Uma Nova Lenda Surge - Capítulo 28
Caminho lentamente pelos silenciosos corredores do prédio buscando por uma saída, observando calmamente cada sala pela qual passo. Os alunos lembravam-me dos soldados durante seus estudos, esquecendo-se de tudo ao redor para assim poder focar em sua tarefa.
O plano original dessa instituição estava claro, criar soldados para uma guerra, e no final não passava de mentiras o que prometiam, assim enchiam os tolos de esperanças…
Sigo meu caminho, até escutar passos rápidos vindos das escadarias pela qual havia acabado de passar, ignorando continuo meus passos, mas a tola criatura tinha de tropeçar e cair a poucos metros de minhas costas, junto de um grito contido de dor.
“Paciência…”, penso e logo me aproximo tirando a pequena mecha que cobria o meu olho esquerdo, estendo a mão.
— Precisa de ajuda?
A jovem menina me encara escondendo o rosto, enquanto recolhe as folhas que derrubou ao cair.
— Não precisa se preocupar, eu estou bem!
Dou de ombros e volto para o meu caminho, mas… Ela tinha que persistir no erro, já não bastava cair?
Após poucos passos dados, escuto uma rápida corrida vinda em minha direção, de alguém que eu acabará de abandonar, que ao me alcançar me segura pela mão.
— Por que me deixou para trás?
— Estou atrasado para tomar sol. — Mesmo que não adianta-se, pois por causa de minha melanina natural, eu seria branco como a neve pelo o resto de minha eternidade.
— Eu te acompanho!
— Não está atrasada para levar essas folhas para algum lugar?
— N-não… São só algumas anotações e ideias que tive, nada de mais. — Ela ri em um tom baixo, disfarçando o seu tropeço de poucos segundos atrás.
— Ideias? Poderia dar uma olhada?
— Me-melhor não! Eu não sou tão inteligente e minha caligrafia é péssima…
Ideias? Será que estão realizando alguma grande pesquisa nessa instituição, se sim, isso significa que logo poderemos ter problemas na guerra por causa dos humanos.
— Bom, se você prefere assim… — Eu preciso daquelas anotações! Nem que precise mata-la para isso. — Por sinal, onde fica a saída mais próxima? Sou novo aqui.
— Bem que achei não ter te reconhecido, me siga eu te levo lá fora e te apresento ao campus.
— Será um prazer. — Sorrio amigavelmente tentando esconder a vontade de surrupiar os papeis.
Seguimos pelos corredores mantendo o silencio, em respeito aos demais alunos que seguiam com seus estudos. Chegando ao exterior do prédio continuamos por um caminho de pedras até a lateral esquerda do prédio principal.
— Se você observar cuidadosamente poderá ver a área onde os grupos de estudo se encontram para treinarem o seu físico, se quiser posso te apresentar para o grupo de estudos da invocação.
— Interessante, adoraria conhecer os seus amigos.
— Por aqui então. — Ela sai do caminho de pedras e segue pelo gramado, me guiando. — Por sinal ainda não nos apresentamos, eu me chamo Gainirin e você?
— Marshow, venho das terras do leste junto de minha irmã, que assim como você é meio estabanada.
Uma linha tênue, não quero me aproximar de um alvo, mas talvez não seja uma opção real…
— Pensei que queria conhecer o grupo de estudos.
— Sinto muito, mas você realmente me lembra um pouco dela.
Apesar do cabelo ser loiro e os olhos verdes, a fisionomia dela lembrava muito da Kashisujo, talvez elas pudessem até ter sido irmãs se o universo não fosse tão caótico.
Seguimos andando, pelo gramado, até uma pequena arena improvisada em meio a um campo de areia, que era erguida pelos dois gladiadores que seguiam lutando.
— Você realmente melhorou muito John, mas o meu próximo golpe será o ultimo! — Uma jovem com o peito consumido pelo metal criado a partir de seu sangue, fala encarando o menino que segurava com as duas mãos um florete.
Ela avança para ataca-lo e com um único soco o lança cerca de cinco metros para trás o derrubando no chão, a espada dele vai se desfazendo, como se fosse levada pelo vendo, e assim a luta chegou ao seu final.
