Uma Nova Lenda Surge - Capítulo 7
— Isso é o que eu me lembro daqueles dias…
— Obrigado por me contar sobre esses dias… E me desculpe por ter te deixado sem noticias, eu não sei o que eu era, mas cumprirei a nossa promessa…
— Não… Eu que agradeço, se não fosse por você, eu não sei o que teria ocorrido.
— Com licença. — Evelyn fala ao se aproximar de nós. — Já está na hora de você anunciar ao reino o seu pretendente, Catrina.
— Obrigado por vir me avisar, vamos Kardunrins? — Eu respondo inclinando levemente a minha cabeça para frente e a retornando em seguida.
Ao retornar ao salão vou de encontro com a Lensainesh, que permanecia próxima da janela com um olhar perdido nas estrelas.
— Lensainesh, está tudo bem?
— Kardurins?! — Ela fala em um pulo. — Sim, sim, está tudo bem.
A atitude estranha dela me chama atenção, algo estava errado, eu não consegui acreditar que estava realmente tudo bem. Após a musica parar por alguns instantes a Evelyn começa a falar, ao lado de Catrina.
— Povo de Tundere, Vossa Alteza, Princesa Catrina pronunciara-se.
— Agradeço a vinda de todos no dia de hoje, infelizmente como devem saber o falecido Rei não pode me dar as suas bênçãos por esse dia, mas ele no ano de sua morte deixou uma carta que dizia para que eu subisse ao trono apenas ao lado de um homem forte e sábio, que pudesse trazer glória e riqueza para Tundere, e o único que demonstrou essas qualidades em todo reino, foi Kardurins que ao liderar o seu exercito, permitiu que vosso reino retornasse a ser próspero e justo. Por isso eu lhe pergunto, Kardurins deseja se casar comigo?
Todos no salão voltam seus olhares para mim, não tinha como eu me esconder daqueles olhares ansiosos por minha resposta, mas não tinha como responde-la no momento, até porque não sabia o que era real e o que era sonho em minha mente, a lógica já havia se perdido a tempos…
Eu olho para a Lensainesh pedindo por ajuda, mas ela permanecia imóvel, não pela declaração da princesa, e sim por algo que estava nas estrelas. Eu estava sozinho…
— Me desculpe a todos, mas precisarei de tempo para pensar sobre o assunto.
— Senhor Kardurins, Tundere precisa de um novo Rei, por isso contamos com a sua resposta o mais cedo possível. — Evelyn fala ao ver o meu retardo.
— Me deem duas semanas! Se até lá eu não tiver uma resposta, podem me riscar.
— Que assim seja.
Aos poucos as pessoas retornam a conversar normalmente, e a musica retorna lentamente, em uma melodia que trazia calmaria, paz e glamour para o ambiente, eu retorno a me aproximar de Lensainesh que permanecia perdida em meio às estrelas.
— Lensainesh. — Falo em seu ouvido. — Vamos embora? Eu não estou me sentindo muito bem.
— Hun? Ah! Vamos, nós já teríamos que partir o mais breve possível para que ainda tivesse luz na estrada.
Saímos do salão e trocamos de roupa em um quarto separado, como antes. Após colocarmos as nossas antigas roupas, partimos para os estábulos para pegar os nossos cavalos e retornar para a estrada.
Ao passar enfrente a taverna da Yuketria, posso ouvir as risadas e a musica animada que me trazia certa nostalgia, de ambas as memórias que eu possuía. Após obtivermos sucesso nos campos de batalha festejávamos com musica, bebidas e mulheres, essa era a minha memória, porem a outra era como agora eu apenas os via festejando, mas o ambiente não me alegrava, pois lembrava de todos aqueles que perdiam as suas vidas na guerra. Afinal quem eu era?
Partimos a galopes na estrada de terra até as colinas a oeste, a floresta densa diminuía a visibilidade do local, o que dificultava na viagem, talvez por isso ela quisesse partir mais cedo…
Chegando à fortaleza, deixo Lensainesh junto dos cavalos e sigo para o meu quarto, me deitando na cama e tentando entender o conflito que tive em meus sentimentos mais cedo, eu não sabia muito sobre o meu eu atual ou sobre a história “verdadeira” dessa terra. Tudo o que eu sabia estava em minhas memórias que permaneciam emaranhadas, sendo que muitas delas eram de histórias que eu aparentemente tinha lido ou ouvido.
