Vida em um Mundo Mágico - Capitulo 5
Era um dia normal, sem muitos problemas o rei Zared tomava seu café enquanto olhava pela janela de seu castelo. Ele estava pensando em tudo que aconteceu com ele até aquele exato momento.
Nas ruas havia uma mulher e duas crianças, eles pareciam estar se divertindo apenas fazendo sua caminhada pela cidade. Aqueles eram Serena, Senti e Sônia. Ninguém mais ninguém menos do que a família real de Cirgo.
Como sempre estão andando e conversando com todos pela frente, era um lugar sem perigo, ali todos se conheciam e conversavam. Era uma cidade bem unida, afinal, era bem pequena em comparação com outros reinos.
Os trabalhadores sempre se esforçam para vender seus itens em outros lugares. Cirgo era uma cidade que produzia as melhores vestimentas e suas poções de mana eram das melhores.
A cidade se sustentava bem. Era uma das poucas cidades que não faziam parte de algum reino, mesmo Cirgo sendo fixada no reino humano, os reis fizeram um acordo.
O acordo era algo bem simples. Cirgo iria produzir seus produtos e importá-los para a capital do reino, claro que eles pagariam e também venderiam os produtos para outros reinos, mas além disso o rei dos humanos deu sua palavra de que não iria mexer nem se meter no governo de Zared. Uma forma de tanto Cirgo quanto o rei dos humanos ganharem dinheiro.
Então todos ganhavam o seu dinheiro, que não era pouca coisa, quanto mais eles produziam mais eles ganhavam. Se a capital vender mais produtos mais dinheiro eles ganham, quanto mais dinheiro eles ganham mais recursos eles dão para Cirgo, com mais recursos Cirgo produz mais e ganham mais também.
Porém, o rei dos humanos não parecia ser um cara tão confiável, pensava Zared. Principalmente os “filhos esquisitos” dele. Na visão de Zared eles não eram nem humanos. Mas tudo ocorreu bem, já que o rei dos humanos não fez nada que fosse contra o que prometeu, seus filhos também pareciam estar de acordo com o trato, mas Zared espera nunca ver aquela família novamente, afinal, eles davam calafrios.
Certo dia Zared conheceu um certo alguém. Era um homem alto de cabelos vermelhos e tinha uma aparência um tanto quanto bizarra. Ele parecia uma raposa, principalmente suas orelhas que brilhavam em vermelho deixando uma trilha por onde passava.
Zared ordenou um ataque contra a criatura, mas todos os seus soldados foram derrotados em um instante. A criatura estava acampando perto da cidade, com medo de um possível ataque Zared tentou lutar também, mas ele não estava mais em seu auge, mas mesmo se estivesse ele tinha certeza de que não derrotaria aquela criatura.
Zared estava de joelhos no chão enquanto sua esposa e seus filhos estavam escondidos observando tudo acontecer. Ninguém esperava uma invasão ao castelo, até os cidadãos estavam assustados. Depois dos ataques que a criatura sofreu, ela decidiu invadir o castelo e ver o mandante.
A criatura com seus olhos vermelhos ferozes olhou bem para os rostos de todos alí, Zared, Sônia, Serena e Senti. Ele logo deu um sorriso com suas presas à mostra.
— Uwa ha ha ha! Que família bonitinha que você tem humano!
A criatura parecia alegre em ver a família de Zared. Zared por outro lado ainda estava irritado olhando diretamente para ele.
A criatura se agachou e colocou sua mão no ombro de Zared.
— Relaxa, nem todos os monstros são maus. Eu apenas confundi este lugar com outro lugar então acabei invadindo sua cidade, minha forma de enxergar as coisas é diferente, mas eu tinha certeza de que era aqui. Mas está tudo bem, estou saindo agora.
Ele então se levantou e voltou para o grande buraco que fez na parede do castelo. Zared levantou.
— Espere! Quem é você? Qual o seu nome?!
O monstro olhou para trás de relance. Ele sorriu ao ver que Zared ainda conseguia ficar em pé mesmo depois de receber um ataque poderoso dele, ele gostava de pessoas corajosas.
— Meu nome? Eu não faço ideia! — ele então saltou pela parede e partiu
Mesmo após ter saltado ainda era possível ouvir sua risada ecoando de longe. Zared nos dias atuais ainda se pergunta quem era aquela raposa e o quê estava procurando.
