Vida em um Mundo Mágico - Capítulo 11
Dinheiro. Um fator que faz o mundo ir para frente, usado para pagar muitas coisas, indo de necessidades para trabalhos sujos. Pode ser uma dádiva nas mãos de boas pessoas, mas também pode ser desastroso nas mãos de pessoas erradas.
Obviamente neste mundo a coisa não muda. Os mais ricos governam tudo, mas meu objetivo não é governar nada, só preciso do dinheiro para meu próprio entretenimento e necessidades básicas. Não quero ser super rico nem nada, isso chamaria muita atenção e tudo que quero é o suficiente para viver uma vida considerada feliz.
— [Achei mais um.]
— Muito bem!
Nossa mais nova missão, coletar plantas medicinais. Essa missão paga melhor do que as outras que eu tinha pego, claro, desta vez é uma missão fora da cidade. Óbvio que seria mais perigoso, mas como já estou acostumado com campos e florestas densas, essa missão não é nada difícil.
— [Mais um aqui.]
O Sol está forte hoje e o céu está limpo. Os animais estão cantando e o cheiro da floresta é agradável, principalmente perto dos lagos. Como esperado do meu ambiente natural, digo, os metamorfos nascem e crescem na floresta, então me sinto em casa.
Normalmente eu não ficaria em um lugar assim, nunca se sabe que animal selvagem pode ser encontrado enquanto se caminha em uma floresta dessas. Mas minha força e percepção me deixa muito confiante e confortável nesses ambientes, como se eu fosse um predador muito poderoso. Mas eu com certeza sairia correndo se aparecesse outro da minha espécie, monstros de classe A são muito poderosos, com certeza eu morreria contra um se não tomasse cuidado.
Infelizmente a minha espécie são animais independentes e violentos. Nem se importam de arrancar a cabeça de um familiar, talvez os progenitores sejam uma exceção, mas nunca houve relatos de um progenitor andando com sua cria.
Mas os metamorfos podem se tornar inteligentes e andar com pessoas normais, mas são raras as ocorrências disso, como foi no meu caso. Eu consigo raciocinar graças a minha consciência humana, mas já aconteceram casos de metamorfos selvagens que aprenderam a agir como gente.
— Pronto. Já pegamos a quantidade necessária?
— [Sim. O cliente pediu 250 flores curandeiras, está certo!]
— Ufa, isso foi demorado. Mas vale a pena, 5 moedas de ouro é muita coisa.
— [Sim, com isso já recuperamos o dinheiro gasto que o rei nos deu, na verdade agora temos mais do que antes!]
Nós só gastamos algumas moedas de ouro até agora. Com uma já pude comprar 5 conjuntos de roupas, elas valem muito então vivi bem até agora. Olhando desse jeito parece que não vou ter nenhum problema financeiro por um bom tempo.
— Muito bem, vamos voltar agora e pegar outra missão!
— [Outra vez? Não precisamos fazer tantas missões de uma vez.]
— Então vamos fazer só mais uma e terminamos por hoje, certo?
Enquanto caminhava algo veio a minha mente do nada. Me lembrei novamente daquele homem que estava tentando me vender quando cheguei aqui. Achei estranho ele dizer que iria me vender por eu ser um metamorfo sendo que ninguém da cidade que sabe o que eu sou me tratou como mercadoria. Então eu decidi perguntar para Merlin sobre o assunto.
— [A venda de vida selvagem é proibida em todos os reinos. Metamorfos são uma espécie selvagem e agressiva — sem ofensas — as pessoas devem manter distância deles.]
— Então a venda é proibida, mas por que aquele aventureiro estava caçando metamorfos?
— [Talvez algum trabalho ilegal.]
— Isso é preocupante. — uma gota de suor escorreu pelo meu rosto
— [Mas se isso já faz muito tempo. Não tem nada com o que se preocupar, com certeza não é nada.]
Eu fiquei pensando naquilo por alguns minutos mas logo tentei esquecer e focar no que eu estava fazendo.
Quando cheguei na guilda recebi meu dinheiro e fui para o mural pegar mais uma missão. Depois de observar bem as minhas opções eu escolhi uma um pouco arriscada.
— Pegar um chifre de um urso verde. Classe de ameaça A.
— [Não parece ser difícil, mas você não tinha dito que não queria lutar?]
— Mas eu não vou lutar com ele, só vou pegar o chifre e, se possível, não quero matar o urso, aqui diz que ele tem uma habilidade de regeneração então o chifre dele pode crescer de novo.
*Um monstro de classe A tem a possibilidade de me matar pois estamos na mesma classe, então a força dele não deve estar tão distante da minha, mas eu tenho a inteligência e habilidades não naturais do meu lado.*
— [Se você diz, então vamos atrás dele. Está dizendo onde encontrá-los, não?]
— Sim, ele fica perto de lugares rochosos. Então vamos andar perto de alguma montanha.
—
Levou um tempo até chegarmos em uma montanha, foi apenas meia hora de caminhada.
