Vida em um Mundo Mágico - Capítulo 30
A sala ficou em silêncio após a nossa pequena reunião, não demorou muito para que todos voltassem a fazer coisas do dia a dia. Sariel decidiu ir se lavar, o velho Rico foi ler seus livros na varanda, Eloá estava passeando pelo jardim.
Assim que avistei Eloá eu decidi ir a questionar sobre mais detalhes, mas o assunto acabou mudando bem rápido, fiquei mais curioso sobre este “ser” chamado Eloá. Minha habilidade de identificação não me engana, mesmo que diga que ela é uma humana e que não tem um poder muito alto, sinto uma presença diferente nela, uma aura que nunca vi.
Me lembrou bastante um antigo inimigo meu, aquele demônio de neve, porém a aura dela é o exato oposto, tem uma bondade mas ao mesmo tempo não tem nada, devo dizer que é a aura mais neutra que eu já vi. O demônio de neve tinha uma maldade mas também era neutro em alguns momentos.
Também não vi muitas expressões faciais vindo de Eloá, seu modo de falar é calmo, ela não se enrola mas palavras, parece que é uma criatura que leu sobre como ser um humano em um livro e que agora está colocando em prática o que aprendeu.
— Eu sou aquilo que chamam de “a Voz”. Não exatamente ela, afinal ela está em todo lugar, mas sou um avatar consciente.
Aquilo me chocou, de todas as coisas que eu já vi, essa é com certeza uma que eu não esperava, aquela divindade que eu ouvia na minha cabeça, que Merlin me contou quando cheguei aqui, eu estou caminhando ao lado dela neste momento.
— Isso é difícil de acreditar, mas deve ser verdade, você é mesmo diferente.
— Diferente como?
— Seus olhos, seu jeito, sua aura.
Eloá arregalou um pouco seus olhos, aquela foi a primeira expressão que a vi fazendo. O que eu disse a impressionou?
Ela se abaixou e começou a analisar algumas flores que estavam no jardim. Mas ficou encarando um girassol e uma rosa.
— Assim como essas flores, existem os seres que são como o girassol, seguem uma luz, um líder ou um pilar, eles precisam dele, mas também há a rosa, uma flor solitária que desabrocha se tornando linda mas ela não precisa seguir ninguém. Entre essas duas eu sou o girassol, enquanto você e Sariel são mais parecidos com rosas.
— E quem você segue?
Eloá se levantou novamente, esperou um pouco e me olhou no fundo dos olhos.
— Deus. O motivo de eu existir é ele.
Foi uma resposta diferente do que eu esperava, mas vindo dela deve ter um significado diferente, as igrejas daqui nunca deixaram claro sobre como é ou quem é Deus neste mundo. Até um tempo atrás eu pensei que a Voz fosse essa figura.
— Eu sempre pensei que fosse você.
— É normal se confundirem, mas eu sou apenas a voz dele, nada mais que isso.
Quando disse aquilo Eloá olhou para o chão.
— Entendi mais ou menos, isso te deixa infeliz?
— Não, eu aceito isso como o motivo da minha existência e tudo que sou. Mas me entristece o fato de eu ter entrado neste corpo, a menina tem uma família que a ama e ela nunca vai saber disso pois eu que estou aqui.
Então é assim que funciona, a pessoa que deveria nascer não existe mais, então é isso. Eloá tem uma alma gentil, entendo agora.
— Entendi, vou me retirar agora. Até depois Eloá.
Eloá acenou com a cabeça. Eu a entendo um pouco, eu também pensava que tinha roubado este corpo que estou agora.
Sariel já saiu do banho, vou falar com ele também. É minha primeira vez vendo um dragão, gostaria de fazer algumas perguntas.
Encontrei Sariel sentado no banco fora da casa, sem perder tempo eu fui até ele. Ele não parece ser o tipo de cada que alguém gostaria de provocar, vou tentar ser discreto com minhas perguntas.
— Jarabahad, como está? — perguntou Sariel
— Bem, eu acho. Então você pertence a raça dos dragões, é impressionante. — eu disse me sentando ao seu lado
— E você é um metamorfo, podemos dizer que nós dois somos impressionantes. Esta sua arma me intriga.
Se eu não estou me enganando, Sariel também está tentando juntar informações sobre seus novos companheiros. Bom, era isso que eu estou fazendo também, mas agora o foco da conversa se voltou pra mim.
— A Shapeshifter? Ela é uma arma bem versátil eu devo dizer. E você usa uma espada.
— Eu não a uso tanto, não sou bom como espadachim ou com o uso de armas em geral.
— Sariel, você como um dragão já vivido, gostaria de perguntar, você se incomoda com a presença de outras criaturas e de interagir com elas?
— Depende bastante se a criatura me irrita ou não, mas sou horrível em interações no geral. A infância de dragões é uma coisa traumatizante, então não sou bom em criar relações pacíficas.
