Vida em um Mundo Mágico - Capítulo 14
Arrependimento. Uma palavra perfeita para definir o que estou sentindo.
Se passaram alguns dias desde a evolução de Merlin. Nós não saímos da vila ainda, na verdade, nós fomos para uma cidade maior perto da vila, era apenas para conhecer. A praia e tudo estava muito divertido, porém agora estou sendo repreendido por uma autoridade.
Uma mulher alta de cabelos curtos e pretos, usando um jaleco amarelo e um cachecol vermelho. Mesmo estando calor ela usava um cachecol e acima de tudo, olheiras, esta mulher parece que não dorme a dias.
— Você tem noção do quão perigoso é isso? — ela perguntou movendo suas mãos e cabeça em sinal de discordância
Mas espere, deve ter um motivo para isso estar acontecendo, certo? Sim, existe um motivo, um motivo muito bom na verdade, então não tenho direito nenhum de ficar irritado com a moça que está me dando um sermão.
Depois de Merlin aprender a falar e outras coisas que ela não sabia, como se nunca tivesse tido um corpo para controlar antes. Nós decidimos testar um pouco os poderes dela, mas é claro que não fizemos nada em um lugar público, fomos bem distante na floresta de bambus. Burst e Jane não vieram junto, nós os deixamos na praia para eles aproveitarem o tempo livre, afinal estavam ansiosos para isso.
Merlin então começou a testar seus poderes, para começar ela fez coisas básicas para ela, como voar. Porém do nada ela criou uma esfera de energia gigantesca, como sou cuidado tentei avisá-la que talvez aquilo fosse perigoso demais. Mas de alguma forma ela me convenceu que estaria tudo bem, então a energia foi lançada. Nós não esperávamos que ela iria tão longe, no final nós destruímos a casa de descanso desta mulher.
Mas mesmo irritada ela continua falando sobre como isso seria perigoso se tivesse pessoas por perto. Ela não se importa de ser com ela, mas diz que não deveríamos fazer isso perto de outras pessoas mais fracas. Mesmo estando dentro da casa ela não sofreu nenhum dano, por ser muito forte ela ficou bem, mas poderíamos ter matado alguém inocente em uma situação parecida.
— Nos perdoe, não faremos isso outra vez — eu disse abaixando minha cabeça, Merlin fez o mesmo.
— Muito bem. Vou relevar isso, não é necessário um fuzuê por algo assim.
Ela então se virou para ver sua casa destruída. O corpo está de pé, mas o seu espírito parece que caiu de joelhos.
Tenho certeza de que ela está pensando na grana que vai ser para consertar tudo. Mas a culpa foi nossa então acho justo ajudá-la. Merlin olhou para mim, provavelmente pensando na mesma coisa, então eu dei um sinal com a cabeça indicando a confirmação.
— Então, por favor, nos deixe pagar pelos danos — disse Merlin, ela ainda têm dificuldades com algumas palavras mas ela está se saindo bem agora.
— Se você diz, então obrigada.
O espírito ficou em pé novamente. Mas agora, quanto será que custa o conserto de uma casa daquele tamanho? Era muito grande mesmo, mas não parecia ter muita coisa dentro.
Eu então olhei para Merlin. Mas ela parecia feliz, como se estivesse com um plano.
— [Não se preocupe. Eu contatei Jane usando telepatia, ela vai cobrir os custos!] — disse Merlin em minha cabeça
Eu apenas suspirei e decidi deixar quieto. Mas do fundo do coração eu espero que Jane não fique irritada com a gente.
» Nome: Killisviel Graal
Espécie: Humano
Idade: 27 anos
Gênero: Feminino
Classe de ameaça: (S+) «
Mais velha do que eu… Mas deixando isso de lado, que classe é essa? Nunca vi ninguém com uma classe S+. Pensei que S era o limite, mas parece que eu estava errado. Ela é forte, muito forte.
— Mas deixando tudo isso de lado. Nunca vi um metamorfo andando com um espírito, vocês são monstros especiais?
Uma habilidade de análise também. Isso já é esperado, com certeza ela deve ter muitas habilidades. Levando em consideração seu rank não duvido que tenha mais de uma habilidade classe S.
— Não sei o que quer dizer com “especiais”, mas nós estamos juntos desde o começo, apenas viramos bons amigos. — eu respondi
— Isso é estranho, você parece um adulto pelo modo de falar, mas tem pouca idade. No começo pensei que você veio de outro mundo como é a maioria dos casos, mas não tem nada escrito na sua descrição.
O que ela disse chamou minha atenção, então decidi questioná-la um pouco.
— Sim, eu sou de outro mundo. Mas você consegue identificar isso?
— Então você é mesmo. Sim eu consigo identificar com minha habilidade, mas você é diferente dos outros, para minha habilidade você é um monstro nativo daqui.
Então para as habilidades eu não vim de outro mundo, essa é uma informação boa para manter. Mas não quero questioná-la mais, ela parece estar muito triste, meio que me lembra eu no outro mundo.