— Wendy! Você estava incrível como sempre! — Gainirin fala abrindo os braços para receber a amiga.
— Há quanto tempo Gainirin, como tem estado? E quem é ele, o seu namorado?
— Não é nada disso, esse é Marshow o aluno novo, e ele esta interessado no seu grupo de estudos.
— Prazer.
— O prazer é meu, por sinal já que você quer se juntar a nós, porque não mostra do que é capaz.
Cai na armadilha! Eu deveria saber que seria posto em um teste, mas ignorei o fato tentando estudar o meu alvo, se eu desistisse agora estaria em problemas, mas se mostra-se muito de mim isso provaria quem sou…
— Tudo bem. — Sigo calmamente para o outro lado da arena improvisada, me lembrando da época em que lutava esgrima como esporte, apenas para manter a forma.
— Certo, Marshow eu serei a sua adversária, como você é novato irei pegar leve. — Wendy fala se posicionando no outro canto.
— Não precisa se segurar, de o máximo que você tem.
— Se você diz.
— Certo, ambos em seus postos! — Gainirin se coloca entre nós para anunciar o inicio da luta. — Preparem! Lutem!
— Ó metal absoluto que abrange o mundo, vinde a mim em sua forma mais pura e mais bela Kiricase! — Em meio ao ar podia-se ver a cristalização de uma arma que nascia da palma de minha mão, uma belíssima rapineira.
— Já estou acostumada a lutar contra essa espada, tem certeza que irá usa-la?
— Sim, é uma arma bela e refinada.
— Certo! Vinde a mim metal que rompe e parte! Metal que consome e mata! Kiniricase Sancturn Anmateus!
E aos poucos o peito da menina foi possuído por um material branco que reluzia junto ao sol que nos queimava, até que ele consumiu o corpo dela por completo.
O Santuario de Anmateus, curioso, uma técnica desse calibre nas mãos de uma criança, ela deve ser muito experiente, ou melhor ter ótimos generais…
Respiro calmamente e disparo na direção dela, tentando realizar um “toque” com a rapineira, mas o movimento dela era preciso como se visse o futuro. Não havia duvidas, ela havia sido treinada por especialistas.
A cada estocada que eu realizava ela tocava no corpo da arma, esquivando os meus golpes, um a um.
Impressiona-me ver a evolução humana, mas continuava sendo apenas um saco de carne, frágil que é comandado por qualquer um que tome a sua liberdade.
— Você é realmente bom nisso Marshow! — Ela fala ainda esquivando os meus golpes de mãos limpas.
— Treinei esgrima durante a minha infância, o que me dá certa vantagem no combate de hoje! — Sorrio, sentindo um amargo em minha boca.
Derrota-la poderia vir a ser um problema, no entanto se eu perde-se para um único golpe, me causaria certos problemas, demonstrando a minha “fraqueza”.
No entanto eu poderia utilizar essa luta para analisar o nível dos soldados criados pelos corvos.
Com o pensamento em mente, me afasto, parando assim os meus golpes contra a Wendy. Permaneço em pose para atacar e me defender quando ela avançasse, calculando os segundos que ela levava para tomar a sua próxima ação.
— Já se cansou?! Bom… Acho que agora é a minha vez! — Junto de sua proclamação Wendy avança contra mim, pronta para me atacar com as mãos.
“Vamos ver do que você é capaz!”, sem perder a postura me preparo para o avanço dela que mais parecia uma criança que está brigando em um parque.
Quando estava a poucos metros de mim, já com o punho erguido ela se prepara para me golpear e… Não havia duvidas, ela não sabia como lutar.
Seus movimentos ofensivos eram extremamente lentos e desengonçados, o que lembravam realmente a uma criança briguenta.
Perder já não era mais uma opção. Largo a minha arma, que despedaça como vidro e voa junto ao vento, como pequenos pedaços de cristal.
Ela prossegue tentando me atacar, mas como se eu dançasse com ela, eu desviava, dando um paço para direita e outro para a esquerda enquanto seguia para traz.
