Vida em um Mundo Mágico - Capítulo 23
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Era uma sala de aula normal, as paredes eram azuis, o teto era branco. Eu me sentava na primeira fileira na terceira mesa, do lado da parede.
Era o 3° ano do fundamental, eu já estava acostumado com os rostos das outras crianças mesmo não tendo nenhuma conexão muito profunda com nenhuma delas. Minhas interações sempre foram quando éramos obrigados a trabalhar em grupo, mesmo assim eu não gostava de falar com ninguém.
Seria idiotice da minha parte dizer que algumas delas tentavam conversar comigo e criar uma amizade, pois quando eu aceitava essa “amizade” com o passar do tempo eu só virava mais um qualquer que só usavam para se beneficiar, como pedir às respostas das atividades ou emprestar um lápis e uma borracha.
Quando penso nisso eu percebo que nunca me senti querido em uma sala de aula, eu nunca fui um poço de inteligência, haviam pessoas muito mais inteligentes na minha sala, como o famoso gênio da sala. Mas mesmo assim eu não via eles como inteligentes também, era um sentimento estranho.
Qual palavra eu usaria para me representar em todo o meu período escolar? Apático seria essa palavra, nunca me importei com o que acontecia na escola de verdade, ou melhor, eu parei de me importar quando cheguei no 4°ano.
Sim, eu sofri bullying no começo, mas parece que até aqueles idiotas pararam de mexer comigo quando perceberam o quão sem graça eu era.
Eu nunca parei pra pensar sobre o motivo de eu não me importar com nada, “sou ruim em matemática? Eu não ligo, eu posso tirar uma nota mediana de qualquer jeito”.
O mundo não me jogou para baixo, de fato minhas notas eram médias mesmo sem eu me esforçar, sempre tirava um 5 ou um 6, nada além disso. Mas um dia minha mãe, Victoria, me disse algo.
— Suas notas em matemática estão bem baixas em comparação com as outras matérias.
— Me desculpa, não sou tão bom assim, ao ponto de ter uma nota boa em tudo.
— Está tudo bem, você não precisa ser bom em tudo, também nunca fui bom em matemática. Mas não desista tão cedo, tá bom?
— ….
— Tá bom…? — ela disse de novo bagunçando meu cabelo
— Tá, tá bom…
Ela sempre via os meus boletins. De fato se importava comigo, eu diria que fui sortudo de ter alguém como ela para cuidar de mim.
Mesmo respondendo de uma forma apática eu decidi estudar matemática um pouco mais depois daquele dia. Como esperado minhas notas aumentaram para 8 ou 9, isso deixou ela muito feliz.
Resumindo, sempre que ela comentava sobre alguma coisa em que eu era ruim, mesmo sem me cobrar desesperadamente para melhorar, eu tentava melhorar naquilo o mais rápido possível.
Mas olhando agora eu vejo que eu fiz tudo isso por ela em específico, nunca foi por mim. Talvez seja gratidão, culpa ou qualquer outra coisa.
Com minha melhora consecutiva em várias matérias, meu professor até disse que eu era algum tipo de gênio. Talvez eu seja mesmo, mas nunca me importei, mas depois de ser exposto como um gênio na escola eu senti como se tivesse entrado direto no inferno.
— Victor me ajuda nisso?
— Vamos lá me dê uma mão, eu posso ser sua amiga se me ajudar nisso.
— Ei Victor, nos ajudar nessa questão a gente deixa você sentar com a gente no intervalo!
Era de fato um inferno, começaram a falar comigo direto depois daquilo, até recebi um pedido de namoro de uma garota bonita, mas eu vi aquilo como um pedido de trabalho em tempo integral, obviamente recusei.
Mas então eu não quis mais ajudar ninguém e comecei a dizer que não sabia fazer o que queriam.
— O quê?! Como assim você não sabe fazer isso?!
Francamente, eles não tinham direito nenhum de me cobrar. Aquilo me irritava demais.
Minha mãe era a única pessoa no mundo que tinha todo o direito de cobrar coisas de mim, mas nunca disse um “a” sobre isso. Com o tempo fui eu que quis me tornar alguém melhor para poder entregar tudo para ela por vontade própria.
Aprendi muitas coisas, cozinhar, lavar roupa, faxinar, escrever, desenhar, cantar e até dançar. Em quanto tempo eu aprendi tudo isso? Demorou apenas 4 anos para ser intermediário em todas aquelas atividades.
Eu poderia ser um escritor? Sim. Eu poderia ser um cantor? Sim. Mas eu fiz isso? Não.
Eu poderia ser um programador? Sim. Poderia ser um pesquisador? Sim. Eu fiz isso? Não.