— Não posso confiar nem em minhas memórias então…
Levanto um pouco a minha cabaça, o suficiente para ver o céu estrelado que Lensainesh tanto encarava.
— Será que a resposta para as minhas perguntas está lá? — Eu estendo a minha mão e tento agarrar algo invisível, algo como um fio de esperança. — Se ela estiver lá, farei de tudo para pega-la.
Junto com os primeiros raios do sol eu me levanto e coloco o sobretudo, que eu tinha deixado dependurado na cabeceira da cama, e parto em busca de livros, perguntando a todos que encontro pelos corredores, onde poderia encontrar, até que enfim chego em uma grande sala, que era rodeada por estantes e mais estantes que permaneciam lotadas de livros e pergaminhos.
— Com licença. — Falo ao me aproximar de uma jovem que estava a olhar uma das prateleiras.
— Sim? — Ela fala se virando para mim e logo se espanta. — Senhor Kardurins! É mesmo o senhor?!
Diferente dos demais, ela vestia um manto branco sobre o seu corpo, seu cabelo preto não passava de seus ombros e seus olhos eram de um azul que brilhava como o bater dos raios de sol no azul do mar.
— Eu pensei que o senhor estivesse morto, pois nunca mais o vi por aqui.
— Me desculpe, mas eu perdi as minhas memórias sobre quem eu era e o que eu fui.
— Sinto muitíssimo senhor! Eu deveria saber que o senhor não voltaria inteiro! Opa! Acho que falei demais…
— Inteiro? Você sabe de alguma coisa?
— Eu não posso falar sobre isso, eu prometi ao senhor, de qualquer forma! Vamos começar do zero! Prazer, eu me chamo Cheine e sou a bibliotecária daqui, resumidamente, sou eu quem cuida dos livros.
— Você é que nem os outros… Não tem jeito.
— Me desculpe por não poder te contar, mas isso quer dizer que logo o senhor saberá a resposta da qual foi atrás. Não é atoa que você era um rato de livros, devorando tudo que via pela frente por aqui. Ainda não entendi o motivo de você ser a preguiça e não a gula.
— Talvez o meu eu antigo soubesse.
— De qualquer forma, se você chegou aqui talvez esteja atrás de respostas e conhecimento, nesse caso irei te passar uma lista de livros, que você deve estudar talvez eles te ajudem.
— Com licença. — Uma voz feminina ressoa no ambiente após três batidas dadas na porta. – Senhor Kardurins, Lensainesh me designou como sua guia pessoal para os próximos dias. Chamo-me Kenshene.
Era uma jovem de estatura média, seu cabelo assim como o da Cheine, era escuro e não passava de seus ombros, seus olhos de um azul, mas invés de mostrar luz e vida, eles estavam mortos, e assim como Cheine ela também vestia um manto, porem preto.
— Obrigado?
— Kardurins. — Cheine começa a falar, mas sem vida em sua voz. — Deixarei os livros no seu quarto para que possa lê-los.
— Obrigado.
— Me siga Kardurins, você está atarefado no dia de hoje.
Saindo da biblioteca seguimos novamente pelos grandes corredores de pedra branca até uma área ao ar livre onde a grama já havia dominado o chão e o sol podia brilhar sobre o pequeno rio que escorria pelo chão do local, e ao fundo uma visão privilegiada dos grandes picos nevados que dividiam o reino.
— Mestre Shinzao. — Kenshene junta às mãos e o cumprimenta se curvando levemente para frente. — Trouxe o Senhor Kardurins assim como Lensainesh havia dito.
— Obrigado irmã Kenshene. — Um homem se revela em meio ao ar e a responde.
Ele vestia uma túnica alaranjada, em sua cabeça não havia indícios de cabelo, e em sua mão direita ele segurava um bastão dourado no qual ele se apoiava.
