Whitefall: Um invasor gelado em nosso mundo - Capítulo 16
— Layla… poderia repetir o que disse?
— S-Sim… senhora. O comando diz… que Azure Rei perdeu contato. Sua IA foi desligada e sua Frostbite foi provavelmente destruída.
— Repita.
— M-Mas senhora…
Ela havia entendido desde a primeira vez, mas mesmo assim, continuava pedindo que sua empregada repetisse. Talvez ela não quisesse aceitar essa notícia, ou queria testar quantas vezes sua funcionária repetiria uma mentira dessas.
— Lamune Layla… Fazer piadas desse cunho pode resultar numa execução. Sabe disso, não sabe?
— Senhorita Rui, eu sinto muito… Mas foi a informação que me foi passada.
— PASSADA POR QUEM? O MALDITO LONDORE!?
— Senhorita, por favor! Não grite essas coisas! Ou então a senhora que pode acabar sendo executada! – A funcionária advertia, enquanto olhava em volta, com medo de que alguém pudesse ter ouvido.
A garota de cabelos curtos, que antes estava sentada em uma mesa cheia de monitores e peças mecânicas, se levantava bruscamente, enquanto batia os pés em direção à porta.
Ela tinha o corpo de uma garota de 15 anos, e vestia um grande sobretudo também. A diferença é que, ao contrário de Rei, seu sobretudo não cobria suas articulações… Assim como sua armadura de neve, que começava a se formar apenas com proteções em seus pontos vitais.
Essa era Azure Rui, segunda filha da casa Azure e centenária do exército de Terrafrya. Seu traje se dava ao fato dela pertencer aos Arquidemônios, um esquadrão assassino criado para a defesa dos Azure. E Rui era a engenheira deles.
Enquanto ela andava furiosa pelos corredores externos da mansão, tudo em seu caminho congelava. Preocupada, sua funcionária a seguia, em desespero.
— Senhorita! Onde está indo?
— Ver meu pai.
— O-O Patriarca?! Mas ele está em reunião com…
— Os aldeões? Os Sub Patriarcas?
— Com o Respeitável.
Ela parava por um momento.
Layla podia ouvir leves sons… de dentes rangendo.
De repente, ela voltou a andar, dessa vez mais rápido do que antes. Caso seu treinamento não a ensinasse a ser silenciosa, provavelmente Rui estaria bufando de raiva nesse exato momento.
Layla continuava falando para que Rui não invadisse a reunião de seu pai, mas a garota ignorava. Por um momento, a funcionária até pensou em segurá-la à força, mas não queria uma adaga de neve enfiada em seu rosto.
— Seu maldito! Foi você, não foi?!
— Rui?! O que faz aqui?!
— Ho… Olá senhorita Rui… a quanto tempo.
Na sala de reuniões que Rui entrou sem avisar, haviam duas pessoas, ambas sentadas em uma mesa de madeira gigante. A primeira, seu pai, se levantou instantaneamente, surpreso com a invasão.
Já a segunda… se mantinha tranquilamente sentado. Esse era O Respeitável Líder, Londore Zui… Comandante Supremo de toda Terrafrya. Seu cabelo era curto, com pequenas pontas azuis-claro.
Porém, ao contrário dos Azure, esse era o único lugar onde havia a cor azul em seu corpo. Suas roupas, também militares, eram mantidas em preto, cinza e vermelho. E mesmo que houvesse poucas partes de armaduras, elas ainda existiam… e eram vermelhas…
Gelo vermelho… [Bloody Ice], a nojenta habilidade dos Londore.
— Rui, o que pensa que está fazendo?!
— Pai! Como pode estar falando pacificamente com esse cara?! Ele mandou Rei pra morrer!
— Rui… o que quer dizer com isso?
— Rei perdeu contato! Aqueles humanos não deveriam ser fracos?!
— Ora, senhorita, se acalme… talvez o jovem Azure apenas tenha esquecido do relatório…
— Seu mald-
Rui estava prestes a manifestar sua adaga, mas Rai se moveu rapidamente e segurou a mão dela. Não apenas seria uma afronta imensa sacar uma arma ao Respeitável e um crime direto à nação… mas também seria suicídio.
— Rui. Guarde isso…
— Exatamente, ouça seu pai, garotinha.