Mas isso foi bem depois, antes disso eu tive outro problema.
Bem, eu fui preso com 12 anos de idade, fui acusado de um assassinato. Uma pessoa que me irritava muito na sala de aula acabou morrendo no banheiro masculino.
Por coincidência ele foi ao banheiro depois de mim, mas ele não parecia querer me incomodar naquele dia, então apenas entrou no banheiro sem nenhuma má intenção, como eu fui primeiro voltei pra sala primeiro, mas o garoto não voltou para a sala.
Ele foi encontrado com a cabeça dentro do vaso sanitário. Obviamente me culparam, fiquei preso em uma instituição para menores por alguns dias.
No final fui declarado inocente, foi descoberto que o garoto estava demonstrando desejos suicidas. Acho que isso já explica tudo.
É uma situação triste, um garoto tão jovem tirar a própria vida desse jeito.
Da minha família apenas a minha mãe e minha tia me tratavam bem, meu vô e minha vó me odiavam, mas conforme o tempo se tornaram indiferentes em relação a mim.
Mas eu só precisava de uma pessoa, uma pessoa para me segurar e dizer que eu sou importante, uma pessoa para ser minha motivação. Eu preciso me laçar a mais alguém, não sei o que eu faria se minha mãe me abandonasse do nada, talvez eu simplesmente ficasse louco.
Minha única razão de estar vivo e melhorar era para deixar ela satisfeita comigo, provar que meu nascimento não foi um erro, que eu posso trazer coisas boas para ela, que o tempo que ela gastou comigo não foi um desperdício.
Mas depois de ser demitido do meu emprego na qual eu me dediquei tanto eu fiquei perdido. Todas as minhas habilidades, as coisas que aprendi não significavam nada.
Até que depois de mais um dia cheio entregando currículos por aí eu voltei para casa e fui direto para o meu quarto e fui dormir. Quando acordei apenas uma pergunta perambulava pela minha cabeça “onde estou?”.
Quando cheguei nesse mundo esquisito eu estava confuso, mas decidi seguir em frente, mas com o tempo naquela floresta eu fui ficando irritado, pensando o quão injusto era Deus ter me mandado para lá antes mesmo de eu ter conseguido cumprir o que eu queria.
Para relaxar e deixar minha raiva ir embora eu acabei dando um soco muito forte naquele homem que ficou me incomodando.
Quando cheguei naquela mansão, tive que dormir na cozinha coberto com panos de mesa. Naquela noite eu fiz o possível para tirar o pensamento de tirar minha própria vida da cabeça.
Eu não queria morrer daquele jeito, o pensamento de ter que viver de tudo de novo, aprender o que eu não sabia, me adaptar, aquilo me assustava tanto. Tentar de novo e simplesmente falhar, pensando naquelas coisas eu consegui passar a noite.
No dia seguinte eu quis manter um pensamento positivo, eu não queria ser igual aquele menino que morreu na minha escola. Mas eu sabia que se eu caminhasse sozinho naquele lugar alguma criatura acabaria me matando, mas pelo menos não seria pelas minhas próprias mãos.
Mas então aquele espírito bizarro apareceu assustando minha alma pra fora do meu corpo. No começo eu pensei que ela iria me matar, mas começou a conversar comigo.
O pensamento de me matar ainda estava lá, talvez eu não passasse do segundo dia. Mas então ela começou a perguntar sobre mim, sem ter muita opção eu contei para ela que eu me via como alguém inútil. Afinal, a pessoa que me fazia seguir em frente nem estava naquele mundo.
No meu mundo normal eu realmente apenas existia e ninguém se importava, bem ninguém se importava de fato com alguém como eu, era o que eu pensava até aquele dia.
Eu existo, então ainda tenho a possibilidade de ser feliz. Fala sério, aquilo me acertou de jeito.
Ela tinha dito que tentaria alcançar sua própria felicidade também. Eu vi aquilo como um convite, dizendo para tentarmos o nosso melhor juntos.
Aquilo me deixou tão feliz que meus olhos até começaram a lacrimejar um pouco naquele momento. Ela não estava me usando para ter vantagem, nunca é bom expor a sua fraqueza para os outros, pois isso te torna manipulável.
Se Merlin disse qualquer coisa naquele momento ela poderia me fazer ser preso a ela, dizer que de fato eu não era nada e que ela era melhor do que eu. Mas ela se colocou no mesmo nível que eu e me fez ver que eu era alguma coisa, que eu poderia alcançar o que eu queria.
Então eu decidi tentar mais um pouco e consegui conquistar mais coisas. Quando salvamos Cirgo ver aquelas pessoas me agradecendo me deixou muito motivado.