— Você parece cansada, moça — disse Merlin.
— É verdade, estamos enfrentando tempos difíceis, como cavaleira eu tenho muito trabalho para fazer.
— Uma cavaleira? Acho que já ouvi falar de você, seu nome é…
— Killisviel Graal a (Santa). Eu sei que meu título é horrível.
O espírito dela caiu outra vez. Ela tem problemas de autoestima? Pois parece muito.
— Sim! Eu sei quem é você! Você é muito famosa, muitos cavaleiros novatos querem seguir seus passos, você é como um pilar para eles!
— Sério? Fico feliz em ouvir isso, mas eu não queria chamar tanta atenção assim.
De fato, ser um pilar quer dizer que todos irão se inspirar em você, mas se você cometer erros todos vão notar e sua reputação cairá bem rápido. Em outras palavras, isso adiciona um peso enorme nos ombros, o medo de errar.
Estou sentindo o cheiro da Jane, ela está se aproximando. Merlin é muito boa em dar informações, como ela conseguiu descrever perfeitamente onde Jane teria que vir? Parece que Burst está com ela também, impressionante, jurava que ele ficaria na praia.
— Odeio interromper a conversa de vocês, mas ainda temos que resolver aquilo. — eu disse apontando para os escombros da casa
— É mesmo… — disse Killisviel, o espírito dela se quebrou de novo quando olhou para a sua casa.
Não demorou muito para Jane chegar no local. Foi um encontro bem desconfortável, principalmente para mim. Me senti irresponsável por ter causado tal alvoroço, principalmente por obrigar Jane a pagar por ele.
Mas com um pouco de conversa e dinheiro a situação foi contornada e resolvida sem muitas preocupações.
Jane já conhecia Killisviel Graal, de uma forma ela é a cavaleira com mais influência e fama no reino humano. Sabendo desta informação eu não esperava que ela fosse tão miserável. Mas no final ela me entregou um cartão de contato, caso eu estivesse com problemas eu poderia chamá-la imediatamente, então até que eu tive sorte, ter alguém forte como ela de suporte vai ser bastante útil.
Nós então voltamos para o hotel que ficava perto da praia, obviamente Jane estava nos bancando, não vou mentir que me sinto incomodado por isso, mas na minha situação atual não posso fazer nada se não aceitar, afinal, ela é da realeza, mesmo que não aparente muito.
Burst estava assistindo TV com Merlin enquanto eu estava na varanda do hotel. Além de apreciar o vasto horizonte azul eu tentei rever um pouco das habilidades que eu já tenho.
Graças a 『Recarga Natural』 minha energia aumentou muito, com certeza não preciso me conter muito na hora de gastar. Mas tirando isso meu potencial de ataque está muito abaixo da média, minha força física é esmagadora mas será inútil contra oponentes intangíveis como Jane e Burst, que conseguem transformar todo seu corpo em fogo, até mesmo Merlin pode ficar intangível se quiser.
Minha 『Manipulação de Gelo』 é a única habilidade de ataque que tenho que pode ser utilizada no momento, o motivo de fogo não ser eficiente já deve estar claro, com Jane e Burst aquí meu poder de fogo é nada comparado aos deles.
Eu não queria pensar muito nisso, meu sonho era ser feliz e não ser forte. Mas será que o melhor seria me fortalecer agora?
— Está pensativo? — Jane perguntou aparecendo atrás de mim com seu teleporte
— Sim, estou pensando que talvez eu devesse me fortalecer também — eu respondi me apoiando na grade da varanda —, acho que estou mais fraco do que um metamorfo comum.
— Isso é verdade — a resposta de Jane me deixou pasmo mas era a verdade —, um metamorfo é selvagem e feroz, nunca perde uma luta sem arrancar um dente do oponente antes. Comparado a eles você é bem inferior, mas é mais inteligente.
A verdade dói, mas preciso aceitar. Mesmo ela dizendo que sou mais inteligente não significa muito, quantas pessoas inteligentes um metamorfo já assassinou na força bruta e na ferocidade?
— Mas olha só, com um pouco de treinamento você conseguiria ser muito forte. Não pegue tão pesado com você mesmo, você não tem nem um mês de idade ainda, logo você vai se tornar mais forte.
Olhando por esse lado ela tem razão, mesmo minha mente sendo mais velha, este corpo é muito jovem, como um monstro recém nascido. Acho que tenho que dar tempo para mim mesmo.
— Obrigado Jane, isso fez eu me sentir um pouco melhor. Mas mudando de assunto, você veio aqui falar comigo por outro motivo, certo?
A garota sorriu e concordou com a cabeça. Ela então criou chamas sobre suas pernas e ficou flutuando nela com as pernas cruzadas.
— Eu vim aqui fazer uma confissão. Pode me ouvir?
Eu esperaria uma confissão vindo do Burst, pois ele sempre faz besteira. Mas Jane? Isso sim é uma surpresa.
— Claro. Serei seu ouvinte — eu disse me sentando em um banco que estava lá.