—
Eu suspirei aliviado. Finalmente avistei os portões de Cirgo. Mesmo que já estivesse nesta região congelada quando encontrei este rapaz, ainda assim demorou uns vinte minutos de caminhada para chegar aqui.
Me pergunto o que diabos aconteceu pra esse cara ter caído tão longe. Ele estar vivo me impressiona ainda mais, que corpo resistente.
Antes eu percebi uma grande diferença entre o meu mundo e este aqui, mas agora está mais claro, todos aqui são muito mais poderosos e resistentes do que os que viviam em meu mundo original, provavelmente eu não havia percebido as diferenças graças a esse corpo que ganhei, mas se estivesse com o meu corpo normal aqui eu já teria morrido há tempos. No final foi bom eu ter ganhado outro corpo.
Eu comecei a sentir uma agitação em minhas costas. O jovem começou a se mover, eu fiquei aliviado que ele havia acordado, muitas de suas feridas já devem ter sido curadas a este ponto. Mas mesmo assim ele não deveria conseguir se mexer, que força.
— Ei, não se mexa tanto!
— Me solte criatura! O que? Cadê minhas armas?!
*Parece que fiz bem em tirar elas dele.*
— Calma lá meu garoto. Suas armas estão comigo, irei devolvê-las quando chegarmos na cidade. Eu até mesmo curei suas feridas, só aguente mais um pouco.
Ele ainda está desconfiado, mas se acalmou um pouco quando viu que eu sei falar. Conversar com pessoas sempre foi complicado pra mim, mas nesta situação é pior ainda, então eu decidi fingir que a situação estava sob controle, mas eu estava muito nervoso.
— Por quê está me ajudando? Você é um monstro, não é?
— Oh, eu estava vindo para este lugar para adquirir mais informações e te encontrei na floresta. Se eu não te tirasse de lá iria morrer pelos lobisomens.
— Informações? Você é algum tipo de monstro raro?
— Algo assim. Como você sabe que sou um monstro?
— Minha habilidade 『Análise』 me permite ver as informações de algo que olho.
É algo parecido com minha habilidade “Avaliação”. Então as pessoas podem ganhar habilidades semelhantes também. Mais uma coisa para mim ter em mente.
— Entendi, mas você está bem mais calmo agora. Imaginei que não iria gostar de ser carregado por um monstro, acho que é assim que deveria ser, não?
— Você se parece com um humano, então é fácil relevar. Além de tudo, eu já ouvi um monstro dizer que nem todos são maus.
Eu fiquei surpreso, ele achou um outro monstro com inteligência ao ponto de conversar? Queria conhecê-lo algum dia.
— Sério? Que interessante. Eu gostaria de conversar mais sobre isso mas…— eu apontei para os portões de Cirgo que estavam bem na minha frente —, pode me ajudar com isso?
Os guardas do portão vieram correndo apontando suas lanças para mim. Ao que parece eles também tem uma habilidade de ver status, seria habilidades de análise tão comuns assim?
— Esperem! Ele me salvou, abaixem as armas.
Os soldados exitaram por um momento, mas logo obedeceram a ordem. Eu entreguei o rapaz para eles que deram o ombro para que ele pudesse se apoiar.
Com um movimento de cabeça o rapaz me disse para segui-lo. Os portões da cidade abriram e eu entrei. Merlin estava lá também, mas acho que ela ficou invisível de alguma forma.
Foi bom eu tê-lo encontrado, se eu aparecesse sozinho aqui os soldados iriam partir pra cima de mim com tudo. Ser um monstro em situações dessas é perigoso, mas pode ser só pela situação da cidade. Digo, eles já foram atacados por muitos monstros nessa região então é normal estarem alerta.
—
Na cidade havia pessoas com vestimentas muito chamativas conversando entre si. Todos estão preocupados, os monstros recuaram por enquanto, mas eles podem voltar a qualquer momento. Agora não é o momento certo para abaixar a guarda.
Aquele jovem me disse que seu nome era Senti, um nome esquisito por sinal, ele me disse para esperar que iria falar com seu pai.
Todos aqui usam roupas de frio muito chamativas, queria muito uma, será que eu posso encontrar uma azul por aqui? Lá vou eu de novo, preciso focar, agora não é hora de procurar roupas!
