Uma Nova Lenda Surge - Capítulo 16
— Roro acorda. — Uma doce voz vinha do lado de fora do quarto. — O Mestre está nos esperando, vamos logo!
— Já vou Lili.
Como em toda a manhã essa não seria diferente Lili veio me acordar pela manhã para irmos até a torre onde o Mestre vivia, rodeado por seus livros.
Troco de roupa e coloco uma capa marrom sobre os meus ombros, antes de ir de encontro com a Lili. Saindo do quarto vejo a minha antiga companheira de estudos sentada em um banquinho de acácia enquanto me esperava seus cabelos loiros escorriam pelo ombro, que era coberto por uma capa vermelha. Ela me encarava com seus olhos lilases como se disse-se: “vamos logo!”
— Pegue! — Ela me joga uma maçã. — Coma enquanto caminhamos para a torre, se demorarmos mais o Mestre ficará irritado!
Nós vivíamos juntos em uma pequena casa que o Mestre havia nos dado, ela se localizava em meio a uma pobre vila do interior, mas apesar de todas as dificuldades todos da vila eram gentis conosco, trazendo comidas gostosas de vez em quando.
Nosso Mestre morava em uma enorme torre que se localizava a oeste da vila, por alguma razão ninguém da vila gostava muito da presença dele ali, será que tem algo a ver com os seres de assas?
— Roro! — Lili grita do meu lado.
— O que houve?
— Você estava dormindo de volta?
— Não…
— Teve aquele sonho de novo?
— Sim… Mas foi diferente dessa vez… Eu estava fugindo de uma prisão na qual eles haviam me posto e tinha que buscar por um cubo, não me lembro muito bem…
— Vamos falar com o Mestre, ele saberá como ajudar.
Nós continuamos andando em meio a vila, para chegar até a torre onde o nosso Mestre passava os dias, ele era um homem sábio que sabia sobre tudo no mundo e mais, ele havia adotado eu e Lili por causa de nossas marcas, ela carregava em seus olhos a cor purpura, que era um pigmento anormal para os demais, assim acabando por ser expulsa de sua casa.
Já a minha marca era uma mancha em minhas costas, aparentemente essa marca de nascença esconde uma antiga magia que é capaz de retirar os poderes do alvo, no entanto isso poderia retirar a minha vida e ser usada pelos seres de asas para matar os que são contra eles.
— Pensei que o nosso combinado era de vocês chegarem aqui antes do sol nascer!
Perto de chegar à torre avistamos o Mestre, que aguardava de pé diante das grandes portas, em seu olhar uma desaprovação notável, misturando isso com as suas estranhas vestes negras que cobriam o corpo inteiro dele e seus olhos avermelhados, ele se tornava uma figura amedrontadora para quem não o conhecia.
— A culpa foi toda minha! — Falo me ajoelhando.
— Você teve aquele sonho novamente? — Balanço a cabeça em concordância. — Teve algo novo?
— Sim, tinha um grande cubo com escritos estranhos nele.
— Vamos entrar, lá dentro falaremos sobre o resto.
Entramos na torre e subimos diretamente para o piso da biblioteca, onde passávamos a maior parte do tempo, quando íamos lá estudar.
— Por favor, me diga o máximo que você pode ver sobre esse cubo. — O Mestre fala pegando uma pena, tinta e papiro para escrever.
— Eu não consegui ver ele por muito tempo, mas falarei o máximo que eu me lembro. — Eu respiro fundo, tentando montar uma imagem de como ele era. — De cada lado ele tinha um circulo perfeito em seu meio, com linhas que iam para cada uma de suas pontas, e escritos rúnicos que lembram a aqueles! — Falo apontando para um pequeno livro que sempre ficava acima da mesa e que o Mestre nunca nos ensinou a ler.
— A escrita dos Astemachs…
— O que seria esses Aste… Alguma coisa? — Lili fala com brilho nos olhos.
— Eles são como eu, mas… É como se viessem de um ponto inexistente no mapa de Garmadeus.
— Mestre, eles são os seres de asas?
— Não, acredito que muito pior, caso queiram… Mas vocês não precisam se preocupar, muito pelo contrario, quero que se arrumem, hoje receberemos a visita de uma antiga conhecida minha.
