Uma Nova Lenda Surge - Capítulo 8
Ao atravessar as grandiosas portas, com entalhes majestosos na madeira, que separam o meu quarto dos grandes corredores que seguiam por toda a construção, posso ver os livros que a Cheine havia me prometido mais cedo.
Vou na direção da pilha, seguido da Kenshene, uma jovem que agia de forma misteriosa e me causava certo incomodo, qual era o significado de suas vestes?
Os livros que permaneciam empilhados ao redor do único móvel do quarto, eram dos mais variados tipos, matemática, física, biologia, simbologia, astronomia e outros, era uma coleção de variados tipos de conteúdos. Mas talvez eu não tivesse tempo…
— Senhor Kardurins, irei iniciar a minha aula, se o senhor não se importar é claro. — Apesar de suas palavras aparentarem gentis, eu podia ver a malicia em seu olhar e lábios… — Irei te ensinar sobre o seu poder. Apesar de não parecer você é um dos seres mais poderosos que existem, se eu pudesse sugaria toda essa energia que você guarda…
— Energia? Essa energia seria o meu poder? — Falo ignorando a sua ultima sentença, e seguindo para a minha cama com um dos livros.
— Sim, os tolos chamam a capacidade da utilização dessa energia de magia, mas isso não passa de uma capacidade natural do ser vivo, assim como respirar ou se mover. — Ela fala, vindo em minha direção e se sentando ao meu lado.
— Magia…?
Talvez a magia, seja o mesmo que o poder dos deuses e oráculos, mas se ela fala que não passa de uma capacidade natural do ser vivo por que eu não conhecia isso antes?
— Mas nem todos os seres são capazes de usar essa energia como quiserem, e isso não é algo que se prende a alguma raça, isso é algo que se prende a tudo que é vivo.
— Seguindo essa lógica eu mesmo sendo um dos sete supremos, posso ser incapaz de utilizar essa energia.
— Pela lógica a sua afirmação está correta, mas isso não se aplica a você, pois tem que ser um ser “vivo”.
Assusto-me com a declaração da Kenshene, o que ela quis dizer com “tem que ser um ser vivo”? O que eu seria nesse caso? Eu estava realmente vivo? Ou eu era algo que transcende a vida?
— Não se preocupe com isso meu senhor.
Ela pega um dos livros que estava em uma das pilhas, ele falava sobre os elementos da natureza, em sua capa além do titulo: “A Alma do Mundo”, tinha o desenho de uma arvore sem folhagens, dentro de um circulo, em dourado. E após abrir em uma pagina no meio do livro, que tinha o desenho de círculos junto a outras formas e símbolos.
— Veja como exemplo esse circulo, ele possui o “im” de vida, esse é um circulo presente nos seres com a capacidade de controlar a energia, no seu caso tem o “am” de eterno, alguns seres tem o “ia” de continuo, esses no caso são seres são mais próximos dos “am”, mas podem morrer se atender a sua condição.
Ela me mostra os símbolos separados dos círculos aos quais pertenciam:
O “im” de vida, era um meio circulo, para esquerda encurtado, com dois pequenos riscos ao seu redor, um meio circulo, para direita, na esquerda do traço principal, e uma reta deitada inclinado para cima do lado esquerdo, na direita do traço principal.
O “am” de eterno, era um meio traço inclinado para a direita na sua parte superior, com três pequenos riscos ao seu redor, um meio circulo para baixo, na esquerda do traço principal, uma reta em pé, com a parte superior inclinada para o traço principal a esquerda, com um meio circulo, para cima, abaixo da reta.
O “ia” de continuo, era um espaço vazio, com quatro riscos ao seu redor, dois de cada lado, na esquerda um meio circulo, para direita, na parte superior, e um meio circulo, para cima, na parte inferior, na direita os outros dois, um meio circulo, para esquerda, na parte superior, e uma reta, de pé, com a parte superior apontando para o centro.
Cada traço principal possuía um significado, seja esse corpo, alma ou energia, e cada risco ao redor é o necessário para que aquele ser exista.
— O uso da energia, ou a “magia” para leigos, segue a mesma regra, mas no caso leva o “rin” de permanente, ou “sk” de sem tempo. Os símbolos são parecidos com “im” e “am”, a diferença está no corpo. No caso o corpo de “rin” é o mesmo de “am”, mas os riscos são de “im”, e “sk” segue o mesmo sentido.
