Whitefall: Um invasor gelado em nosso mundo - Capítulo 12
— Vou te mostrar… que já enfrentei coisas piores!
Na tentativa de intimidar seu inimigo e demonstrar seu orgulho, Rei batia o cabo de sua lança no chão. Porém, era instantaneamente atingido pelo gigantesco fardo de seus movimentos, que lhe faziam cuspir um pouco de sangue.
Devido ao frio, pequenas partículas de água se condensam no ar, criando uma leve névoa branca ao redor do rapaz. Conforme a neblina aumentava e a temperatura descia, ele sentia sua fatiga se recuperando um pouco.
“Certo… meu alcance está baixo devido aos ferimentos, mas a partir do momento em que esse animal se aproximar…”
O urso, que antes caminhava lentamente de forma ameaçadora em direção a Rei, parava de repente, notando algo.
Seus olhos ardentes encaravam o Terrafryano.
— C-Como?!
Sua enorme boca se abria, e algo brilhante se criava entre suas mandíbulas assustadoras. E Rei, que já viu coisas parecidas nos campos de batalha, tinha uma pequena ideia do que era aquilo.
— A-Animal maldito!
— GRROAR!!
Junto a um rastro de calor infernal, uma bola de fogo e rochas se aproximava de Rei, de uma forma até que lenta. Tanto que, mesmo debilitado, não seria difícil para o soldado simplesmente desviar, se movendo para o lado.
Mas o urso sabia que ele não o faria.
— Merda!
Rei usa seu quase esgotado estoque de energia para criar um grosso pilar de gelo em sua frente. Se ele desviasse, as garotas já estariam mortas e…
— Espera, por que eu estou me importando?
O som ensurdecedor do vapor acompanhava o barulho da água fervendo, enquanto a esfera desacelerava dentro daquela estrutura. Manter o pilar consumia energia demais, então, ao parar o projétil, o gelo foi completamente desfeito, enquanto a esfera se desmanchava em suas rochas.
— Monstro desgraçado… ele já percebeu a minha área de alcance.
Terrafryanos absorvem calor, e isso é fato. Mas dependendo de seu treinamento e talento, cada um tinha uma área de alcance na qual poderia coletar a energia do ambiente. E no caso de Rei, devido ao seu estado, essa área agora não passava de poucos metros.
Porém, criar gelo a partir do nada não envolve apenas absorver calor, e sim juntar moléculas de água no ar, o que consome energia. Na equação total, abaixar a temperatura aumenta a energia dos Terrafryanos, e criar gelo diminui.
Depois de anos de estudos e teorias científicas, pesquisadores de Terrafrya chegaram à um nome para essa diferença de energia:
— Esse maldito… se ele continuar lançando ataques pesados de longe… ele vai acabar por zerar a minha entalpia.
Não havia mais nenhuma escolha. Mesmo com seus movimentos limitados, Rei teria que tornar aquilo em uma batalha móvel. Ou então, ele ficaria cercado.
— Vamos dançar, faísca acéfala.
O rapaz começava a correr com um pouco de dificuldade, costurando seus movimentos por dentre alguns arbustos e árvores, sem nunca se afastar muito do urso.
Mesmo que sua velocidade atual nem se comparasse ao seu estado completo, Rei ainda era rápido o suficiente para os movimentos de um animal gigante.
Irritado, o monstro tentava acompanhá-lo com os olhos, mirando novamente um segundo ataque. Mas ele ainda não se aproximava, por não entender completamente o que aconteceria se ele entrasse no alcance de Rei.
“Esse bicho… parece estar planejando algo, mas o quê?”
Enquanto corria, o alien sentia dores intensas por todo seu corpo, principalmente na região do abdômen. Ele até conseguia absorver uma mínima quantidade de calor por onde passava, mas estava rápido demais pra ter alguma eficiência. A entalpia ganha mal apoiava sua movimentação.
O urso novamente começou a criar algo dentro de sua boca, tentando talvez mirar no possível caminho que Rei faria. Outra daquelas esferas de pedra e fogo era formada, e atirada à partir de sua boca flamejante.
O Terrafryano facilmente conseguiu mudar sua rota, e desviar, enquanto tentava se aproximar do urso. Porém, mal terminando de atirar um projétil, o animal já preparava outro.
“Ele está tentando me pressionar? Me impedir de chegar perto, talvez? Ou está-”
Sem ter o mínimo tempo para pensar na situação, outra das esferas quase o atinge, criando um rastro de fogo no chão ao seu lado.
Rei decide usar esse momento para avançar intensamente com sua lança, tentando atingir uma das pernas da criatura. Seu plano seria derrubá-lo, para que ele expusesse o pescoço, permitindo uma fácil finalização.