Depois vejo o Burst, um pouco depois a Jane. Aos poucos minha vida foi ficando divertida, aqueles foram os dias mais felizes da minha vida.
Eu consegui me tornar alguém minimamente melhor? Ou aquilo foi apenas um personagem criado pela minha cabeça?
Não importa mais, não posso deixar eles fazerem nenhuma maldade para Merlin, ela é o meu pilar agora, preciso dar o melhor de mim.
Mesmo que minha cabeça esteja em pedaços agora, mesmo que esse lado monstruoso desse corpo esteja tentando me colocar para baixo, não posso desistir porque Jarabahad mandou, mesmo que ele controle o meu corpo agora.
Isso mesmo, continue tentando. Continue tentando!
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Confuso eu abri os meus olhos, estava tendo um sonho estranho sobre a minha vida anteriormente.
Eu tentei me mexer e escutei um barulho de correntes, também não consegui falar porque tinha um capacete na minha cabeça que me permitia apenas enxergar.
Era uma cela, o local era escuro com apenas algumas lamparinas iluminando certas partes do corredor. As grades da minha cela eram feitas de alguma energia esquisita, parecia ser perigoso trocar naquilo.
Eu não conseguia me libertar das correntes mesmo usando toda a minha força, parece que essa cela foi feita especialmente para mim.
*Quando foi que fui preso mesmo?*
Eu não escutava a respiração nem a movimentação de ninguém, parecia que só tinha eu ali, talvez só tivesse eu mesmo.
Mas eu escutei passos se aproximando, aparentemente era apenas uma pessoa. Quando essa pessoa chegou eu vi que era Killisviel.
— Jarabahad, poderia prometer que não vai chamar a sua arma aqui? Isso traria problemas para você e para mim também. Se prometer eu deixo você falar.
Sem muita escolha, eu movi minha cabeça em concordância. Killisviel pegou um controle e apertou algum botão, abrindo o capacete.
Quando olhei bem eu percebi que meu corpo diminuiu de tamanho, voltei a parecer uma criança de 14 ou 15 anos. Agora que evolui talvez isso seja um poder novo ou coisa assim. Mas minhas roupas agora estão enormes para mim.
Killisviel estava com uma roupa de frio, está frio lá fora?
— Killisviel Graal, por que estou preso aqui?
— Você se tornou extremamente agressivo e começou a atacar a cidade. Então o herói da fortitude te nocauteou.
— Eu não me lembro disso. Sabe o motivo de eu ter atacado a cidade?
— Acho que você ficou com raiva quando descobriu que Merlin foi dada como desaparecida. Antes de você ficar irritado de novo quero que saiba que eu estou trabalhando nesse caso.
Eu entendi que eu fiquei irritado e que realmente poderia ter feito algo como atacar todos na minha frente antes, não duvido que eu faria algo assim. Mas Merlin é um espírito, não acho que ela iria ficar em um local perigoso, talvez tenha percebido as intenções do rei e fugiu.
— Parece que o seu rei está fazendo coisas para me derrubar agora. Mas quem é esse herói da fortitude?
— Para ser mais precisa, são cinco heróis no total. Esses cinco heróis são substituídos por outros depois de cem anos. O herói da fortitude, o herói da velocidade, o herói da visão, o herói combatente e o herói protetor.
— São nomes estranhos para heróis, parecem ser uma farsa.
— Três deles representam os sentidos humanos, os outros dois são como uma espada e um escudo. Na minha visão eles não são nada demais.
— Minha Shapeshifter está aqui também?
— Está falando daquele seu bastão? Não, ele está lá nos portões da cidade até agora. O herói da fortitude tentou levantar aquilo, mas sua arma nem se mexeu. Como consegue balançar algo tão pesado com tanta facilidade?
Eu não sinto peso nenhum quando uso a Shapeshifter, mas parece que outras pessoas não podem usá-la.
Eu poderia chamá-la e eu estaria livre, mas talvez isso chamasse atenção daqueles heróis de novo.
— Quando vou poder sair daqui? — eu perguntei ignorando a pergunta de Killisviel
Killisviel olhou para o lado com uma expressão triste. Algo me dizia que a resposta não seria boa.
— Não sei. Você também está sendo acusado de matar dois membros da família real.
— San e Sen? Eles me atacaram primeiro, não vou mentir dizendo que não os matei.
— Então foi isso, acredito em você. Querendo ou não você é bem mais confiável do que o rei Bahad. Sinto que aquele homem está planejando algo maligno, mas não tenho poder o suficiente para saber o que é.