— Por que não me ataca também?!
— Não vejo motivos para desperdiçar tamanha energia mais, pensei que você fosse mais forte, já que é a líder desse grupo de estudos.
— Hum… — Ela rosna após a minha declaração.
— O que é isso? Eu acertei! Você chega a ser patética! Tamanho poder, mas sequer sabe lutar! Por acaso você gosta de apanhar? — Opa! Deixei escapar as minhas provocações, contanto que ela leve mais a sério.
No entanto o efeito foi oposto, lagrimas surgiram em seus olhos em vez de fúria pura, o que a levou ao chão, em um choro sincero e desconfortante.
— Realmente… Eu não presto para as lutas…
— Marshow o que foi isso? — Gainiri e os demais membros se aproximam para atender da líder do grupo.
— Que eu tenha paciência… — Sussurro para o ar. — Desculpe, não sou muito acostumado com outras pessoas, sempre fui eu e minha querida irmã.
— Você é maluco! — O rapaz que foi derrotado facilmente mais cedo avança em minha direção. — Você a fez chorar, e é isso que diz?
— Karom, deixe… — Wendy fala ao se recompor. — Ele tem razão somos fracos, por isso sempre perdemos para os outros grupos de estudos combatentes.
— Mas Wendy! — Wendy encara fixamente Karom, dava para sentir os seus sentimentos sendo transmitidos a partir de sua feição. — Certo…
— Para se melhorar, só treinando e pode levar anos até vocês ficarem em forma para um combate real.
— E você poderia nos ajudar a treinar? — Wendy se levanta e vem em minha direção, pegando as minhas mãos e me encarando fixamente, com os olhos ainda marejados.
— Não. — Respondo com um sorriso seco.
— Tudo bem…
— Agora se não se importam eu partirei. Gainiri, obrigado por ter sido a minha guia, mas a partir de agora eu me viro, fique com a sua amiga.
— Certo, só não vá se perder!
— … — Sem falar mais nada, começo a me afastar do pequeno grupo, e escuto passos rápidos, em meio ao campo de areia.
— Marshow, certo?! — Era Karom que havia me seguido até estarmos a uma boa distancia do grupo.
— O que deseja? — Respondo sem me virar.
— Eu juro em nome da casa dos Barões Ninktis, que irei te derrotar.
— Certo, venha quando estiver pronto. — Ignoro a presença dele e sigo o meu caminho.
Os corvos possuíam um exercito com um grande potencial, mas ainda não passavam de crianças que nunca presenciaram uma guerra de verdade.
Talvez eu tenha errado em iniciar essa guerra enquanto buscava mais sobre a verdade, no final a minha busca talvez não tenha frutos, ou dizer isso também não passa de um grande erro.
Sigo caminhando pela estrada de pedras ao lado do prédio principal, enquanto ao longe escuto os gritos dos grupos de estudos treinando suas energias.
Por sinal, quanto tempo havia se passado desde que sai da sala? Provavelmente eu já estaria atrasado para a próxima aula.
— A pergunta que fica é, “para onde ir?”
No entanto eu não tinha ninguém para responder as minhas duvidas, teria que contar com a sorte para chegar ao meu destino.
Sigo andando, ainda perdido, jogando com a sorte, até que avisto um grande campo de treino onde vários meninos e meninas treinavam em lutas amistosas de espada e escudo, enquanto cinco corvos os auxiliam no combate.
— Com licença? — Falo ao me aproximar de um dos corvos.
— Está atrasado! — Ele fala irado. — Pegue o seu material e procure por alguém que não tenha par.
— Sim, senhor!
Afasto-me do instrutor, indo até um galpão onde pego uma espada simples, feita de madeira, e um escudo do mesmo material, indo na sequencia para o campo arenoso, procurando por alguém que estivesse sozinho, mas todos já possuíam duplas.
— Não tem jeito, farei isso sozinho.
Me coloco em posição de combate, e sigo os movimentos de meu colega vizinho, quando ele se defendia, eu erguia o escudo o colocando na mesma posição que ele, e ao realizar um ataque tento aprimorar o que ele faz.