Seu caminho até o alvo era em linha reta e sem nenhum obstáculo à vista, e visando isso ele começa a correr. Mas de repente, algo inesperado o impede de avançar.
— Merda! Fogo?!
O rastro onde uma das esferas havia passado, soltava fogo por si só do chão, erguendo uma parede em chamas entre Rei e a criatura. A lança do rapaz foi cortada na metade pela muralha flamejante, e por pouco quase a cabeça dele vai junto.
E lá se vai mais de sua entalpia, enquanto ele recupera sua arma.
— Desgraçado… Então você tem seus truques!?
Rei notou que aquele obstáculo não era o único. Os projéteis seguidos e descontrolados do urso finalmente faziam sentido agora, e não eram de longe um ato irracional de desespero.
Ele agora estava cercado por paredes de fogo.
O urso nem sequer esperou, e começou a finalmente avançar fisicamente, pressionando o Terrafryano enquanto acreditava estar protegido por suas altas paredes de fogo.
Com seus passos estrondosos que mais se pareciam com bombas, ele erguia uma de suas garras no céu, pronto para esmagar completamente o inseto em sua frente.
Mas talvez ele devesse ter continuado com sua cautela anterior.
— Hmpf, idiota.
Estar cercado por paredes de fogo realmente seria desesperador para o rapaz… se elas não fossem muito, muito quentes.
Sua lança, que estava agora fincada no chão apontada para o monstro, se expandia em gelo pontudo e fino, atravessando a pata do urso.
— GRRROOOOAAARRRR!!
O animal recuava, com um de seus membros agora ferido. Um líquido que muito se assemelhava à lava escorria, o que provavelmente era o líquido vital desse mutante.
— Hehehe… agora você tá-
Mais sangue era cuspido.
“Merda… eu não tenho muito tempo.”
Na visão geral, Rei estava gastando mais entalpia do que conseguindo. Seus pensamentos, movimentos, habilidades, tudo consumia sua energia, tanto que ele nem conseguiria usar neve ou sua criostase naquele momento.
Depois de consumir sua energia que estava em excesso, ele se forçava agora a usar a energia que seu organismo necessita para sobreviver. Ou seja, causando danos graves.
Com seu focinho jorrando fogo enquanto bufava de raiva, o urso perde qualquer razão e avança com uma mordida. E isso faz com que Rei ganhe uma vantagem.
O urso não esperava que outra lança pudesse ser criada, até que uma atravessa seu focinho, quase tocando sua testa.
— GRRRROOOOOOOOOOOAAAAAAARRRR!!
Gritando de dor, ele se afasta novamente, em passos tortos enquanto quebra a lança em uma mordida. Ele desesperadamente começa a coçar o próprio nariz, tentando arrancar aquela coisa presa no céu de sua boca.
Outra onda de choque atinge Rei, como se ele tivesse perdido algum dos órgãos. Além da batalha contra o monstro, ele agora luta contra o próprio cansaço, tentando ao máximo se manter em pé.
Mas infelizmente, por um momento, ele perdeu o controle. Seu fardo vem todo de uma só vez, enquanto ele sentia como se um exército inteiro tivesse marchado por cima dele.
Enquanto caia de joelhos no chão, ele ouve passos
Passos do urso… mas também passos de outra pessoa.
Mia, ferida pela queda, corria até ele quase que desesperada, por algum motivo. Aquela garota, achando que podia ajudá-lo, deveria estar louca.
Mas, o que ela realmente estava… era no caminho do animal.
Naqueles poucos segundos que se seguiram, Rei não estava ali. Sua mente havia novamente o colocado em um campo de batalha, com um chão rochoso e céu completamente escuro, onde ele mal via o inimigo.
Porém, o que mais cobria sua visão, era o sangue prateado em seu rosto. Seu companheiro que se sacrificou para protegê-lo, e ele não aceitava isso. Essa maldita memória se repetia agora.
Essa garota… é sua companheira?
— GAROTA! CUIDADO! – Rei tentava avisá-la, desesperado.
Em apenas um golpe desferido da garra do urso, Mia tinha seu ombro e braço destroçados na frente do Terrafryano. Antes, o que em sua memória era sangue frio prateado em seu rosto, agora era esse sangue quente e vermelho, que aquecia sua incompetência.
— NÃO!! MIAAAAAAAAA!
Ele foi fraco.
Novamente, ele foi fraco.
Ele não tinha motivo para se importar com os humanos. Eles eram uma raça patética sem poder algum… Ou deveriam ser.
Essa garota, ela foi mais forte que ele. E mais corajosa também.
Não importava o quão nobre ele fosse, nem quantas batalhas já lutou ou quantos inimigos já matou. No momento que ele precisava realmente de sua força… Ele novamente foi fraco.