Vida em um Mundo Mágico - Capítulo 27
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Eu me satisfazia enquanto um gosto doce se espalhava na minha boca.
O bolo que ganhei de aniversário estava muito bom.
— Você não vai parar de comer isso? Poderia guardar para mais tarde. — disse Sariel
— Eu poderia, mas gosto de chocolate.
Sariel suspirou com minha resposta, não entendo, que tipo de resposta ele espera?
— Eu pensei que pais humanos fossem mais cuidadosos com seus filhotes. Deixaram você sair de casa com tanta facilidade, além disso sem nenhuma escolta.
— Bom, eu estou na minha fase adulta agora. Então acho que é normal os filhos saírem de casa nessa fase.
— Talvez você esteja certa. Mas mesmo assim estamos indo para muito longe. Bahad é bem distante.
Sariel estava mesmo tenso com isso, pensei que viajar por longas distâncias era um ato feito por dragões, principalmente quando criavam um novo ninho. Pode esse não ser o caso de Sariel?
— Mas nós não vamos para lá direto. Antes vamos passar em algumas cidades, quero achar alguém.
— E quem estamos procurando exatamente?
— Meus pais me contaram uma história quando eu era pequena. A cidade de Bahad foi atacada e os filhos do rei foram assassinados por um monstro poderoso.
— Oh sim, isso foi há 16 anos. Quer encontrar ele?
— Sim, tudo indica que ele é um monstro consciente e que não gosta do rei de lá. Então eu suponho que ele aceitaria minha proposta.
— Então quer que ele se torne a prova de que monstros podem conviver com humanos? Acho que isso não vai funcionar, afinal ele é famoso por atacar o Reino dos humanos.
— Mas quem sabe podemos chamá-lo como rei dos monstros. Isso seria uma aliança entre raças.
— Eu não acredito que exista um rei para monstros. Então quer que ele se torne essa figura. Muito bem, sabe onde encontrá-lo?
— Não. Por isso quero informações, quem sabe podemos encontrá-lo por aqui.
— Acho que estamos usando muito o “quem sabe”.
Eu continuei comendo meu bolo, ofereci várias vezes para Sariel mas ele insistia que não queria comer.
Depois de dias de caminhada chegamos em uma cidade. Passamos por alguns problemas no caminho, Sariel queria muito matar alguém, o que é um desejo bem estranho, mas ele teve que se contentar com os monstros e bandidos que nos atacaram.
Mas foi sem graça para ele. Acabamos nos deixando levar por uma gangue de bandidos e encontramos o seu chefe, junto de um monte de pessoas que estavam sendo feitas de escravos.
Sariel só queria rasgar a todos lentamente, mas devido a alta quantidade de fumaça e poeira no local ele acabou espirrando, matando assim todos que estavam lá. Por sorte as pessoas não estavam de frente com ele quando espirrou, mas os bandidos ao verem metade do seu grupo sendo desintegrado por Sariel incluindo seu chefe, logo desistiram de tentar lutar.
As autoridades estão cuidando dos bandidos restantes, então nós chegamos nessa cidade pequena. Mas mesmo assim Sariel exagerou, a natureza daquele local nunca mais será a mesma.
— Agora vamos procurar informações? Estou motivado um pouco, aqueles bandidos deram pro gasto, mesmo sendo muito fácil.
— Sariel, poderia me contar o motivo de você gostar de matar outras pessoas?
— Eu não gosto de gente malvada, então rasgo elas.
— Só gente malvada?
— Talvez sim.
Me parece que ele não iria mudar tão cedo. Se fosse apenas gente malvada ele não teria me ameaçado na floresta.
Eu estava pensando em comprar roupas novas, Sariel também só usa um pano velho como roupa quando está em forma humana, as minhas estão sujas devido a viagem, mas o dinheiro que tenho é pouco, então não quero gastar ele de maneira irresponsável.
— Eloá, olha só isso — Sariel disse puxando uma sacola cheia de moedas que estava dentro de sua dimensão de bolso —, temos muito dinheiro, podemos ficar tranquilos de agora em diante.
— Onde conseguiu isso?
— São das minhas presas, tenho muito mais dessas.
Eu abri a sacola e vi que só tinha moedas de ouro, nunca tinha visto tanto dinheiro na minha vida até agora. A sacola era gigante também.
— Quanto tem aí? Quantas sacolas você tem?
— Tenho 300 sacolas dessas e cada uma possui mil moedas de ouro.
— Então você tem 300 mil moedas de ouro no total. Você é basicamente milionário.