Com o mesmo livro ele segue para outra pagina na qual tinha o desenho de um corpo sem gênero, demonstrando a causa de cada símbolo sobre ele. No caso da energia “sk”, o corpo não possuiria um tempo exato, ou seja, ele não estaria no passado, presente ou futuro, é algo mais para sempre estar lá e nunca ter estado lá. Já a energia “rin” seria o estado da existência e da transformação conforme o tempo, ou seja, a mudança do meio ou ser.
— Acho que você começou a entender como funciona meu Senhor, vamos pegar o estilo Kiricase primeiro, ele utiliza da energia “sk”, nesse caso, mesmo sendo a capacidade de criar armas feitas de pura energia do ser, quanto maior for a sua energia, mais forte será a sua criação. É um movimento como se o material nunca tivesse existindo, retornando ao seu ponto zero após um tempo.
Kenshene se levanta e vai até a pilha de livros onde procura por outro, ainda falando, ao encontrar o que desejava, abre em uma pagina especifica que explicava como utilizar do meu próprio corpo para criar essas armas.
— No estilo Kiricase existe cerca de vinte tipos de armas que você pode criar, mas como eu disse cada uma tem um preço, e esse preço pode te matar se você usa-lo de forma exagerada.
— O Shinzao havia dito que eu era o percussor do estilo Kiricase, isso é verdade?
— Sim, você foi uma das pessoas que foi relatado como usuário do estilo, meu Senhor… — Ela faz uma breve pausa e logo prossegue. – Continuando, mas assim como a água apaga o fogo, existe um estilo que pode incapacitar o uso do Kiricase, o estilo Kiniricase, assim como eu já disse, ele é o contrario do outro tanto que utiliza a energia “rin” do ser, reconstruindo a pele do usuário e a transformando em uma de suas vinte formas.
— As “magias” funcionam a partir das energias “sk” e “rin”, então para eu poder usar um estilo então eu tenho que ter a capacidade de usar uma dessas energias, é isso?
— O principio sim, mas não tudo, além das duas energias você tem que vibrar conforme umas das quatorze esferas, caso a sua vibração não for a mesma, isso poderá trazer serias sequelas para o seu corpo.
— E quais seriam essas esferas?
— São os elementos que você encontra na vida, sendo esses: fogo, água, ar, terra, gelo, natureza, eletricidade, trevas, luz, espirito, alma, principio, invocação e ser.
— Mas alguns desses elementos não são variáveis de outros?
— De certa forma sim, mas a vibração não é exatamente a mesma, peguemos como exemplo a água e o gelo, muitos usuários de água são incapazes de utilizar o gelo, e muitos acabaram morrendo, mas todos os usuários de gelo podem utilizar água, é como uma vantagem e desvantagem.
— Entendo, por mais que eu use água não quer dizer que eu possa usar gelo, isso é um pouco complicado vendo que em questão química seria a mesma composição só que um mais denso que outro.
— E por algum motivo essa exata densidade acaba por criar outra vibração, mas por algum motivo magma e fogo vibram na mesma intensidade, o universo é cheio de segredos, meu Senhor, e um de seus objetivos era desvenda-los.
— A questão das esferas vem da vibração vindo da minha energia “am” no caso?
— Para ser mais exata, vem da colisão da sua energia “am” com as energias “rin” e “sk”, quando uma energia se encontra com a outra ela gera uma vibração, voltemos a falar de Kiricase, quando a sua energia “am” se colide com a energia “sk”, ela gera uma vibração que no caso de ser aceita pela esfera da invocação, lhe permitira utilizar os estilos que correspondem a vibração gerada.
— No fim, não é algo tão simples assim quanto parece.
— Meu Senhor, não precisa se preocupar quanto a isso, na prática é mais fácil de realizar a utilização de um estilo. — Ela se levanta e caminha até ficar de frente para mim. — Como eu já havia explicado para a utilização de um estilo você tem que usar um vibração equivalente com a esfera, ou seja a sua própria voz já pode servir para a ativação de uma esfera, como por exemplo: Ceifadora de homens, peço-lhe para que corte todos que ficam em meu caminho, livrando-me de minhas amarras, décimo estilo Kiricase! — Após a breve oração da Kenshene, um brilho surge entre suas mãos e logo após, desse brilho o metal se forma e junto dele uma grande foice se estende ao longo de seu corpo.
