Whitefall: Um invasor gelado em nosso mundo - Capítulo 15
— Então… vocês moram aqui? Não é meio pequeno?
— Lave a boca antes de falar do meu cafofo, senhor alienígena de família nobre!
— Irmã, tenha calma…
Enquanto Lilly tentava esganar Rei, Mia, que estava com uma das malas nas mãos, tentava parar sua irmã mais velha. A garota não tinha certeza se Rei poderia sobreviver à mais violência.
Seu ferimento havia se fechado, mas estava longe de ser curado. Então, ele estava se movimentando com uma… arma pontuda de quase dois metros?
— Rei… – Mia diz, olhando para a lança – Você consegue moldar sua neve em qualquer coisa?,
— Qualquer coisa que seja física, sim. Por quê?
— Pode desfazer essa lança e usar algo parecido com isso? – Ela mostrava a imagem de uma bengala em seu telefone.
— Ah, certo… Autodefesa é um crime no seu planeta? Que senso comum idiota.
Emburrado, ele fazia com que sua lança derretesse, e uma bengala surgisse no lugar.
Graças à carona forçada, os três estavam na pequena casa das Lane, nos subúrbios de Rivertown. Ao contrário de sua cidade-irmã, Lakecity, essa era mais focada em residências e comércios no geral, então existiam realmente poucas áreas com prédios, além dos bairros centrais.
As irmãs Lane viviam consideravelmente bem, mas sua residência ainda era… apertada. Logo, uma grande e fervorosa discussão se iniciou para saber onde Rei dormiria. No fim, isso levou horas e agora era noite.
— Vídeo-transmissão via ondas de… rádio, certo? Para que as usam? É um sistema de distribuição de informação? – Dizia ele, batendo levemente na TV, enquanto perguntava várias coisas.
— Bem… isso seria o noticiário – Mia respondia, sem entender muito as palavras complicadas de Rei. Aliens não deveriam ser mais “ET, Phone, Home”?
— Noticiário? Existem outras formas de informação?
— Ah, tem anime! Olha, vou botar pra você ver – Dizia ela animada, enquanto apertava os botões do controle, e colocava uma estranha sequência de quadros coloridos, que formavam imagens que imitavam a realidade.
De início, ele achou incrível até começar a notar o quanto irreal seria um caderno matar pessoas pelo nome.
×××
Enquanto Rei e Mia discutiam como crianças por uma obra de ficção, Lilly estava no seu quarto, scrollando pelo seu notebook.
— Isso… é bizarro.
Desde o dia em que foram acampar, até o exato momento, milhares de notícias sobre o acontecimento corriam pela internet.
A humanidade entrou em desespero ao saber da existência dos aliens, principalmente aliens invasores. Mas, para uma notícia tão chocante assim, até que os governos lidaram bem.
Lilly, que sabia que Rei estava vivo, conseguia facilmente perceber a estratégia da mídia: Repetir a tecla de que “O Invasor foi facilmente morto, vocês estão seguros” para dar mais sossego à população, como se eles não fossem tão perigosos.
Mesmo assim, o medo mundial ainda existia. As pessoas ouviram em alto e bom tom quando Rei se referiu a “Nós”, ao invés de “Eu”. Existem muitos deles, e provavelmente são inimigos. Então, o mundo estava em conflito.
E com conflito, eu quero dizer conflito mesmo. Desde fanáticos que acreditam que é um castigo ou salvação, pequenas seitas surgindo para oferecer ‘sacrifícios’, ao alien, e até algumas revoluções militares em alguns países menores, que estão acreditando que uma guerra planetária virá.
— Rei… o que você fez?… Olha, já saíram até artigos…
Algumas rápidas pesquisas sobre o assunto já foram publicadas. Desde pesquisas da comunidade astronômica (cujos astrônomos estavam loucos de alegria por essa descoberta) quanto à pesquisas filosóficas, sociológicas, etc.
Em um desses artigos, Lilly viu uma espécie de bingo dos astrônomos, tentando adivinhar de qual planeta esses Terrafryanos seriam. Depois de checar com seu alien-de-sofá, ela se sentia superior, sabendo que não era nenhum deles.
— Hoho… Como se sentem agora!? A biologia vence mais uma vez!
O que isso tinha a ver com biologia? Nada, mas ela queria ser feliz.