Agora eu estou sentado em um banco dentro da cidade, tem alguns guardas me olhando discretamente, não posso culpá-los, de uma maneira ou de outra eu ainda sou um monstro que está dentro da cidade.
E ao meu lado está um ser que não para de tremer. Eu não sei se ele está com medo por estar perto de mim ou se está ansioso com alguma coisa.
Eu olhei para ele fixamente sem piscar meus olhos. Ele estava tentando me ignorar mas eu conseguia ver um suor escorrendo pela sua testa.
O garoto de cabelos loiros e olhos verdes estava se segurando para não demonstrar medo mas falhou miseravelmente. Logo ele se cansou e olhou para mim.
— P-para de me encarar! Isso é assustador!
— Você acha? Desculpe, não foi minha intenção — eu estava claramente mentindo.
Interações humanas, que coisa bizarra. Mas acho que fiz bem em quase fazer ele se cagar, sim, nada mal.
— Você é o monstro que salvou o senhor Senti não é?
— Isso mesmo. As notícias se espalham rapidamente aqui.
— He he, eu estava por perto quando você chegou, mas enfim, qual o seu nome?
Ele conseguiu terminar o que estava dizendo, mas ele gaguejou todo o caminho. Eu sou mesmo tão assustador assim?
Meu nome no meu mundo original era Victor. Esse mundo não deve ter preconceito com nomes, certo? Digo, Victor é um nome normal, deve existir alguém aqui com esse mesmo nome, não é?
— Me chamo Victor. Eu sou um metamorfo, prazer em conhecê-lo.
— Eu me chamo Zack, eu sou um humano e estou iniciando minha carreira como soldado hoje.
Ele é bem jovem. Não é surpresa que esteja nervoso, se eu fosse um humano também estaria. Eu queria ter essa coragem que ele tem, ser um soldado não é uma tarefa fácil, mas ele fala disso com um brilho em seus olhos, mesmo estando assustado.
— Cirgo é uma cidade bem pequena, não?
— Sim. Cirgo na verdade é a região inteira, aqui existem pequenas cidades. Esta é uma delas.
Então são as mesmas cidades separadas em lugares distintos, as outras ficam em volta desta já que aqui vive o rei. As casas são simples mas elegantes e além disso aqui também existem postes de luz e o chão não é só terra, são feitos de pedras e as calçadas também. Eu diria que uma área urbana bem parecida com as de meu mundo, tirando algumas poucas coisas mal daria para perceber a diferença deste lugar para alguma cidade pequena como Águas de São Pedro.
É um lugar bem polido e confortável para se morar. Claro, tirando o frio. Mas parece que estamos no inverno, então no verão este lugar deve ser um pouquinho mais quente.
— É um lugar interessante, eu gostei daqui. Mas Zack você sabe o que está acontecendo por aqui?
— Nós estamos recebendo vários ataques de monstros recentemente, nós estamos sendo protegidos pela barreira mágica que foi implantada na cidade, mas os ataques estão piorando a cada dia, já faz duas semanas que ninguém sai da cidade.
Isso explica a comoção. Então eles estão recebendo ataques frequentes, isso explica aquela quantidade absurda de lobos do lado de fora.
— Mas isso não pode continuar assim, desse jeito os mantimentos da cidade irão acabar e todos morrerão de fome.
— Exatamente. Mas nós temos muita comida, eu diria que é suficiente para nos manter vivos por pelo menos um mês.
*Para uma cidade isso é bem pouco*
— Por quê não pedem ajuda para as outras cidades?
— Todas as torres de comunicação foram destruídas e não temos ninguém com uma habilidade telepática tão forte para alcançar a capital do reino humano. Cirgo é um lugar bem isolado, então os outros não fazem ideia do que está acontecendo aqui. Só temos energia elétrica porque eles não encontraram a usina ainda.
Estou impressionado por saber que eles também têm uma usina de energia elétrica. Este mundo é bem avançado, sinceramente eu não esperava por isso.
Que bela localidade para construir uma cidade. Se Cirgo fizesse fronteira com qualquer outra cidade este problema não seria algo tão grande como é agora. Além de tudo isso, os monstros estão atacando todos que se aproximam do lado de fora.
Eu e Merlin matamos muitos lobos e lobisomens lá fora. Mesmo assim, o número não parece ter diminuído muito.
— Vocês estão encrencados mesmo — eu olhei para o céu com meus olhos fechados enquanto pensava na situação que eu tinha me metido.