— Ela é uma das pessoas daquela antiga pintura que você carrega no bolço? — A Lili fala entusiasmada.
— Sim, e eu já disse, o nome é fotografia.
O Mestre já havia me falado sobre seus antigos companheiros, mas nunca cheguei a ver a aparência deles, a Lili vive com o Mestre desde seu nascimento, parece que ele é como um pai para ela.
— Mestre, porque nós fomos excluídos?
— Vocês nunca foram excluídos de nada, apenas estão tendo mais dificuldades do que as pessoas normais para poder atingir os seus objetivos. No entanto isso por mais que pareça, não é exatamente injusto nesse caso.
— Roro, nós somos especiais lembre-se disso!
— Bom, vou deixar vocês a vontade aqui, enquanto irei até a vila comprar alguns mantimentos extras.
— Vai com cuidado Mestre, as pessoas da vila estão cada vez mais enfurecidas com a sua presença.
— Não precisa se preocupar Lili, os humanos ainda estão longe de me prenderem.
— Certo…
Após o Mestre sair a Lili pega um dos livros da prateleira, seu titulo era: “A guerra do Justo”, uma antiga história de criança e também a história de nosso professor, ainda me lembro dos primeiros capítulos dela.
“Após uma longa discussão com os seus seis irmãos, o cavaleiro que carregava a justiça do mundo sobre seus ombros, não teve outra opção se não matar cada um de seus irmãos até que sobrou um que fugiu do palácio dos céus.
Sem escolhas o cavalheiro, abriu as suas asas e voou para o mundo humano, onde a guerra se instalara homens contra homens, se matando em meio a uma guerra que não pertencia a eles.
Se sentindo culpado pela guerra o cavaleiro ajudou os humano que mantiveram a sanidade e buscou por aliados das terras das montanhas em seus palácios de marfim, caminhando até os céus na terra dos tronos de ouro, e até as terras baixas no covil do dragão.
Salvando os santos da guerra que um dia trariam a paz para o mundo, até que em um fatídico dia ele se vê diante do homem que um dia ele deixou fugir, agora sendo seguido por um exercito de homens cegados pelo poder, ele o aprisiona trancando o seu poder com cinco runas antigas, cada uma tendo sido forjada com o corpo dos outros irmãos.”
Apesar de me lembrar vagamente dessa história, sigo me perguntando o porque do Mestre não ter derrotado o homem de asas, será que ele se arrepende de algo?
— Lili, você sabe o motivo do Mestre estar preso nessa forma humana?
— Mais ou menos, se eu não me engane ele falou que tinham sido quebrados três dos cinco selos que foram feitos para prendê-lo, então talvez seja por isso.
— E porque ele não matou o sexto irmão como fez com os outros?
— Ele disse que não tem porque sacrificar inocentes, lembra? Então talvez, ele não queria matar os homens do exercito inimigo.
— Lili… Você se arrepende de ter nascido com esses olhos?
— Não… Roro! Você não tinha que estar estudando invés de ficar me atrapalhando?!
A Lili nunca gostou de falar muito sobre o próprio passado, mas eu sempre quis saber o motivo dela ser especial. “Santos” talvez ele tenha nos ajudado apenas por sermos os “santos” daquela história…
— Eu tenho que ajudar o Mestre!
Vou até as prateleiras e pego o máximo de dicionários que tinha nelas, pegando papiro e uma pena com tinta, busco pelos símbolos que me lembro de ter visto no cubo, os comparando com os mesmos que existiam no livro de escrita dos Astemachs…
Após muito pensar, consegui escrever o texto que tinha em um dos seis lados do cubo do meu sonho… Mas o que eles diziam? Busco por alguns símbolos que existiam entre as línguas Lamariam, Zimbagar e Rudneria, mas apenas consegui seis símbolos, sendo dois de cada uma das línguas…
— O que você está fazendo Roro?
— Eu pensei em tentar descobrir o que estava escrito no cubo do meu sonho.
— Posso dar uma olhada?
— Se souber alguma coisa, por favor, me diga.
Alcanço o papiro com as runas para Lili, que ao pega-lo para olhar começa a balbuciar algo em uma língua que eu nunca tinha ouvido antes.
— Lili? Você está bem?
Tento retirar ela do transe que havia entrado, retirando o papiro de suas mãos e chacoalhando seus ombros, mas ela não responde.