Quando era um corte rápido eu reposicionava a espada em uma altura na qual o golpe poderia ser fatal caso acertasse, quando vinha de cima para baixa, retirava as brechas deixadas do meu ataque, em golpes rasteiros eu seguia com o meu corpo, dando um segundo golpe ao me levantar.
Sigo repetindo o curso, até o período ser encerrado. Os humanos dessa terra eram treinados para lutar em guerras que nunca poderiam vencer, no final teríamos apenas um grande banho de sangue…
— Marshow! — Após o treinamento coordenado Kashisujo corre em minha direção com os braços abertos, junto da Sainersh que ainda estava com a espada e o escudo de madeira em suas mãos.
— Karynan, não precisa de tamanha pressa.
— Mas você sumiu!
— Tenho que concordar com ela, você desapareceu, saímos meia hora antes para te procurar, e não lhe encontramos.
— Não é nenhuma surpresa, eu estava coberto de areia, na área dos grupos de estudos.
— E o que foi fazer lá?!
— Treinar esgrima, já fazia anos desde que toquei em um florete pela ultima vez.
— Pelo menos você chegou a tempo… Por sinal onde está o seu parceiro de treino?
— Eu não tive.
— O que?! Todos tem que treinar em pares para poderem evoluir!
— Certo…
— Pegue a sua espada, vamos lutar agora!
— E do que te importa a minha evolução?
— Você é a minha responsabilidade, se você for mal ou fizer algo indevido dentro ou fora dos portões dessa instituição eu também terei de pagar!
Então estarão nos vigiando, não, já devem estar de olho em nós desde o momento que pisamos aqui pela primeira vez, talvez até já saibam quem somos, mas não tem importância para eles no momento.
— já que não tenho escolhas. — O primeiro passo vai ser retirar essa criança de meu pé.
Pego a espada de madeira e a balanço de um lado para o outro fazendo um pendulo com ela, e junto de um sorriso volto a falar:
— Quando quiser.
— Vai lutar sem um escudo?
— Pra que? Irei acabar rápido com isso, por sinal, boa sorte.
Kashisujo se afasta lentamente e com um sorriso de desprezo voltado para a Sainersh, ela fala:
— Boa sorte!
— Terei que te dar uma lição, sua arrogância não irá te levar a lugar algum.
— Será? Acho que não sou arrogante, só um pouco realista de mais! — Gargalho e com um grande sorriso a encaro, teria que controlar o demônio que havia dentro de mim, para não ter que vivenciar a minha queda novamente.
Ela se prepara, pondo a espada a frente de seu escudo, que cobria boa parte de seu rosto, antes de avançar contra mim, pronta para me golpear no peito.
Talvez contra uma pessoa desacostumada e que teme por sua vida, esse movimento desesperado poderia ser um problema, mas, não para quem já sofreu isso antes.
“A chuva caia do céu sobre o campo já morto e escurecido pela guerra que pendurava há anos, enchendo as trincheiras com água e molhando minhas roupas.
Os homens fardados corriam em minha direção com a ponta de seus rifles, já vazios após errarem todos os disparos, prontos para perfurarem o meu peito, com a faca que se mantinha presa na ponta de suas armas.
O solo árido e manchado de sangue, onde nossas botas pisavam se tornava o piano para o nosso combate.
O primeiro soldado erra de forma patética o seu ataque, aproveitando a abertura, o golpeio nas costas, partindo sua costela ao meio, e o levando rapidamente ao chão.
O segundo vendo isso se desespera largando sua arma e correndo na direção oposta, mas acaba levando um tiro de um aliado, o que o leva ao chão.
Os demais vendo o que aconteceria aos desertores correm em minha direção, quando outra leva de disparos é feita em nossa direção, três deles acabam sendo alvejados, sobrando apenas mais dois.
Os últimos dois homens correm em minha direção um coloca a arma mais a frente do corpo e corre em minha direção, mas o afasto com um chute dado em sua mandíbula que acaba por se partir levando o homem ao chão, berrando de dor.