— Irmã Kenshene você está dispensada até o por do ultimo raio solar.
— Agradeço Mestre Shinzao. — Ela o cumprimenta novamente e parte em seguida nos deixando para trás.
— Então você retornou ao lar, percursor do estilo Kiricase, se acha que irei pegar leve apenas por você ser um dos sete, se sinta traído por sua mente.
Ele estava a me rodear enquanto me olha dos pés a cabeça, como se me analisasse.
— Vou lhe ensinar a ter disciplina, força e conhecimento, as três dadivas de um bom guerreiro. Vamos iniciar com o básico a disciplina, tanto para o meio externo quanto para o interno.
— Shinzao, eu conto com os seus ensinamentos. — Falo o encarando fixamente.
— Resolveu falar então, se tem tempo para falar.
Em um movimento rápido o suficiente para que eu não pudesse notar, e logo sinto o forte golpe sendo dado em minhas pernas o suficiente para me derrubar, me deixando sentado de joelhos. Tento conter os meus gritos de dor, mas a minha respiração falha demonstrava que eu não tinha aguentado o golpe.
— Além de não ter modos, o seu físico está péssimo. — Ele suspira e logo prossegue. — Devemos começar com a sua mente que deve estar esmigalhada. Sim Kardurins eu conheço o seu passado, eu conheço os seus pecados, mas nem pense em perguntar, você deve encontrar as suas respostas, sozinho!
Meu passado? Meus pecados? Quem era o Shinzao para mim, sem contar que ele falou no começo que eu era o percursor do estilo Kiricase, afinal quem era eu?
— Você deve reestabelecer a sua mente a esvaziando, passaremos quantos dias forem precisos aqui para que você possa estar pronto para prosseguir.
— Certo!
— E a partir de hoje será: “Sim, Mestre”! Comecemos com uma meditação, esqueça o arredor e se concentre em sua mente, tente limpa-la, precisa nem se levantar, pode ficar de joelhos mesmo.
— Sim, Mestre!
Eu devo esquecer os meus arredores e me concentrar no interior, devo procurar a origem disso, a minha origem. A pedra! Uma pequena pedra de um tom vermelho como o sangue, no formato de um losango, você apesar de tão pequena é a culpada por tudo que conquistei e por tudo que está ocorrendo.
Ela se fundiu a minha mente conforme o tempo passou e agora eu e ela somos a mesma pessoa de certa forma, então me ajude pedrinha a ter uma mente limpa, vamos resolver o problema de nossas memórias deixando os nossos momentos e a sua verdade.
Após muito tempo sentado eu abro novamente os meus olhos e deixo os últimos raios do sol entrarem por eles, entendendo que não adiantava eu ficar apenas dando voltas, a paciência poderia se tornar uma forte aliada para mim nessa jornada que eu iria enfrentar.
— Obrigado, Mestre.
— Você conseguiu recolocar as ideias no lugar e entendeu a sua posição?
— Acredito que sim, Mestre.
— Excelente! Irmã Kenshene ele é todo seu, acabamos por hoje.
— Obrigado, Mestre Shinzao.
Ao me levantar vejo a pequena Kenshene me esperando diante da porta que levava para dentro da fortaleza de pedra.
— Venha Kardurins, a sua próxima aula ocorrerá no hangar, e após ela você será meu. — Ela lambe os lábios como se estivesse vendo um prato com a sua refeição diária.
Após chegarmos ao hangar sou deixado com uma equipe de soldados dos quais me ensinam o básico do funcionamento de uma aeronave antes de partimos para um teste real, subindo até onde a gravidade não nos afetava mais, e passando entre as arvores, montanhas e rios da região.
Era uma sensação única da qual poucos poderiam vir a ter durante as suas vidas. Mas mesmo que fosse de certa forma pilotar a nave eu ainda teria que aprender sobre o armazenamento de energia e que ação tomar no caso de algum propulsor ou motor ficar avariado. Seria um longo caminho para a minha escalada as respostas.
Retornamos ao hangar cerca de cinco horas após a decolagem, e como combinado Kenshene estava a minha espera para a ultima aula do dia…