— Realmente não parece ser tão difícil, mas dentro do período de tempo que você orou até o surgimento da arma, daria tempo de lhe matar ao menos duas vezes.
— Eu sei, e esse é um dos motivos pelo qual são poucos os que buscam aprender os estilos, mas por mais que eu tenha demorado, você pode conseguir fazer ser mais rápido, tanto a oração, quanto o surgimento da arma, é tudo uma questão de combinar as palavras.
— Entendi… Mas não parece tão simples quanto no começo.
— Com o tempo você se acostuma, mas não é apenas através da fala que você pode realizar a vibração, com o pensamento você pode fazer o mesmo, mas nesse caso você teria que ter pré-disposto um circulo, para que você possa ativar sem alertar o seu inimigo.
— Basicamente eu posso ativar de duas formas diferentes as esferas, uma delas é através da vocalização e a outra é através da escrita.
— Exatamente, meu Senhor. Mas apesar de poder usar a escrita o efeito é mais fraco do que através da vocalização, pois apesar de você poder transmitir às vibrações a partir de pensamentos e os círculos as capitarem, a sua voz irá gesticular os sentimentos e pensamentos com mais firmeza o que tornara o efeito mais forte.
— No caso o sentimento pode tornar o estilo mais forte do que o normal?
— Sim, ódio, felicidade, tristeza, amor e os demais, todos irão deixar a sua vibração ou mais forte ou mais fraca, dizem que o sentimento mais forte na voz é a falta de sentimento, falar em um tom gélido e apático. Gostaria de tentar, meu Senhor?
— Sim. — Apesar dos olhos mortos, e de sua voz sem vida, eu pude aprender muito com ela em uma única noite do que poderia aprender em uma semana inteira sozinho…
— Primeiro levante-se, e logo em seguida pense em uma oração para chamar adagas para o plano da existência, se quiser pode usar o numero do movimento, sendo esse o primeiro.
— Certo. — Eu me levanto e fecho os olhos, para analisar rapidamente todas as informações que me foram passadas nas ultimas horas. — Rogo-te pequena lamina assassina, corte aqueles que cruzarem a minha frente, primeiro movimento Kiricase! — Um pequeno brilho surge entre as minhas mãos e em poucos segundos a pequena luz se transforma em metal, no qual eu me atrevo a segurar com a mão direita.
Eu havia conseguido, uma pequena adaga que eu poderia usar para cortar a garganta de meus inimigos ou arremessar neles havia surgido em meio ao ar.
— Fico feliz que tenha conseguido, meu Senhor. Mas agora você tem que saber fazer voltar ao zero o metal, caso contrario, ele poderá sugar muito de sua energia.
— Certo!
— Primeiro mentalize a peça que você deseja apagar, depois faça o contrario inverso do que você usou para traze-la a vida, corte a vibração com uma vibração contraria, ou seja use a vibração “rin” em sua adaga. Para isso basta apenas você desejar com que a sua criação apague, saiba que você não pode apagar a criação de outro. — Ela estende a foice com uma de suas mãos e a larga no ar, o que faz com que ela suma como se nunca tivesse existido.
— Certo! — Seguindo o exemplo e a explicação dela eu tento gerar uma vibração do tipo “rin” na direção da adaga, que logo some, assim como a foice. — Incrível…
— É isso o que os tolos chamam de magia, mas não passa de um fenômeno natural, a partir de amanhã eu trarei pergaminhos nos quais você poderá treinar e lembrar as suas vibrações.
— Obrigado Kenshene.
— Não precisa me agradecer, meu Senhor.
Ela vai na direção da porta e após abri-la, ela se vira e fala:
— Amanhã irei te acordar junto dos primeiros raios, então não exagere nos estudos extras. — E se retira, fechando a porta.
Ela tinha razão, eu não deveria exagerar tanto, mas decido por começar meu estudo extra pelos livros que ela usou como exemplo e outros que fossem parecidos, para me aprofundar no assunto, e assim passei a noite antes de me ver com um dos livros abertos em meu colo e eu sentado na lateral da cama…