Eu e Merlin ficamos escondidos esperando o momento certo para atacar. Obviamente temos um plano, mas o plano consiste em atordoar o urso para que possamos pegar o chifre e correr.
Merlin usaría sua habilidade para sacudir um pouco o cérebro do animal, já que ele está desprotegido e isso claramente é uma vantagem pra gente. Após isso eu iria apenas puxar o chifre bem rápido e me esconder.
Merlin é uma multitarefas, espíritos são uma espécie muito poderosa, com alguém como ela ao meu lado não pode dar errado, certo? Errado! O urso correu a toda velocidade antes mesmo de colocarmos o plano em ação e começou a chover lava.
O ambiente estava cheio de fumaça e fogo para todo lado. De longe dava para ouvir explosões, por um momento pensei que estávamos sendo atacados por algum monstro, mas me surpreendi, desta vez foi um tipo diferente de monstro.
Havia duas pessoas brigando, um garoto alto de pele escura e uma garota também de pele escura um pouco mais baixa que ele. Os dois de cabelos vermelhos flamejantes se atacando com toda a força, os impactos eram gigantes, a montanha estava derretendo e o chão se transformava em lava.
Eu fiquei boquiaberto observando o garoto Burst lutando no topo da montanha. Eu sabia que ele era forte, mas não esperava que fosse nesse ponto, parece que temos um prodígio aqui.
Mas aquela garota também não é pouca coisa, mesmo depois de tantos ataques em área ela ainda está ilesa, mesmo quando os golpes acertam. Os dois manipulam o fogo, mas julgando pela vista que estou tendo, ela consegue usar melhor os próprios poderes. Ela consegue se defender das chamas de Burst as manipulando para fora de seu caminho, foi a primeira vez que vi alguém interferindo no domínio de outra pessoa.
*Será que eu deveria ajudá-lo?* Eu olhei para a garota que atacava Burst sem descanso. Fiquei em dúvida se eu realmente podia contra ela, mas meu pensamento foi interrompido quando Burst caiu bem na minha frente.
— Ai, ai, ai! — ele gritava enquanto segurava sua cabeça
— Burst, o que diabos você está fazendo?
— Ah?! O senhor está aqui?!
*Não me venha com essa!*
A garota então caiu onde Burst estava, o esmagando no chão. Eu a vi chegando antes então saltei para trás para não ser atingido, Merlin apenas me seguiu.
— Seu pirralho maldito! Pare de me dar trabalho, todo dia eu fico preocupada e nem consigo dormir direito! Então cale a boca e venha comigo! — ela disse com muito ódio e loucura estampado em seus olhos, parecia que estava mesmo desesperada
Naquele momento tudo ficou claro para mim, aquela garota faz parte da família de Burst e veio buscá-lo, mas não entendi o motivo de tanto exagero. Com o que ela está preocupada? Neste momento ela representa mais perigo para ele do que qualquer outra coisa.
— Eu já disse que não vou voltar! — Burst rugiu de volta
— S-seu, cale a boca e volta logo, pare de me preocupar! — ela então pisou no peito de Burst com mais força, o que o fez cuspir sangue
Claro que depois disso eu decidi interferir. Eles dizem que nessas situações é bom chegar na voadora, mas decidi tentar uma abordagem mais normal.
— Com licença, senhora, poderia parar agora? Ele está sangrando muito — eu disse forçando um sorriso no rosto.
— Eh? Quem é você?
*Será que foi a abordagem errada? Que cara assustadora ela está fazendo.*
— Meu nome é Jarabahad, sou eu que estou cuidando desse garoto, por enquanto.
— Então é você. Isso explica como ele conseguiu sobreviver por tanto tempo. Pois bem, sou a irmã de Burst, Jane (A assassina).
— [Que nome amigável.]
— Como pode ver estou levando ele de volta para a casa, então fique tranquilo. Não é como se eu fosse matar ele — ela disse ignorando o comentário de Merlin —, agradeço por cuidar dele por todo esse tempo, mas agora deixe a família cuidar disso.
Eu tinha dito que esperaria eles virem atrás dele e conversarem sobre todos os seus problemas, mas não esperava que seria desse jeito.
Enquanto Jane estava distraída, Burst atacou ela com uma rajada de fogo que acertou seu rosto. Ela então pulou para trás mas com parte de sua face queimada, o que a deixou mais irritada.
» Nome: Jane Redline
Espécie: Humano
Idade: 19 anos
Gênero: Feminino
Classe de ameaça: (S-) «
» Nome: Burst Redline
Espécie: Humano
Idade: 16 anos
Gênero: masculino
Classe de ameaça: (A) «
*Uma classe S-, eh? Isso sim é um problema, com certeza não é possível Burst vencer essa luta. O único jeito é resolver na conversa ou deixar eles brigarem e aceitar o resultado.*
— Você não precisa fingir que está preocupada comigo! Eu sei que você está irritada porque eu que vou assumir o trono de nosso pai, mesmo eu sendo inferior a você!
— Eu não estou irritada com isso! Estou irritada com você por ser tão imprudente!
