notasse, ele poderia facilmente mover a todos para outro local, sem muita dificuldade.
— Por que você está me ajudando?
— Não vejo a necessidade de responder essa pergunta.
Ele não era qualquer um, eu o conhecia muito, para saber que não poderia confiar no que ele fala, mas o que eu queria dizer com as pistas dele?
Perto do anoitecer, chegamos até um pequeno chalé já em ruinas, em meio à floresta que rodeava a fortaleza e o reino. Ao descermos do animal, Rodzerm o golpeia com sua espada que era mantida embainhada até o momento, decapitando o cavalo em um golpe limpo, a cabeça desliza lentamente até se soltar por completo do corpo, o sangue fresco mancha o verde do chão aos poucos.
— Kardurins me ajude à limpa-lo mais tarde, assaremos a sua carne para o jantar. — Ele fala limpando a espada. — Por agora vamos para dentro, elas estão nos esperando.
— Certo.
O chalé apesar de estar em um estado decrépito poderia acolher qualquer um, por dentro a iluminação era feita por velas, que permaneciam acima de candelabros. No cômodo tinha uma mesa de centro circular, onde a Scramblery se sentava ao lado da Djinskrel, acima da mesa um mapa holográfico da região.
— Você conseguiu traze-lo então Rodzerm. — Scramblery fala em tom gélido.
— Sim, agora podemos iniciar a operação que planejamos durante esse tempo. Kardurins, você já deve saber isso, mas o verdadeiro traidor não tem ligação com você.
— A verdade é que eu fui traído, certo?
— Exatamente! Existe no momento uma grande conspiração entre o conselho dos sete, parece que em breve uma guerra como a do inicio dos tempos irá nos abater novamente, e resta você ir lutar contra isso.
— Me de os detalhes.
— Resumidamente falando, existe uma grande probabilidade de um dos sete tenha descoberto uma forma de ativar uma antiga relíquia que poderia nos trazer a verdade. Mas provavelmente esse alguém está agindo nas sombras para concretizar o seu plano, que pode acabar envolvendo a vida de muitos.
— Kardurins, nós ouvimos essa história anteriormente e gostaríamos que você resolvesse esse impasse. — Fala Djinskrel com o olhar distante.
— Kardurins, apenas nos os sete podemos encerrar essa guerra, o preço pode acabar sendo alto, mas acredito que seja melhor do que o fim de tudo.
— Qual é o plano?
— Como já dito, existe uma antiga relíquia que está ligada com o inicio dessa guerra e apenas ela pode trazer o fim dela, tu terá que roubar ela, e então encontrar uma maneira de destruí-la nesse meio tempo, eu agirei junto das duas para finalizar o processo de liberdade.
— Onde eu poderei encontra-la?
— Nas montanhas a oeste daqui, você encontrará uma pequena cascata de água lá você deverá encontrar uma passagem que te levará para o subterrâneo do local, a partir deste ponto, estará sozinho. Você deve partir ao amanhecer, então vamos iniciar os preparativos.
Com o ponto final dado por Rodzerm, cada um foi para um canto, e assim como dito o ajudei a limpar o animal que permaneceu do lado de fora, limpamos uma área em meio às folhagens e acendemos uma pequena fogueira em meio a um circulo de pedras, usando galhos e folhas secas.
Após temperar a carne com pimenta e especiarias, que estavam armazenados em um pequeno quarto. As brasas estralavam em meio à noite estrelada, enquanto a carne do animal era aquecida pelas chamas.
— Há quanto tempo eu estava aprisionado? — Pergunto ao me aproximar do Rodzerm.
— O tempo é algo incerto quando se viaja muito pelo espaço, mas se eu não estou errado foram dois meses. Nesse meio tempo pude resgatar as duas e coloca-las em um abrigo.
— Obrigado, mas… Eu ainda não entendi o porquê de você estar me ajudando.
— Kardurins, tem coisas que são melhores mantidas em segredo, por isso que a verdade deve ser destruída, às vezes é melhor viver sobre mentiras do que saber tudo.
— Certo, não lhe perguntarei mais sobre isso.
Passam cerca de duas horas e a carne já estava no ponto desejado, dividimos em fatias, e nos servimos em tigelas de madeira, não era uma das melhores refeições possíveis, no entanto o suco da carne penetrava em minhas papilas, o que me satisfazia.
Após o jantar todos entraram me deixando para trás, com um pequeno graveto fiquei cutucando as brasas que ainda queimavam pequenos tocos de madeira. O que estaria por vir em minha jornada é algo que eu nunca experimentei antes, talvez ela estivesse perto de seu fim.
— Pensando sobre o que? — Uma voz sussurrada viaja junto da brisa noturna até os meus ouvidos.
— O destino, desde que eu acordei, muitas coisas perderam o seu sentido. — Talvez Rodzerm estivesse certo.
— Você não era do tipo que se prendia ao destino, você sempre foi do tipo que reescreve a história.
— E você? Está pensando em algo?
— Não, mas fiquei curiosa, do motivo de você estar cabisbaixo.
— E quem você seria?
— Uma sombra do passado, um pequeno resquício que você acreditava ser ruim em você.
— Já teve algo que eu não queria?
— Acho melhor você descobrir por si só, por agora se concentre na guerra, pois ela se tornará algo maior do que você jamais imaginou.
— Não sei se a minha imaginação ainda é necessária, tem coisas que eu vi nos últimos dias que eu acreditava ser apenas um mito, mas hoje eu vejo que não.
— Kardurins, hoje eu só vim para te desejar sorte, mas logo devemos nos rever, até lá cuidado com a própria sombra.
— O que você quer dizer com isso?
— …
Sou abatido por um silencio devastador. O futuro pertence aos sete, mas será que isso é certo? Acho que estou pensando demais.
Levanto e jogo areia acima das brasas que ainda ardiam em meio ao circulo, em seguida vou para dentro, onde tinha um saco de dormir a minha espera. Amanhã muitas duvidas serão sessadas.