Aproveitando da brecha que abri o ultimo soldado acerta o meu peito perfurando o meu coração, o encaro pronto para arrancar a sua cabeça com as mãos nuas.
— De-demônio! — Ele grita, com o meu sangue ainda em suas mãos após soltar da arma que permaneceu presa no meu peito.
— Não gosto quando me chamam assim, mas lhe darei os parabéns, pois você conseguiu me ensinar uma coisa hoje, matar todos os meus inimigos em um único golpe, por isso sua morte será rápida e indolor.
Sorrio amargamente, e arranco do peito a arma, antes de seguir a paços lentos aproximando-me do homem, que se arrastava no chão ao lado de seus companheiros já mortos.
Até que um disparo é dado, e atinge o meu ombro direito, o culpado, era o homem no qual a mandíbula havia sido quebrada.
— Impressionante! Dois sobreviventes! Bom, nesse caso…
Ignorando os demais disparos realizados pelo soldado, que atingem as minhas costas, sigo em direção do homem caído, colocando as mãos em sua cabeça e ativando o decimo circulo desenhado em meu corpo, uma grande corrente elétrica passa de uma de minhas mãos até a outra, matando de forma instantânea o homem.
Ao lado do corpo queimado pela eletricidade gerada, estava o rifle, que arranquei de meu peito mais cedo, o pego e o lanço contra o outro homem, acertando o seu pescoço, assim levando-o ao chão.”
Sainersh segue em minha direção ainda confiante, do que acredita serem habilidades para um combate direto.
Faltando poucos metros antes de chegar a mim, cravo a espada de madeira no chão, fazendo com que pequenas lascas da madeira se soltem ao arrebentar a arma de treino, contra o solo de areia.
Espantada com o meu movimento a jovem dama perde parte do equilíbrio, mas segue em frente, onde a minha mão já se posicionava para golpeá-la fortemente enquanto desviava da espada que rumava na direção de meu coração.
Por fim, os corpos se encontraram, e junto de uma rápida abaixada, desvio tanto do impacto contra o escudo, quanto contra o golpe da espada, seguindo com um soco no estomago de Sainersh, forte o suficiente para remover o ar de seus pulmões temporariamente.
Ela vai ao chão soltando tanto o escudo, quanto a espada, parando ao lado da espada de madeira rachada.
— Entenda, a arma não é aquela que o guerreiro segura, e sim aquela que se encontra na mente dele.
— Você não exagerou? — Kashisujo retorna a falar um pouco insegura de meus movimentos.
— Ela vai ficar bem, pegue um pouco de água para ela, enquanto a ajudo a se levantar.
— Certo! — E junto a uma resposta rápida ela parte em direção aos seus pertences em busca de um cantil.
— Sei que já pode se levantar. — Me aproximo do corpo caído após um golpe.
— Como consegue ser tão forte? — Sainersh senta em meio ao solo de areia.
— Treino desde pequeno. Fui treinado para caçar e matar, caso contrario morreríamos de fome.
Uma mentira, mas não por completo, desde que me lembro como um ser vivo, tive de lutar para não ser aprisionado ou escravizado, até hoje sinto o sangue de milhares em minhas mãos…
— Mas e o seu pai, ele não ajudava?
— Ele que me treinou, tinham semanas que eu era deixado na floresta só com as roupas de meu corpo. Talvez eu não fosse nada se ele não tivesse feito isso comigo por todos esses anos.
— Eu queria poder dizer o mesmo sobre o meu pai…
— O que houve?
— Não é nada! — Ela se levanta e bate a areia da calça de couro antes de me deixar para trás á passos rápidos.
— Marshow! — Kashisujo retorna agora com um cantil em suas mãos. — Cadê a Sainersh?
— Ela já foi embora. E agora? Começa o meu treino?
— Ainda não, preciso ver mais do lugar antes de iniciarmos algo, mas ficarei feliz em te tatuar, enquanto não podemos seguir em frente.
— Seria uma ótima ajuda.
E junto ao sol que retornava para os confins da terra, aquele dia de aula se encerrava, junto ao canto dos pássaros, que retornavam para seus ninhos.