Uma Nova Lenda Surge - Capítulo 5
Durante a minha caminhada, acabo passando por frente de uma taverna que havia me chamado a atenção durante a ida para o castelo da princesa.
— Posso lhe ajudar senhor? — Uma mulher alta, usando um avental sobre o seu vestido rubro, de longos cabelos ruivos, se aproxima ao me notar parado em frente à taverna.
— Você trabalha aqui? — Me viro ao falar.
— Kardurins?!
— Sim?
— Quantos anos já fazem desde que você desapareceu? — Ela me abraça ao perceber quem era eu.
— Quem é você?
— É mesmo… Você disse que poderia perder a sua memória quando retornasse… Sendo assim vou me apresentar, me chamo Yuketria.
— Yuketria, você sabe a minha motivação para ter sumido?
— Sim, venha comigo, irei lhe contar algumas coisas que você precisa saber. — Ela fala me puxando para dentro do estabelecimento. — Irei pegar algo para nós beber enquanto conversamos, me espere sentado aqui.
Eu me sento em uma das banquetas que tinha a frente do balcão onde ela atendia os fregueses. O lugar estava vazio, talvez por causa do horário, mas mesmo assim ela estava sem nenhum cliente.
— Você bebe hidromel? — Ela grita ao fundo.
— Pode ser.
Logo após eu responde ela retorna com um pequeno barril em mãos e o coloca acima do balcão, pegando em seguida duas canecas de baixo do mesmo, e os enche me entregando um deles.
— Você no passado antes de sumir me pediu para lhe entregar um pequeno livro e lhe passar algumas informações de imediato, mas acredito que elas não aliviaram tudo o que você necessita no momento.
— Está tudo bem… Já me acostumei a ficar desinformado da minha situação.
— Certo… A primeira coisa que você precisa saber é que não deve confiar nos seus iguais, eles tramam algo muito maior no final de tudo, para ser mais exata o Rarmeche, não sei o motivo exato, mas foi o que você me pediu.
— Está tudo bem, e o livro?
— Eu já o peguei quando fui lá traz, está meio empoeirado por causa do tempo, mas acho que ele já lhe ajudara bastante. — Ela pega um livro que havia deixado de baixo do balcão e o coloca sobre o mesmo.
O livro possuía um grandioso dragão dourado estampado em sua capa, e ele era selado por um fecho em sua lateral, era como um botão o fecho que caso eu o apertasse ele liberaria o seu conteúdo.
— Obrigado… — Eu viro o que sobrou na caneca e me levanto. — Tenho que prosseguir agora, assim que eu puder eu retorno.
— Eu consigo imaginar o quão compromissado você está, tudo bem pode seguir o seu caminho.
Eu me retiro da taverna e prossigo a minha caminhada pela cidade, conheço varias pessoas que diziam já me conhecer e que me louvavam como um deus, até que o sol começou a se por no horizonte, assim decido retornar ao castelo, onde ocorreria o baile. Chegando ao castelo, Lensainesh estava me esperando na frente dele.
— Você esta atrasado!
— Me desculpe, acabei demorando mais do que o previsto.
— De qualquer forma vamos nos trocar para o baile!
Nós seguimos para uma outra sala onde a Lensainesh me força a vestir trajes mais formais, mas no final acabo ficando com o meu sobretudo sobre uma blusa de mangas compridas, que deixava eu com uma pequena folga no movimento dos braços. Enquanto ela terminava de se trocar, eu vou na frente assim a deixando para trás com o combinado de se reencontrar no baile.
Tento seguir o caminho indicado pela Lensainesh até o salão onde o baile ocorria, mas acabo retornando para corredor dos quadros, que eu vira mais cedo, só que dessa vez possivelmente ninguém iria aparecer para me ajudar. Sem opções, me ponho a olhar os quadros novamente, quando um som de violino quebra o silencio que tinha no ambiente, vendo uma saída, começo a seguir o som dele, acreditando que vinha do salão. Até que enfim chego às grandes portas com leões entalhados nela que a Lensainesh havia citado.
Era um salão enorme onde havia varias pessoas, algumas estavam dançando no meio do salão e outras estavam apenas conversando enquanto bebiam, os homens vestiam trajes elegantes que aparentavam terem sido feitos sobre medida de coloração preta, e as mulheres vestiam vestidos cheios de babados de cor única.
Eu não sabia para onde ir, estava perdido, até que avisto a Lensainesh que estava com um vestido azul, não dava para ver muito mais, por causa da distancia, mas eu tinha certeza que era ela e sigo em sua direção.
— Finalmente te encontrei! — Lensainesh fala vindo na minha direção. — Onde você estava todo esse tempo?!
— Eu me perdi no caminho, e quem achou quem aqui foi eu!
— Seja como for, como eu estou?
— Acredito que “bela” seja a palavra adequada.
— Obrigado pela honestidade… — Ela cora.
— Atenção de todos! — Disse Evelyn no alto das escadarias da entrada do salão. — A princesa, que hoje completa seus dezoito anos irá assumir a coroa, mas o ultimo desejo do rei antes de sua morte, foi para que ela só assuma a coroa depois do seu casamento, e hoje perto da meia noite, ela anunciara o seu possível pretendente. — Todos ficaram eufóricos e curiosos, depois desse anuncio, principalmente os homens, sendo todos nobres das mais variadas casas.