Os dragões são criaturas que vivem por muito tempo, esses 80 anos de Sariel podem tê-lo mudado um pouco.
Dragões são uma raça conhecida e até bastante famosa, mas ninguém tem informações sobre como funciona o “ninho”, bom, mas pelo que Sariel acabou de dizer não deve ser nada agradável.
Após responder, Sariel me olhou com uma cara de “e quanto a você?”.
— Eu nunca fui bom em relações no geral, mas eu tinha amigos. Burst e Jane, os filhos do rei do reino das bestas e Merlin, um espírito, eles eram com quem eu passava mais tempo.
— Que grupo estranho. Já ouvi falar desses dois, Burst e Jane, aquele garoto tentou me matar, que atrevido. — Sariel disse isso com um sorriso no rosto
— Você se encontrou com ele?! — eu perguntei não contendo minha surpresa
— Sim. Era uma missão, então foi ele e algumas forças armadas do reino, como eu vi que as coisas poderiam ficar ruins pra mim, eu fugi. O garoto está saudável e bem forte também.
Sariel disse aquilo pois percebeu que eu deveria ser próximo de Burst. Fiquei feliz em saber que ele está bem, queria saber sobre Jane também, mas acho que isso seria pedir demais, quando isso acabar acho que irei visitar eles.
— Sariel, você sempre teve essa forma?
Sariel pensou um pouco no que eu perguntei e olhou para si mesmo, logo ele percebeu o que eu quis dizer.
— Não, eu mudei para essa forma porque fiz um pacto com aquela garota, é meio que uma regra entre os dragões. Precisamos assumir uma forma da mesma espécie que a pessoa que formamos um pacto.
Eloá ao ver que estávamos conversando decidiu se aproximar. Ela estava com uma expressão séria e com seus olhos bem abertos, a capacidade de encarar firmemente os olhos dos outros mesmo em um silêncio constrangedor é algo que me assusta sobre ela.
— Eu queria discutir com vocês dois sobre como vamos abordar o reino de Bahad. — disse Eloá se preparando para se sentar
— Espera! Sente-se aqui — eu disse oferecendo meu acento.
— Tudo bem, posso me sentar no chão.
— Não, suas roupas são brancas vão sujar. — eu expliquei enquanto empurrava ela para o banco
Foi por pouco, eu não me aguentaria de ver uma roupa tão branca se sujar, quase tive um chilique. Eu não me lembro da última vez que tive esse sentimento.
— Mas Jarabahad, você é tão alto que eu preciso curvar o meu corpo para olhar pra você.
— *Psi hi hi*, garota você realmente precisa aprender a ter modos. — disse Sariel em um tom sarcástico
Uma fumaça negra cobriu o meu corpo por alguns segundos, quando ela desapareceu eu estava mais baixo.
— Assim está melhor? — eu perguntei enquanto ajeitava meu cachecol que Shapeshifter tinha se tornado.
— Oh! Você encolheu. — disse Eloá surpresa
Quando evolui ganhei a habilidade de alterar meu corpo dessa forma, mesmo que eu não consiga me transformar completamente, afinal eu não sou um metamorfo original.
Mas meu corpo mudou bastante depois da minha evolução para a classe S, meus olhos ficaram vermelhos brilhantes, e meu cabelo cresceu bastante nesses anos. Além de que ganhei algumas outras habilidades também.
Agora consigo transformar meu corpo em outros componentes, como água, ar, gás, até mesmo em alguns objetos, porém ainda há uma característica minha em minhas transformações, a cor preta domina.
— Sim, agora tenho o tamanho de um humano com 16 anos de porte médio.
— Então essa era a sua aparência naquele tempo? Quando atacou Bahad, minha mãe contou histórias sobre você.
— Tem histórias sobre mim?!
— Ei, vocês se esqueceram do assunto que íamos conversar? — disse Sariel interrompendo meu entusiasmo e curiosidade
— É mesmo, tinha esquecido. Bom, o que vocês acham de nós três, pensarmos juntos no que fazer.
— Espera aí Eloá, você tá querendo dizer que não tem um plano? — questionou Sariel indignado
— Bom, eu queria encontrar aliados, não pensei tão a frente assim.
Eloá é mesmo uma menina muito simples, bom, também não tenho um plano, na verdade isso não é comigo.
Sariel também não parece ser bom em bolar planos. Rico, ele está velho e provavelmente era um brutamontes quando era jovem e não pensava muito antes de atacar alguma coisa. Ou seja, não temos um cérebro aqui.
— Então seu plano era encontrar aliados fortes para então bolar o plano?! — perguntou Sariel irritado
— Hmmmm……
— Não venha com “hmmmm” pra cima de mim!!!