— Como se já não bastasse a princesa Serena está entre a vida e a morte neste exato momento.
— Oh? O que ela tem?
— Uma doença, para ser mais exato uma habilidade que se parece com uma doença. O nome é 『Rosa Gelada』, é uma das mais poderosas habilidades de gelo, mas ela trás uma maldição para todos que a tem. Ela no momento está em um quarto com a temperatura abaixo de zero. Qualquer mudança climática pode afetar a sua saúde, mantê-la em um ambiente gelado é o único jeito de preservar sua vida.
Que assustador. As habilidades podem mesmo matar seu usuário, que medo. Infelizmente essa Serena teve o infortúnio de ganhar essa habilidade. Nem consigo imaginar o quanto ela está sofrendo lá.
*Mas com a mudança climática ele quer dizer calor? Ela precisa ficar em uma temperatura específica?*
Uma peça de roupa foi jogada em meu colo enquanto eu pensava. Aquele era Senti que havia retornado.
— Não acha que está falando demais Zack?
— Me perdoe senhor! — Zack se levantou e demonstrou respeito por Senti enquanto falava
Eu me levantei e vesti o agasalho que recebi. Ele era azul escuro e tinha um cachecol cinza embutido, além de ser longo e cobrir tudo até meu joelho. Além da calça branca super reforçada contra o frio e uma bota preta muito quentinha. Eu não sentia tanto frio graças à habilidade que peguei dos lobos, mas eu não queria ficar andando pelado por aí.
— Meu pai disse que quer falar com você.
— Eh? O seu pai…
— Parabéns senhor Victor! Você vai ter uma conversa cara a cara com o rei!
*Espera o pai dele é o rei?!*
Por essa eu não esperava, agora só estou mais nervoso! Como eu deveria agir? Eu nunca fiquei frente a frente com alguém tão importante assim!
— Certo — eu tentei manter a calma e dar uma resposta curta. Mas por dentro eu estava tremendo de nervoso.
Que droga, onde está Merlin? Ela desapareceu depois que entrei na cidade. Será que ela está com medo de ser atacada?
Sério que eu vou ter que encarar isso sozinho!? Não é cedo demais para eu conversar com alguém tão importante?
Eu respirei fundo e tentei ser positivo.
*Apenas responda as perguntas que ele fizer, apenas responda Victor!*
—
Eu segui Senti até um castelo. Fiquei em silêncio o caminho todo, apenas apreciando tudo que via. Tudo era tão luxuoso, essa não é a hora certa de pensar sobre isso, mas eu deveria ter pegado alguma coisa daquela mansão, com certeza alguma coisa daria para vender e faturar algum dinheiro.
Tá aí uma coisa que eu não pensei. Como vou ganhar dinheiro? Preciso focar na minha situação atual! Deixe o dinheiro para depois! Que droga, por que eu sou assim?
No meio do caminho eu vi uma porta enorme, havia fumaça gelada saindo de baixo dela. Logo eu me lembrei da princesa doente. Tenho certeza de que ela está aí dentro, deve ser difícil ficar presa em um quarto congelado por dias sem ter a liberdade de fazer o que quer, este lugar não deve ser nem um pouco confortável.
『Rosa Gelada』. Deve ser uma habilidade poderosa para os capazes de usá-la. Mas qual o sentido de tê-la se ela apenas trará desgraça? Ela deve ter alguma função, talvez até mesmo uma maneira de ser usada, não acredito que uma habilidade seja apenas uma doença.
— Chegamos — disse Senti abrindo uma enorme porta.
— S-sim.
Chegamos no terraço, para minha surpresa não era nenhuma sala do trono. O rei estava conversando com alguns de seus soldados, quando ele viu Senti ele os dispensou.
— Você é o monstro que ajudou o meu filho? — disse o rei olhando diretamente para mim
*Ele tá falando comigo! E agora o que eu falo!? Calma, calma, só preciso responder as perguntas.*
Eu respirei fundo, limpei a garganta, relaxei meus músculos e pronto. Agora vamos apenas responder.
— Sim senhor.
*Consegui!*
O rei deu um passo para trás quando me ouviu. Será que minha expressão o assustou? Não, isso não é possível, como eu conseguiria colocar pressão em alguém como um rei?
— Ora não precisa do “senhor”. Me chame só de Zared — ele disse forçando um sorriso.