Se até Killisviel não podia fazer nada então o rei garantiu que ela ficasse em uma posição onde não poderia bisbilhotar. Mas não é só isso, em todos os lugares eu escuto pessoas falando como ele não é uma pessoa confiável e que já fez maldades, mas o problema é que ninguém consegue provar.
Aquele cara simplesmente revelou ser meu inimigo, mas agora me colocou como vilão na frente de todos. Mas a forma como eu reagi apenas fortificou que ele estava certo.
— Ora, então esse é o monstro que atacou a cidade? Jarabahad não é mesmo?
Um velho com uma barba muito fina e um chapéu vermelho se aproximou da minha cela.
— Senhor Rico, o que está fazendo aqui? — perguntou Killisviel surpresa
— Eu vim tirar este rapaz daqui.
— Killisviel quem é esse velho?
— Ele é o ex herói combatente, Rico.
» Nome: Rico
Espécie: Humano
Idade: 110 anos
Gênero: Masculino
Classe de ameaça: (S+)«
— Então, quer se tornar meu discípulo e se tornar o herói combatente um dia?
— Não. Eu agradeceria se me tirasse daqui, mas não quero ser o seu discípulo.
— Que coisa, sabe fui eu que ensinei a sua mãe a lutar. Você perdeu para um único herói, acha que pode fazer alguma coisa contra o rei no nível que está? Você não quer ajudar aquela sua amiga?
Naquele momento a ideia de que talvez fosse bom estar sob os ensinamentos daquele velho poderia ser útil.
— Eu aceito me tornar o seu discípulo, mas não vou ser o próximo herói. Você estará me treinando, então se eu me tornar uma ameaça para o mundo a culpa da minha força será sua. Espero que consiga encarar as consequências.
O velho então soltou uma gargalhada rouca e com suas mãos ele destruiu as grades da minha cela e as correntes que me prendiam.
— Eu já estou muito velho, as consequências que vão para o inferno. Eu treinei a pequena Zara por anos até ela se tornar a mulher que se tornou, se o rei foi culpado de sua morte eu também quero que ele vá pro inferno.
— Ei, você não pode fazer isso! Vai trazer problemas para vocês dois e para mim também!
— Killisviel minha menina, você não precisa explicar para os guardas quem você veio ver e eu também não. Diz que você foi visitar aquele seu amigo raposa, assim a culpa não vai cair em você.
— Mas se você fizer isso vai virar inimigo do reino, Jarabahad também vai ficar em uma situação pior ainda!
— Você é tão poderosa, porém tão gentil ao ponto de se preocupar com um velho como eu e com um monstro como ele. Com certeza você poderia me atacar e me derrotar com um só golpe, mas você não vai fazer isso, certo?
Killisviel então ficou calada, mas realmente ela não tinha a intenção de fazer nada.
— Que droga, tá bom. Mas tome cuidado, principalmente você, senhor Rico, a sua idade não te permite lutar muito.
— Claro que permite, mas você é forte demais, então não parece.
— Ei velhinho, como vamos sair daqui mesmo? — eu perguntei
O velho então puxou um ítem que se parecia com um totem. Eu não entendi como aquilo ajudaria, mas ele logo explicou.
— Essa é uma chave para um mundo diferente, o mundo onde eu vivo. Ninguém vai nos encontrar lá.
— Que tipo de mundo?
— Um feito pela minha imaginação. Não se preocupe, eu montei tudo direitinho, temos até hospitais e mercadinhos perto de casa.
Usando o totem ele abriu um portal dentro da cela.
— Killisviel Graal, boa sorte aqui fora. Se encontrar a Merlin por favor cuide dela por mim. Até mais. — eu disse e entrei no portal
— Foi bom te ver de novo, Killisviel. Espero estar vivo para conversarmos melhor na próxima. — disse o velho e entrou no portal também
Enquanto estávamos indo escutamos Killisviel murmurando algo para si mesma.
— Mas isso vai dar uma merda um dia….
Então nós fomos embora, querendo ou não eu ainda tenho muitos anos de vida pela frente. Quando eu voltar com certeza vou me vingar daquele rei maldito. Mas para isso preciso criar uma situação onde eu possa matá-lo sem a culpa cair em mim, mas para isso eu precisaria da ajuda de alguém com uma influência maior do que a dele.
Mas até lá eu preciso fazer o que esse velho dizer, com certeza não vai demorar até eu aprender tudo que ele tem pra ensinar.
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Uma ilustração feita por mim há muito tempo, como estava ligada a este capitulo eu decidi adicionar ela aqui. Talvez eu coloque mais em alguns capítulos no futuro. Mas enfim, obrigado por lerem.