— Como você já sabe eu vim aqui para vigiar Burst como moeda de troca da liberdade que ele tanto queria. Mas além disso eu fiquei curiosa sobre você também, principalmente quando vi que conhecia muito bem o meu irmão. Eu queria saber o que o fez ficar tão apegado a você e a Merlin tão rápido. Esse foi um dos meus motivos de estar aqui, uma vontade própria minha.
— E você descobriu o que queria?
— Sim, descobri muitas coisas. Também descobri que você veio de outro mundo.
— Eh? Você percebeu?!
— É difícil não notar. Mas agora voltando ao assunto, percebi que você não só o trata bem, mas se preocupa com a segurança dele. No começo pensei que me trataria diferente quando apareci na sua casa, mas me enganei, até agora você se preocupa com todos e estou me incluindo nisso. Então eu percebi que Burst vê em você a figura paterna que sempre quis e em Merlin, a irmã mais velha forte e legal, coisa que eu não consegui ser para ele.
Estou impressionado com o quão observadora ela é. Mas olhando para mim, não me vejo sendo uma figura paterna, quer dizer que eu estava sendo isso todo esse tempo? Não tem como eu saber, nunca tive um pai que cuidasse de mim.
Mas Burst está ficando mais confortável perto de Jane. Ela também parece estar sendo mais sincera, os dois aprenderam alguma lição importante no final.
— Eu… Não sei o que dizer. Mas olha só, você até que é legal quando não está fazendo nada perigoso. Com certeza as coisas vão melhorar na sua família, claro, quando vocês dois voltarem para casa.
Jane voltou para o chão e se esticou. Eu percebi um Burst curioso sobre a nossa conversa, observando do sofá da sala.
— É vergonhoso dizer isso, mas eu queria ter um pai como você também — ela se virou e abriu a porta para entrar na sala —, nós vamos voltar para a casa algum dia, mas até lá, por favor cuide bem da gente.
Com isso ela foi para dentro e se sentou ao lado de Burst e Merlin. Burst obviamente foi questioná-la sobre o que estávamos conversando, mas ela se esquivou das questões com maestria. Merlin só estava ignorando os dois, nunca a vi tão obcecada por um programa de TV, principalmente por um desenho animado.
No final eu não entendi direito, por que eles ficam tão felizes comigo por perto? Eu não sou tudo isso.
—
No salão dos espíritos estavam os dois Lordes dos mortos, Pardal e Esquilo. Eles estavam reconstruindo seu guardião do zero, mas desta vez com algumas melhorias.
Pardal estava quieta reconstruindo o guardião do zero, molécula por molécula, vetor por vetor, tudo do guardião era feito por Pardal. Esquilo se encarrega da alma e habilidades que o guardião possuirá quando for ativado.
Esquilo estava pensativo dessa vez, como se algo muito raro tivesse acontecido. Para alguém tão velho ver algo novo deveria ter sido uma alegria incontrolável, mas ele estava em dúvida se era algo bom ou ruim.
— O que está pensando, Esquilo? — perguntou Pardal percebendo que Esquilo estava muito quieto
— Jarabahad, nem me lembro da quantidade de vezes que o vi aqui. Sempre é de uma forma diferente.
— Ele parece bem, está forte, bem cuidado. Já o vi em forma pior. Essa foi a versão mais neutra que vi dele, as outras eram muito malignas, era assustador.
— Você acha? De fato ele era um cara bem “lelé da cuca”. Me pergunto o que aconteceu com este aqui, ele está muito bonzinho, não acha?
— Não acho que “bonzinho” seja a palavra certa Esquilo. Para mim este é o Jarabahad mais assustador que pisou no salão dos espíritos. Os outros não tiveram uma Merlin para ajudá-los e acabaram ficando loucos, mas este tem um tipo diferente de loucura.
Esquilo pensou mais um pouco, ele analisou bem o que Pardal disse. Depois de um tempo ele chegou a uma conclusão.
— Você está certa. Ele é muito mais assustador…
Eles estavam enxergando alguma coisa que fazia o metamorfo de cabelo preto assustador, mas nem mesmo eles entendiam o que era.
Com isto os dois não se falaram até a conclusão do guardião. Ficar juntos por tantos anos criou uma relação estranha entre os dois, como se fossem irmãos gêmeos, mas ao mesmo tempo é uma relação profissional dedicada apenas ao trabalho.
Enquanto conversavam, o guardião foi construído. Ambos estavam prontos para esperar o próximo desafiante, talvez mais um espírito forte nascesse para desafiar o guardião.
O salão dos espíritos é o local onde todas as almas se encontram, não importa o tempo ou espaço que viveram, mas Pardal e Esquilo não conseguiam ver a história dessas almas. Então eles sempre viam versões diferentes da mesma pessoa muitas vezes.
O salão dos espíritos tem um tamanho infinito, incalculável. É impossível encontrar uma alma específica lá dentro, quem tentasse apenas viajaria por toda a eternidade.