Isso é surpreendente, eu não esperava que alguém como um rei iria dar a um monstro o direito de chamá-lo pelo nome. Para dizer a verdade, este homem, Zared, está parecendo desmotivado, não, ele está parecendo perdido, seria pela situação de sua filha ou pela sua cidade? Talvez seja pelos dois, ser um rei e ser pai ao mesmo tempo deve ser difícil.
— Certo, Zared.
Eu só havia vindo até aqui para reunir informações e me adaptar a este mundo, para que enfim eu conseguisse viver minha vida sem me preocupar com tantos problemas. Eu não esperava chegar aqui e conhecer o rei de Cirgo, muito menos me meter no meio de uma situação tão complicada.
— Senti, você poderia se retirar um pouco? Quero conversar a sós com ele.
— Certo, estarei esperando lá embaixo — Senti saiu após terminar sua sentença. O rei então andou e se escorou no muro olhando para a floresta congelada.
— Você não é um monstro normal, não é?
— Hum?
— Eu já conheci outros monstros que falam e pensam. Mas você tem uma alma diferente, não é como eles, mesmo que um pouco de sua alma seja idêntica a de um monstro comum.
Ele consegue enxergar minha alma? Seria essa a habilidade dele? Bom, ele não parece ser uma pessoa ruim, então acho que irei contar a ele o que aconteceu.
— Isso é verdade, não sou um monstro comum.
— Se importaria de contar sua história para mim? Mas por favor resuma tudo.
Eu comecei a contar tudo que aconteceu para Zared, contei da forma mais resumida possível.
—
No quarto congelado estava Serena. Como sempre deitada em sua cama em silêncio. Nada acontecia com ela há tempos, tudo era entediante. A vida em si era entediante.
Conforme o tempo passava mais distante ela ficava de todos. Ela não se encontrava com outras pessoas além de seu pai e seu irmão, nem mesmo seus antigos amigos e amigas. Como Cirgo era uma cidade pequena onde todos se conheciam, ela também conhecia pessoas, mas ela não vê essas pessoas há muito tempo e nem sabe o que aconteceu com elas, já que seu irmão ou seu pai nunca buscaram informações.
Mas agora ela estava presenciando algo diferente pela primeira vez, havia um espírito conversando com ela naquele momento.
— [E foi assim que aconteceu e eu vim parar até aqui] — disse Merlin terminando de contar tudo para Serena.
— Então você se perdeu do seu amigo sem querer? Que azar.
O balão de fala que Merlin usa é algo completamente mutável, Merlin imaginou ele como algo palpável e está o usando escrevendo em uma letra para cegos.
Merlin contou que estava tão distraída que não percebeu Victor indo embora, então ela pensou que o encontraria na cidade mas não deu sorte e acabou naquele quarto.
Um dos defeitos de Merlin é se distrair muito fácil. O tipo de pessoa que você precisa segurar na mão quando for sair na rua.
— [Desta vez foi mais descuido mesmo. Sou muito distraída.]
Merlin terminou de escrever e com um emoji triste. Ela usava aquilo como forma de se expressar, o tempo realmente não foi generoso com ela, mas ainda assim ela tentou o seu melhor para desenhá-lo na folha de papel que era seu balão de fala.
Serena não estava assustada por estar perto de um espírito, muito pelo contrário, ela estava feliz de estar conversando com alguém diferente.
— Quantos anos você tem Merlin? Eu sei que é uma pergunta direta demais mas eu queria saber.
— [Sem problemas! Eu completei 21 neste ano!]
— Você é bem jovem, meu irmão me contou que já se encontrou com espíritos com mais de 300 anos algumas vezes.
Realmente, espíritos podem viver por muito tempo, mas tudo depende do espírito em si. Já que tudo depende das experiências e habilidades que eles possuem, se um espírito for fraco demais ele é facilmente exorcizado.
— [Mesmo que sejam poucas, espíritos têm suas diferenças. Um espírito muito velho seria um espírito maior. Eu ainda estou no caminho, logo, logo irei evoluir para um também.]
— Ahm, então é assim que funciona? Que legal.
Serena como sempre falando com uma voz muito fraca, sua garganta não estava nas melhores condições, era como se suas cordas vocais estivesse desaparecendo.
— [Sim, somos muito variados. Mas agora vamos para outro assunto. Você está doente, não é?]
— É difícil não perceber. Devo estar com uma cara horrível.
