Whitefall: Um invasor gelado em nosso mundo - Capítulo 13
Ao ver a situação de sua irmã, Lilly gritava desesperada, enquanto corria até ela, se jogando de joelhos ao chão rapidamente à pegando no colo. Seus olhos estavam cheios de lágrimas, alternando entre sua irmã em seu colo, e o braço dela jogado ao longe.
— MIA! MIA POR FAVOR! FICA ACORDADA! TÁ? – Ela acariciava o rosto de sua irmã, enquanto suas lágrimas pingavam no rosto da garota, se misturando às dela.
— Irmã… tá tudo bem…
— REI! SEU DESGRAÇADO! FAÇA ALGUMA COISA!
Ainda ajoelhado no chão, sem conseguir se levantar devido ao choque e cansaço, Rei apenas observava o monstro lambendo as garras, quase que sorrindo.
— REI! ACORDA! ELA VAI MORRER!
Ele estava congelado.
— REI!
Ele estava congelado.
— ATÉ QUANDO VAI FICAR PARADO?!
Aquela frase. Já havia sido dita antes.
Novamente, uma luz intensa começava a se acumular dentro do focinho do urso, não como uma esfera de pedra, mas algo como puro fogo estava sendo preparado.
O animal calmante se aproxima, e…
— GROOOOOAR!
Uma rajada de chamas era cuspida de sua boca, cobrindo Rei completamente. Lilly e Mia, que ainda tentava olhar mesmo sem mover o pescoço, arregalavam os olhos, desesperadas.
Sua única esperança pra vencer o monstro havia sido…
Destruída?
— Ni…fraza…
Mesmo ardendo em um calor infernal, o animal sente um calafrio percorrendo sua espinha e arrepiando todos os cantos de seu corpo.
— Dore… no nifraza…
Aquilo, aquilo sim era um monstro.
Agora, a criatura mais amedrontadora daquela floresta não era o urso. E sim, o demônio branco em sua frente, com sua pele feita de neve, chifres agoniantes e asas brilhantes. O animal mal podia saber a expressão daquele ser, pois em suas cavidades oculares, só havia preto.
Mas ele não podia ficar parado.
Seu inimigo estava cansado, e essa era sua chance.
O urso erguia sua enorme garra no ar, desferindo um golpe e… seus dedos eram arrancados.
— GROOOOOOO- Um impacto lateral instantâneo ô derruba no chão.
— Cale a boca, animal estúpido.
Rapidamente o urso fazia força para tentar se levantar, mas para um animal quadrúpede gigante, isso não era tão fácil. Sua demora deu tempo suficiente para que Rei pegasse um pedaço de árvore de quase três metros, e atravessasse ambas as suas pernas traseiras, como uma estaca.
— GROOOOOAR
Soco, soco, soco, soco.
Em completo silêncio, Rei subia sobre o pescoço do animal, desferindo socos brutais e gelados em sua mandíbula. Som de sangue e fogo se misturava ao barulho dos impactos, enquanto dentes voavam pelo ar.
O urso desesperadamente tentava gritar, mas se engasgava com a própria hemoglobina. Tentava soltar fogo de todas as cavidades de sua pele rochosa, para queimar seu agressor, mas o mesmo nem se movia.
Depois de quase um minuto batendo, Rei finalmente para.
A transformação do urso começava a se desfazer, indicando que ele provavelmente estava sem mais energia.
De repente, o demônio de neve começava a caminhar até o carro, que estava completamente amassado. Com uma força absurda, ele pegou o veículo com ambas as mãos, arrastando-o para próximo do urso.
— Rei! O que está fazendo? Não temos tempo para-
Em um golpe só, o Terrafryano levantava o objeto que pesava toneladas,e o usava… para explodir a cabeça do animal.
×××
— Mia… – Lágrimas corriam como chuva na face de Lilly – Por favor… fica comigo.
— Irmã… eu vou ver a mãe e o pai?
— Não! Ainda não! Você não pode!
O demônio branco se aproximava com seus passos leves e gelados, enquanto mais névoa se reunia ao seu redor.
O som do vento batendo nas folhas daquela floresta, junto ao assustador canto dos pássaros noturnos, criavam para aquela cena uma melodia ensurdecedora.
— Rei, você pode ajudá-la?! Faça alguma coisa!
— Eu… não acho que posso. – A voz do Terrafryano ecoava de forma assustadora dentro de sua carapaça de neve, nem parecendo mais a mesma pessoa.
— Congele ela! Então à levaremos ao tranformado que cura pessoas e-
— Não é assim que gelo funciona. Eu posso te garantir.
— ENTÃO FAÇA ALGO! SEUS PODERES SÓ SERVEM PRA MATAR!?
Em seu estado atual, Rei sequer sabia se queria mesmo ajudar aquelas garotas, se elas valiam seu precioso tempo. O demônio de neve tinha assuntos mais importantes do que salvar uma vida idêntica às que ele tirou antes.