— O que eu faço? O Mestre! Ele já deve estar retornando a essa hora, vou apreça-lo!
Corro para fora da torre indo em direção a vila, até que enxergo o Mestre ao longe em meio as longas planícies, corro ainda mais para chegar nele o quanto antes.
— Roro o que houve?
— A Lili! Ela não está me respondendo!
— Calma Roro, vamos indo em direção à torre enquanto você me explica essa história.
— Eu estava tentando recriar à escrita que estava no cubo, e após finalizar um de seus lados a Lili o pega para ler, mas fica paralisada diante deles.
— Calma Roro, ela já deve estar bem nesse caso, assim que retornarmos a torre, eu explico o que deve ter ocorrido, então não precisa se preocupar.
— Certo…
Retornamos para torre, agora andando calmamente, e eu ajudo o Mestre com um dos sacos que ele carregava em suas costas. Chegando à torre guardamos os sacos no armazém e subimos para o andar da biblioteca a Lili permanecia sentada agora lendo outro livro, o livro que o Mestre nunca nos ensinou.
— Lili! — Corro na direção dela. — Você está bem!
— Sim…
— Lili e Roro, acho que chegou a hora de vocês saberem o que vocês são.
— Nós não somos humanos?
— Sim e não, na verdade vocês são seres especiais que viveram praticamente para sempre, muitos de meus aliados nessa guerra são como vocês. A Lili possui os olhos de Akamach, um antigo dragão que foi abatido por Lamao, um homem de coração puro e ingênuo.
Ele limpa a garganta e logo prossegue:
— Seus olhos lhe permitem conjurar qualquer mecanismo elemental seguindo apenas o seu desejo, e provavelmente foi o que você fez ao ler as runas do cubo. Já você Roro possui a marca do fim, você é umas das cinco chaves em outras palavras…
— Como assim chaves?
— Dentro de você existe um selo que mantem o meu poder aprisionado, em outras palavras você possui um pedaço meu dentro de seu peito.
— Calma… Você quer dizer que…
— Sim, para eu recuperar um quinto de meu poder eu irei precisar que você morra, no entanto existem outras formas de retirar esse poder de dentro de você, uma delas é passando ele para o seu primeiro descendente o que faria você se tornar uma pessoa normal, igual a sua mãe.
— E qual é as outras? — Lili pergunta em meu lugar.
— Existe um ritual, mas… Eu não sou capaz de executa-lo tem que ser outra pessoa de poder equivalente. A Lili um dia poderá ser capaz de fazer isso, mas eu deixarei na mão de vocês essa decisão…
— Existe algum preço?
— Sim… A pessoa que o fizer perderá a mente e entrará em um estado vegetativo por toda a eternidade e mesmo que ela seja morta no dia seguinte ela retorna a vida… Mas não se preocupem eu acharei outra solução, e talvez tenha alguma ligação com os seus sonhos Roro. — O Mestre sorri, mas no seu sorriso apenas a tristeza era transpassada.
Eu tinha que escolher entre a minha vida ou a de outra pessoa para o meu mestre poder voltar a ser mais próximo da divindade que ele foi no passado… Talvez seja por isso que ele nunca nos contou sobre isso…
— Roro… Vamos nos esforçar juntos! — Lili vem até mim e me abraça com força. — Eu tenho certeza que vamos conseguir superar isso juntos! E se for necessário eu me sacrifico por você!
As lagrimas da Lili manchavam a capa, que permanecia presa por um pequeno cordão em meu pescoço, eu não podia deixar ela se sacrificar por mim.
— Não se preocupe Lili, ninguém terá que se sacrificar, prometa que você nunca fará esse ritual.
No final as lendas sobre essa marca em minhas costas eram reais até certo ponto…
Após finalizarmos a conversa o Mestre me dá alguns livros para ler enquanto leva a Lili até o piso superior junto do papiro com as runas do cubo, onde éramos proibidos de ir sem a autorização dele. Uma vez tive a oportunidade de subir lá, não tinha muitas coisas só uma mesa e montanhas de livros e outros arquivos.
— Será que realmente conseguirei superar isso? Eu sei que nunca te agradeci, mas me ajude nessa encruzilhada pai Nafirmops…