O rosto de Serena era pálido como um fantasma e parecia que estava se quebrando aos poucos. A 『Rosa Gelada』 entrega duas escolhas para seu usuário: sair no Sol e morrer instantaneamente graças a uma mudança climática muito forte e, a outra, viver por mais tempo morrendo lentamente a cada dia em um frio torturante. Ironicamente o portador da habilidade possui uma resistência a lugares gelados, mas a habilidade congela seu usuário até que suas moléculas e tudo que compõe seu corpo congele e se despedace. Uma morte sofrida e dolorida.
Serena era uma nascida com o elemento gelo como seu elemento natural, assim como todos de Cirgo que nasceram em um local gelado, então ela não sente tanta dor como normalmente aconteceria, mas mesmo assim a dor aumenta a cada dia, em algum dia a resistência ao frio que ela possui não será mais suficiente.
Merlin sabia dizer o que estava acontecendo graças ao seu 『Iluminado』, mas olhando para aquela situação não havia nada que ela pudesse fazer. Mas uma luz veio em sua direção, ela pensou de um jeito que pode dar certo e curar Serena de uma vez. Uma das habilidades do 『Iluminado』 se chama “Previsão”, uma habilidade que permite ao usuário saber das possibilidades de um futuro próximo. Claro que essa habilidade ainda tem seus limites, como ela só pode ver as possibilidades de acontecimentos de alguns minutos no futuro nada é tão preciso.
Mas o futuro que ela via estava incerto, uma grande ameaça estava próxima e que essa ameaça poderia ser a chave para curar Serena.
— [Se eu te dissesse que consigo te ajudar. Você aceitaria?]
— Mas como me ajudar? Os médicos disseram que não existe cura. Ganhar essa habilidade é morte certa.
— [Mas e se tirarmos a habilidade de você? Tudo ficaria bem, certo?]
— V-você consegue fazer isso?
— [Não. Mas o meu amigo pode, só preciso encontrá-lo primeiro.]
— M-mas por quê você quer me ajudar?
— [Por nenhum motivo em especial. Eu apenas gosto de ajudar as pessoas, porque isso é o certo, né?]
Ela queria mostrar o melhor lado daquele mundo para Victor, mas infelizmente era impossível sair daquela situação sem um pouco de agitação. Ela viu que uma criatura muito poderosa estava prestes a atacar. Naquele momento tudo que ela queria era que ela e Victor saíssem vivos daquela situação.
Porém, não era mentira o fato de que ela gostava de ajudar os necessitados, ou melhor, as pessoas que ela sabe que pode ajudar.
—
— Entendo. Então foi isso que aconteceu.
Eu contei toda a minha jornada para o rei Zared, ele ouviu minha história atentamente. Eu percebi que ele ficou bem surpreso em alguns momentos, mas nada tão grande.
— Sim.
— Bom, você não é o primeiro que veio para cá desse jeito. Já conheci um outro homem que me contou uma história parecida com a sua.
— Sério?! Quem?
— Se me lembro bem, o nome dele era Alex. Ele era um cara estranho, seus cabelos eram loiros e ele emanava uma aura dourada, parecia algo como um herói. Mas ele foi uma pessoa que eu não consegui ler. Não me lembro de muita coisa além disso. Se ele não me contasse a história eu não conseguiria distingui-lo de um cidadão deste mundo.
*Alex, eh…* Pensei comigo mesmo. Mas o rei não conseguiu distinguir a alma dele como fez com a minha, então não sei dizer se a história é realmente verdadeira, mas não irei subir minhas expectativas, pode ser tudo uma farsa.
— Obrigado pela informação. Se me permite, eu gostaria de fazer uma pergunta.
— Pergunte o que quiser.
— Me perdoe por perguntar tal coisa, mas, sobre sua filha. Poderia me contar sobre ela?
O rei ficou surpreso quando citei sua filha. Mas logo ele recuperou a compostura.
Não tenho muitas informações sobre isso, mas é algo que estou curioso. Talvez eu possa ajudar de alguma maneira, além de que, se eu ajudá-la, esta cidade ficará em dívida comigo. Ter alguém tão nobre como um rei me devendo uma seria uma boa.
Mas tirando minhas segundas intenções, minha primeira intenção é apenas ajudar mesmo. A dívida pode ser apenas uma possibilidade, com dívida ou não eu ficaria feliz por poder ajudar alguém.