Olhando a situação aqui, Eloá quer ser a rainha dos humanos, tomando para si o maior reino humano do mundo, Bahad, porém para isso acontecer precisamos derrubar o rei Bahad, além de seus heróis também.
O reino é enorme, se fosse no meu antigo mundo aquele reino com toda certeza é do tamanho de um continente, talvez maior eu diria. Além de ser muito bem povoado, é praticamente impossível entrar em uma briga lá dentro e não ferir pessoas inocentes.
Levando em conta que nosso time é totalmente focado em força e potência de ataque, perdas de vidas inocentes é quase que inevitável. Mas talvez dê certo se conseguíssemos pelo menos evacuar uma área do reino. Declarar uma invasão seria a coisa certa a se fazer, mesmo não sendo um ataque surpresa, podemos ter uma vantagem contando com nosso poder, mas isso daria tempo para eles se prepararem para nosso ataque, o que também daria problema para a gente.
E se isso dê certo, o povo aceitaria Eloá tão facilmente? Não, claro que não. Ela teria que se provar digna de confiança, iria ter uma guerra civil, obviamente muitas pessoas querem o posto de rei. Também precisamos expor os crimes e a crueldade daquele rei atual, mas não temos ninguém dentro da realeza que possa nos dar essas informações. Ele é inocente até que se prove o contrário.
— Tenha calma, Jarabahad está pensando em alguma coisa. Ele está com um olhar maligno.
— Ei ei, Eloá, ele não tá com um olhar maligno, essa é a cara dele normalmente, você que não reparou direito porque estava com preguiça de olhar para cima quando ele estava na outra forma.
Minha habilidade『Rei Habilidoso』ganhou uma adição, após minha evolução também ganhei a habilidade『Prisão Anti-universo』, ela faz parte do『Rei Habilidoso』sendo o espaço para onde todas as coisas absorvidas vão, um lugar onde não existe nada e nunca existirá, todos absorvidos se forem seres vivos, irão viver para sempre presos em um paraíso. Lá não existe tempo e nenhum outro conceito, ou seja posso moldar tudo que tá lá para caso queira tirar alguma coisa, nada está junto, cada coisa absorvida ganha sua própria dimensão e camadas, habilidades e poderes são retirados para que eu possa fazer qualquer modificação sem problemas. Usando isso eu posso fazer uma coisa, meio cruel, mas pode funcionar.
Eu levantei meus braços para em linha reta e fechei meus olhos. Senti meu poder emanando, enquanto formigamentos eram espalhados pelo meu corpo, logo após senti uma brisa e uma luz iluminou minha mente, estava pronto.
Uma esfera negra estava se reunindo entre minhas mãos, sugando a energia do meu corpo, logo um pequeno tornado foi feito na minha frente e suas cores escuras se tornaram luz, quando apagou, surgiu dois corpos.
O da direita era uma garota de cabelos azuis e olhos vermelhos vibrantes, seu nome era San. O da esquerda um rapaz com cabelos azuis também, igualzinho a sua irmã, seu nome era Sen.
Ambos estavam pelados, então dei-lhes roupas que já havia absorvido. Agora tudo estava certo, ambos não estavam nem mesmo machucados.
— Esses são….
— Isso mesmo Sariel, são os filhos de Bahad.
Os dois estavam me encarando, quem olha de longe deve pensar que estão querendo me atacar, mas na verdade, aconteceu algo diferente.
— Querido amigo! Senti muito sua falta! Sou a San por sinal. — disse a garota me abraçando
— Querido amigo! Compartilho o mesmo sentimento de minha irmã! Sou o Sen por sinal. — o garoto me abraçou também.
Eu os abracei de volta acariciando suas cabeças, eles estão agindo dessa forma por um motivo, logo abri um sorriso carinhoso no rosto.
— Também senti falta de vocês! Mas posso pedir uma coisa pra vocês dois?
— Claro! — disseram em uníssono
— Podem nos ajudar a acabar com a vida do pai de vocês?
Sariel e Eloá ficaram surpresos com o meu pedido, até um pouco assustados. Mas a atenção deles voltaram para Sen e San.
Ambos estavam ainda com sorrisos carinhosos em seus rostos. Eles se olharam, pensaram um pouco e logo responderam.
— Mas é claro! — disse Sen
— Será um prazer! — disse San
— *Uhum!* Muito obrigado. — eu disse ainda sorrindo
Com minha habilidade eu alterei toda a história desses dois, com isso eles vão me obedecer, irei enviar esses dois como espiões. Eles irão primeiro, descobrir coisas sobre o rei e fazer uma declaração pública sobre todos os seus crimes. Irão criar uma mentira sobre como sobreviveram.
Minha reputação pode ser salva, e vamos virar o povo contra o rei, assim fazendo eles verem a gente como os heróis dessa história. Isso mesmo, isso pode dar certo.
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