×××
— E então Rei… o que você vai fazer da sua vida? Você sabe, agora que você perdeu sua nave…
— Por acaso tem alguém pra vir te buscar?
Sentados os três no sofá, se inicia uma conversa sobre o futuro do Terrafryano. Afinal, elas o salvaram, mas ele ainda era procurado pela maior empresa do mundo, sendo autodeclarado inimigo da humanidade. E Lilly sabia que algo devia ser feito
Além disso, ele não era como um pet que podia ser adotado. Mia entendia isso.
Claramente a dualidade das irmãs tomando forma.
— Me buscar? Vocês sabem que é uma invasão, e não um passeio no parque, não é? Provavelmente centenas vão invadir com armamento militar pesado. Além disso, só a viagem leva mais de três meses.
— M-Mas você não pode fazer nada sobre isso? Ou pretende continuar a ser um cara mal?
Pra ser sincero, ele não entendia nada do que a garota estava falando.
— Escuta… eu poderia tentar fazer alguma coisa. Se eu avisasse minha família que fomos traídos…
— E não pode?
— Se algo sobrou da minha nave, a tal da AE provavelmente tomou posse. Eu estou ferido, já vi que sozinho não dou conta da força desse planeta, e nem mesmo faço ideia de onde os dados poderiam estar. Como eu recuperaria eles?
Nix salvou todos os seus dados, e os armazenou junto dela mesma na caixa-preta da nave. Não importa o quão forte seja a explosão, provavelmente as informações ficariam intactas. O problema é que essas informações são úteis, se Rei não tiver acesso à elas.
— Talvez… não seja impossível – Diz Lilly.
— O que quer dizer?
— Ah, espera irmã, está falando daquilo?
De repente, Lilly pega o controle, e liga a televisão num canal específico. Dois âncoras de um jornal descreviam sobre um evento gigantesco nas cidades gêmeas: A seleção.
{ — Daqui a algumas semanas, finalmente começará o grande exame da AE para a contratação de Transformados ao redor do mundo todo. O grande evento anual, conhecido como A Seleção! }
{ — Exatamente. Os interessados deverão comparecer com seus documentos na sede da associação, no centro de Lakecity para os primeiros testes.}
{ — Devido ao ataque alienígena que chocou o planeta, até mesmo os governos estão apoiando a Seleção desse ano. Haverão muito mais candidatos, buscando se tornarem fortes para protegerem nosso planeta.}
Depois de assistirem as notícias, e pesquisarem mais, decidem finalmente um plano.
— É isso! O Rei vai virar um exterminador!
— E-Eu vou? Mas eu nem sei o que diabos é essa transformação!
— Bem, você tem poderes de gelo – Diz Lilly – É tecnicamente uma transformação.
— Eu não tenho “poderes de gelo”! Eu tenho a habilidade de…
— Tá, tá bom, absorver calor do ambiente, a gente sabe.
O plano das irmãs era simples: Rei dizia ter lutado de igual para igual com a primeira-sol, logo, teria potencial para subir na AE. Com a desculpa de ser um transformado com poderes de gelo, ele faria o teste e subiria seu prestígio, até conseguir informação o suficiente para recuperar sua nave.
As garotas acreditavam que assim, talvez ele conseguisse entrar em contato com seu planeta, e impedir a iminente invasão. Ele poderia estar mentindo, e querendo contato para finalmente invadir? Poderia, mas elas não tinham muitas opções.
E Mia tinha uma boa intuição. Ela sempre teve.
O único problema desse plano… é que o Terrafryano não queria fazer parte dele. Enquanto ele segurava com a força que lhe restava nos batentes da entrada, ambas as irmãs tentavam tirá-lo da casa à força.
— Vamos… Pare de graça! Eu não quero meu planeta invadido pelo seu povo!
— Rei… colabore! Eu prometo que você vai se dar bem lá!
— Não! Eu não quero! – Ele berrava como uma criança mimada – Eu sou Azure Rei! Herdeiro da casa Azure e milenar do exército de Terrafrya! Eu não quero! Não quero!
Bem, metade dos motivos para Rei resistir era porque ele achava horrível o fato de se alistar para outro exército, que não seja o de seu glorioso planeta. Mas o principal motivo era…
— Eu não quero fazer prova!