— Sou mesmo, mas não uso essas coisas, então fique a vontade para administrar esse dinheiro.
Então com aquela permissão nós partimos para uma loja de roupas. Foi difícil mas conseguimos achar algo que agradasse Sariel, ele tem um gosto muito específico para roupas. Gosta apenas de roupas feitas com a seda de aranha.
Depois de escolher uma camisa de manga longa preta e uma camiseta larga vermelha para usar por cima, ele ficou satisfeito. Depois disso foi fácil encontrar algo que o agradasse, uma calça preta e uma bota vermelha.
Para mim eu peguei uma camisa de manga longa branca e um short preto, além de um sapato branco com um pequeno salto preto.
— Você poderia ter escolhido algo mais bonito. — disse Sariel reclamando das minhas roupas
— Eu gosto de coisas simples, além disso me sinto confortável desse jeito.
— Mas temos dinheiro, você pode comprar aquela loja inteira.
— Dinheiro esse que você pegou de cadáveres.
— Ainda assim, dinheiro é dinheiro e dinheiro é poder.
Não havia nada que eu pudesse dizer que mudasse a cabeça daquele dragão. Mas ainda assim precisávamos encontrar informações.
— Sariel, você tem alguma habilidade que te permite localizar indivíduos fortes?
— Tenho sim, quer que eu procure por aquele monstro?
— Se possível.
Sariel fechou seus olhos e se concentrou, ele ficou parado por alguns segundos mas logo voltou com uma expressão neutra.
— Posso garantir que ele não está aqui. A magia mais alta daqui é tão pequena para mim, que patético.
— Magia?
— Sim, diferente de vocês, dragões e demônios são criaturas mágicas, então dependemos bem mais da nossa magia original do que de habilidades que o seu eu divino concede.
— Isso é novo, a Voz não me deu essa informação.
— Bem, isso é definido pelas cores dos dragões. Entre os dragões existem dragões brancos representando a luz e o dia, dragões negros representando a escuridão e a noite, dragões verdes representando a natureza e a calmaria, dragões azuis representando a alma e o subconsciente, e por fim dragões vermelhos representando o sangue e a guerra.
— Então você pode usar magia. Aquele espirro foi uma magia sua?
— Que pergunta idiota, aquilo foi um espirro normal, acredite em mim nem foi um espirro com minha força total.
— Eu sei, estava brincando.
— Você não é boa nisso, desista.
— Mas que tipo de magia você usa?
— Isso é algo difícil de explicar, nossas magias são muito mais conceituais do que naturais, dragões vermelhos também são conhecidos como um conceito de negação ou revolta assim como repulsão. Então minha magia representa esse conceito.
— Acho que não entendi.
— Não sei te explicar pois também não consigo usar minha magia ainda, como você mesma disse ainda sou muito jovem. Mas como sou um ser mágico, apenas meu corpo já é uma energia mágica muito mais poderosa do que todos os usuários de magia dessa cidade.
— Mas é meio injusto você comparar a magia de um humano com a sua. Principalmente depois dessa explicação.
— Não me venha com essa, esse nível de fraqueza é anormal.
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Sariel olhava em volta parecendo um pouco incomodado.
— O que é isso?
— Precisamos de um lugar pra ficar, essa pousada estava me atraindo, então decidi alugar este quarto para a gente.
— Só tem um cômodo aqui, além do banheiro, muito pequeno e cansativo.
— Mas não é por muito tempo, só por hoje e amanhã. Depois voltamos a procurar informações.
Sariel jogou sua espada na mesa quadrada que estava no meio do cômodo e se deitou em sua cama.
— Vou dormir nessa.
— Por favor, vá tomar um banho antes.
— Como é?
— Você é um dragão que não toma banho há anos, o seu cheiro não mudou porque você está em forma humana.
— Que droga, então estou indo.
Ele aceitou bem mais fácil do que eu esperava, aquilo foi uma surpresa.
Quando Sariel saiu a primeira coisa que fiz foi arrumar minha cama. Querendo ou não este corpo precisa de descanso também.
Sariel possui mais do que capacidade de ficar acordado por períodos de tempo enormes, mas dorme mesmo assim às vezes, ter uma boa noite de sono é algo desejado por muitos.
Então uma hora se passou e finalmente Sariel saiu do banho, aquilo demorou muito.
— Há quanto tempo que eu não me banho assim. Me sinto tão bem.
— Isso demorou muito.
— Não adianta me culpar, faz anos que eu não tomo banho, nada mais justo do que tomar um bem tomado.