Em seguida a princesa entra no salão e sem falar nada para o publico, apenas fazer um pequeno cumprimento curvando a cabeça e erguendo a ponta de seu vestido avermelhado, que antes arrastava no chão, ela vem na minha direção.
— Kardurins! — Ela fala nervosa. — Como eu estou?
— Você fica elegante nesse vestido, apesar de não combinar muito com você.
— É-é s-sério? — Ela cora.
— Sim, não tem como ser dito o contrario.
— E sobre o casamento? Você realmente irá seguir o ultimo pedido de seu pai? — Lensainesh fala.
— Sim, mas eu também desejo me casar com um dos homens que se encontram aqui hoje.
— Se é o que deseja, não irei te questionar.
— Kardurins, você aceitaria dançar comigo? — Catrina fala ignorando a existência da Lensainesh.
— Sim, com a sua licença. — Nós nos locomovemos para o centro do salão onde vários casais dançavam em harmonia, enquanto os músicos tocavam uma musica lente e calma, os violinos eram os principais pelo o que dava para notar.
— Kardurins. — Catrina cora, e fala em um tom baixo para que apenas eu escutasse. — Você se lembra da noite em que meus pais morreram e você me salvou?
— Infelizmente não, eu perdi todas as minhas memórias.
— Eu nunca me esquecerei daquela noite…
“Meus pais e eu estávamos indo para uma reunião com o reino de Djarski. Lá o meu pai e o Zailor acabaram por não chegar a um bom senso, e Zailor declara guerra contra Tundere, que é o meu reino.
Quando estávamos retornando para Tundere, uma grande tempestade se formava acima de nós, mas para evitar mais conflitos tivemos que seguir de qualquer forma, os cavalos já estavam prontos para a partida, entramos na carroça e saímos rumo a Tundere, mas no meio do caminho um bando de bandidos nos ataca em meio a tempestade.
— Ei! Contrataram-nos só para matar os reis, certo? — Um deles pergunta.
— Sim! — Outro responde.
— Então eu vou querer ficar com a princesa, para me divertir mais tarde! — Ele gargalha de forma esganiçada.
Estávamos cercados por dez deles, eles já tinham matado os soldados que nos acompanhavam, e estavam tentando abrir a porta onde estávamos. Ao conseguirem abrir a porta, eles arrastam eu e meus pais para fora, os matando em seguida, me deixando sozinha ali. Um deles me agarra pelo braço, eu tentava fugir me debatendo, mas de nada adiantava, a chuva cobria as minhas lagrimas que não paravam de cair.
— Ei! Vocês! — Um ser surge ao fim da estrada de terra batida, não dava para ver quem era por causa da escuridão e da chuva.
— Quem é você?! — Um dos bandidos gritou.
— O seu maior pesadelo! — O vulto some em meio a uma gargalhada reverberante.
Até que como em um passe de magica um homem trajando longas roupas negras de olhos vermelhos como o sangue surge diante de nós, ele segurava um dos bandidos pela garganta acima do chão, ele se debatia aos montes para tentar escapar enquanto sufocava pela falta de ar.
— U-um demônio! — Grita o bandido que me segurava, me soltando em seguida, ele sai correndo junto de seus companheiros.
— Demônio? Não… Eu sou apenas… Supremo! E não adianta fugir! — Ele pega varias facas do ar, e as lança contra os bandidos os acertando pelas costas e os fazendo ir ao chão em seguida ele corre na direção deles. — O que foi? Já cansaram? Mas nem deu tempo de brincar ainda!
Eu vejo ao longe ele retirando um grande machado do ar assim como as adagas e em seguida pude ouvir os berros de agonia dos homens que já haviam sido dados por vencidos. Com o sessar dos berros um brilho avermelhado como de uma chama vem da direção onde o ser misterioso estava, se aproximando cada vez mais de mim.
— Q-quem é v-você? — Eu falo aos soluços, caída no chão que agora era barro, enquanto as minhas lagrimas escorriam pelo meu rosto.
— Me chamo Kardurins, e você? — Ele estende a mão para me ajudar a levantar, com um sorriso carinho estampado em seu rosto sujo de sangue e lama.
— E-eu sou Catrina. — Acabo estendendo a minha mão e aceitando a ajuda.
— Não precisa mais chorar Catrina! — Eu irei cuidar de você…”
A musica para, e a nossa dança quanto à conversa também, nos cumprimentamos e vamos para um canto do salão para prosseguir o que falávamos, os outros homens me olhavam me amaldiçoando, por estar junto da princesa.
— Então nós não nos conhecíamos antes da morte de seus pais?
— Isso, vocês tinham começado a se estabelecer aqui, naquela época.
— Mas isso faz quanto tempo?
— Dez anos.
— Impossível! — Eu grito. — Se bem que seria impossível ate se você fosse recém-nascida! — Todos olham na nossa direção.
— Por mais que seja impossível isso aconteceu! — Ela grita tendo lagrimas escorrendo por seus olhos, e sai correndo indo para uma área aberta do castelo.
— Kardurins! O que você fez?! — Lensainesh grita ao se aproximar.
— Acho que falei de mais apenas…
— Sendo assim, o melhor a fazer agora seria ir atrás dela e se desculpar.
— Você esta certa, vou atrás dela. — Saio correndo atrás da Catrina.
— E não faça nada que possa piorar a situação!