— Você já sabe, sobre a condição dela?
— Não sei os detalhes. Apenas que ela está doente.
— O nome dela é Serena. Ela é a caçula da família, mas por alguma razão sempre foi a mais alta — ele sorriu um pouco e então continuou —, a doença dela veio quando ganhou sua habilidade aos 15 anos. Então não é bem uma doença, é um efeito colateral de sua habilidade 『Rosa Gelada』 e…
O rei me contou tudo sobre o problema. Devo admitir que fiquei impressionado, eu não fazia ideia de que as habilidades poderiam representar tanto perigo para seu usuário. Congelar até a morte deve ser dolorido e ainda está trancada em um quarto sem sua visão com uma temperatura impossível para qualquer humano sobreviver, ela deve ter uma resistência termal muito forte.
Mas o que mais me espantou foi sobre sua mãe. Serena matou sua mãe por acidente em um momento de dor. Sua habilidade estava começando a machucá-la e sua mãe foi congelada quando tentou ajudá-la, mas quando Serena percebeu sua mãe foi apagada da existência. Ouvir aquilo me deixou com um sentimento de pena, pela Serena, pela mãe dela, pelo Zared e pelo Senti. Era como se uma família estivesse prestes a ser destruída graças a um fator de má sorte.
Provavelmente o que aconteceu com a mãe dela acontecerá com Serena se ela continuar neste estado. Uma habilidade que congela e transforma em nada todas as moléculas do corpo, que perigoso, de fato é uma habilidade poderosa.
— Eu já não sei o que mais posso fazer, já procurei vários médicos experientes mas não resolveram nada. Talvez eu não consiga fazer mais nada, só não consigo aceitar. Um rei como eu sendo impotente ao ponto de não conseguir salvar minha própria filha.
No final das contas quem manda e desmanda nas habilidades é a Voz. Contra um ser que é como um deus e manda e desmanda em tudo que existe é impossível ir contra sua vontade. Além de que tenho o pressentimento de que orar para ela curá-la não vai adiantar de nada.
Uma divindade com uma voz tão doce pode ser cruel quando quer.
Mesmo os mais nobres como reis continuam sendo apenas humanos. Humanos perdidos em seus próprios pensamentos, humanos que viveram sua vida inteira em arrependimento se não conseguirem salvar quem ama.
*Um rei…* Antes de eu terminar minha linha de raciocínio um soldado veio para o terraço conversar com o rei.
— Senhor, os monstros já se recuperaram e estão vindo em direção ao portão principal!
— O quê?! Quantos?
— Achamos ter mais de mil lobos de neve. Mas além de tudo, um monstro de classe S está comandando eles desta vez!
— V-você disse, que um monstro de classe S está vindo para cá?
— Sim senhor. Ele se parece com um demônio!
O rei perdeu o equilíbrio e caiu de joelhos, — Não, não, não! Nós não vamos resistir! — ele murmurou para si mesmo.
— Vocês já não expulsaram eles antes? Por que é diferente agora? — eu perguntei
— Você não entende. A diferença de um monstro de classe C para um classe S é gritante, nossas tropas conseguem expulsar monstros de classe C para baixo com dificuldade, meu filho consegue derrotar monstros de classe B e lutar com um classe A. Contra um classe S, nós seremos esmagados! A chance de vitória é inexistente!
Com os gritos dos civis vejo a notícia de que a barreira estava indo ao chão. O céu que estava se fechando com nuvens escuras. Todos estavam desesperados quando uma voz assustadora falou calmamente, de cima.
— Que conversa interessante, estão falando de mim?
Um monstro alto e magro, sua pele é pálida como a de um fantasma, seus chifres saem de sua testa e flutuam em vermelho, seus olhos eram vermelhos e suas pupilas eram uma espiral, seu cabelo era esperado e enorme. Ele estava usando uma calça preta e um pano dourado em sua cintura, ele tinha duas caudas azuis saindo de sua calça.
*Esse cara é problema! Eu nem consegui vê-lo chegando, foi como se ele tivesse se teletransportado para cá.*
Ele é muito rápido, que velocidade absurda é essa? Além de tudo, de onde ele veio?
Em um instante todos suaram frio e ficaram apavorados com a presença imponente do monstro. Foi assim que começou a batalha impossível de vencer, contra um monstro de classe S.