— Exatamente! Você está irritada comigo porque não quero ser rei enquanto você se esforça tanto é faz tudo melhor do que eu, uma candidata perfeita para o trono! Tudo que vocês falam é sobre rei, reino, coroa, corte e blá blá blá, peguem essa merda e vão pro inferno!
Os dois pararam os ataques de fogo e começaram a bater boca, as coisas estavam esquentando em muitos sentidos.
Eu não sabia o que fazer então decidi deixar eles brigarem e me afastei um pouco.
— Do que você está falando? Então o que você quer, Burst?! — ela gritou enquanto suas chamas curaram suas feridas
— Uma família! É isso que eu quero! — com isso Burst desapareceu dentro de um círculo de fogo
Desta vez ele soltou tudo que pensava pra fora. Jane também parece estar um pouco abalada, não vou mentir que eu também estou. Acho que finalmente entendi os sentimentos de Burst, pelo menos um pouco.
— [O que acontece agora?]
— Eu não faço a mínima ideia…
Jane ficou parada onde estava e suspirou. Olhou para mim e Merlin por um momento e desviou o olhar para a destruição que eles causaram, então levou sua mão a sua nuca.
A raiva em seus olhos passou, agora ela não parece ser uma maluca que foi a impressão que me passou anteriormente. Neste exato momento ela deve estar pensando no que acabou de fazer e isso a deixou envergonhada, muito compreensível.
— Ei, você disse que seu nome é Jarabahad, certo? — ela perguntou ainda de costas para mim
— Sim, isso mesmo, Victor Jarabahad.
— Há quanto tempo está cuidando do Burst?
— Há pouco mais de uma semana.
— Então, como ele é?
Eu tentei responder as perguntas dela com clareza e sinceridade. Mas aquela última me pegou desprevenido, por um momento pensei que ela estava só reunindo informações para contar ao rei de sei lá o que, mas percebi que era algo mais pessoal pelo seu tom de voz.
— Ele é um garoto animado e generoso, do tipo que faz qualquer um querer ser amigo dele. Ele gosta de roupas extravagantes e brilhantes pois acha que elas fazem ele brilhar mais do que o normal, ele não gosta de vegetais de forma alguma, mas os come mesmo assim para agradar a pessoa que fez a comida — eu pausei para ver como Jane estava reagindo, quando vi que estava tudo bem eu continuei —, ele também sempre tenta não depender dos outros pois acha que seria um incômodo, por isso tenta guardar seus sentimentos e problemas para si mesmo.
Naquele momento eu escutei Jane fungando, mas ao mesmo tempo ela estava tentando esconder. No mesmo momento ela levou seu braço esquerdo para seu rosto, ainda de costas ela suspirou.
— Você sabe de tudo isso e só esteve com ele por uma semana. Francamente eu sou um fracasso…
— Hum… — eu tentei falar alguma coisa mas decidi ficar quieto
— Vou voltar para a casa agora, se você ver o Burst diga para ele que vou conversar com papai sobre tudo isso. Adeus — ela então desapareceu em um círculo de fogo igual a Burst.
Eu fiquei parado no local por alguns segundos até perceber onde eu estava.
Uma montanha que não se pode mais ser chamada de montanha, agora esse lugar é um vulcão.
— [O que foi isso que acabou de acontecer?]
— Talvez o começo de uma reconciliação de família. Acho que as coisas vão melhorar agora.
— [Mas o Burst não quer ser rei.]
— Ele é jovem, não quer ficar a vida sentado em um trono. Dê tempo a ele, quando ele explorar e se divertir muito ele vai entender e decidir o que quer de verdade.
Tudo que me restava era esperar o melhor, ainda não entendo como a política desse mundo funciona, na verdade eu não entendia nem a política do meu mundo.
A família real de Cirgo não pareceu ser tão rigorosa como a de Burst, lá obviamente todos se amavam, até mesmo lutaram contra um demônio para proteger sua família e cidadãos. Será possível serem tão diferentes uma da outra?
Mas não importa mais, agora o melhor que posso fazer além de esperar e concluir a missão e ganhar meu dinheiro, certo? Errado! Vou apenas desistir dessa missão e voltar para casa.
—
Voltei para a casa como havia dito, porém Burst estava lá, sentado na mesa esperando.
— Bem vindos de volta — disse Burst tentando esboçar um sorriso.
Eu queria muito perguntar várias coisas para ele, mas consegui me segurar. Acho que é melhor parar com esses assuntos tristes e preocupantes por hoje.
— Ei, você já jantou? — eu perguntei
— Não, mas acho que já está muito tarde para jantar.
— Que nada, dessa vez vou me juntar a você. Estou com vontade de comer alguma coisa. Já comeu Kafta?
— Não, o que é isso?
— Tenho certeza que você vai gostar. Merlin, passa a receita!
— [E lá vamos nós, não vamos queimar a cozinha dessa vez.]
— Oh! Me deixe ajudar também! — disse Burst enquanto animadamente correu para a cozinha
Fiquei feliz em ver o garoto sorrindo no final do dia. Mas eu senti algo me observando, foi um sentimento estranho mas decidi ignorar isso e aproveitar a noite.