Após isso Sariel pulou na sua cama e começou a dormir, caindo em um sono pesado ele começou a roncar.
Eu estava esperando comer alguma coisa, mas acho que dragões não precisam comer muito diariamente, mas ele se esqueceu que eu querendo ou não, tenho o corpo de um humano.
Acho melhor eu pedir alguma coisa pra comer, Sariel não parece se importar em gastar dinheiro. Com certeza não vai ter problema.
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Se passaram mais de uma hora, depois duas, mais um pouco e se passaram sete. Mas aquele homem ainda estava lá.
O antigo herói Rico, observava tomando café, seu discípulo problemático estava treinando há horas de novo, sem derramar um pingo de suor.
Ele se lembrava de seus antigos alunos, alguns humanos e um monstro, Zara aprendia com ele para passar o tempo, não era como se ela gostasse de lutar, afinal sua especialidade era habilidades de ilusão. Os humanos queriam ser fortes, por vários motivos diferentes, ganhar um torneio, ganhar dinheiro, conseguir uma namorada, aquele velho homem já viu de tudo. Mas aquele monstro, o filho de sua aluna, ele era diferente, no começo ele achou que ele queria vingança contra o Reino, o que pode ser um de seus motivos, mas agora depois desses anos ele percebeu que aquele monstro está adorando aquele mundo de lutas.
No começo ele não era desse jeito, mas agora ele simplesmente não para de treinar, já aprendeu até mesmo o estágio mais avançado das artes marciais, mas volta do começo e pratica tudo de novo, todo santo dia sem parar por um único momento. Ele até mesmo treina em sua mente, revivendo antigas batalhas algumas até mesmo contra seu mestre, ele faz isso enquanto dorme, enquanto anda até mesmo enquanto treina seu corpo sua mente está treinando junto.
Um absurdo, era como Rico descrevia seu aluno. Ele já não sabia dizer o quão poderoso ele era, mas simplesmente ele ficava mais forte a cada dia e não parecia querer parar.
— Ei, Jarabahad, como está se sentindo?
— Estou longe de estar cansado, volte a tomar seu café velhinho.
— Eu já não tenho nada pra te ensinar, no primeiro ano de treino você fez tudo certo e então começou a repetir todo o treinamento de novo. Você não dorme mais, nem mesmo come, só está fazendo a mesma coisa por todo esse tempo. Sua mente não enlouquece?
— Quando evolui perdi a necessidade de comer, dormir e até mesmo de ficar cansado, além disso minha habilidade『Recarga Natural』não permite que minha energia acabe.
— Mas acho que você já está forte o bastante para voltar ao mundo humano (Terra) agora. Acho que vai conseguir ficar mais forte lá do que aqui.
Jarabahad parou seu treino, o que surpreendeu Rico. Ele então pegou uma blusa preta que estava guardada em sua habilidade, então ele a vestiu e dobrou as mangas um pouco.
O seu cabelo estava um pouco longo demais, seu corpo cresceu até 2 metros de altura. Seus olhos vermelhos pareciam sempre estar atentos.
— Humm…. Vou pegar um pouco de café, estou com vontade.
— Você cresceu para ser um cara bem assustador. Mas está tudo bem.
Os dois se sentaram no chão mesmo, aquele era um mundo criado pela imaginação de Rico, então Jarabahad poderia destruir tudo que Rico consertava.
— Acho que vou passar em uma cidade agora, quer alguma coisa? — perguntou Rico
— Não, valeu. Já estou impressionado que você ainda está vivo velhinho, como se já não bastasse você vai às compras e ainda pergunta se quero alguma coisa.
— Há ha ha! Saudades da minha juventude, mas ainda consigo fazer minhas coisas. Me pergunto como meus antigos companheiros estão.
— Seus companheiros? Os outros heróis?
— Sim. Me lembro que dei uma surra em todos eles uma vez, foi um tempo muito bom.
Jarabahad não teve outra reação a não ser gargalhar da frase de seu mestre, porque ele não duvidou nem um pouco daquilo.
— Com certeza você chutaria a bunda deles nos tempos atuais de novo, mestre!
— Olha só, você não me chamou de velho dessa vez! — disse Rico surpreso
— Mordi a língua. — Disse Jarabahad com um sorriso de orgulho em seu rosto
— Seu maldito, admita logo que está orgulhoso do seu velho aqui!
Com isso as peças manipuladas pelo destino começaram a se movimentar e a se conectar. Visando um futuro desconhecido.
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