Ele teria que voltar pra sua…
“Família?”
Elas eram uma família.
A neblina diminuía, enquanto a carcaça de Rei derretia e desaparecia em pleno ar, voltando à atmosfera. Ele cai mo chão novamente de joelhos, cuspindo sangue quase morto.
— Seu sangue! Ele te regenera, não é?!
— O quê? Do que est- blergh!
Mais daquele líquido prateado era expelido, enquanto o rapaz sentia seus órgãos internos quase que implodirem em contração.
— Por favor, Rei… – A garota implorava como uma criança desesperada – Eu não quero perdê-la! Não posso perder mais da minha família.
Ele entendia aquela sensação.
— Você disse… que sua casa tinha uma dívida conosco. Pague! Salve-a!
Ele realmente entendia.
Mas e se a garota morresse? Ou desenvolvesse uma metaforma instável? Ou pior, o quão desonroso seria gastar o nobre sangue Azure em…
“— Rei… meu filho, me ouça…”
— Não deixe… mais ninguém morrer… por favor…
“— Não deixe… mais ninguém morrer… por favor…”
Não havia nenhum motivo para perder tempo pensando. Ele tinha que tomar uma decisão, e sua decisão era salvá-la.
— Certo. Eu vou tentar, mas nada garante.
— Não me importo! Eu preciso dela e-
— Cale a boca e me escute. – Rei dizia enquanto se sentava sobre os joelhos perto de Mia, e a tomava em seu colo – O que usam de combustível em seus veículos?
— Por que uma pergunta dessas ag-
— O QUE USAM?!
— G-Gasolina! Combustível fóssil líquido!
— Hidrocarboneto?
— S-Sim, a mistura de alguns deles.
A transfusão seria fácil de fazer, mas a regeneração nem um pouco. Há um preço muito caro para recuperar tanto tecido orgânico em tão pouco tempo, e infelizmente a moeda de troca do rapaz já estava se esgotando.
Enquanto a garota quase fechava os olhos deitada sobre as pernas dele, Rei á faz acordar subitamente… enfiando seus quatro dedos no pescoço dela.
— O QUE ESTÁ FAZENDO?!
— Estou fazendo a merda da transferência de sangue! Pegue a gasolina, rápido!
Também sabendo que não era hora de pensar, Lilly corria até o que sobrou do carro, que por sorte ou não estava estourado, e com seu tanque aberto. O que não havia sido derramado da caixa de metal, foi o suficiente para que a garota enchesse as mãos.
— Jogue em mim.
— Como?!
— Pare de perguntar e jogue!!
Como dito, ela o faz.
— Ateie fogo.
— ESTÁ MALU-
— Ainda não entendeu?! Eu preciso de calor! E sua irmã também!
— Mas fogo é… certo.
No chão, ainda haviam pequenas brasas dos rastros deixados pelas esferas de pedra. Queimando sua própria mão no processo, Lilly pegava uma dessas brasas e a apertava acima de Rei, de modo que faíscas se espalhassem pelo corpo dele.
Em menos de segundos, ele estava completamente em chamas. O som de seus dentes rangindo e sua pele borbulhando só eram abafados por sua respiração pesada e incessante.
Sua pele era derretida enquanto se regenerava, criando um contínuo ciclo de dor. Um método tão, mas tão horrível, que até hoje é usado por terroristas em Terrafrya: Tortura sobre fogo.
Mia, que estava quase morta no chão, aos poucos parecia recuperar o brilho nos olhos. Seus ferimentos pareciam de alguma forma se moverem, recuperando-se da aparência seca que tinham à segundos atrás.
— O que está esperando?!
— C-Como assim?
— Busque lenha. Isso vai levar a noite toda.
×××
Havia amanhecido.
O cheiro das plantas molhadas pelo orvalho da manhã, apenas se misturava ao odor de pele queimada e carvão, naquela área.
Naquele local agora, só havia um pequeno amontoado de brasas sobre Rei, que queimavam suas últimas energias. Lilly, que havia passado a madrugada inteira recolhendo lenha e alimentando aquele estranho tratamento, agora sentava de costas ao carro destruído, lutando contra o próprio sono enquanto observava a pilha de carvão.
E de repente, quase que sincronizados, Rei cai de costas e… Mia abre os olhos. A irmã mais velha, ao notar, se esquece do próprio cansaço, e pula sobre a caçula.
— Mia!… Graças a Deus… eu estava… sniff…
Seu braço e o resto do corpo estavam intactos… Sem contar, claro, a sujeira que sangue, cinzas e terra fizeram em sua pele.
Mia abraçou levemente a sua irmã, ainda se sentindo estranha. Alguns segundos, que duraram quase horas se passaram, até que alguém finalmente abrisse a boca.
— Lilly…
— Sim… Diga Mia
— Por quê o Rei tá pelado?