— M-Mas pai.
— JÁ CHEGA! É UMA ORDEM!
Ainda se mordendo de ódio pelo homem sentado à mesa, Rui cedia e abaixa os braços, assumindo uma pose mais tranquila. O problema é que atuação não era a melhor habilidade dos Azure.
— Agora, se me permite a pergunta, meu senhor… O que minha filha disse é verdade?
— Infelizmente parece ser… Recebi essa informação do Comando agora à pouco também, e pensei em deixar eles mesmos te contatarem.
— Entendo… – Rai soltava sua filha, enquanto sua cabeça se inclinava um pouco. Tristeza? Decepção? Era difícil ler expressões na face daquele brutamonte.
Agora que seu pai sabia, ele provavelmente faria alguma coisa, Rui tinha essa certeza em mente. Ele não deixaria um membro dos Azure, ou melhor, seu primeiro filho, morrer em um planeta minúsculo no canto da galáxia.
— Rei fará contato.
— C-Como?!
— Eu conheço meu filho. Ele não falharia numa missão dessas.
— P-Pai?! Está louco?!
— Assunto encerrado.
— M-Mas-
— Azure Rui. Eu disse que o assunto está encerrado.
Mais furiosa do que nunca, Rui bate a porta com força, saindo da sala.
Sentado calmamente na cadeira, um riso de canto podia ser visto na face de Zui…
×××
— Uma biblioteca? Vocês são mesmo primitivos.
— Não é? A Lilly não sabe que existem livros digitais hoje em dia!
Enquanto várias pessoas entravam e saiam da grande Biblioteca Municipal de Rivertown, o maior armazém de livros de todo o continente… Mia e Rei eram arrastados para dentro pelas orelhas.
— Ele precisa estudar! E a forma maia eficiente e comprovada de fazer isso é com livros.
— Você está indo contra todos os estudos do meu planeta sobre o assunto com essa afirmação!
— Não estamos no seu planeta!
Todos começaram a olhar estranho para eles, então Lilly decide soltá-los e parar de fazer aquela cena. Depois de uma breve conversa na recepção, eles se informam do local exato onde está o que precisam.
Mas não se enganem, não é como se Rei fosse um alienígena burro. Na verdade, depois de fazerem alguns testes e perguntas pra ele, descobriram que ele poderia até ser considerado um gênio, mesmo que ele diga que, em seu mundo, sua inteligência é mediana.
Porém, essa afirmação só se encaixava em algumas áreas, que não dependiam basicamente dos humanos. No caso química, física e alguns conceitos da biologia, que eram parecidos em ambos os planetas.
Mas as provas da seleção não envolviam apenas isso, como também história, sociologia, etc. E tudo isso era novo pra Rei, que tinha uma história e sociedade completamente diferente em seu planeta.
— Vocês tem uma rede internacional de computadores, e ainda querem me fazer estudar manuscritos? Como eu sinto saudade da Rede Termal
— Blá blá tudo bem, vamos logo!
— Então solta minha mão! Eu sei andar sozinho.
Quanto mais Lilly convivia com o rapaz, mais notava que ele agia como criança. Talvez fosse cedo pra tirar uma conclusão dessas, mas na mente dela, o grande invasor que amedrontou toda a humanidade… era um filhinho de papai.
Enquanto ele se soltava da mão da garota, e ia na frente sozinho com sua bengala ele… esbarrava em alguém.
— Ah meu deus! – Lilly corria ajudá-los, obviamente levantando a moça primeiro. – Perdoe a falta de atenção do meu irmãozinho! É a primeira vez dele aqui na biblioteca e-
— Irmãozinho? – Rei retrucava, enquanto Mia o ajudava a levantar. “Eu sou um A-” Antes que ele abrisse a boca, Mia a tampava, enquanto dava à bengala pra ele.
— Ah, está tudo bem! – A moça ria baixo, enquanto se levantava.
Sua beleza perceptível de longe, mas de perto chamava ainda mais a atenção. Usava óculos, tinha um cabelo dourado amarrado em um coque mais reservado, e vestia roupas largas.
Quase paralisado, Rei olhava para a moça, que chegava tranquilamente perto dele, oferecendo a mão.
— Desculpe por esbarrar em você, eu também estava meio distraída… Meu nome é Cristine, e o seu?